A arte e a moral: relação mútua?

4.2.6. A arte e a moral: relação mútua?

Alguns filósofos, como Platão, Aristóteles e Vico, estabelecem de uma forma mais ou menos directa a relação da arte com a moral. Assim, condenam as obras de arte que julgam moralmente censuráveis.
     Platão, o primeiro filósofo a tratar do problema estético, diz que a arte é fruto do amor que impele a alma para a imortalidade para atingi-la, a alma gera e procria o belo, antecipando, desta feita, a Vida feliz. No mundo das ideias, a alma vive feliz mediante a contemplação da beleza subsistente. Para o alcance da felicidade, na Vida terrena, a alma cria o belo através de imitações da Beleza.
      A moral ganha ainda maior importância pela sua relação com a moral. Platão assevera que a arte deve subordinar-se à moral. Por consequência, deve ser favorecida só a arte que é útil à educação. A arte que favorece corrupção deve ser condenada e excluída. Por esta razão, Platão condena a tragédia e a comédia porque são formas de arte imitativa que se afastam da verdade (do mundo das Ideias) em vez de se aproximarem dela.
Três são as razões que levaram Platão a condenar as artes imitativas:
  • 1. Representam os deuses e heróis com paixões humanas, perdendo respeito;
  • 2. Não exprimem a ideia original das coisas (é uma imitação imperfeita e, por isso, distante da verdade);
  • 3. São fundadas nos sentimentos e não na razão. Agita as paixões, provocando o prazer e a dor.

A única arte digna de ser cultivada, no entender de Platão, é a música. Esta educa para o belo e forma a alma para a harmonia interior.
    Kant diz, na Critica cia Razão Prática, que a razão Humana não tem somente a capacidade de conhecer, tem igualmente a capacidade de determinar a vontade para agir moralmente. Portanto, o objectivo da segunda critica é estudar como é que a razão determina a vontade para agir moralmente. Em Observações Sabre o Sentimento do Belo e do Sublime, Kant atribui, às virtudes, adjectivos estéticos. São belas e atraentes a compaixão e a condescendência (virtudes presentes no homem de bom coração); é sublime a virtude genuína de um homem justo, de coração nobre.

Na critica do juízo, Kant diz que um objecto pode ser agradável, belo ou bom. O nosso interesse vai pelo que nos agrada ou pelo que é bom, mas não pelo que é belo. O belo proporciona-nos uma satisfação desinteressada e livre. Não procuramos o prazer estético, ele acontece-nos inesperadamente. É um prazer que não depende do nosso desejo. Nós somos surpreendidos pelas formas belas. Portanto, é preciso distinguir o estético do ético, cuja separação se manifesta através do interesse, ausente no primeiro e presente no segundo. Todavia, o belo e o bom são análogos:
  • Agradam imediatamente;
  • São universalmente partilháveis;
  • São inspirados por uma forma (forma de imaginação e forma da lei moral);
  • São livres (a vontade só depende das prescrições da razão).
Ponto de vista diferente e contestatário foi apresentado por Beneditto Croce. Este defende que a arte é absolutamente autónoma. Para que a arte seja arte verdadeira deve ser genuína expressão dos sentimentos íntimos do artista.

Segundo Mondin, «para fazer arte verdadeira é preciso expressar aquilo que há em si mesmo» e argumenta que «quem o exprime bem é o artista. Mas o homem e o artista são duas realidades diferentes. Para se ser artista, basta expressar bem os próprios sentimentos, enquanto o homem deve ser também moral, sábio e prático. Portanto, embora não esteja sujeito moral como artista, o artista está sujeito à moral como homem». Como assevera Croce, «se a arte está aquém da moral, não está do lado de cá nem do lado de lá, mas sob o seu império está o artista enquanto homem, que aos deveres do homem não deve escapar, e a própria arte […] deve ser considerada como uma missão e exercitada como um sacerdócio».

Portanto, a moralidade do artista é uma realidade imanente em si, como homem. Se o artista observar as normas morais, jamais produzirá obras susceptíveis de serem classificadas como imorais, pois a obra de arte é a expressão do sentimento íntimo do artista.

Vamos recordar...
– As belas-artes classificam-se em artes plásticas e artes rítmicas.
– Para Kant, a estética e a ética estão separadas pelo interesse presente na última, mas o belo e o bom estão próximos.
– A obra de arte espelha a Sociedade.
– O artista, enquanto homem, está sujeito moral.

Bibliografia
GEQUE, Eduardo; BIRIATE, Manuel. Filosofia 12ª Classe – Pré-universitário. 1ª Edição. Longman Moçambique, Maputo, 2010.

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