A linguagem como fundamento da condição humana

A linguagem como fundamento da condição humana

desde o momento em que nascemos, entramos logo em comunicação com os outros e com o mundo que nos rodeia. O primeiro choro à saída do ventre da mãe é, talvez, a expressão primária dessa necessidade de comunicação, traduzida na única linguagem possível naquele momento.

A linguagem humana, na sua forma comum que é a palavra, ocupa um lugar de relevo entre os instrumentos culturais humanos. Utilizando uma terminologia hoje muito em voga, diríamos: «os homens e as mulheres estão programados para falar e aprender línguas, uma vez que a linguagem responde a uma necessidade fundamental da espécie humana: a necessidade de comunicação».
     Enquanto certas necessidades, que são mais do âmbito biológico, como comer, dormir e respirar, se manifestam naturalmente, como sabemos, a linguagem, que se insere no âmbito cultural, tem de ser aprendida sob a forma da língua própria da comunidade onde nascemos ou crescemos, manifestando-se nos actos de fala próprios dessa comunidade.
    Podemos dizer que a aptidão para a linguagem e, consequentemente, para a manifestação da fala está inscrita no código genético. Mas é preciso salientar que a aprendizagem da língua é social e cultural: por exemplo, uma criança de pais macuas que é retirada nos primeiros meses para um ambiente changana, adquirindo aqui a sua educação, obviamente terá maior propensão para adquirir a cultura changana.
    Como afirmamos anteriormente, a linguagem é o fundamento da nossa humanidade, ela tem um estatuto antropológico, uma vez que é ela que assegura a constituição do ser humano no seu processo antropológico e cultural.

Linguagem e comunicação

No nosso tempo, a comunicação aparece como um fenómeno complexo, uma vez que o termo designa objectos e situações diversas.
     Assim, falamos de comunicação pensando nos meios técnicos (rádio, TV, telefone, fax, Internet...); falamos de comunicação pensando nos dispositivos que a propicia (informação, formação, publicidade, etc.); e falamos obviamente de comunicação para nos referirmos a qualquer situação de interacção entre os seres humanos, evocando imediatamente a simples conversação, o diálogo, a discussão, o debate, e os enunciados discursivos nas diversas situações diárias.
    Têm sido propostos os vários modelos explicativos do fenómeno da comunicação humana. Na sua forma mais simples, podemos dizer que a comunicação é o resultado de três elementos fundamentais: uma fonte (o ser humano, um animal ou uma máquina) que emite uma mensagem (uma frase, um gesto, um filme, etc.) em direcção a um alvo (um interlocutor, um espectador, ou outro).
   Alguns modelos de comunicação conheceram uma enorme divulgação. Como por exemplo, o caso dos modelos de C. Shannon (engenheiro de telecomunicação) e de W. Weaver (filósofo da comunicação), datados de 1949, e o de H. Lasswell (especialista em ciências políticas), datado de 1948.

A Formação da Comunidade
A Internet representa tanto uma colecção de comunidades como uma colecção de tecnologias, e o seu sucesso é largamente atribuído à satisfação das necessidades básicas da comunidade e à utilização efectiva da comunidade na expansão da sua infra-estrutura. O espírito da comunidade tem uma longa história, começando com a ARPANET. Os pesquisadores da antiga ARPANET trabalharam numa comunidade fechada para conseguirem fazer as demonstrações iniciais da tecnologia de transferência de «pacotes» descrita anteriormente. Daí mesma forma, vários outros programas de pesquisa da ciência da computação promovidos pela DARPA (Packet Satellite, Packet Radio e outros) foram fruto de actividades de cooperação que usavam sobretudo qualquer mecanismo disponível para coordenar os seus esforços, começando com o correio electrónico e acrescentando a partilha de arquivos, acesso remoto e WWW (World Wide Web).

O Futuro da Internet
O correio electrónico ou e-mail foi a primeira aplicação da Internet e continua com um valor inestimável. O e-mail permite a comunicação entre duas ou mais pessoas de uma forma extremamente fácil. Pelo e-mail, podemos contactar com especialistas ou amigos em qualquer parte do mundo apenas com um clique do «rato».

A Web (ambiente multimédia da Internet) é outra grande aplicação. Ela mudou a forma de fazer o marketing, a forma de atender aos clientes, a forma de fazer negócios, a forma de educar, a forma de aprender. A evolução da Internet Possibilita a telefonia, a televisão e o cinema pela Internet. Surgiu uma nova geração de tecnologias básicas de rede para atender às necessidades de acesso de alta velocidade: atendimento online com visualização online, vídeo de alta qualidade, tradução de conteúdos para outros idiomas, prontuário electrónico de pacientes com acesso descentralizado pela Internet, ênfase na educação à distância a nível de ensino de cargos ou tutoriais de classes, pesquisas e eleições interactivas, são exemplos de serviços que encontramos na Internet.

M. Leiner, Vinton G. Cerf, David D. Clark, Robert E. Kahn, Leonard Kleinrock, Daniel C. Lynch, Jon Postel, Larry G. Roberts e Stephen Wolff,

Linguagem, pensamento e discurso

Quando a Filosofia usa o termo «discurso», considera-o uma operação intelectual que se processa por uma série de operações elementares e sucessivas, encadeando-se numa sequência ordenada de enunciados em que cada um retira o seu valor dos antecedentes, procurando chegar a determinadas conclusões.

Existe uma estreita relação com a Lógica, normalmente considerada a ciência reflexiva do discurso.
Por isso, os gregos usam o termo logos, que foi indiscretamente traduzido por «discurso, razão» e ainda «linguagem».

A maioria dos linguistas parece concordar que o discurso é, em primeiro lugar, um acontecimento de linguagem, uma actualização da língua na palavra, materializada no acto da fala e num acto de comunicação linguística. Dubois (1973) defende que o termo «discurso» designa todo o enunciado superior à frase, considerado do ponto de vista das regras de encadeamento das sequências de frases.

A perspectiva que aqui nos interessa considerar é a da Filosofia. Segundo ela, só há discurso quando há um conjunto de enunciados articulados entre si de uma forma coerente e lógica. Esta dimensão lógico-linguística do discurso é, por isso, fundamental. Existem outras dimensões que gostaríamos de referir, uma vez que o discurso humano é pluridimensional.

As dimensões do discurso humano

Defender que o discurso humano é pluridimensional é aceitar que existem diversas dimensões que o constituem. Como se pode concluir, umas podem ser consideradas mais importantes que as outras, como é o caso das dimensões sintática, semântica e pragmática, a que daremos maior desenvolvimento.
Existem, no entanto, outras dimensões que não devemos ignorar e que abordaremos primeiramente.

A importância desses discursos parece-nos facilmente compreensível, assim como será fácil estabelecer entre elas as respectivas relações e implicações. Dentre elas podemos destacar as seguintes dimensões: linguística, textual, lógico-racional, expressiva ou subjectiva, intersubjetiva ou comunicacional, argumentativa, apofântica ou representativa, comunitária, institucional e ética.

Dimensões sintáctica, semântica e pragmática

Dada a importância destas três dimensões e por razões metodológicas, daremos grande desenvolvimento a cada uma. Iremos concluir que não estamos perante dimensões auto-suficientes e independentes, mas sim perante dimensões indissociáveis.

A importância destas dimensões foi particularmente destacada pelo filósofo contemporâneo Charles Morris (nascido em 1901, nos EUA). Este autor procurou estabelecer uma teoria geral dos sinais, ou semiótica e, segundo ele, são três os níveis de análise dos processos de comunicação: sintáctico, semântico e pragmático.

Dimensão sintáctica

Etimologicamente, a palavra «sintaxe» deriva do grego syn + taxis, «co-ordem, coordenação». Tradicionalmente, define-se a sintaxe como a parte da gramática que trata das regras combinatórias entre os diversos elementos da frase.
Recorrendo a uma definição mais abreviada, podemos dizer que a sintaxe trata da relação interlinguística dos signos entre si (Karl-Otto Apel Sprachpragmatik und Philosophie, Frankfurt, 1975) ou estuda as relações internas que os signos mantém entre si (Michel Meyer Lógica, Linguagem e Argumentação; Teorema; Lisboa; 1992).

Usando uma definição mais elaborada, podemos dizer que «é o conjunto dos meios que nos permitem organizar os enunciados, afectar a cada palavra uma função e marcar as relações que se estabelecem entre as palavras. A ordem das palavras é um dos traços característicos de qualquer sintaxe.» (Marina Yaguello; Alice no País da Linguagem; Estampa; Lisboa; 1990).
Assim, por razões de carácter sintáctico:
  • Uma série de letras ao acaso não é uma palavra.
  • Uma série de palavras postas ao acaso não é uma frase.
  • Uma série de frases dispostas ao acaso não é um texto nem um discurso.

Dimensão semântica

O termo semântico encontra a sua raiz no grego semantiké (tékhne), que literalmente significa «a arte da significação», ou «arte (ciência) do significado».
Michel Bréal define a semântica como ciência que se dedica ao estudo das significações. Para Michel Meyer, a semântica trata da relação dos signos com o seu significado e, logo, com o mundo.

Portanto, a semântica trata das relações dos signos (as palavras ou frases) com os seus significados (significação) e destes com as realidades a que dizem respeito (referência).
No que se refere ao domino da semântica linguística podemos considerar:
  • a)    Uma semântica lexical – que estuda as regras de organização da significação das palavras entre si (as relações de sinonímia, de antinomia, os campos lexicais, a evolução das palavras).
  • b)    Uma semântica da frase – que estuda essencialmente o modo como as palavras se combinam para que a frase tenha sentido (uma palavra pode ter vários sentidos ou vários significados, que sé descodificaremos se considerarmos o contexto).
  • c)    Uma semântica do discurso (frase ou enunciados) – que constitui e dá coerência a um texto. (Perante um texto que não tenha um sentido unitário, que não respeite as regras de articulação, dificilmente alguém conseguirá captar o seu sentido global.)

Dimensão pragmática

A palavra «pragmática» encontra no grego pragmatiké (de pragma, «acção») a sua raiz. Entre os precursores da pragmática encontramos, entre outros, o filósofo e critico literário alemão Von Humboldt (1767-1835) que afirmou que a essência da linguagem era a acção. Michel Meyer define-a como a disciplina que se prende com os signos na sua relação com os utilizadores.

Pode-se considerar fundador da disciplina Charles Morris, que definiu a pragmática como complemento da sintaxe e da semântica. Na comunicação, segundo ele, há um signo, um significado e um intérprete, desenrolando-se entre eles uma tríplice relação. A pragmática é o estudo do uso das proposições. Mas também pode definir-se como estudo da linguagem, procurando ter em conta a adaptação das expressões simbólicas aos contextos referencial, situacional, de acção e interpessoal. A atitude pragmática diz respeito procura de sentido nos sistemas de signos, tratando-os na sua relação com os utilizadores, considerando sempre o contexto, os costumes e as regras sociais.

Uma análise pragmática de um texto, escrito ou falado, procura ver de que modo o texto está estruturado e quais as suas funções especificas.
     Qualquer texto, oral ou escrito, representa fundamentalmente a realização de um acto que não é apenas locutório, mas representa, igualmente, um acto ilocutório e um acto perlocutório. Se considerarmos o que dissemos anteriormente, facilmente concluiremos que, do ponto de vista pragmático, interessa sobretudo considerar os aspectos ilocutório perlocutório.

Quando um sujeito falante diz algo, podemos distinguir facilmente:
  • O que diz (acto locutório).
  • E o que faz, dizendo (acto ilocutório).
  • Os efeitos resultantes da acção de dizer (acto perlocutório).
Estas três dimensões do discurso (sintáctica, semântica e pragmática) não podem ser isoladas; são indissociáveis. Vamos procurar algumas razões justificativas desta indissociabilidade.
  • A sintaxe preocupa-se, essencialmente, com o que se poderia designar por a forma gramatical da linguagem.
  • A semântica coloca, essencialmente, o problema do significado das palavras e frases que constituem os nossos enunciados discursivos e, obviamente, remete para a relação que a linguagem estabelece com o mundo, com os objectos, colocando, assim, o problema de referência.
  • A pragmática preocupa-se com o uso que fazemos da linguagem num dado contexto.
  • (Sintáctica, semântica e pragmática).
  • Acessórias (linguística, textual lógico racional, expressiva/subjectiva, intersubjetiva/comunicacional, argumentativa, profântica, comunitária e institucional, ética).

Bibliografia
CHAMBISSE, Ernesto Daniel; COSSA, José Francisco. Fil11 - Filosofia 11ª Classe. 2ª Edição. Texto Editores, Maputo, 2017.

Comentários