A Primeira I Guerra Mundial (1914-1918)

A I Guerra Mundial (1914-1918)

A I Guerra Mundial é considerada como o último grande conflito do século já que é resultado das tensões e contenciosos acumulados ao longo de décadas. Por outro lado, afectou igualmente o início do século XX.

Entre as causas mais importantes está o nacionalismo, ideologia que legitima os Estados e os povos em vias de unificação que, a partir da Longa Depressão (1873-1896), deixa de se circunscrever apenas à Europa e estende-se a uma escala mundial, dando origem à era imperialista, com a formação de impérios coloniais. Este período exprime uma interdependência crescente entre os países europeus, resultando em crises e conflitos periféricos, centrados sobretudo em África, no Próximo Oriente e na China. Este ambiente de rivalidade levou os diferentes Estados europeus a estabelecerem:
  • Sistemas de alianças para disporem de apoios suplementares.
  • Corridas armamentistas e rivalidades navais.
  • Exacerbamento de um ambiente militarista junto da opinião pública.
As diferentes crises diplomáticas serviram, antes de mais, para testar a solidez das alianças e dos acordos até então efectuados.

    Primeira Guerra Mundial

    A crise de Marrocos (1905-1911)

    Apesar da Convenção de Madrid, em 1880, ter assegurado ao sultanato a sua independência e a oportunidade de comércio com todos os países, este continuou a ser motivo de conflito entre as principais potências europeias, como a Inglaterra, a Franca e a Alemanha, devido as suas ricas reservas naturais. Esta situação viria a alterar-se apos a assinatura da Entente Cordiale, entre os dois primeiros destes países, tendo-se então definido a divisão do Norte de África, ficando o Egipto sob a influência da Inglaterra e Marrocos sob a esfera da França.

    Neste novo quadro político internacional, a Alemanha viria a testar o acordo anglo-francês, tendo-se deslocado a Tânger o imperador alemão, Kaiser Guilherme II. Esta situação levou à imposição duma conferência internacional em Algeciras (Espanha), em 1906, com o objectivo de discutir o assunto. Nesta reunião, sob a mediação do presidente americano Theodore Roosevelt, a Entente Cordiale saiu reforçada, ficando claramente reconhecidas as pretensões; francesas, ainda que os alemães vissem igualmente assegurados os seus investimentos naquele território. França e à Espanha ficou-lhes atribuída a vigilância dos portos marroquinos.

    Posteriormente, a França viria a anexar o território marroquino, justificando com a necessidade da sua pacificação efectiva. Novos conflitos viriam a ocorrer em Casablanca, em 1908, quando o cônsul alemão deu protecção a desertores da Legião Estrangeira francesa, tendo sido estes resolvidos através do Tribunal de Haia e, mais tarde, o sultão receberia apoio da Franca e da Espanha para sufocar uma revolta popular, em 1911. O aparecimento de um navio de guerra alemão, com a justificação de proteger os seus interesses naquele país, foi encarado pelos franceses; como uma ameaça de guerra. Em Novembro de 1911, nas conversações internacionais que se seguiram, a Alemanha aceitou um protectorado francês em Marrocos, em troca de territórios franceses na Africa Equatorial. Finalmente, em Março de 1912, o sultão concordou com este protectorado e, posteriormente um acordo franco-espanhol, em 27 de Novembro de 1 912, dividiu o território em quatro zonas administrativas:
    • Marrocos francês, com capital em Rabat.
    • Marrocos espanhol, com capital em Tetuão.
    • O protectorado sul de Marrocos, administrado como parte do Saara Espanhol.
    • A zona internacional de Tânger.

    A As causas da I Guerra Mundial

    Atentado de Sarajevo a 28 de Junho de 1914
    A decisão da Alemanha de provocar a guerra em 1914 resultou, em grande parte, do desejo daquele pais romper o cerco imposto pela Tríplice Entente, impedir o crescimento do poder russo e tornar-se o Estado mais poderoso da Europa. O acontecimento que a provocou foi uma crise nos Balcãs, entre a Áustria-Hungria e a Sérvia, no decurso da qual a Alemanha alinhou com a primeira e a Rússia com a última.

    Nos Balcãs, a formação dos Estados-Nação, iniciada no século XIX e imitada do modelo ocidental, não estava ainda concluída.

    A «questão do Oriente», recorrente desde 1830, não cessava de vir ao de cima, envenenando as relações internacionais. O Império Otomano, como potência dominante, era odiado pelos povos que procuravam a sua independência e que, através de sociedades secretas ultranacionalistas, usavam da violência como meio de acção. A não coincidência entre as fronteiras dos Estados e a localização dos povos era uma fonte adicional de conflitos na região. Visto existirem laços muito fortes entre esses jovens Estados e as grandes potências, esta crise regional teve forçosamente repercussões à escala europeia. Não havendo uma política concertada para esta zona, as diversas intervenções tinham a tendência de se anularem umas às outras.

    Formou-se então situação que se caracterizava por:
    • Desorganização das estruturas administrativas.
    • Enfraquecimento do poder central.
    • Novo governo relativamente frágil.
    Os adversários do Império Otomano que se aproveitaram para tirar o máximo benefício da situação. Assim, em 1908, o Império Austro-húngaro procedeu ä anexação da Bósnia-Herzegovina, ocorreu a anexação de Creta pela Grécia e a declaração de independência da Bulgária. Surgiram os planos para a formação da «Grande Sérvia» e da «Grande Grécia», com base na desintegração do Império Otomano e numa nova divisão territorial nos Balcãs.

    No seguimento do processo de desintegração, no Outono de 1912, a Liga Balcânica, composta pela Sérvia, Bulgária, Montenegro e Grécia, apoiada pela Rússia, declarava guerra ao opressor turco. Em pouco tempo, a Liga conseguiu realizar os seus objectivos, ficando a Turquia sem os seus territórios na Europa. A guerra recomeçou novamente, em Junho de 191 3, entre a Bulgária e os seus antigos aliados. A segunda guerra balcânica, muito curta, significou a derrota das tropas búlgaras. Apesar da assinatura do tratado de Paz em Bucareste, em 10 de Agosto daquele ano, as tensões politicas na península mantinham-se, recebendo cada um dos países envolvidos no conflito o apoio internacional. O assassinato do arquiduque herdeiro da Áustria, Francisco Fernando, em Sarajevo, em 28 de Junho de 1914, por um membro da sociedade secreta A Mão Negro, era o pretexto ansiado para iniciar um novo conflito. Em apenas Oito dias, a guerra saiu do quadro balcânico e transformou-se num conflito europeu.

    As fases da guerra

    A guerra de movimentos
    Havia um consenso partilhado pelos diferentes países de que a guerra se resolveria rapidamente, pela estratégia ofensiva escolhida pelas diversas potências envolvidas. No entanto, a realidade militar, a partir de 1915, destruiu o princípio napoleónico da guerra de aniquilamento até então em vigor nos exércitos da época, obrigando à revisão dos dados militares e económicos do conflito, com a alteração da perspectiva inicialmente existente. Impôs-se, desde então, a guerra de desgaste, cujo objectivo estratégico era mais o esgotamento dos recursos económicos dos exércitos inimigos do que a sua verdadeira destruição.

    A Alemanha, consciente que não poderia bater-se em duas frentes, deu prioridade à ofensiva de invadir a França (Plano Schlieffen, de 18 de Agosto), a partir da sua progressão pela Bélgica, com a participação da artilharia pesada e infantaria, e executada por todas as suas unidades militares. As tropas francesas conseguiram retirar, em boa ordem, e reagrupar as suas forças em duas zonas, Verdun e Paris, tendo lançado então um contra-ataque - batalha do Marne, de 6 a 12 de Setembro -, abrindo uma brecha, com cerca de 80 quilómetros, entre os corpos do exército alemão. 

    O exército francês viu o seu avanço facilitado, já que as tropas russas tinham desencadeado uma ofensiva na frente Oriental, obrigando os alemães a retirar quatro divisões da frente Ocidental, para travar o seu avanço - batalhas de Tannenberg e dos Lagos da Masúria. Pouco depois desta contra-ofensiva, ambos os exércitos tentaram espalhar-se, ocorrendo ainda uma sucessão de tentativas infrutíferas de penetração mútua, forçando uma saída para o mar. Era o fim da guerra de movimento, dando origem estabilização de uma frente que se estendia de Nieuport fronteira suíça e que ficou conhecida pela guerra de trincheiras.

    Batalha de Somme ou Ofensiva de Somme: ocorreu entre 1 de Julho e 18 de
    Novembro de 1916, tendo consistido numa ofensiva franco-britânica contra o exército alemão. Foi um dos maiores combates da guerra, tendo causado um milhão 
    de mortos.
    Batalha de Tannenberg: decorreu entre 26 e 30 de Agosto de 1914, entre os exércitos russos e alemães. Nesta batalha, o exército russo ficou praticamente destroçado, de Verdun: decorreu entre 21 de Fevereiro e 18 de Dezembro de 1916, tendo sido travada na Frente Ocidental, entre os exércitos alemães e franceses. Foi a mais longa e uma das mais sangrentas do conflito, causando 698 000 mil mortos.
    Batalha do Marne: decorreu entre 5 e 12 de Setembro de 1914, traduzindo-se numa vitória franco-britânica sobre o exército alemão, num dos momentos decisivos da I Guerra Mundial.
    Batalha dos Lagos da Masúria: decorreu na Polónia, entre 7 e 11 de Setembro de
    1914, entre os exércitos alemão e russo, tendo o primeiro devastado os russos, permitindo às tropas alemãs a sua progressão para a Lituânia.
    Plano Schlieffen: foi desenvolvido em 1905, consistindo na estratégia de defesa alemã contra um ataque da Franga, Inglaterra e Rússia. O plano não teve sucesso; pois o exército alemão não conseguiu derrotar rapidamente as tropas belgas que
    desaceleraram assim o ataque inicial dando tempo para as forças francesas se organizarem e receberem apoio da força expedicionária britânica.

    Blocos militares e países beligerantes (Potências centrais)

    Potências centrais
    • ·       Império Alemão;
    • ·       Império Austro-húngaro;
    • ·       Império Otomano;
    • ·       Bulgária.

    Blocos militares e países beligerantes (Aliados)

    Aliados
    • ·       Império Britânico (Reino Unido, Austrália, Canadá, Índia, Nova Zelândia, África do Sul, e outros domínios).
    • ·       França / Bélgica / Estados Unidos da América / Império Russo / Itália / Japão / Sérvia / Portugal / Roménia
    • ·       Outros (Montenegro, Grécia, Andorra, Bolívia, Brasil, Costa Rica, Cuba, Checoslováquia, Equador, Guatemala, Libéria, Haiti, Honduras, Nicarágua, Panamá, Perú, China, São Marino, Sião, Uruguai, Albânia).

    Os novos equipamentos e tácticas

    Armas
    1914
    1915
    1916-1918


    Terra
    -Capacete
    -Utilização de veículos motorizados de transporte.
    -Gás de combate, morteiros,
    -Lança-chamas
    -Espingarda-metralhadora.
    -Primeiros carros de assalto.


    Mar

    -Operação anfíbia de desembarque no Estreito de Dardanelos.
    -Guerra submarina.


    Ar

    -Monoplano com metralhadora sincronizada com a hélice Balões cativos.
    -Utilização da aviação de reconhecimento.
    -Primeiros raides aéreos sobre Londres.

    O ano de 1915 viria a ser preenchido com operações militares nas frentes orientais e balcânicas, sendo globalmente favoráveis as Potências Centrais. De Maio a Outubro, os exércitos austro-alemães bateram as Linhas russas na Galícia, Polónia, ao longo de 500 quilómetros, resultando na ocupação de territórios consideráveis e pondo fora de combate cerca de 2 000 000 soldados russos. Embora o exército russo mantivesse a coesão, ficaria incapaz de retomar a ofensiva. Estes reveses obrigaram a Bulgária a entrar na Guerra, apoiada pelas potências centrais, tendo procedido ocupação da Sérvia e da Itália, ao lado da Entente, evitando o colapso do exército russo e enfraquecendo potencialmente a Áustria.

    Os alemães atacaram a praça forte de Verdun, em Fevereiro de 1916, com o objectivo de obrigarem os franceses a gastarem as suas munições e a enfraquecerem. A estratégia de desgaste alemão saldou-se por um insucesso, já que as perdas de ambas as partes se revelaram equilibradas. A batalha durou até Dezembro, tornando-se na mais longa de toda a I Guerra Mundial. Em Julho, os franceses, desejando também testar a capacidade combativa dos alemães, lançaram uma ofensiva no Somme, apoiada pela artilharia, com lança-chamas e lança-torpedos. Ainda que se tenha traduzido em pequenos sucessos bem localizados, esta ofensiva serviu para provar a superioridade do material aliado e provocar perdas

    consideráveis aos alemães. Por outro lado, a entrada da Roménia na guerra, em Agosto, ao lado dos aliados, obrigou as potências centrais a ocuparem a maior parte do território daquele país, com o objectivo de garantirem o abastecimento de trigo e petróleo.

    Por iniciativa alemã, a guerra endureceu com a chamada «guerra submarina» no Oceano Atlântico, iniciada a 1 de Fevereiro de 1917. Esta tinha como objectivo obrigar a Inglaterra a assinar a paz, através do bloqueio do abastecimento vindo dos Estados Unidos da América. Esta tentativa seria neutralizada, tanto pelo comportamento dos países neutros como pela crescente eficácia dos meios de defesa organizados pela marinha britânica.

    O Estado-Maior alemão, consciente dessas dificuldades, iria procurar um desfecho rápido para a guerra, antes que a entrada dos Estados Unidos da América produzisse todas as suas implicações. A Alemanha tinha também a esperança de poder fazer uma paz separada com a Rússia e de uma dissociação da aliança franco-russa.

    No primeiro caso, os repetidos insucessos do exército russo acabaram por pôr em causa o prestígio do czar Nicolau II, obrigando-o a abdicar. Esta crise política facilitou a tomada do poder pelos bolchevistas em Outubro de 1917 e à assinatura de um armistício com Alemanha, um més mais tarde. Esta nova situação permitiu a transferência das melhores divisões alemãs de Este para Oeste, impondo ao adversário uma guerra de movimento. De Março a Julho, os alemães lançaram quatro ofensivas que abriram a frente franco-francesa na região de Saint-Quentin e, depois, progrediram na direcção de Chatéau-Thierry e do Marne, ameaçando novamente a capital francesa. A nova táctica alemã provou a sua eficácia. Esta residia no uso de destacamentos autónomos, apos uma preparação de artilharia muito breve, mas intensa.

    Esta progressão alemã foi interrompida pelo emprego maciço de carros de assalto franceses. Estes tanques protegiam os movimentos de infantaria. Os alemães seriam obrigados a retirar e, em 26 de Março de 1918, a totalidade do terreno conquistado pelos alemães estava recuperado, retirando estes para norte e nordeste.

    Nos outros teatros de operações - Bulgária, Turquia e Áustria-Hungria os combates também cessaram.

    A entrada dos EUA: razão e significado

    No decorrer da I Guerra Mundial, a prosperidade dos Estados Unidos da América foi ficando gradualmente mais dependente das encomendas, requeridas pelos inimigos da Alemanha, de munições, maquinaria, têxteis, centeio, azeite, cobre, ago e outros produtos. Quando estas nações esgotaram os seus créditos em dólares nos Estados Unidos, liquidando os títulos da bolsa americana, o único meio de financiamento das futuras importações consistia na obtenção de empréstimos em instituições bancárias norte-americanas. Assim se estabeleceu uma parceria comercial entre os exportadores norte-americanos e os importadores ingleses e franceses, consolidada pela relação financeira estabelecida entre as empresas bancárias de investimentos americanas e os tesouros públicos de Londres e Paris, permitindo a continuação da iniciativa bélica aliada.

    O recomeço da guerra submarina alargada, pela Alemanha, em Janeiro de 1917, punha em causa o comércio entre os Estados Unidos e a Grã-Bretanha, provocando uma quebra no comércio americano de exportação, levando então a ser declarada a guerra Alemanha, em 6 de Abril de 1917.

    O período de 1914-1918 provocou uma forte transferência internacional de riqueza dos Estados Unidos para a Europa. A liquidação dos investimentos britânicos e franceses nos Estados Unidos, no primeiro ano de guerra, pagou a divida americana aos credores europeus. O subsequente empréstimo americano aos governos aliados transformou os Estados Unidos em credor das potências europeias que haviam esgotado os seus recursos financeiros.

    A saída da Rússia: razão e significado

    A entrada da Rússia na guerra explica-se, ao mesmo tempo, por razões de política externa e interna.
    No plano externo, a Rússia pretendia impedir o Império Austro-Húngaro de dominar a Península Balcânica, aniquilando a Sérvia. Esperava consolidar assim a sua própria influência sobre os Estados eslavos dos Balcãs. Por outro lado, pretendia realizar o velho sonho do imperialismo russo: apoderar-se de Constantinopla e do estreito de Dardanelos, que lhe permitiria passar livremente do mar Negro ao mar Mediterrâneo.

    No plano interno, a guerra devia favorecer a repressão contra a oposição e levar o povo a cerrar fileiras à volta do czar para defender a Rússia atacada pelo velho rival alemão.
    Inferiores no plano estratégico e táctico, as tropas russas são vencidas logo na batalha de Tannenberg, em 30 de Agosto de 1914.

    Em 1915, o avanço alemão ocupou a Polónia e a Lituânia, atingindo Beresina. Os russos sofreram milhares de mottes e feridos, para além de 900 000 prisioneiros. Uma nova ofensiva russa, lançada durante o Verão de 1916, foi um novo fracasso.

    Entretanto, desde os finais de 1 915 que a situação económica vinha sofrendo uma rápida deterioração, caracterizando-se por:
    • Crise de abastecimento às cidades.
    • Desorganização nos transportes.
    • Diminuição da produção agrícola.
    • Isolamento da Rússia do resto do mundo.
    • Despesas militares muito pesadas.
    A 15 de Março de 191 7, perante a grande agitação popular, o czar Nicolau II abdicou, facilitando a tomada do poder pelo Partido Bolchevista em 7 de Novembro de 1917.

    O novo governo revolucionário convidou, de imediato, todos os beligerantes para estabelecerem a paz sem anexações ou indemnizações. Isoladamente, deu início às negociações de paz com as potências centrais na cidade de Brest-Litovsk, em 3 de Dezembro de 1917. Três meses depois, era assinado o tratado de paz retirando a Rússia da guerra.

    Respeitando o tratado, a Rússia foi forçada a ceder virtualmente a totalidade dos seus territórios não-russos na Europa -e Polónia, Lituânia, Letónia, Estónia e Finlândia, a norte, e Ucrânia e as províncias da Transcaucásia (Geórgia, Arménia e Azerbaijão), a sul - alterando radicalmente o equilíbrio de poder na Europa de leste.
    Assim:
    • A Rússia foi afastada do Mar Báltico pela criação dos Estados independentes, como a Finlândia, a Letónia, a Lituânia e a Estónia, sob a protecção militar da Alemanha.
    As contradições imperialistas dos finais do século XIX até ao final da 1ª Guerra Mundial A Rússia viu bloqueado o seu acesso ao Mar Negro e à região do Cáucaso, rica em minerais, pela criação de Estados independentes na Ucrânia, Crimeia, Geórgia e Arménia, juntamente com o controlo turco do estado muçulmano do Azerbaijão.
    • No centro da Europa foi restaurado o Estado polaco, para servir como zona de trânsito para a Alemanha, no antigo território russo, ao longo do Mar Negro e do Mar Báltico.
    • A Roménia anexou a antiga província imperial russa, a Bessarábia, com o apoio da Alemanha e da Áustria.
    • A Rússia viu bloqueado o seu acesso ao Mar Negro e à região do Cáucaso, rica em minerais, pela criação de Estados independentes na Ucrânia, Crimeia, Geórgia e Arménia, juntamente com o controlo turco do estado muçulmano do Azerbaijão.
    • No centro da Europa foi restaurado o Estado polaco, para servir como zona de trânsito para a Alemanha, no antigo território russo, ao longo do Mar Negro e do Mar Báltico.
    • A Roménia anexou a antiga província imperial russa, a Bessarábia, com o apoio da Alemanha e da Áustria.

    O envolvimento dos africanos

    O papel dos africanos na I Guerra Mundial
    A contribuição dos africanos na I Guerra Mundial fez-se fundamentalmente pela sua integração nas forças militares ou em tarefas civis, como o transporte de armamento e mercadorias. A integração de africanos nos exércitos coloniais já se fazia há décadas, estando as suas funções limitadas a serem meros instrumentos da conquista colonial ou usada na manutenção da ordem pública. Uma nova visão sobre a sua importância viria a dar-se nos primeiros anos do século XX, quando se encarou a possibilidade de eles se tornarem um complemento da acção exterior das potências coloniais e constituírem em tempo de guerra uma ameaça para o inimigo.

    A partir da primeira década do século passado, países como a França (1912) e a Grã-Bretanha (1915) procederam ao recrutamento de homens para servirem nos seus exércitos coloniais.

    Este recrutamento, organizado pelas administrações coloniais, incidiu também no pessoal necessário ao apoio logístico, como carregadores, encarregados de transporte das armas e outros equipamentos, mas também dos que asseguravam o transporte dos produtos comerciais de exportação.

    A Vida dos soldados e dos carregadores era extraordinariamente dura, estando muitas vezes mal alimentados e doentes. Muitos soldados africanos destacaram-se pela sua valentia, coragem, determinação e disciplina, tendo, por isso, sido promovidos, ainda que não fossem considerados como iguais pelos seus colegas europeus.

    Os focos de confrontação em Africa ligados à I Guerra Mundial

    No início da I Guerra Mundial, esperava-se que a África não viesse a transformar-se num outro palco de combate, apesar de ser no nosso continente onde se encontrava a maior extensão de fronteiras comuns entre as diversas potências beligerantes. No entanto, não foi isso que aconteceu. Tanto «aliados» como alemães procuravam com esta guerra encontrar compensações:
    • Os Aliados esperavam poder repartir entre si as colónias alemãs, nomeadamente o Togo.

    Agadir (Marrocos): O conflito de Agadir foi provocado pela presença de navios da marinha alemã naquela região, a pretexto de protegerem as empresas daquele pais no vale de Suz. Perante a reacção da Grã-Bretanha, foi assinado um tratado franco-alemão a 4 de Novembro de 1911, permitindo à França, em 1913, ocupar todo o reino de Marrocos.

    O Togo

    Foi uma campanha militar relativamente curta, com a duração de apenas três semanas. As tropas aliadas avançaram para o Togo a partir da Costa do Ouro (Grã-Bretanha) e do Daomé (França), tendo enfrentado pouca resistência alemã, em virtude de o seu exército ser pouco numeroso e mal equipado.

    Este, incapaz de defender o norte da colônia e o porto de Lomé, concentrou-se em Kamina, onde se encontrava a estação de rádio, que Ihes permitia as comunicações com o exterior. A 25 de Agosto de 1914 0 Togo rendeu-se, tendo franceses e britânicos repartido o território entre si.

    Os Camarões

    As condições naturais adversas nos Camarões fizeram com que a guerra se arrastasse aqui por mais tempo, estendendo-se entre Agosto de 1914 e Fevereiro de 1916. O relevo acidentado e a extensão das florestas permitiram aos alemães fazer frente ao inimigo com alguma eficácia. Franceses e belgas cercaram o território e estabeleceram um bloqueio marítimo. Os combates foram violentos até à queda dos portos de Duala e Victoria Buea, em Setembro de 1915. As cidades do interior resistiram mais tempo, mas as tropas alemãs acabariam por se refugiar em território espanhol, em 15 de Fevereiro de 1916. Apos esta notícia, a cidade de Mora, a norte, que não tinha ainda sido atingida pela guerra, rendeu-se. A 18 de Fevereiro, os Camarões estavam totalmente vencidos. Tal como no Togo, os britânicos e os franceses repartiram o território entre si.

    O Sudoeste Africano

    A União Sul-Africana, decidida a apoiar a Grã-Bretanha, organizou a invasão da colônia alemã. Um primeiro ataque por mar, permitiu tomar as povoações de Luderitz e Swakopmund, onde se encontravam estações de rádio, antes de terminar o ano de 1914. Entretanto, tropas avançavam para a fronteira.

    Na Primavera de 1915, o exército conseguiu finalmente penetrar em território inimigo pelo sul e, a partir dos portos, tomar a capital, Windhoek. A capitulação alemã viria a ocorrer em Julho de 1915. A União, que esperava obter a sua anexação como recompensa da sua participação, ocupou a colônia.

    A I Guerra Mundial em Moçambique

    A I Guerra Mundial, no norte de Moçambique, transformou-se no palco de duas invasões alemãs:
    • A primeira, de fraca intensidade, decorreu de Abril a Setembro de 1917.
    • A segunda, mais importante, decorreu de Novembro de 1917 a Setembro de 1918.
    Em dez meses de guerrilhas, o pequeno exército alemão, comandado pelo general Von Lettow-Vorbeck, composto por menos de 300 soldados europeus e 1700 soldados africanos, percorreu cerca de 2500 km, alcançando o Oceano indico e ameaçando a povoação de Quelimane. A guerra viria a terminar na região após a assinatura de um armistício especial, em 25 de Novembro de 1918, na então colónia da Rodésia do Norte.

    Seria neste período que os portugueses procederiam à ocupação militar do planalto maconde (Abril/Setembro de 1917), operações que ainda iriam prolongar-se até à primeira metade da década de 1920.

    O fim da I Guerra Mundial

    Em 29 de Outubro de 1918, o Comando Supremo Alemão informou o imperador Guilherme II que a situação militar na frente de combate era insustentável, exigindo um cessar-fogo imediato. Recomendava ainda que fossem aceites os «14 Pontos» do presidente norte-americano, Woodrow Wilson, para as negociações de paz. Com isto, permitia-se manter a honra do exército alemão e colocar a responsabilidade da capitulação e as suas consequências nas mãos dos partidos políticos e no parlamento.

    Na verdade, os políticos e militares alemães tentavam fugir à responsabilidade de assinar um armistício. Porém, os motins revolucionários, como a revolta dos marinheiros, no porto naval de Wilhelmshaven, que proclamou a república em de 3 de Novembro, levaram o imperador Guilherme II a abdicar, sendo assinado um armistício em 11 de Novembro de 1918.

    A paz de Wilson

    O presidente norte-americano Woodrow Wilson enfatizava a importância dos direitos humanos, sendo um defensor do direito à autonomia, criticando a ilegitimidade do imperialismo formal. Defendia, no plano internacional, que os Estados Unidos da América não tinham interesse em seguir as políticas das potências imperialistas europeias, tendo um importante papel enquanto mediador de conflitos entre outros Estados.

    Assim, não se envolveu na I Guerra Mundial, mantendo o pais neutro no conflito. A fama de Woodrow Wilson (Prémio Nobel da Paz, em 1919) baseava-se na sua visão sobre o estabelecimento da paz na Europa, auxiliando a Sociedade das Nações a promoverem a segurança colectiva, impedindo novos conflitos. Na Conferência de Paris apresentou um conjunto de princípios e propostas que visavam a reestruturação mundial no pós-guerra.
    Fig.: Woodrow Wilson, 1856-1924.

    Os 14 pontos de Woodrow Wilson
    • 1.     Inaugurar pactos de paz, depois dos quais não deverá haver acordos diplomáticos secretos, mas sim diplomacia franca e sob os olhos da opinião pública.
    • 2.     Liberdade absoluta de navegação nos mares e águas fora do território nacional, tanto na paz quanto na guerra, com excepção dos mares fechados, completamente ou em parte, por acção internacional em cumprimento de pactos internacionais.
    • 3.     Abolição, na medida do possível, de todas as barreiras económicas entre os países e o estabelecimento de uma igualdade das condições de comércio entre todas as nações que aceitem a paz e a associação multilateral.
    • 4.     Garantias adequadas da redução dos armamentos nacionais até ao mínimo necessário para garantir a segurança nacional.
    • 5.     Um reajuste livre, aberto e absolutamente imparcial da política colonial, baseado na observação estrita do princípio de que a soberania dos interesses das populações colonizadas deve ter a mesma importância dos pedidos semelhantes das nações colonizadoras.
    • 6.     Retirada dos exércitos do território russo e solução de todas as questões envolvendo a Rússia, visando assegurar a melhor cooperação com as outras nações do mundo. O tratamento dispensado à Rússia pelas suas nações irmãs será o teste de boa-vontade, de compreensão das suas necessidades como distintas dos seus próprios interesses e da sua simpatia inteligente e altruísta.
    • 7.     A Bélgica, como o mundo inteiro concordará, precisa ser restaurada, sem qualquer tentativa de limitar a sua soberania a qual ela tem direito, assim como as outras nações livres.
    • 8.     Todo o território francês deve ser libertado e as partes invadidas restauradas. O mal feito à Franca, em 1871, na questão da Alsácia e Lorena, deve ser desfeito para que a paz possa ser garantida mais uma vez, no interesse de todos.
    • 9.     Reajuste das fronteiras italianas, respeitando linhas reconhecidas de nacionalidade.
    • 10.  Reconhecimento do direito ao desenvolvimento autónomo dos povos da Áustria-Hungria, cujo lugar entre as nações queremos ver assegurado e salvaguardado.
    • 11. Retirada das tropas estrangeiras da Roménia, da Sérvia e de Montenegro, restauração dos territórios invadidos e o direito de acesso ao mar para a Sérvia.
    • 12. Reconhecimento da autonomia da parte da Turquia dentro do Império Otomano e a abertura permanente do estreito de Dardanelos como passagem livre aos navios e ao comércio de todas as nações, sob garantias internacionais.
    • 13. Independência da Polónia, incluindo os territórios habitados por população polaca, que devem ter acesso seguro e livre ao mar.
    • 14. Criação de uma associação geral sob pactos específicos para o propósito de fornecer garantias mútuas de independência politica e integridade territorial dos grandes e pequenos Estados.

    Os «14 Pontos» foram apresentados ao Congresso dos Estados Unidos, em 8 de Janeiro de 1918, que o rejeitou, sob a forte influência do isolacionismo da politica externa americana. A rejeição do Congresso impediu que os Estados Unidos integrassem a Sociedade das Nações.

    A Conferência de Paris

    A Conferência de Paz de Paris foi a maior reunião diplomática desde o Congresso de Viena, tendo-se estendido de 18 de Janeiro de 1919 a 20 de Janeiro de 1920. Nesta conferência foi assinado um importante conjunto de tratados. O ponto de partida da reunião foram os «Catorze Pontos» do presidente norte-americano Woodrow Wilson, que constituíam a única exposição sistemática dos objectivos de guerra dos «aliados». Porém, os resultados foram muito diferentes, dados os interesses particulares de cada um dos países presentes:
    • A França estava fundamentalmente interessada em garantir a sua segurança, a imposição de sanções e o pagamento das reparações de guerra por parte dos alemães. 
    • A Itália procurava que lhe fossem concedidos os territórios que lhe tinham sido prometidos em 1915, em troca da sua entrada na guerra.
    • A Grã-Bretanha estava interessada em proteger os seus interesses coloniais, ao mesmo tempo que pretendia garantir a sua supremacia naval.
    • Os Estados Unidos da América estavam particularmente interessados na criação da Sociedade das Nações, tendo sido obrigados a fazer numerosas concessões a cada um dos países, de modo a garantira sua existência.

    Congresso de Viena: decorreu entre 2 de Maio de 1814 e 9 de Junho de 1815, com o objectivo de redesenhar as fronteiras europeias, alteradas pelas conquistas de Napoleão Bonaparte, restabelecer nos tronos as famílias reais derrotadas e estabelecer alianças entre a burguesia dos vários países europeus.
    Foi estabelecida uma aliança político militar: a Santa Aliança, reunindo os exércitos da Rússia, Prússia e Áustria, prontos para intervir em qualquer crise que ameaçasse o Antigo Regime, incluindo a hipótese de intervir nas independências no continente americano.

    O Tratado de Paz de Versalhes

    A assinatura do Tratado de Paz de Versalhes, em 29 de Junho de 1919, obrigou os alemães a aceitarem pesadas condições, como:
    • Entregar a Alsácia-Lorena à Franca, além de outras regiões Dinamarca e à Polónia.
    • Ceder as minas de carvão do Sarre à França, por um período de 15 anos.
    • Entregar a jurisdição do porto de Danzig à jurisdição da Sociedade das Nações, sendo este gerido.
    • A distribuição das antigas colónias alemãs pela Grã-Bretanha, Franca e Africa do Sul, sob a forma de «mandatos», enquanto as da Ásia eram divididas pelo Japão, Austrália e Nova Zelândia.
    • O desarmamento total das suas forças militares, entregando os navios e submarinos aos países vencedores.
    • A interdição de terem aviação militar e marinha de guerra.
    • A redução do seu exército a 100 000 homens.
    • Pagamento de uma soma de 33 milhões de dólares, como compensação pelas perdas e danos sofridos pelos países vencedores.
    Outros acordos foram assinados, em separado, com os aliados da guerra da Alemanha. O Império Austro-Húngaro foi desmembrado, surgindo em seu lugar a Checoslováquia, a Hungria, a Polônia e a Jugoslávia.

    A criação da Sociedade das Nações

    A derrota da Alemanha significou para o presidente norte-americano Woodrow Wilson, a contenção do militarismo na Europa e a possibilidade da criação de um organismo internacional no qual todos os países, sem excepção, poderiam trabalhar pela paz mundial. A Sociedade das Nações, criada em 28 de Abril de 1919, era esse fórum internacional. A Alemanha e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), a que se seguiriam depois os Estados Unidos da América, não integraram a Sociedade. Esta tinha como órgãos:
    • A Assembleia Geral, constituída por todos os Estados membros.
    Um Conselho formado por cinco potências vitoriosas – Império Britânico, Estados Unidos da América, Franca, Itália e Japão - e por quatro membros designados pela Assembleia, procurando conciliar igualdade e eficácia.

    De imediato revelaram-se os seus defeitos e limitações:
    • Todas as decisões deveriam ser tomadas por unanimidade, o que equivalia a dar a todas as partes contratantes o direito de veto.
    • Indefinição entre os poderes da Assembleia e do Conselho.
    • Ausência de meios efectivos para evitar a guerra.
    Ainda que a Sociedade das Nações tivesse obtido alguns êxitos, quando as situações envolviam potências relativamente menores, o seu fracasso viria a confirmar-se nos conflitos expansionistas que envolviam os próprios membros permanentes do Conselho.

    A Sociedade das Nações instituiu a diplomacia multilateral e constituiu organismos que lhe sobreviveram, apos a sua última reunião, em Abril de 1946, como a Organização Internacional do Trabalho e o Alto-Comissariado para os Refugiados.


    Bibliografia
    SOPA, António. H10 - História 10ª Classe. 1ª Edição. Texto Editores, Maputo, 2017.

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