Agricultura, Influência dos factores físico-naturais e humanos na agricultura, O relevo e o declive do terreno

Agricultura

O que é a agricultura?
Vamos apresentar as definições de alguns estudiosos desta área, para melhor aferição deste assunto.

«A agricultura é uma actividade económica complexa, orientada no sentido da produção de bens primários destinados à alimentação e à indústria, obtidos a partir de plantas e de animais, por intermédio de transformações biológicas e tecnológicas.»
Verbo - Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura
               
«A agricultura é o trabalho da terra para produzir plantas e animais úteis.»
Pierre George                              

«A agricultura é a arte de domesticar animais e plantas.»
Pierre George                                                               

«A agricultura é não somente uma arte, mas, ainda, uma arte indispensável e de grande importância, é também uma ciência que nos ensina, para cada tipo de terreno, quais os trabalhos que contêm quais as sementes a lançar e as qualidades que levam cada um desses tipos de terreno a produzir sempre as espécies mais modernas.»
Varrão

Na realidade, o que distingue a agricultura da indústria são as condições da sua produção. Ela produz em condições naturais, biológicas e a indústria em condições artificiais. A produção da indústria não depende da Natureza, mas sim da máquina.

Influência dos factores físico-naturais e humanos na agricultura

A distribuição das principais culturas no nosso pais é fortemente influenciada por factores físicos, ou seja, pelo clima, topografia do terreno e solos, e também por económicos, particularmente no que diz respeito aos custos do transporte, compra de insumos e tecnologia. 
Qual o papel do clima, dos solos, da declividade do terreno no rendimento agrícola?

Factores físico-naturais

Clima

O clima é um factor extremamente importante pela relação que tem com as culturas da região. As características climáticas de um lugar definem praticamente o tipo de culturas dessa região e o momento do seu cultivo.
Os principais elementos para a definição de um clima são: temperatura e precipitação. São estes dois elementos de clima que influenciam decisivamente o desenvolvimento das plantas.

Geralmente, a actividade agrícola tem dois inimigos: o frio e a seca. Eles constituem verdadeiros factores limitantes que impedem todo o tipo de cultura sobre vastas superfícies do planeta, salvo se se recorrer a meios artificiais.
Vamos analisar de que forma, tanto a temperatura como a precipitação, exercem influência na agricultura.

O crescimento de uma planta depende da quantidade de calor que ela recebe ao longo do ciclo vegetativo. Esta quantidade de calor varia de planta para planta e ao longo do seu crescimento, isto significa que os tipos de plantas se diferenciam segundo a variação da temperatura no globo: zonas quentes, temperadas e frias, assim como regiões montanhosas.

Ciclo vegetativo – período que vai desde a sementeira até à colheita. O período de crescimento de uma planta é aquele em que a temperatura, no mínimo, é igual ou superior a 10 oC Para que urna planta cresça é necessário que as temperaturas médias não sejam inferiores a 0 oC. O trigo exige uma temperatura média de 10 oC.
Balanço hídrico – saldo entre a quantidade de precipitação e a evaporação.

É Importante notar que os dados apresentados na «informação» desta página se referem as médias, mas deve tomar-se em conta a variação da exigência da quantidade de calor ao longo do ciclo vegetativo. pois, por vezes, há excessos ou défices. A variação da temperatura, por causa da evaporação, tem de se relacionar com a quantidade de água no solo.

Em Moçambique, a época agrícola dura 7 a 8 meses no Norte e 5 a 6 meses no Sul.
Culturas de subsistência como, por exemplo, o milho, a mapira e o arroz, e de rendimento, como o algodão, o tabaco e o girassol, requerem temperaturas altas, acima dos 20 graus.

O período quente e chuvoso é a melhor época para o cultivo porque, embora as temperaturas sejam altas, é nesta época que geralmente chove muito, o que resulta num balanço hídrico positivo.

A água no solo depende da quantidade de precipitação caída e da temperatura (que provoca a evaporação), e permite conhecer o grau de humidade do solo.

A existência de uma estação seca muito marcante é prejudicial para a agricultura, pois o crescimento das plantas depende também, como vimos, da quantidade de água existente no solo durante o ciclo vegetativo.

À semelhança da temperatura, também neste caso as necessidades totais de água no solo, bem como a variação de exigência ao longo do período vegetativo, variam de planta para planta.

Na realidade, algumas plantas necessitam de muita água, como o arroz; outras, de pouca, exemplo da mandioca; outras, ainda, exigem muita água no início, mas pouca na fase de maturação.

No nosso país, na época seca (de Maio a Setembro), embora as temperaturas sejam propicias para o de diversas plantas, o saldo negativo da água no solo impede o desenvolvimento das mesmas, razão pela qual esta não é uma boa época agrícola por excelência, exceptuando os casos das culturas com pouca exigência de água.

Isso significa que, no Norte, dependendo do tipo de planta, é possível fazer-se duas colheitas, por exemplo de feijão (cicio vegetativo 4 meses), contrariamente ao que acontece no Sul, onde só é possível uma colheita.
As culturas são possíveis em certos períodos do ano e é o ritmo das estações que determina o calendário agrícola.

Solos

O solo define-se pela sua estrutura física e química.
A fertilidade natural de um solo, isto é, a sua capacidade de dar bons rendimentos com recursos mínimos de insumos, é bastante variável e depende também da planta.

Os solos arenosos são «leves» e fáceis de trabalhar; eles aquecem rapidamente, mas atenuam a seca.

Os solos argilosos são «pesados» e requerem tratamento especial, mas, convenientemente trabalhados, dão bons resultados.

Os pedólogos têm, desde há muito tempo, tentado traçar uma tipologia de solos.
O pH dos solos resulta da presença de ácidos provenientes da rocha-mãe, das estrumações e fertilizantes, e ainda das culturas praticadas.

As áreas tropicais húmidas são frequentemente penalizadas por apresentarem grandes áreas com solos ferralíticos, pouco favoráveis à agricultura.

A maioria dos solos são frágeis, sem componentes nutritivos para as culturas e esgotam-se facilmente.
Um dos grandes problemas de sempre dos camponeses tem sido a resposta a este esgotamento.

Tabela 16: Terra arável (há) per capita
País
1980
2000
Moçambique
0,24
0,23

Tabela 17: Terras irrigadas (%)
País
1980
2000
Moçambique
2,1
2,6

Tabela 18: Quantidade de fertilizantes usada (kgs)
País
1980
2000
Angola
49
9
Canadá
416
572
Moçambique
107
26
EUA
1092
1090
Zimbabwe
610
544



Vocabulário:
Insumo – produtos Introduzidos no processo agrícola.
pH – grau de acidez.
Socalcos – escadaria; andares; agricultura feita em níveis diferentes, numa encosta, para evitar a erosão.
Pedólogo – técnico que estuda os solos.


O relevo e o declive do terreno

A disposição do relevo constitui o outro factor natural com o qual a agricultura deve contar. As planícies ou os planaltos, mais fáceis de trabalhar, têm sido utilizados nos casos em que as condições pedológicas e climáticas são favoráveis.

O declive do terreno não é necessariamente um obstáculo, embora crie sempre dificuldade à movimentação das máquinas e facilite a erosão. Esta situação de terrenos ingremes é superada com a construção de socalcos.

Os rendimentos diminuem com a altitude em razão do abaixamento regular da temperatura.
A montanha tropical, em relação planície, oferece frequentemente vantagens, porque é húmida relativamente ao meio em redor, que é seco e quente. As terras altas são propícias para culturas que requerem muita humidade e temperaturas não altas, como é o caso do cultivo do chá, nas montanhas do Chire-Namúli, na província da Zambézia.

As terras baixas são intensamente trabalhadas por serem de fácil cultivo, facto que leva a grande concentração da população. É o caso da planície costeira e dos vales dos rios.

Factores humanos

Os factores físico-naturais apenas influenciam o desenvolvimento da agricultura. São os factores humanos que, com maior ou menor dificuldade, determinam o uso do solo.

Técnicas e tecnologias

As técnicas e tecnologias exercem um papel muito importante no aproveitamento do solo.
O desenvolvimento da técnica e a invenção de novas tecnologias permitiram, ao longo dos tempos, o aumento da produção e produtividade, a melhoria da dieta alimentar das populações e a criação de excedentes cujos produtos circulam em todas as partes do Mundo.
Os progressos técnicos, tecnológicos e científicos permitiram:
  • Melhoria e conservação da qualidade do solo;
  • Uso de estrume e adubos;
  • Melhoria das técnicas de irrigação;
  • Elevada mecanização, factor de libertação do Homem para outras actividades;
  • Emprego de debulhadoras e semeadoras;
  • Introdução da hidroponia (muito frequente no Japão, devido falta de espaço).
No nosso país, a maior parte da população emprega tecnologia e técnicas ainda rudimentares, resultando daí fracos rendimentos.

O quadro a seguir ilustra perfeitamente essa constatação, pois compara Moçambique com alguns países da região e outros desenvolvidos.

Tabela 19: Número de factores por 1000 trabalhadores agrícolas
País
1980
2000
Angola
4
2
Canadá
827
1761
Moçambique
1
1
EUA
1230
1542
Zimbabwe
7
7








Características gerais

As populações enfrentam problemas relacionados com a forma como a terra é distribuída. De facto, as melhores terras estão na posse das pessoas com melhor poder económico, relegando as terras inférteis para os camponeses pobres.

O latifúndio constitui motivo de tensões sociais, inveja, perseguições, etc.

De uma forma geral, Moçambique possui predominantemente uma agricultura tradicional, de subsistência, caracterizada pela fraca produção, que tem por objectivo alimentar a família, mas no nosso país também se pratica uma agricultura moderna, caracterizada por alta produção e produtividade, virada essencialmente para a venda.

A plantação acompanha a constituição dos grandes impérios europeus - inglês, francês, espanhol, holandês — e a administração directa pela metrópole dos territórios mais ou menos vastos.

Desde o tempo colonial que os camponeses também praticam a agricultura de plantação.
A agricultura de plantação ainda está fortemente implantada no nosso pais, pois a nossa economia depende muito das exportações dos produtos das grandes plantações. Por isso, o Estado continua a dar importância a este tipo de sistema agrícola.

Com a independência, as plantações passaram a pertencer aos nacionais, mas foram estabelecidas fortes alianças com o capital estrangeiro, formando-se assim multinacionais, que constituíram grandes monopólios dominados por estrangeiros na área da produção e comercialização.

Os camponeses também praticam o cultivo deste tipo de plantas apenas para comercialização.

Geralmente fazem-no em monocultura, em terrenos não muito grandes, incentivados pelo Estado.
Muitos camponeses praticam culturas de comercialização: algodão, café, cacau, palmeiras, cajueiros.
Para o conhecimento da evolução da agricultura no nosso pais, vamos analisar como ela era no tempo colonial e depois da independência.

Ao lado da agricultura tradicional de subsistência, existe um pouco por todo o lado uma agricultura evoluída, utilizando as mais modernas tecnologias, com caracteristicas semelhantes às dos países industrializados e, frequentemente, explorada por grandes empresas nacionais ou multinacionais.
A plantação é filha da colonização.

Vocabulário:
Hidroponia — agricultura sem terra cujas culturas são feitas em solução aquosa, fornecendo às plantas todos os nutrientes necessários.
Multinacional – empresa dependente de capitais de vários países ou nações.


Agricultura na Zambézia


Bibliografia
NONJOLO, Luís Agostinho; ISMAEL, Abdul Ismael. G10 - Geografia 10ª Classe. Texto Editores, Maputo, 2017.

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