Agricultura no Tempo Colonial: Agricultura empresarial, Agricultura familiar e A agricultura após a independência

Agricultura no Tempo Colonial

A agricultura colonial reflectiu o processo histórico de integração da economia agrícola tradicional no mercado mundial.

Os colonizadores colocaram Moçambique ao seu serviço com a introdução de culturas obrigatórias, como, por exemplo, o algodão, matéria-prima necessária às indústrias têxteis da metrópole em franca expansão.

A agricultura, no período colonial, era exercida pelos colonos e por empresas ou companhias organizadas com capital nacional, estrangeiro ou misto.
Pode dizer-se que no período colonial eram praticadas a agricultura empresarial e a familiar ou de subsistência.

Agricultura empresarial

Este tipo de agricultura era praticada pelos colonos e por empresas ou companhias com investimentos avultados. Trata-se de uma agricultura mecanizada, com possibilidades de irrigação, o que contribuía para o êxito nas áreas com irregularidade de chuvas.

A agricultura de plantação surgiu durante o período colonial. É uma exploração agrícola moderna, sendo a agricultura geralmente praticada perto dos rios.

A partir do século XVIII, a cultura de produtos tropicais, difíceis de obter na Europa, foi, conjuntamente com a exploração mineira, um dos motores da colonização. Ao açúcar e às especiarias junta-se nos séculos XVIII e XIX, uma diversidade de plantas alimentares, como o café, o cacau, o chá, ou industriais, como o algodão, o sisal, a copra, etc.

Características

  • Uso de monocultura;
  • Elevada produtividade;
  • Altamente científica;
  • Uso de técnicas modernas e elevada mecanização;
  • Feita em grandes extensões de terreno, geralmente férteis;
  • Mão-de-obra assalariada e barata;
  • Irrigação;
  • Principais produtos: café, cacau, banana, borracha, açúcar, algodão, tabaco, sisal e citrinos;
  • Elevada especialização;
  • Uso de pesticidas, herbicidas, fungicidas e adubos;
  • Selecção de sementes.
As culturas mais divulgadas eram a: cana-sacarina, chá, tabaco, arroz, copra, sisal, batata, girassol, feijão, citrinos e algodão.

Com esta produção, o objectivo era, em grande parte, a exportação e o abastecimento da crescente indústria local e dos mercados locais e regionais.

Em termos de áreas de cultivo, estas distribuíam-se da seguinte forma: o coqueiro, o sisal e a cana sacarina ocupavam mais de metade da área da agricultura de plantação. O coqueiro cultivava-se no litoral, a cana sacarina nos vales dos rios Zambeze, Búzi e Incomáti; o tabaco, no centro e Norte; os citrinos em quase todo o pais, com especial relevo no sul de Moçambique, nos vales dos rios Incomáti e Umbelúzi; a cidade de Maputo tornou-se a região de eleição para os citrinos devido à existência, no porto, de frigoríficos, e devido facilidade de comunicação com o estrangeiro; a bananeira foi mais cultivada em Maputo; as plantações de sisal localizavam-se na região norte.
    Todas as culturas eram praticadas em áreas especificas, isto é, em áreas aptas para o cultivo de determinadas culturas.

Médias machambas dos colonos

Eram propriedades dos colonos, mas quem trabalhava nelas eram os camponeses. Por vezes alugavam-nas aos camponeses, que lhes pagavam em espécies ou em trabalho complementado por chibalo.
   A produção tinha como objectivo a satisfação das necessidades do mercado interno e, em particular, as das comunidades de colonos residentes nas cidades.

Agricultura familiar

A agricultura familiar ou de subsistência que era praticada por camponeses, era uma agricultura que dependia muito das condições naturais, particularmente da chuva.
De uma maneira geral, a agricultura tradicional ou familiar caracterizava-se por:
  • Uma produção feita em pequenas áreas.
  • Uso de meios de produção rudimentares: enxadas, ancinhos, machados e catanas.
  • Os terrenos estarem localizados em zonas geralmente inférteis.
  • A mão-de-obra ser familiar ou usar-se tracção animal.
  • Raramente se empregarem adubos químicos, pesticidas, sementes selecionadas, etc.
  • A produtividade e os rendimentos serem baixos.
  • O objectivo ser alimentar a família e, em caso de excesso, a venda.
  • Aplicar a policultura, para diversificar a dieta alimentar.
  • Usar rotação dos espaços.
Nesta agricultura, os camponeses, para além das culturas de subsistência, dedicavam-se também ao cultivo de culturas de exportação, de uma forma forçada ou voluntária, como culturas de rendimento onde eles pudessem vender os seus excedentes para obter dinheiro para o pagamento de impostos e realizar outras despesas sociais.
Nos vales dos rios e margens dos lagos, os camponeses praticavam uma agricultura intensiva.

É um tipo de actividade que se desenvolvia em parcelas pequenas; as áreas agrícolas por família são pequenas, porque a densidade populacional é muito elevada, isto é, a área é pequena relativamente ao número de pessoas existentes.

A agricultura após a independência

Após a independência, o Estado moçambicano tomou algumas medidas visando modificar a estrutura agrária colonial a favor do povo moçambicano.
Essas medidas foram:
  • Nacionalização da terra;
  • Introdução de cooperativas e empresas estatais.
O sector familiar é responsável por cerca de 80% do produto agrícola nacional, cultivando algodão, caju, milho, mandioca e mapira, cabendo os restantes 20% ao sector empresarial, com culturas como as do chá, açúcar, copra, sisal e tabaco.

A agricultura continua a ser a principal actividade económica do país, ocupando cerca de 80% da população activa e contribuindo ainda para uma boa parte do Produto Interno Bruto (PIB). Representa cerca de 45% das exportações, com destaque para a castanha de caju, o algodão e o açúcar.

A agricultura apresenta todos os elementos característicos de um pais subdesenvolvido: atraso técnico, falta de capitais, rendimentos baixos e dependência das condições naturais. A miséria dos camponeses é ainda mais acentuada que a dos habitantes da cidade.
Em bons anos de colheita, registam-se alguns excedentes que são vendidos.

Os níveis de Vida muito baixos dificultam a acumulação do capital necessário para o melhoramento técnico e fazem com que os rendimentos dos camponeses sejam inferiores aos dos citadinos; aos atrasos culturais, em particular o analfabetismo, e as dificuldades constantes somam-se as crises ligadas às calamidades naturais (ciclones, chuvas torrenciais ou secas prolongadas).

Tabela 20: Principais culturas alimentares e de rendimento (2002)
Cultura
Área cultivada (ha)
Distribuição da área (%)
Milho
1 459 254
31,9
Arroz
381 574
8,3
Mapira
317 350
6,9
Algodão
152 856
3,3
Tabaco
26 035
0,9
Amendoim
332 542
7,3
Mandioca
717 817
15,7
Mexoeira
49 696
1,1
Girassol
9 025
0,2
Feijão nhemba
1 747 892
5,0

Tabela 21: Distribuição geográfica das principais culturas alimentares
Cultura
Localização
Milho
Todo o território
Amendoim
Nampula, Cabo Delgado, Inhambane, Gaza
Mapira
Norte, centro e norte de Gaza e Inhambane
Mexoeira
Sul de Tete, norte de Manica, Gaza e Inhambane
Mandioca
Todo o país, com excepção de zonas altas
Feijão
Niassa, sul do Save
Arroz
Vales dos rios, em particular, do Limpopo e do Zambeze.

Tabela 22: Distribuição geográfica das principais culturas de rendimento
Cultura
Localização
Caju
Cabo Delgado, Nampula, Gaza e Inhambane
Cana-de-açúcar
Vales do Zambeze (Marromeu e Luabo), do Búzi (Mafambisse) e do Incomáti (Maranga e Xinavane)
Copra
Litoral de Inhambane e Zambézia
Chá
Zambézia (Gurúè)
Algodão
Norte, Centro, Norte de Gaza e Inhambane

Agricultura na Zambézia

Bibliografia
NONJOLO, Luís Agostinho; ISMAEL, Abdul Ismael. G10 - Geografia 10ª Classe. Texto Editores, Maputo, 2017.

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