Agricultura tradicional das regiões tropicais
Agricultura tradicional das regiões tropicais
Nas áreas tropicais e equatoriais do globo terrestre encontram-se muitas populações que trabalham a terra utilizando métodos muito arcaicos ou antigos. Derrubam a mata, aproveitam as melhores madeiras e abrem picadas na mata, isolando a parte derrubada da parte restante da floresta. Colocam fogo na porção derrubada, para limpar o terreno, e fazem a plantação. O cultivo é realizado sobre as cinzas e entre os troncos queimados. O agricultor utiliza instrumentos de trabalho rudimentares, como a enxada, a foice, o machado, entre outros utensílios. Usa-se geralmente e unicamente a forca muscular, pois o baixo nível económico impede a aquisição de animais e máquinas.
As chuvas nas áreas tropicais e equatoriais lavam o solo, ou seja, as enxurradas transportam as cinzas e minerais do solo, empobrecendo-o. Depois de dois ou três anos de cultivo, a produção reduz devido ao rápido esgotamento dos solos. O agricultor abandona essa área e dirige-se para uma outra onde vai repetir o processo do derrube da mata, queima e plantio.
As características principais deste tipo de agricultura são:
- Elevada percentagem de população agrícola;
- Tarefas agrícolas exclusivamente manuais;
- Para autoconsumo;
- Organização das explorações em tipo familiar ou tribal;
- Sistemas policulturas;
- Número elevado de terras incultas (agricultura extensiva);
- Fracos conhecimentos técnicos;
- Fraco índice de mecanização;
- Fraca ou nula utilização de fertilizantes químicos, de herbicidas e pesticidas.
A agricultura tradicional é dominante na África, Ásia e América Latina, ou seja, no mundo em desenvolvimento. É, contudo, em Africa onde assume o carácter mais arcaico.
Agricultura itinerante sobre queimada
Pelas suas características, a agricultura itinerante ou de queimadas assemelha-se aquela que foi praticada pelas comunidades do Neolítico.
Actualmente é praticada na maioria dos países pobres e em vias de desenvolvimento (principalmente nas suas áreas mais atrasadas); tem-se como exemplos, as florestas da região equatorial, savanas da Africa Central, América do Sul, Indochina e Indonésia. Utiliza-se pouca e fraca tecnologia, não usa adubos químicos e desgasta o solo (queimadas e devastação). Com solo pouco fértil essa população tende a transferir-se para outras regiões.
Porque é praticada em regiões onde chove sempre, os solos são lixiviados, ou seja, as águas arrastam os materiais minerais solúveis (azoto, fósforo, cálcico, potássio, etc.) para as profundidades.
Como resultado de elevadas temperaturas, as águas ascendem por capilaridade à superfície, depositando anualmente sobre ela os elementos insolúveis que vão constituir as chamadas carapaças laterícias, cujo fenómeno designa-se laterização, que é típico da região tropical.
A laterização tem como consequência a formação de solos pobres e desprovidos de nutrientes, sem qualquer possibilidade de fixação de plantas, e susceptíveis de serem continuamente destruídos devido à erosão hídrica. É esta continua destruição que os torna inaptos para a agricultura provocando nos seus utilizadores a necessidade de mudarem de um local para o outro, mais fértil, dai o termo itinerante ou nómada.
A deslocação dos camponeses para os novos locais exige destes as seguintes actividades:
- A abertura de clareiras nas florestas densas através do corte das árvores, a criação de quebra-fogos (aceiros) para impedir a propagação do fogo pela floresta;
- O corte de ramos que São espalhados no terreno a cultivar;
- O ateamento do fogo aos ramos no fim da estação seca para limpar o terreno e obtenção da cinza;
- Incorporação das cinzas no solo pelas primeiras chuvas, para lhe servirem de fertilizante;
- Mais tarde, o cultivo de várias culturas (policultura), com uma mistura desordenada de plantas;
- O abandono do solo para outro local, passados dois ou quatro anos, onde a população abre novas clareiras, repetindo todo o processo.
Nas comunidades onde se pratica este tipo de agricultura, as densidades populacionais são baixas e o habitat é do tipo agrupado, devido ás condições de Vida precária, aos trabalhos agrícolas mais importantes serem comuns e a necessidade de defesa dos animais selvagens ou a laços sociológicos de sangue.
Agricultura de sequeiro
Ocorre na Africa subsariana, em áreas restritas das regiões montanhosas. Este tipo de agricultura possui técnicas extremamente engenhosas que lhe permitem ser intensiva e assim produzir alimento para um grande contingente de pessoas. Se for realizada em locais de baixa densidade populacional, tenderá a ser itinerante.
Esta agricultura é realizada em zonas secas, e está associada a fortes densidades populacionais na Africa tropical, a ela se liga uma exploração completa do terreno, através de um cultivo permanente dos campos, destinada a valorizar o solo e a produzir o máximo para uma população fixa.
A vegetação pioneira é destruída permanentemente e substituída por plantas cultivadas.
Emprega-se a estrumação e adubação, o que fixa o campo, renovando rapidamente os elementos do solo, cansados pelo cultivo. Em muitos casos não se recorre ao pousio, ou então deixa-se o campo repousar dois ou tiés anos. Mas este curto pousio não exige necessariamente um deslocamento dos campos de cultura. Um mesmo terreno deixa sucessivamente um certo número de parcelas por cultivar, e pode produzir indefinidamente. Os limites destes campos são estáveis e definidos, o que permite a formação de uma verdadeira paisagem agrária.
Agricultura da Ásia das Monções e Oásis
Agricultura da Asia das Monções
Nos países do Extremo Oriente (Japão, Coreia e China) e nos do Sudeste Asiático (Birmânia, Tailândia, Filipinas, Malásia, Indonésia, Vietname e outros), o arroz é o alimento básico. Este é cultivado nas planícies e nos deltas dos rios, além de nas encostas de montanhas. As águas dos rios Yangtzé, Amarelo, Mekong e outros são intensamente aproveitadas para a cultura irrigada do arroz (rizicultura ou orizicultura).
Os agricultores preparam o campo, abrem canais de irrigação, transportam a terra e constroem vários canteiros rasos para reter água, separados uns dos outros por saliências. É um trabalho que exige muita mão-de-obra. Isso é o que não falta no sudeste asiático e na China, pois são locais densamente povoadas. A fertilidade dos solos mantem-se e renova-se constantemente graças à deposição de sedimentos que as águas realizam e utilização de excrementos animais e humanos. O trabalho é praticamente manual.
Possuindo duas colheitas anuais de arroz, os agricultores conseguem elevados rendimentos, com instrumentos de trabalho primitivos. O sistema de agricultura irrigada já é utilizado pelo Homem há muito tempo. A população do Egipto utiliza-o desde épocas remotas, servindo-se das águas do Nilo. A Índia utiliza as águas do rio Indo, do Ganges e outros.
Agricultura nos oásis
É um tipo de agricultura muito particular que é praticada no Norte de África (deserto do Saara).
É um sistema de policultura, tem extrema divisão de propriedade, possui uma presença assinalável de árvores, como palmeiras e tamareiras, indispensáveis para a alimentação, sombra e contenção do avanço das areias do deserto.
Este tipo de agricultura está fortemente dependente da irrigação, pois o ambiente desértico, por natureza, sofre do stress hídrico. Então, de onde é que provem a água usada na irrigação dos campos?
A maioria dos oásis resulta da precipitação que cai nas montanhas e que origina um rio que percorre a planície deserta. Nas margens desenvolve-se uma agricultura irrigada devido à presença permanente de água, como é o caso do rio Nilo, Tigre e Eufrates. Os Oásis mais característicos resultam de uma toalha de água subterrânea (toalha freática), como é o caso dos do Saara.
Fig. 24 Áreas cultivadas e pequeno lago em Oásis no deserto.
As águas das raras chuvas infiltram-se e quando encontram uma camada impermeável acumulam-se, originando um pequeno lago e desenvolvendo-se um oásis que poderá ter 400 ha de área. Se o aproveitamento da água se faz custa de poços, resultam oásis pequenos e de fraco rendimento. Os pops artesianos podem atingir a toalha a grandes profundidades, e permitem fazer vários furos, aumentando assim a área de cultivo.
Quando a captação de água se faz por drenagem subterrânea (foggara) os resultados positivos são totais. Constroem-se galerias que vão captar as águas a grandes distâncias, trazendo-a até aos locais desejados, pela força de gravidade.
A agricultura irrigada praticada nos oásis destina-se a substituir as chuvas insuficientes ou nulas e assim permitir cultivar plantas que se desenvolvem normalmente como cultura de sequeiro: cereais, legumes, algodão e árvores de fruta.
Pratica-se numa grande extensão que abrange a Ásia ocidental seca, incluindo o planalto do Decão, o vale médio do Ganges e do Indo, a Arábia e os países do Próximo Oriente. Em África, em toda a zona do Sudão, do Saara e dos contrafortes da cadeia do Atlas.
O grau de secura distingue dois tipos de paisagens: as áreas menos áridas e as áreas áridas. Na primeira é possível praticar a agricultura de sequeiro juntamente com plantas irrigadas (Índia Peninsular); nas regiões propriamente áridas, pratica-se uma agricultura exclusivamente irrigada que ocupa superfícies escassas e descontinuas dependentes das reservas de água.
Agricultura moderna
A agricultura moderna apoia-se cada vez mais na investigação científica e na indústria para aperfeiçoar as técnicas e métodos de cultura e depender cada vez menos dos condicionalismos físico-naturais. No mundo de hoje, a agricultura utiliza aspectos cada vez mais sofisticados, onde, de forma Clara, os computadores e a eletrónica desempenham um papel cada vez maior. O agricultor moderno possui cada vez mais formação e um conjunto de recursos técnicos e tecnológicos que lhe permitem com menor esforço produzir quantidades progressivamente maiores e de melhor qualidade, dispensando muita mão-de-obra.
As modernas estações agrícolas têm igualmente a missão de investigar para produzir excedentes cada vez maiores para alimentar as grandes cidades. Isto só é possível graças à introdução de melhoramentos de ordem científica e técnica que se traduzem:
- Na selecção e introdução de novas variedades de plantas cultivadas, resistentes às intempéries, às doenças e pragas e adaptadas às condições ambientais muito adversas.
- Na introdução de novas variedades de plantas que permitem aumentar significativamente os rendimentos.
- Na utilização de novas técnicas agrícolas, que permitem a generalização da mecanização e dos sistemas de rega (por aspersão, microirrigação, gota-a-gota, etc.).
- No uso crescente e racional de adubos, que possibilitam urna rápida produção, enquanto o uso de herbicidas, de inseticidas e de fungicidas permite a eliminação de ervas daninhas e pragas que atacam as culturas.
- No estudo das características físicas e químicas dos solos, por forma a serem utilizados por culturas que a eles mais se adaptam.
- No desenvolvimento e generalização de culturas sob abrigo (estufas modernas) onde a temperatura, a humidade e a água são controladas automaticamente, permitindo o rápido desenvolvimento das culturas e evitando a agressividade das condições meteorológicas adversas.
A agricultura moderna acarreta maiores investimentos de capitais, destina-se ao mercado (exportação), ocupa maiores extensões de terrenos e não está totalmente dependente das condições físico-naturais, entre outras características.
Este tipo de agricultura pratica-se nos países desenvolvidos (Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Europa Ocidental e Japão) e surge ao lado da agricultura tradicional de alguns países em desenvolvimento, como o Brasil, a Argentina e o caso da China.
Além disso, nos países em desenvolvimento da zona intertropical, ao lado da agricultura de subsistência, existe uma forma especial de agricultura moderna, que é a agricultura de plantação, embora quase sempre explorada por empresas estrangeiras. Frequentemente, as melhores terras são aí exploradas por este tipo de agricultura, em detrimento da agricultura de subsistência. Este tipo de agricultura surgiu com a expansão europeia, com a colonização das terras tropicais, os europeus concentraram grandes extensões de terras e introduziram culturas cujo propósito era o de abastecer a Europa.
A plantation, que pode ser entendida como plantações tropicais, tem as seguintes características:
- Agricultura comercial, cuja produção é virada para o mercado;
- Grande emprego de capital e de mão-de-obra (no passado a mão-de-obra era escrava e depois assalariada);
- Ocupa grandes extensões de terra (latifúndio);
- Cultiva em grande escala um só produto (monocultura);
- Visa atender o mercado de exportação (a produção é exportada);
- Os capitais são geralmente estrangeiros, ou seja, o proprietário da terra e das culturas é estrangeiro ou uma sociedade estrangeira;
- O produto pode ser industrializado ou não;
- A plantation foi e é muito praticada nas regiões tropicais da Ásia, África e América.
As principais culturas desenvolvidas pelas plantations são:
- Na Ásia – chá e seringueiras pelos ingleses, holandeses e franceses;
- Na África – cacau, algodão e café, principalmente pelos ingleses;
- Na América – cana-de-açúcar, café, bananas e algodão pelos ingleses e norte-americanos.
- No Brasil e nos países de expressão portuguesa, os portugueses lideraram as plantações de cana-de-açúcar, algodão e outras no império.
Importância da agricultura
Apesar do grande desenvolvimento industrial alcançado pelos países, a agricultura, ao lado da indústria e dos serviços é a principal actividade produtiva da Humanidade. Vários são os factos que explicam tal importância:
- Juntamente com a pecuária, a agricultura ocupa a maior extensão de terras;
- É a base de sobrevivência da população humana, pois fornece-lhe alimentação;
- Fornece matérias-primas para a indústria de produtos alimentares, que é a grande fonte de emprego nas sociedades modernas;
- É a actividade económica que absorve a maior parte da população no mundo e ocupa cerca de vinte e um milhões de quilómetros quadrados, ou seja, cerca de 16% das terras emersas.
De facto, a área cultivável e cultivada, nas condições técnico-culturais actuais, situa-se em três faixas, nomeadamente:
- Na região setentrional de clima temperado, que engloba as extensas planícies e regiões menos íngremes da América do Norte, Europa e Asia;
- A franja tropical que compreende as regiões onde domina a plantation, em África e América do Sul e a região da Asia das Monções;
- A zona temperada do Sul, pouco povoada, onde encontramos as grandes criações de bovinos, e ovinos da Nova Zelândia, da Austrália, da Africa do Sul e da Argentina.
Há ainda a destacar que nos países desenvolvidos a percentagem da população activa que se dedica às actividades agrícolas é muito baixa (menos de 5% na Inglaterra e EUA) comparativamente aos restantes países em Vias de desenvolvimento. No primeiro grupo de países, a agricultura é feita mediante o recurso aos métodos e técnicas modernas, sendo as fazendas geridas sob orientação empresarial.
Bibliografia
MANSO, Francisco Jorge; VICTOR, Ringo. Geografia 12ª Classe – Pré-universitário. 1ª Edição. Longman Moçambique, Maputo, 2010.
Comentários