As categorias do ser: substância e acidente

4.1.2. As categorias do ser: substância e acidente

     Quando falamos das categorias do ser, referimo-nos grandes divisões que o mesmo comporta.
      De acordo com Aristóteles, o grande metafisico, existem dez categorias do ser, sendo que a primeira é a sustância e as restantes nove são acidentes.
      A substância, ou modo de ser substancial, pode ser entendida como «aquilo que é em si e por si e não em outra coisa»; é o substrato a partir do qual encontramos as qualidades ou os acidentes. E o que permanece como algo subsistente, que tem um ser próprio e que, por isso, não pode ser afirmado a propósito de um sujeito nem se encontra nele. São todas as coisas concretas e individuais: o homem, o cão, o lápis, o caderno, o Pão.
      Aristóteles distingue dais tipos de substâncias: a primeira e a segunda. Entende-se por substância primeira as coisas individualizadas, ou seja, os indivíduos na sua singularidade (este caderno, o João, o meu professor, a casa onde moro, a escola onde estudo, etc.) e a substância segunda, tudo quanto existe como pensamento (casa, escola, professor, caderno, homem, etc.). São conceitos que se traduzem em definições, ou seja, são as espécies e os géneros que nos permitem atribuir certas qualidades as coisas individualizadas, isto é, as substâncias primeiras (O João é um homem, aquela é a casa onde moro, etc.).
    Assim, conclui-se que a substância primeira se refere a indivíduos singulares e concretos e a substância segunda diz respeito às espécies e géneros singulares e abstractos.
Pelo contrário, acidente é tudo aquilo que ocorre ou acontece, aquilo que para ser necessita de se apoiar numa substância e, por isso, pode afirmar-se de um sujeito, ser substanciado, uma vez que constitui a sua característica.
O acidente só existe na substância; é o predicado da substância, quer dizer, não existe em si e por si. A sua existência está dependente de um outro ser no qual se pode consubstanciar o seu ser.
      Se a substância é o que permanece no individuo, mesmo depois de este sofrer algumas vicissitudes e intempéries, o acidente é o que está sujeito a mudanças no individuo, é «aquilo que sucede ou acontece» no individuo na sua categoria de substância. É o que se diz da substância primeira, ou seja, do individuo na sua singularidade. Em suma, o acidente é o predicado de uma determinada substância, e não o contrário. Por isso, posso dizer que «a minha escola é linda», «Mataka é inteligente» e «o meu automóvel é veloz», e não o contrário.
      Assim, distinguem-se dez categorias de ser, sendo que a primeira é a substância; as restantes nove constituem a classe dos acidentes. Quais são esses acidentes?
  • Qualidade – a forma ou determinação da substância (por exemplo, professor, inteligente, simpático, etc.)
  • Quantidade – a determinação da substância que permite atribui-la a partes distintas das outras (por exemplo, grande, pequeno, 1,64 m de altura, 12 g, etc.).
  • Relação – a ligação ou referência que a substância, ou até o acidente, estabelece com outra substância ou acidente (por exemplo, pai, filho, primo, chefe, mestre, etc.).
  • Tempo – momento, ou ocasião, apropriado ou disponível para que uma coisa se realize, ou seja, curso de eventos extrínsecos que dura um determinado período (por exemplo, «Moçambique tornou-se independente no dia 25 de Junho de 1975», de manhã, ao meio-dia, tarde, etc.).
  • Lugar – espaço que um corpo substanciado ocupa em relação a outros corpos (por exemplo, na escola, no mercado, no cinema, próximo da padaria, em casa, na sala, etc.).
  • Acção – o que a substância faz usando as suas faculdades ou poderes causando efeito em si mesma ou noutros corpos circundados por uma substância (por exemplo, dialogar, conduzir um automóvel, bater em alguém, etc.).
  • Estado – luxo, pompa, fausto, ostentação, magnificência, ou seja, conjunto de bens ou instrumentos que, por sua habilidade, complementam a natureza da substância, permitindo a preservação e conservação da mesma ou de outras substâncias corpóreas.
  • Posição – lugar ou postura relativa ocupada pela substância ou parte dela face a outras (por exemplo, sentado ler um romance, de pé a apreciar a paisagem, deitado a ouvir música, etc.).
  • Paixão – sentimento, ou emoção, desencadeado por um agente que, ao sobrepor-se lucidez e razão, provoca sofrimento numa determinada substância (por exempla, a perda de um ente querido, a condenação de Sócrates, a crucificação de Cristo, o ferimento, etc.).

Vamos recordar...
— Ontologia ou metafisica geral é um ramo da Filosofia que se ocupa da questão do ser enquanto ser.
— Ser é tudo quanto há, ou seja, tudo quanto existe, independentemente do modo como é.
— A substância é aquilo que é em por si, e não em outra coisa; e o acidente é aquilo que ocorre na substância.
— A substância e os acidentes são as dez categorias aristotélicas do ser correlacionadas.



Bibliografia
GEQUE, Eduardo; BIRIATE, Manuel. Filosofia 12ª Classe – Pré-universitário. 1ª Edição. Longman Moçambique, Maputo, 2010.

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