As consequências da I Guerra Mundial para Africa e para a Europa

As consequências da I Guerra Mundial para Africa e para a Europa

Em Africa
Ainda que as operações em África tivessem tido apenas uma influência marginal no resultado final do conflito, este não deixou de ter importantes repercussões, já que mais de um milhão de soldados africanos participou nas campanhas militares na frente ocidental e um número ainda maior de homens, mulheres e crianças foi recrutado, à força, para servirem de carregadores nos exércitos, na ausência de estradas, linhas-férreas ou animais de carga. Mais de 150 mil soldados e carregadores perderam a Vida e muitos mais ficaram feridos e mutilados. No final da guerra, todos as colónias africanas e mesmo os Estados independentes – Libéria, Etiópia e Darfur, com excepção dos pequenos territórios espanh6is que permaneceram neutros — estavam formalmente envolvidos no combate.

A guerra levou também a que muitos europeus, que exerciam funções administrativas ou comerciais fossem obrigados a partir, integrando os combatentes que lutavam na Europa, ou a juntarem-se a qualquer destacamento militar estacionado no continente africano. Isso levou, em muitos casos, à completa paralisação de inúmeros serviços essenciais, anteriormente exercidos pelos europeus. Noutros casos, como no Senegal, os africanos foram treinados para ocuparem essas funções.

No decorrer da guerra, os Estados coloniais tiveram uma intervenção cada vez maior na Vida das colónias, tanto ao nível do controlo dos preços, da requisição das colheitas, cultivo obrigatório de certos produtos, recrutamento de mão-de-obra e embarque de matérias-primas e produtos alimentares para as respectivas metrópoles, estando praticamente ao serviço das grandes empresas comerciais e dos governos centrais. Por outro lado, a carência de produtos importados – como adubos, instrumentos agrícolas e materiais de irrigação, levaram à redução da produção agrícola ou, noutros casos, estimulou o desenvolvimento de indústrias substitutivas em outros países, tal como ocorreu na África do Sul.

Ainda que muitos voluntários se tenham oferecido para servirem nos exércitos coloniais, ocorreu, na grande maioria dos casos, que os alistamentos se fizeram contra a vontade dos recrutados. Estes recrutamentos forçados levaram a que muitos chefes locais se tornassem impopulares junto das respectivas populações, dando origem a importantes revoltas, impedindo assim que novos alistamentos fossem efectuados nas áreas rebeldes.

  • A nível demográfico

Ainda que possa haver grandes margens de erro, as estimativas, em vidas humanas, situam-se em dez milhões de mortos e vinte milhões de feridos, de ambos os lados do conflito. Quanto às doenças, o tifo (febre tifoide) terá matado, só nos Balcãs, mais de um milhão de pessoas. No entanto, há ainda o sofrimento físico e psíquico, em resultado das diferentes mutilações, o sofrimento das famílias, ou a devastação espiritual consumada na destruição de ideais, de confiança e de boa-vontade.

  • A nível social
A fome abateu-se sobre boa parte da Europa no Inverno de 1918-1919. Um ano depois do fim da guerra, a produção europeia ainda era um quarto inferior à de 1914, enquanto a produção russa atingia apenas um quinto do que tinha sido. Os transportes a qualquer distância eram praticamente inexistentes em alguns países, em resultado da multiplicação das barreiras alfandegárias e da instabilidade das trocas.
Os mecanismos das trocas económicas internacionais tinham sido praticamente arrasados.

  • A nível económico
Os custos monetários directos da guerra, isto é, em operações militares, foram estimados entre 180 e 230 milhões de dólares (poder de compra de 1914), sendo que os custos monetários indirectos resultantes de danos em bens ascenderam a mais de 150 milhões de dólares. A grande parte das destruições ocorreu no norte da França, na Bélgica, no nordeste da Itália e na Europa de Leste. Enquanto a Europa empobreceu, os Estados Unidos da América do Norte beneficiaram de um enriquecimento generalizado:
  • Uma moeda sempre convertível em ouro.
  • Créditos de cerca de 12 biliões de dólares aos aliados.
  • Um stock de ouro equivalente a metade das reservas mundiais.
Os primeiros cinco anos de paz foram ainda marcados por uma forte depressão em alguns países e de hiperinflação noutros. De um modo geral, devido redução da actividade económica internacional.

Depressão económica: período longo, caracterizado por numerosas falências de empresas, crescimento anormal do desemprego, escassez de crédito, baixos níveis de produção e investimento, redução das trocas comerciais e crise de confiança generalizada.

Hiperinflação: corresponde a uma inflação com taxas extremamente elevadas. Numa situação destas, o dinheiro perde praticamente todo o seu valor e a procura de moeda reduz-se drasticamente, observando-se distorções nos preços e nos salários reais.

  • A nível político

A paz assinada em Versalhes esteve logo de início ameaçada pela perda de controlo parcial da Europa sobre os seus próprios destinos. A Europa encontrava-se incapaz de definir uma política internacional com objectivos comuns, dividida agora não só pela desconfiança como também pelas ideologias nacionalistas, cujo o interesse de cada um dos países se resumia à sua segurança. A Alemanha, que se mantinha intacta à sua estrutura económica e social, estava cercada por um grupo de Estados que se encontravam, não sé economicamente frágeis, como também militarmente vulneráveis e politicamente imaturos, dando assim origem a uma situação de desequilíbrio potencialmente explosiva. Assistia-se também ao ressurgir das rivalidades europeias no Mediterrâneo e disputa de zonas de influência na Síria e no Iraque.
Esta desordem internacional, nascida das falhas da paz e da instabilidade económica, teria o seu ponto mais alto na década de 1920.

O significado da I Guerra Mundial (conclusão)

A I Guerra Mundial testemunhou o triunfo dos direitos dos povos a disporem de si mesmos, já que os três grandes impérios multinacionais - Austro-húngaro, Otomano e Russo – deram lugar a novas Nações-Estado.

A derrocada dos -imperialismos concretizou o fim do mito da supremacia branca nas colónias. A mobilização económica e demográfica das colónias permitiu a difusão de ideias novas e a tomada de consciência de uma contestação possível da ordem colonial, acelerando o despertar dos nacionalismos locais.

Assim, o princípio do governo autónomo inspirou a instituição do sistema de mandatos territoriais, sob a tutela da Sociedade das Nações. Embora o governo autónomo não resolvesse o problema da dependência económica, o objectivo era assegurar o desenvolvimento dos territórios em benefício daqueles que ali viviam. Paralelamente, os dois primeiros congressos da Internacional Comunista, em 1919 e 1920, encorajaram os movimentos de emancipação a lutarem contra o imperialismo.





Bibliografia
SOPA, António. H10 - História 10ª Classe. 1ª Edição. Texto Editores, Maputo, 2017.

Comentários