As dimensões do discurso humano

As dimensões do discurso humano

Defender que o discurso humano é pluridimensional é aceitar que existem diversas dimensões que o constituem. Como se pode concluir, umas podem ser consideradas mais importantes que as outras, como é o caso das dimensões sintática, semântica e pragmática, a que daremos maior desenvolvimento.
Existem, no entanto, outras dimensões que não devemos ignorar e que abordaremos primeiramente.

A importância desses discursos parece-nos facilmente compreensível, assim como será fácil estabelecer entre elas as respectivas relações e implicações. Dentre elas podemos destacar as seguintes dimensões: linguística, textual, lógico-racional, expressiva ou subjectiva, intersubjetiva ou comunicacional, argumentativa, apofântica ou representativa, comunitária, institucional e ética.

Dimensões sintáctica, semântica e pragmática
Dada a importância destas três dimensões e por razões metodológicas, daremos grande desenvolvimento a cada uma. Iremos concluir que não estamos perante dimensões auto-suficientes e independentes, mas sim perante dimensões indissociáveis.

A importância destas dimensões foi particularmente destacada pelo filósofo contemporâneo Charles Morris (nascido em 1901, nos EUA). Este autor procurou estabelecer uma teoria geral dos sinais, ou semiótica e, segundo ele, são três os níveis de análise dos processos de comunicação: sintáctico, semântico e pragmático.

Dimensão sintáctica

Etimologicamente, a palavra «sintaxe» deriva do grego syn + taxis, «co-ordem, coordenação». Tradicionalmente, define-se a sintaxe como a parte da gramática que trata das regras combinatórias entre os diversos elementos da frase.
Recorrendo a uma definição mais abreviada, podemos dizer que a sintaxe trata da relação interlinguística dos signos entre si (Karl-Otto Apel Sprachpragmatik und Philosophie, Frankfurt, 1975) ou estuda as relações internas que os signos mantém entre si (Michel Meyer Lógica, Linguagem e Argumentação; Teorema; Lisboa; 1992).

Usando uma definição mais elaborada, podemos dizer que «é o conjunto dos meios que nos permitem organizar os enunciados, afectar a cada palavra uma função e marcar as relações que se estabelecem entre as palavras. A ordem das palavras é um dos traços característicos de qualquer sintaxe.» (Marina Yaguello; Alice no País da Linguagem; Estampa; Lisboa; 1990).
Assim, por razões de carácter sintáctico:
  • Uma série de letras ao acaso não é uma palavra.
  • Uma série de palavras postas ao acaso não é uma frase.
  • Uma série de frases dispostas ao acaso não é um texto nem um discurso.

Dimensão semântica

O termo semântico encontra a sua raiz no grego semantiké (tékhne), que literalmente significa «a arte da significação», ou «arte (ciência) do significado».
Michel Bréal define a semântica como ciência que se dedica ao estudo das significações. Para Michel Meyer, a semântica trata da relação dos signos com o seu significado e, logo, com o mundo.

Portanto, a semântica trata das relações dos signos (as palavras ou frases) com os seus significados (significação) e destes com as realidades a que dizem respeito (referência).
No que se refere ao domino da semântica linguística podemos considerar:
  • a)    Uma semântica lexical – que estuda as regras de organização da significação das palavras entre si (as relações de sinonímia, de antinomia, os campos lexicais, a evolução das palavras).
  • b)    Uma semântica da frase – que estuda essencialmente o modo como as palavras se combinam para que a frase tenha sentido (uma palavra pode ter vários sentidos ou vários significados, que sé descodificaremos se considerarmos o contexto).
  • c)    Uma semântica do discurso (frase ou enunciados) – que constitui e dá coerência a um texto. (Perante um texto que não tenha um sentido unitário, que não respeite as regras de articulação, dificilmente alguém conseguirá captar o seu sentido global.)

Dimensão pragmática

A palavra «pragmática» encontra no grego pragmatiké (de pragma, «acção») a sua raiz. Entre os precursores da pragmática encontramos, entre outros, o filósofo e critico literário alemão Von Humboldt (1767-1835) que afirmou que a essência da linguagem era a acção. Michel Meyer define-a como a disciplina que se prende com os signos na sua relação com os utilizadores.

Pode-se considerar fundador da disciplina Charles Morris, que definiu a pragmática como complemento da sintaxe e da semântica. Na comunicação, segundo ele, há um signo, um significado e um intérprete, desenrolando-se entre eles uma tríplice relação. A pragmática é o estudo do uso das proposições. Mas também pode definir-se como estudo da linguagem, procurando ter em conta a adaptação das expressões simbólicas aos contextos referencial, situacional, de acção e interpessoal. A atitude pragmática diz respeito procura de sentido nos sistemas de signos, tratando-os na sua relação com os utilizadores, considerando sempre o contexto, os costumes e as regras sociais.

Uma análise pragmática de um texto, escrito ou falado, procura ver de que modo o texto está estruturado e quais as suas funções especificas.
Qualquer texto, oral ou escrito, representa fundamentalmente a realização de um acto que não é apenas locutório, mas representa, igualmente, um acto ilocutório e um acto perlocutório. Se considerarmos o que dissemos anteriormente, facilmente concluiremos que, do ponto de vista pragmático, interessa sobretudo considerar os aspectos ilocutório perlocutório.

Quando um sujeito falante diz algo, podemos distinguir facilmente:
  • O que diz (acto locutório).
  • E o que faz, dizendo (acto ilocutório).
  • Os efeitos resultantes da acção de dizer (acto perlocutório).
Estas três dimensões do discurso (sintáctica, semântica e pragmática) não podem ser isoladas; são indissociáveis. Vamos procurar algumas razões justificativas desta indissociabilidade.
  • A sintaxe preocupa-se, essencialmente, com o que se poderia designar por a forma gramatical da linguagem.
  • A semântica coloca, essencialmente, o problema do significado das palavras e frases que constituem os nossos enunciados discursivos e, obviamente, remete para a relação que a linguagem estabelece com o mundo, com os objectos, colocando, assim, o problema de referência.
  • A pragmática preocupa-se com o uso que fazemos da linguagem num dado contexto.
  • (Sintáctica, semântica e pragmática).
  • Acessórias (linguística, textual lógico racional, expressiva/subjectiva, intersubjetiva/comunicacional, argumentativa, profântica, comunitária e institucional, ética).

Bibliografia
CHAMBISSE, Ernesto Daniel; COSSA, José Francisco. Fil11 - Filosofia 11ª Classe. 2ª Edição. Texto Editores, Maputo, 2017.

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