As variáveis demográficas: Natalidade, Fecundidade, Mortalidade, Esperança de Vida
As variáveis demográficas
O tamanho, a estrutura e a dinâmica da população modificam-se com base em: nascimentos, óbitos e migrações. São as chamadas variáveis demográficas. Elas têm impacto na Vida económica do país ou das regiões. A alteração de uma delas implica a variação das outras.
Vamos, deste modo, analisar o comportamento das referidas variáveis demográficas.
Até há algumas décadas, a população moçambicana caracterizava-se, de um modo geral, por elevadas taxas de natalidade e mortalidade, resultando dai baixas taxas de crescimento natural, em suma, um crescimento lento.
Quais as razões do crescimento lento? Embora a taxa de natalidade fosse muito alta, a da mortalidade também era bastante elevada.
Natalidade
Através dos dados expostos, facilmente se constata que a taxa de natalidade ainda é alta, embora esteja a diminuir lentamente.
As razões que explicam a elevada taxa de natalidade no nosso pais prendem-se com o nível de desenvolvimento, que se manifesta por:
- Elevada taxa de analfabetismo;
- Casamentos prematuros;
- Necessidade de mão-de-obra familiar;
- Poligamia;
- Prestígio;
- Insegurança (devido à elevada mortalidade);
- Garantia de sustento para os progenitores no futuro;
- Dificuldade em obter ou conhecer os métodos de planeamento familiar.
Natalidade – é o número de nascimentos que se regista num determinado lugar durante um ano. Taxa de natalidade – número de nascimentos por cada mil habitantes ocorridos durante um certo período de tempo, por exemplo, um ano. TN = Total de Nascimentos / população absoluta x 1000 Poligamia - regime familiar em que um homem possui várias esposas ao mesmo tempo. |
A reprodução da população é determinada pelos factores socioeconómicos, mas o comportamento dos casamentos é muito conservador e depende dos usos e costumes da população de cada região. A população conserva a sua força reprodutiva, mesmo depois de modificadas as condições socioeconómicas que a originou.
A natalidade só pode diminuir se houver:
- Melhoria do nível de Vida
- Entrada da mulher no mercado de trabalho
- Escolaridade obrigatória
- Planeamento familiar
- Mudança de mentalidades
- Casamentos tardios
- iminuição dos elevados encargos de uma família numerosa
Planeamento familiar – é controlo voluntário dos nascimentos. |
Fecundidade
Fecundidade e natalidade são noções parecidas, mas não iguais.
A natalidade relaciona o número de nascimentos com o total da população, incluindo as pessoas que não podem procriar, por serem idosos ou crianças; a fecundidade refere-se ao número de filhos que cada mulher tem ao longo da sua idade fértil, geralmente dos 15 aos 45 anos.
O comportamento da natalidade reflecte as condições socioeconômicas que influenciam a fecundidade.
Tabela 2: Fecundidade em alguns países
Países | Fecundidade (no de filhos por mulher) |
Burundi | 6,2 |
Egipto | 3,4 |
Moçambique | 6,2 |
Índia | 3,1 |
Nigéria | 5,1 |
Jamaica | 2,5 |
Brasil | 2,2 |
Alemanha | 1,3 |
O que explica a elevada taxa de natalidade em Moçambique é o facto de haver também uma elevada taxa de fecundidade, isto é, cada mulher, durante o seu período de fertilidade, tem em média 6,2 filhos.
Nos países desenvolvidos, a fecundidade está abaixo de 2,1 filhos por mulher, o que coloca em perigo a substituição de gerações, dado que a taxa de crescimento natural passará a ser igual ou negativa.
Taxa de fecundidade — número de nados-vivos por mil mulheres com idades compreendidas entre os 15 e os 49 anos, durante um período determinado de tempo (ex.: um ano). TF = Total de nados-vivos/total de mulheres dos 15 aos 49 anos x 100 Índice sintético de fecundidade – número médio de filhos que cada mulher tem durante o seu período fértil. |
A fecundidade não só varia de região para região, mas também dentro da própria região, quando se compara o campo e a cidade ou grupos populacionais.
As quedas nas taxas de fecundidade são influenciadas por diversos factores: mais oportunidades sociais, principalmente para as mulheres, emprego, acesso educação e diminuição da mortalidade.
Estes factores reflectem-se consequentemente na mentalidade dos casais, relativamente ao papel da mulher e ao desejo dela se sentir realizada no casamento e socialmente.
Nos Países em Vias de Desenvolvimento (PVD), embora o crescimento populacional seja elevado, a fecundidade tem conhecido uma certa diminuição.
Tabela 3: A taxa de fecundidade e a percentagem de mudança em alguns países:
País/região | 1960 | 1990 | 2000 | Mudança (%) |
Moçambique | 8,3 | 6,6 | 6,2 | -0,25 |
China | 5,9 | 1,8 | 1,8 | -0,69 |
Brasil | 6,2 | 2,5 | 2,2 | -065 |
Mortalidade
Os problemas originados pela pobreza nos Países em Vias de Desenvolvimento (PVD) são uma das causas da mortalidade infantil.
Em Moçambique, a taxa de mortalidade geral continua a ser alta, bem como a de mortalidade infantil, que, em 2003, era de 123. Na verdade, a taxa de mortalidade infantil, em especial, é mais elevada nas zonas rurais do que nas urbanas.
Os índices de mortalidade mais elevados nas áreas rurais resultam de:
- Fraca cobertura médica e sanitária;
- Baixo nível de escolaridade dos pais;
- Recurso a comportamentos tradicionais.
Taxa de mortalidade — número de óbitos por cada mil habitantes, ocorridos durante um certo período de tempo (por exemplo, um ano). TM = Total de óbitos/população absoluta x 1000 Taxa de mortalidade infantil — número de óbitos de crianças com idade inferior a 1 ano, por cada mil nascimentos, num determinado período de tempo (por exemplo, um ano). TMI = Total de óbitos/total de nascimentos x 1000 Taxa de crescimento natural — diferença entre a taxa de natalidade e a taxa de mortalidade. TCN = TN - TM |
A elevada taxa de mortalidade começou a diminuir a partir de 1975. A independência mudou bastante as condições sociais das populações, pois teve repercussões benéficas ao nível de:
- Assistência médica, medicamentosa e sanitária (vacinação e prevenção)
- Melhoria das condições sanitárias e de higiene
- Melhoria da dieta alimentar
- Redução da fome
- Melhoria das condições de trabalho (horário, normas de segurança)
- Melhoria das condições de higiene: rede de esgotos, água potável, recolha de lixo
- Diminuição do analfabetismo
- Escolaridade obrigatória.
Há décadas atrás, o grande número de óbitos tinha como causas:
- Condições sanitárias e de higiene precárias
- Grandes carências alimentares, tanto em quantidade como em qualidade
- Fraca assistência médica
- Epidemias frequentes.
Com efeito, a independência teve um grande impacto na redução da mortalidade, particularmente a infantil, e como resultado uma elevada taxa de crescimento natural, pois a natalidade continua a ser alta.
Este facto teve efeito no aumento da esperança de Vida.
Embora a mortalidade infantil tenha diminuído bastante desde o século XVIII, este fenómeno não se processou da mesma maneira em todos os países, como se pode observar na tabela:
Tabela 4: Mortalidade infantil
PVD/Ano | 1960 | 1996 | 2003 |
Iraque | 139 | 94 | 50 |
Moçambique | 190 | 133 | 123 |
Brasil | 116 | 44 | 40 |
Fonte: Relatório do Desenvolvimento Humano, 2003
A taxa de crescimento natural pode ser positiva se a natalidade for superior ä mortalidade, nula se forem iguais e negativa se ela for inferior.
Factores que influenciaram a diminuição da mortalidade no Mundo
o Na Medicina
© 1789 - Descoberta da vacina contra a varíola
© 1857 — Primeiro trabalho sobre assepsia e vacinação – Pasteur
© 1882— Descoberta dos raios X
© 1901 — Descoberta dos grupos sanguíneos
© 1912 — Trabalho sobre vitaminas
© 1918 — Desenvolvimento da neurocirurgia
© 1921 — Descoberta da vacina BCG
© 1927 — Descoberta da penicilina
© 1935 — Descoberta das sulfamidas
© 1942 — Fabrico industrial de DDT
© 1943 — Fabrico industrial da penicilina
© 1945 — Obtenção da vacina antipoliomielítica
o Redução de guerras
o Proibição do trabalho infantil
o Desenvolvimento industrial que resultou em produção diversificada
o Desenvolvimento dos transportes e do comércio
o Melhoria das condições de higiene
o Melhoria da dieta alimentar
o Redução da frequência e gravidade das epidemias.
Esperança de Vida
Os factores atrás estudados, que originaram a diminuição da mortalidade, tiveram como consequência o aumento da longevidade.
Esperança de Vida número médio de anos que uma pessoa espera viver ao nascer.
A esperança de Vida no Mundo era de 22 anos no início da nossa era; 26 na Idade Média e 30 anos em épocas posteriores. Medidas tomadas nas últimas décadas do século XX, alicerçadas no grau de desenvolvimento econômico, social e cultural, elevaram a longevidade, em média, a mais de 70 anos nos Países Desenvolvidos (PD) e a 55 anos nos Países em Via de Desenvolvimento (PVD), no ano 2001.
Tabela 5: Esperança de Vida em alguns países (ano 2002)
Países Desenvolvidos | Anos | Países em Via de Desenvolvimento | Anos |
Japão | 81,5 | Moçambique | 42,0 |
Suécia | 80,0 | Costa do Marfim | 41,2 |
Canadá | 79,3 | Etiópia | 45,5 |
Reino Unido | 78,1 | Chade | 44,7 |
França | 78,9 | Malawi | 37,8 |
Como se pode verificar, a Esperança de Vida no nosso pais apresenta um desnível muito grande quando comparada com a dos PD e mesmo com a de muitos PVD.
Com a melhoria das condições de Vida e a diminuição da pobreza, no futuro, se verificarão o aumento da Esperança de Vida.
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Bibliografia
NONJOLO, Luís Agostinho; ISMAEL, Abdul Ismael. G10 - Geografia 10ª Classe. Texto Editores, Maputo, 2017.
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