Classe dos répteis

3.7. Classe dos répteis

Os répteis têm a sua origem nos anfíbios labirintodontes. Com os répteis começa a evolução dos Amniota totalmente relacionados com a Vida na terra seca. O seu nome relaciona-se com o modo de locomoção rastejante, embora não se possa generalizar. Além do âmnio, possuem o córion (protege o âmnio) e o alantoide (trocas gasosas e excreção de excretas embrionárias).

O desenvolvimento ocorre sem estágios larvais.

Características principais

O tegumento consiste em pele seca, com pequenas escamas e placas epidérmicas cérneas; é pobre em glândulas. Protege contra a perda de água e facilita a Vida na terra firme.

O esqueleto é bem desenvolvido, completamente ossificado, com extremidades igualmente bem desenvolvidas, exceptuando alguns taxa. Geralmente, têm cinco dedos (lagartos, crocodilos, quelónios) ou são ápodes (serpentes). Exceptuando os quelónios, que tem a boca parecida com a das aves, a e a boca dos restantes membros estão bem desenvolvidas.

Possuem dois pares de extremidades, providas de cinco dedos, com garras córneas. Podem correr, rastejar, trepar e nadar.

O coração está dividido em quatro câmaras: duas aurículas e um ventrículo parcialmente dividido; apresenta glóbulos vermelhos nucleados.

A respiração é pulmonar, mas tartarugas, crocodilos e algumas serpentes podem permanecer algumas horas debaixo da água, prendendo a respiração (um fenómeno chamado bradicardia).

A temperatura corporal é variável (poiquilotermia), de acordo com o ambiente. A reprodução ocorre geralmente com órgãos copuladores bem desenvolvidos e praticam a cópula; a fecundação é interna e o desenvolvimento é directo. Os ovos são envoltos numa casca córnea ou calcária.

Quanto ecologia, os répteis encontram-se em todas os ecossistemas e desenvolveram vários hábitos alimentares.

Sistemática dos répteis

A Sistemática actual não inclui as formas extintas. Durante o Mesozoico, foram os vertebrados mais dominantes e ocuparam a maioria dos habitats. Existem registos de fósseis dos dinossauros e dos pterossauros. Não há uma explicação plausível para a sua extinção.

Fig. 87: Algumas formas de répteis extintos do Mesozoico.

Actualmente, existe a ordem Chelonia ou Testudines, englobando todas as tartarugas, cágados e jabutis (300 espécies), a ordem Crocodilia, que compreende jacarés, crocodilos, caimões e gaviais (apenas 21 espécies sobreviveram até actualidade), a ordem Lepidosauria, que inclui iguanas, camaleões, lagartixas e varanos, e a ordem Serpentilia, das serpentes.

Ordem Chelonia ou Testudines

O casco dos quelónios é a característica mais distintiva.

As tartarugas são desprovidas de dentes, mas possuem uma estrutura córnea formada pelas maxilas inferior e superior, parecida com o bico das aves.

A fusão das costelas com o casco impede que esses animais façam movimentos da caixa torácica para inspirar/expirar, como ocorre nos lagartos.

Todas as tartarugas são ovíparas. Durante a embriogénese, o sexo em algumas espécies é determinado pela temperatura a que este é exposto no ninho. As tartarugas correm o perigo de extinção. A maior ameaça advém do Homem, que as cava furtivamente (como ovos, juvenis ou adultos) para a alimentação e para comercialização de partes do corpo.

Fig. 89: Vistas frontal e lateral de uma tartaruga marinha.

Ordem Crocodilia

Os membros desta ordem possuem narinas na extremidade do focinho e desenvolveram um palato secundário, que desloca as passagens de ar para a parte posterior da boca. Uma aba de tecido, com origem na base da língua, pode formar um selo à prova da água entre a boca e a garganta. Desse modo, um crocodilo pode respirar somente com as narinas expostas, sem inalar água. São animais semiaquáticos.

Além disso, desenvolveram maxilas fortes, onde se encontram ancorados poderosos dentes. Apresentam, em geral, patas bem desenvolvidas.

Os crocodilos possuem uma armadura corporal dérmica. A cauda, pesada e lateralmente achatada, impulsiona o seu corpo na água, enquanto as patas são mantidas contra as suas laterais. A força muscular da cauda, aliada da massa da água, constituem um mecanismo eficaz de captura de presa.

Excelentes predadores, os crocodilos são animais terrestres adaptados à Vida na água, habitando sobretudo em águas doces. A maioria é encontrada em regiões tropicais e subtropicais, embora existam espécies que penetram na zona temperada.

Tal como as tartarugas, os crocodilos depositam os ovos na zona da praia (rios e costas marinhas); são ovíparos, mas também existem ovovivíparos (raramente são vivíparos). O seu desenvolvimento é directo.

Fig. 90: Ilustração das principais diferenças entre os Crocodilia: crocodilo cubano (A); jacaré chinês (B); crocodilo americano (C); gavial (D).

Sistemática dos crocodilos

A ordem Crocodilia compreende as seguintes famílias:

  • Alligatoridae: aligátor (Alligator mississippiensis), jacaré e caimão (Caiman crocodilus). São formas de água doce; ocorrem na América Central, no México, América do Sul e China. O aligátor é o maior em comprimento de todos os Crocodilia e dentro dos Reptilia é superado pelo pitão e pela anaconda.
  • Crocodyliciae: crocodilo de água salgada (dos estuários, pântanos de mangais, baixas de rios), atinge mais de 7 metros. E um predador excelente. Esgueira-se nos rios à espera das suas presas, constituídas por todo tipo de mamíferos. Também come aves e peixes.
  • Gavialidae: gavial dos rios do Norte da Índia.

A ordem Lepidosauria compreende os seguintes animais: tuatara, lagartos, serpentes, cobras-de-duas-cabeças, iguanas, varanos, camaleões e gecos. Trata-se de um grupo bem distinto das outras duas ordens já estudadas. O seu esqueleto está muito modificado e a sua anatomia de partes moles é igualmente diferente. O órgão de Jacobson tem o ápice de desenvolvimento em serpentes e lagartos e está ligado ao tecto da boca e não ao canal nasal.

Características principais

O ouvido do grupo sofre consideráveis alterações. Nas serpentes, desaparecem o tímpano, o ouvido médio e a trompa de Eustáquio. As vibrações recebidas são transmitidas por meio do quadrado columela e então ao ouvido interno. Nos lagartos, desenvolveu-se bastante um ouvido médio.

O tecto do crânio é arqueado. Dois pares de membros locomotores situam-se no mesmo plano do corpo (ventral), o que justifica a locomoção por rastejamento do ventre no solo.

Os membros estão providos de cinco dedos, terminando cm garras córneas e adaptadas para correr, rastejar ou trepam. Em alguns casos, ficaram reduzidos (alguns lagartos) ou podem estar ausentes (alguns lagartos e todas as serpentes).

A pele é tipicamente seca e frequentemente encoberta por escamas (cobras e lagartos), placas dérmicas e carapaças (tartarugas). O crescimento é feito através de mudas periódicas sob a indução hormonal.

Toda o grupo realiza expiração pulmonar, mas as tartarugas marinhas realizam respiração cloacal.

O seu sistema digestivo é completo, com glândulas bem desenvolvidas, como fígado e pâncreas, terminando em cloaca.

Exibem pálpebras mais móveis do que as dos anfíbios, excepto os organismos cavadores.

Sistemática dos Lepidosouria

Na classificação actual, o taxon Lepidosauria pode ser considerado como superordem, à qual se subordinam as ordens: Sphenodontia (com a tuatara, único vivente, que ocorre em ilhas da Nova Zelândia) e Squamata (lagartos, serpentes, cobra-de-duas-cabeças, iguanas, varanos, camaleões e gecos).

Os membros da ordem Squamata revelam inúmeras características derivadas do crânio, esqueleto pós-craniano e tecidos moles. A mais evidente é a perda da barra temporal inferior e do osso quadrado-jugal, que fazia parte dessa barra. Essa modificação faz parte de uma série de mudanças estruturais do crânio, que contribuem para o desenvolvimento de uma complexidade de movimentos. Nas serpentes, a flexibilidade do crânio foi aumentada ainda mais, através da perda da segunda barra temporal.

Para sua defesa e predação, muitas espécies desenvolveram venenos que variam na sua constituição química e, em consequência, na forma de acção. A Naja mossambica é, sem dúvida, uma das serpentes mais venenosas em Moçambique. Venenos desta e de outras serpentes matam uma presa de 40 kg de massa em apenas 10 minutos.

Salvo excepções, estes animais exibem quatro patas, pálpebras nos olhos e ouvidos externos.

Com mais de 5000 espécies conhecidas actualmente, os lagartos ocorrem em todos os continentes, excepto na Antártida, e existem em diversos tamanhos: desde poucos centímetros, como alguns gecos, até 3 metros, como o dragão-de-komodo.

A subordem Lacutilia (Sauria), a dos lagartos, é a subordem mais significativa em termos de biodiversidade.

São geralmente carnívoros, alimentando-se de insectos ou de pequenos mamíferos, mas também há lagartos omnívoros ou herbívoros, como as iguanas. Algumas formas são venenosas (é o caso do monstro-de-gila).

São inúmeras as famílias dos lagartos. Eis alguns exemplos:

  • Família Corytophanidae – basiliscos;
  • Família Iguanidae – iguanas;
  • Família Agamidae – agâmidas;
  • Família Chamaeleonidae – camaleões;
  • Família Gekkonidae – gecos ou lagartixas;
  • Família Varanidae – lagartos varanos e monitores;
  • Família Helodermatidae – monstro-de-gila.

Camaleão

 

Subordem das serpentes

As serpentes também são conhecidas por ofídios. É a designarão geral para todas as serpentes, independentemente do género. Estima-se em mais de 3000 espécies de serpentes distribuídas por todo o mundo, habitando a terra seca e a água. A ciência que estuda os répteis e anfíbios chama-se herpetologia.

Alimentação

Todas as serpentes são carnívoras. A sua alimentação abrange pequenos animais (incluindo lagartos, outras cobras e mamíferos de pequeno porte), aves, ovos ou insectos. Venenos e constrição (pela contracção muscular) são as duas armas mais poderosas que elas desenvolveram para encontrar a presa. A estrutura das articulações do esqueleto permite o aumento da abertura da boca para poderem ingerir presas maiores. As cobras não mastigam quando comem e ficam enfraquecidas depois de engolirem a presa, enquanto ocorre a digestão.

Tegumento

A pele das serpentes é coberta por escamas. As escamas do corpo podem ser lisas ou granulares. As suas pálpebras são escamas transparentes que estão sempre fechadas. Elas mudam a sua pele periodicamente.

Sistema nervoso e sensorial

As serpentes têm um cérebro bem desenvolvido. A visão não está muito desenvolvida, mas detectam movimentos. Dispõem também de receptores infravermelhos localizados em sulcos profundos, chamados fossetas. Tais órgãos permitem-lhes sentir o calor emitido pelos corpos (funciona como radar térmico), mesmo numa variação inferior a 0,05 °C.

As serpentes não têm orelhas externas e usam vibrações para detectar objectos. A maioria das serpentes usa a língua bifurcada para captar partículas de odor no ar e enviá-las ao chamado órgão de Jacobson, situado na boca, para examiná-las, sendo que a bifurcação da língua lhe indica a origem do cheiro.

Anatomia

O pulmão esquerdo é muito pequeno ou mesmo ausente, por isso sé um pulmão funciona. Além disso, muitos dos órgãos são pares, como os rins ou os órgãos reprodutivos.

Locomoção

As serpentes usam diferentes movimentos para a sua locomoção: ondulação lateral, movimento de concertina (para trepar árvores), locomoção retilínea, etc. Na areia solta e na lama, movem-se em ziguezague. Praticamente todas serpentes são lentas, quando comparadas com outros vertebrados.

Reprodução

Todas as serpentes são de fertilização interna, depois de uma copula verdadeira, conseguida por meio de um hemipénis bifurcado. Podem ser ovíparas ou ovovíparas. Sabe-se também que várias espécies de cobras desenvolvem os seus descendentes completamente dentro de si, alimentando-os através de uma placenta e um saco amniótico.

Evolução filogenética e classificação

As serpentes estão mais profundamente relacionadas com lagartos varanóides, muito embora não haja uma identificação Clara sobre qual seria o grupo de varanóides mais relacionado evolutivamente. Os grupos de lagartos varanóides mais relacionados com serpentes são os das famílias Lantanotidae e Mossassauridae.

Estas são as serpentes mais comuns em Moçambique.

  • Elapidae – najas, mambas, cobras-coral, cobra-real;
  • Dendroaspis polylepis – mamba negra;
  • Dendroaspis angusticeps – mamba-verde;
  • Naja mossambica – cobra-cuspideira;
  • Viperidae – cascavel, jararaca, surucucu, víbora-cornuda, víbora-de-seoane;
  • Proatheris superciliaris – víbora-dos-pântanos;
  • Colubridae – cobra-rateira, nem todas venenosas;
  • Hydrophiidae – cobra-do-mar.

Classificação dos tipos de dentes das serpentes

Tipo de dentição das serpentes

Caracteristicas e exemplos

 

 

Dentição solenoglifa

O mais eficiente dos dentes das serpentes venenosas. O dente inoculador possui um canal interno por onde o veneno passa, sendo introduzido como uma injeção intramuscular, Exs.: jararaca, cascavel.

 

 

 

Dentição proteroglifa

 

Dentição não muito eficiente, o dente inoculador não possui um orifício bem definido e assemelha-se a uma agulha hipodérmica. Está localizado na parte anterior do maxilar superior sendo pequeno e fixo, Exs: corais verdadeiras, as najas, mambas e serpentes marinhas.

 

 

 

Dentição opistoglifa

Tipo de dentição que apresenta o dente inoculador posicionado na região posterior do maxilar superior. O dente não possui um canal interno, mas sim uma parte escavada, como uma calha por onde o veneno escore penetrando na vítima ou presa. Exs.: cobra-verde e coral falsa.

 

 

 

Dentição aglifa

Dentição que apresenta os dentes iguais; não apresenta nenhum sulco ou canal para inoculação de veneno. Não apresentam perigo algum. Serpentes com esse tipo de dentição matam as suas presas por meio de constrição. Esses dentes são especializados para segurar presa. Ex: jiboia.

 

Subordem Amphisbaenia: anfisbénias e lagartos vermiformes

Os Amphisbaenia constituem uma subordem sem grande significado dentro dos Squamata; em termos de evolução são muitas vezes relacionados com os répteis e os lagartos. Muitas espécies deste grupo são coloridas e raras, encontradas geral mente em Africa e na América do Norte. Não ultrapassam os 150 mm de comprimento.


Bibliografia

PIRES, Cristiano; LOBO, Felisberto. Biologia 11ª Classe – Pré-universitário. 1ª Edição. Longman Moçambique, Maputo, 2010.

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