Didáctica: Origem etimológica e conceito

Didáctica: Origem Etimológica e Conceito

Origem etimológica da Didáctica

A palavra Didáctica deriva-se da palavra grega didactos, que significa “instrução”. Quer dizer, visto deste modo, a Didáctica desenvolveu-se como a teoria de instrução. Em sua Didáctica Magna, Coménio (veja no fim da unidade texto complementar sobre vida e obra de Coménio) qualifica Didáctica como a “arte de instruir”.

Etimologicamente, a Didáctica é a teoria de instrução. Na sua opinião, seria suficiente qualificarmos a actividade do professor apenas como “instrução”?
Como acabou de ver, ao falarmos de instrução, no processo de formação humana, estamos nos posicionando principalmente do lado do desenvolvimento no individuo do:
  • Saber (conhecimentos);
  • Saber fazer (capacidades e habilidades).
Quer dizer, deixamos de parte o saber ser (atitudes, valores, convicções), assim como o saber estar (comportamentos e hábitos) que são também importantes para se conseguir o desenvolvimento integral do homem.

Alias, quando falamos da Didáctica, um aspecto que merece o nosso maior apreço é o de que o processo didáctico se refere a actividade do professor e, neste sentido, o ensino (e aprendizagem) tem lugar, na sua máxima intensidade e expressão, na sala de aulas, razão pela qual a Didáctica também se designa de “teoria de ensino”; assim, através dos seus objectivos de formação, o ensino deve incorporar a instrução (saber, saber fazer), tal como a educação (saber ser e estar).

Para estes diferentes casos, pode compreender que a didáctica é uma ciência dimensionada para o humano, que se propõe a ajudar e educar o homem, necessitando por isso se fundamentar nos princípios da educação. Por isso, onde quer que se procure falar e/ou definir a didáctica a sua essência reside na questão de ensino e formação, no mesmo sentido como deve estar a conceptualização que acabou de apresentar em relação a didáctica.

Olhando para outros autores que procuraram apresentar um conceito de didáctica chegamos a conclusão de haver várias definições. Por exemplo, Libâneo (1994: 25/6) diz que a Didáctica investiga os fundamentos, condições e modos de realização da instrução e do ensino. A ela cabe converter os objectivos socio-políticos e pedagógicos em objetivos de ensino, seleccionar conteúdos e métodos em função desses objectivos, estabelecer os vínculos entre o ensino e aprendizagem, tendo em vista o desenvolvimento das capacidades mentais dos alunos. E se definimos a acção educativa pelo seu carácter intencional, também a acção docente se caracteriza como direcção consciente e intencional do ensino, tendo em vista a instrução e educação dos indivíduos, capacitando-os para o domínio de instrumentos cognitivos e operativos de assimilação da experiência social culturalmente organizada.

Por seu turno, Sant’Anna e Menegolla (2000: 25) numa longa dissertação e com algum sentido de ironia faz notar que:
  • a.     A Didáctica não pode ser entendida simplesmente como um rol de princípios, de teorias de ensino ou teorias de aprendizagem. Não pode ser concebida como ciência que somente estabelece uma série de métodos e técnicas de ensino a ser apresentada como solução para todos os problemas no processo ensino-aprendizagem. 
  • b.    A didáctica não é apenas a rígido e inflexível planificação do ensino, a listagem quantitativa de objectivos que não passam de um rol de intenções e utopias inúteis, desvirtuados pela irrealidade, não é um rol de conteúdos chamados mínimos, por vezes insignificantes, por sugestões de recursos materiais e humanos, que vão desde o mais simples cartaz até os mais sofisticados meios de engenharia educacional. 
  • c.     A didáctica não pode ser vista como a orientadora infalível dos fantásticos métodos e técnicas de avaliação, que pretendem medir o conhecimento dos alunos e que capacitam o professor a decidir, “cientificamente”, da atribuição de uma nota que reprova ou promove. A didáctica, nos processos de avaliação, não deve somente estabelecer formulas para medir e quantificar o conhecimento através de um instrumental que, por vezes, não passa de algumas perguntinhas com respostas de múltipla escolha. 
  • d.    A didáctica não visa apenas a métodos, técnicas e meios rígidos e estáticos. Não se constitui somente por um conjunto de princípios que, se aplicados, dariam resultados imediatos e claramente observáveis e mensuráveis. 
  • e.     A didáctica não é uma pura mecanização e manipulação de métodos e técnicas de ensino que, por vezes, são empregados sutilmente a serviço de ideologias. Ela deve se pôr ao serviço do educando como uma totalidade pessoal, que compreende os domínios cognitivo (saber), psicomotor (saber fazer) e afectivo (saber ser e estar).


Resumo
Depois de (re)vistos estes aspectos vê-se que cada um deles aponta uma parte da actividade didáctica, mas que isoladamente não representam o “verdadeiro acto didáctico”, eis porque os autores acima concluem que “a didáctica objectiva resultados, aprendizagens, mudanças significativas de comportamento”; “a didáctica deve ser uma disciplina altamente questionadora da realidade educacional, da escola, do professor, do ensino, das disciplinas e conteúdos, das metodologias, da aprendizagem, da realidade cultural, da politica educacional. Ela não é uma disciplina com verdades prontas e acabadas, mas uma disciplina que busca, que investiga o universo da educação. Ela quer saber desencadear novos processos”.

Em todo o caso, para todos os autores, emerge a ideia de que o “objecto de estudo da didáctica é o processo de ensino e aprendizagem” em suas relações com finalidades educativas. O que significa que o ensino é “uma prática humana que compromete moralmente quem a realiza”, assim como é uma prática social, uma vez que “responde a necessidades, funções e determinações que estão para além das intenções e previsões dos actores directos da mesma. Além disso, a didáctica implica processos de relação e comunicação intencional, portanto, intercâmbios de significados que caracterizam a relação entre professor e alunos e destes entre si. E é dentro desta relação que se faz a regulação e equilíbrio entre a actividade do professor e a do aluno, no sentido em que as acções do professor devem ser no sentido de desencadear processos físicos e cognitivos necessários para a aprendizagem do aluno. Logo, a didáctica pode ser definida como “a capacidade de tomar decisões acertadas sobre o que e como ensinar, considerando quem são os nossos alunos e por que o fazemos; considerando ainda quando e onde e com que se ensina”.


Bibliografia
NIVAGARA, Daniel Daniel. Didáctica Geral – Aprender a Ensinar. Módulo de Ensino à distância, Universidade Pedagógica.

Comentários