Estrutura e dinâmica do Processo de Ensino e Aprendizagem

ESTRUTURA E DINÂMICA DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM

Introdução
A educação especialmente organizada realiza-se, nas escolas, sobretudo através das aulas que em si, constituem um conjunto de meios e condições pelos quais o professor dirige e estimula o processo de ensino em função da actividade própria do aluno no processo de aprendizagem escolar, ou seja, a assimilação consciente e activa dos conteúdos. Por outras palavras, o processo de ensino, através das aulas, possibilita o encontro entre os alunos e a matéria de ensino, preparada didacticamente no plano de ensino e nos planos de aula. A realização de uma aula ou conjunto de aulas requer uma estruturação didáctica, isto é, etapas ou passos mais ou menos constantes que estabelecem a sequência do ensino de acordo com a matéria ensinada, características do grupo de alunos e de cada aluno e situações didácticas especificas; é neste sentido que nesta unidade vamos discutir sobre a estrutura da aula, como forma de organização do processo de ensino e aprendizagem.

As diferentes etapas serão apresentadas sucessivamente e, ao mesmo tempo, chamaremos atenção sobre a interligação existente entre elas. Trata-se das etapas, também chamadas funções didácticas, seguintes:
  • Função Didáctica de Introdução e Motivação
  • Função Didáctica de Mediação e Assimilação
  • Função Didáctica de Domínio e Consolidação
  • Função Didáctica de Controle e Assimilação.

Função Didáctica “Introdução e Motivação”

Introdução
A Função didáctica “Introdução e Motivação” aparece, em termos de estrutura da aula, como sendo a primeira, mas que em termos reais da sua aplicação na aula ocorre em simultâneo com as outras funções didácticas ou, se quisermos, incorpora elementos doutras funções didácticas; eis porque, ao iniciarmos o tratamento das funções didácticas vamos começar pela relação existente entre todas as funções didácticas, se bem que ao longo da abordagem de cada uma delas você poderá ir compreendendo melhor esta relação ao encontrar elementos, em cada uma delas, que fazem crer se tratar doutras funções didácticas.

Ainda nesta lição, apresentaremos o essencial sobre a importância da motivação no PEA, deixando os outros pontos (Tarefas do professor na FD I+M e Tipos de motivação: inicial, continua e final) para as aulas seguintes.

As funções didácticas são etapas ou fases do PEA que, na sua essência, realizam-se não rigidamente de forma sequenciadas, mas sim interligada. Comente

Sim, caro cursante! De certeza que já deu ou assistiu aulas e deve ter ficado com a impressão de que a indicação das etapas ou funções didácticas não significa que todas devem seguir um esquema rígido. A opção por qual etapa é mais adequada iniciar a aula ou conjugação de vários passos numa mesma aula ou conjunto de aulas depende dos objectivos e conteúdos da matéria, das caracteristicas dos alunos, dos recursos didácticos disponíveis, das informações obtidas na avaliação diagnostica, etc.

Por exemplo, ao iniciar uma aula sobre “As caracteristicas dos rios de Moçambique”, por causa da relação que esse conteúdo tem com o “Relevo e o Clima de Moçambique”, o professor poderá fazer uma breve revisão destes conteúdos e, neste sentido, pode se entender como sendo Introdução e Motivação por cumprir a função e (re)activação do pré-requisitos, mas ao mesmo tempo pode ser uma consolidação (envolve repetição, exercitação ou sistematização do (já) aprendido), assim como avaliação por ajudar a verificar o nível de compreensão e aprendizagem que os alunos tiveram nestas matérias (relevo e clima de Moçambique).

Por isso, a estruturação da aula por parte do professor é um processo que implica criatividade e flexibilidade, isto é, perspicácia de saber o que fazer frente a situações didácticas especificas, cujo rumo nem sempre é previsível.

Devemos entender, portanto, as funções didácticas como tarefas do PEA relativamente constantes e comuns a todas as matérias, considerando-se que não há entre elas uma sequência necessariamente fixa, e que dentro de uma etapa se realizam simultaneamente outras. Elas estão em interacção recíproca, tal como se pretende ilustrar na figura abaixo.

Como pode imaginar, a função didáctica Introdução e Motivação teoricamente é a primeira função didáctica, aquela que faz iniciar a aula, mas que, como vimos anteriormente, pode estar associada a outras funções didácticas. Para este caso, o importante é o professor reconhecer a importância da motivação no PEA e, de seguida, procurar encontrar as formas praticas para conseguir a motivação dos alunos nesse PEA.

Qual é a importância da motivação dos alunos no PEA?

Já pensou sobre a questão acima? Estamos em crer que você encontrou muitas razões que justificam a importância de motivação dos alunos no processo de ensino e aprendizagem ou mais concretamente na aula. Dentre estas razões, você deve ter chegado a conclusão de que:
  • Todo o objecto de aprendizagem necessita de uma orientação, uma atitude para com ela, ou seja, uma boa vontade e disposição para enfrentá-lo;
  • Diariamente os alunos enfrentam duas, três ou mais disciplinas com particularidades e exigências diferentes, eles devem “adaptar” sua mente a cada aula e devem prestar toda a atenção e interesse ao objecto que nesse momento está em discussão, exigindo por isso grandes esforços físicos e psíquicos. Portanto, ao começo de uma aula o professor deveria estar consciente do volume das exigências e que regularmente não poderia esperar que ao inicio da aula os alunos se dedicassem única e exclusivamente ao novo objecto: “ajudar o aluno nessa transformação ou adaptação e mobilizar todas as suas forças para o novo objecto, é o propósito da função didáctica “introdução e motivação”.
·       No início da aula, a preparação dos alunos visa criar condições de estudo: mobilização da atenção para criar uma atitude favorável ao estudo, organização do ambiente, suscitamento do interesse e ligação da matéria nova em relação à anterior.

·       A aprendizagem é algo intrínseco, que se passa no interior do indivíduo, levando em conta suas capacidades, suas aptidões, seu desenvolvimento neuro psíquico e, ainda, seus interesses e suas necessidades.

·       Alunos motivados ficam conscientes do que estudam e isso estimula a actividade cognitiva deles e faz com que eleve o seu papel educativo e formativo.

·       O ensino será tanto mais efectivo na medida em conseguir fixar na mentalidade dos alunos o propósito do trabalho futuro e trace o caminho para desenvolver estes propósitos: a assimilação consciente do material de estudo situará as possibilidades para sua acessibilidade.

Pela importância que a motivação tem no processo de ensino e aprendizagem, Libâneo (1990:181/2) afirma o seguinte:
  • Acho que não se deve iniciar uma aula abruptamente, mas com um papo inicial para que os alunos se descontraiam. Se é uma aula de Análise Sintática, ao invés de chegar ao quadro-negro e colocar, de chofre, a teoria e os exemplos, a gente começa conversando, pede à classe para formar uma frase. É necessário partir de um ponto em que os alunos participem, para não ficarem naquela atitude passiva.
  • Cada aula minha tem muito a ver com a aula anterior, mostro onde paramos, pergunto aos alunos se a gente segue em frente ou não. Eu gosto de situar os alunos naquilo que foi visto antes e que será visto hoje.

Introdução e Motivação: Tarefas do professor para conseguir a Motivação inicial

Introdução
      Na aula passada procuramos desenvolver um entendimento comum sobre a importância da motivação no PEA e, sobretudo, para a aprendizagem dos alunos, tendo em conta a natureza de que a aprendizagem dos alunos deve ser consciente e activa, integrando os novos conhecimentos na estrutura mental do aluno. Fizemos isso antes de apresentarmos a relação dialéctica entre as funções didácticas de que falamos nesta unidade.
       E na sequência disso que, devido a grande importância da motivação no PEA, iremos nos debruçar sobre as tarefas didácticas que o professor deve realizar para conseguir a motivação dos alunos, particularmente a inicial, dado que para a motivação continua e final falaremos na próxima aula.

As tarefas que podem ser realizadas pelo professor para conseguir a conseguir a mobilização psíquica e física dos alunos para a aprendizagem do (não) novo conteúdo

Antes de ver as tarefas do professor para conseguir a motivação dos alunos, você compreendeu que na FD I+M o objectivo principal consiste em conseguir a mobilização psíquica e física dos alunos para a aprendizagem do (não) novo conteúdo. Para o efeito devem, por exemplo, serem realizadas as seguintes tarefas:
a.      Averiguar, através de perguntas, se os conhecimentos anteriores estão efectivamente disponíveis e prontos para o conhecimento novo. Aqui o empenho do professor está em estimular o raciocínio dos alunos, instiga-los a emitir opiniões próprias sobre o que aprenderam, fazê-los ligar os conteúdos a coisas ou eventos do quotidiano. A correcção de trabalhos de casa pode tornar-se importante factor de reforço e consolidação. As vezes haverá necessidade de uma breve revisão (recapitulação) da matéria, ou a rectificação de conceitos ou habilidades insuficientemente assimiladas. Como se vê, a preparação dos alunos é uma actividade de sondagem das condições escolares prévias (ou pré-requisitos) dos alunos para enfrentarem o assunto novo. Nesta fase, é necessário levar os alunos para a área fronteiriça entre o saber, saber fazer e saber ser/estar e a área do não saber, não saber fazer e não saber ser/estar porque esta é a área de aprendizagem, visto que a aprendizagem consiste numa síntese entre o novo conteúdo e o já assimilado.

b.      Estabelecer a ligação entre noções que os alunos já possuem com à matéria nova, bem como estabelecer vínculos entre a prática cotidiana e o assunto. Para isso, o melhor procedimento é apresentar a matéria como um problema a ser resolvido, embora nem todos os assuntos se prestem a isso. Mediante perguntas, trocas de experiências, colocação de possíveis soluções, estabelecimento de relações causa- efeito, os problemas atinentes ao tema vão-se encaminhando para se tornarem também problemas para os alunos em suas vidas praticas. Com isso vão sendo apontados conhecimentos que são necessários dominar e as actividades de aprendizagem correspondentes. O professor fará, então, a colocação didáctica dos objectivos, uma vez que é o estudo da nova matéria que possibilitará o encontro de soluções.

·       Uma professora de Historia, citada por Libâneo (ib: 183), para mostrar a importância da ligação da matéria com a pratica cotidiana na motivação dos alunos, escreve o seguinte: “Por mais teórico que seja um trabalho na sala de aula, os alunos conseguem acompanhar, colaborar, interessar-se, desde que entendam duas perspectivas: a utilidade do conhecimento e o exercício mental decorrente desse conhecimento. Atrás desse exercício tem uma vivência, uma experiência, um conhecimento. Eu acredito que, mesmo aquelas matérias mais teóricas conseguem atrair os alunos, se a gente consegue fazê-los sentir a importância do exercício de relação, e compreenderem que aquele conhecimento é útil, embora não de imediato”.

c.      Criar ou obter uma atmosfera propicia para a aprendizagem. Para isso é necessário:
  • ·       Dar informações sobre o conteúdo da aula
  • ·       Orientar para os objectivos em vista
  • ·       Provocar a curiosidade
  • ·       Assegurar ordem e disciplina no sentido positivo, ou seja, sem recurso ao medo, ao castigo,        mas sim com base na persuasão e envolvimento dos alunos na aula que (vai) iniciar (iniciou).

d.      Conseguir o interesse e a atenção dos alunos: se os alunos não estão interessados, não estão atentos, então, não há aprendizagem.

Portanto, para uma efectiva motivação dos alunos no PEA, é fundamental:
  • A orientação para objectivos concretos atingíveis pelos alunos, que se encontrem na zona de desenvolvimento próximo.
  • A conexão dos motivos da sociedade (representados pelo professor), da turma e de cada aluno individualmente.

Introdução e Motivação: Motivação continua e final

O fundamento para a motivação continua constitui a necessidade de manter a actividade do aluno e o nível óptimo de aprendizagem, tendo em conta ao facto de que, segundo o gráfico abaixo:
  • A variação do nível da actividade neurofisiológica oscila entre o sono e o nível óptimo de recepção de informações.
  • Investigações demonstram que quando os alunos estão motivados, a frequência cardíaca, a tensão arterial e o gasto do oxigénio estão mais altos, isto é, o nível da actividade neurofisiológica é mais alto.


Actividade neurofisiológica
Através deste gráfico, podemos concluir que:
  • Através da motivação continua o óptimo da actividade neurofisiológica (nível optimal) para a recepção de informações é mantido por maior espaço de tempo.
  • Investigações provaram que com boa motivação de aprendizagem, o grau de retenção é maior.
Olhando, então, as premissas acima enunciadas, caro cursante, pode facilmente concluir que para conseguir a motivação continua, o professor deve, por exemplo:
  • a.     Colocar objectivos imediatos ou parciais derivados dos objectivos gerais ou afastados. Porque deste modo os alunos percebem durante o processo que estão a conseguir avançar, respectivamente que se devem esforçar mais; e esta é a dialéctica entre os objectivos imediatos, médios e afastados.
Uma das regras, nesta tarefa, é verificar continuamente os objectivos em vista e uma das maneiras para isso consiste em olhar para atràs e para a frente através de resumos parciais e da colocação seguinte de novos objectivos parciais e assim sucessivamente até conseguir alcançar o objectivo final, imediato ou afastado.
  • b.    Dar estímulos motivadores adicionais, principalmente nas fases de maior dependência, sugerindo-se, neste sentido:
  • ·       Informar sobre o decorrer da aprendizagem (através, por exemplo, de chamadas orais) porque quando o aluno sabe está a fazer mal ou bem aumenta a sua motivação.
  • ·       Ajudar no raciocínio e/ou solução de problemas no momento oportuno: ajuda antecipada provoca a inactvidade do aluno e ajuda tardia faz com que o aluno já não consiga aprender; tudo isto porque quando a ajuda é demasiado cedo, diminui o nível da actividade neurofisiológica, isto é, motivação baixa, e quando é demasiado tarde, tem como consequência o cansaço, isto é, motivação enfraquecida, eis porque se pode dizer que nesta estratégia, é necessária uma grande sensibilidade do professor para determinar o momento oportuno, necessário, para dar aos alunos, no geral e individualmente, a ajuda que precisam. 
  • c.     Aproveitar-se das potencialidades do próprio conteúdo. Visto que o professor tem um programa a cumprir, ele deve agir sempre de maneira a serem atractivos e interessantes os conteúdos para os alunos. Para tal, é necessário (por parte do professo):
  • ·       Domínio dos conteúdos.
  • ·       Domínio dos métodos de ensino
  • ·       Iniciativa criadora ao longo da aula
  • ·       Conhecer os alunos 
  • d.    Desenvolver nos alunos a habitualização dos motivos de aprendizagem, isto é, criar atitudes de aprender: a atitude de aprender é uma motivação continua.
Vimos antes que a motivação inicial tem a função de pôr o PEA em movimento, a motivação continua mantém esse movimento. Qual é então a função da motivação final? E que estratégias o professor pode utilizar para consegui-la nos seus alunos?

É verdade sim, caro cursante, que a função da motivação final, tal como dissemos na introdução desta aula, consiste em preparar, criar disposição nos alunos para as tarefas e actividades de ensino e aprendizagem seguintes parecidas ou semelhantes, como por exemplo, da mesma disciplina, unidade ou mesmo de um mesmo curso. A motivação final faz com que, terminada uma aula, o aluno queira ter, com o mesmo professor ou actividades referentes a mesma disciplina, aulas subsequentes.

O atendimento desta variante de motivação no PEA tem como premissas, as seguintes:
  • a.     A conclusão como sucesso de uma tarefa, acção/actividade ou trabalho, traz consigo:
  • ·       Um sentimento de êxito e alívio da tensão psíquica que o trabalho exigia.
  • ·       Uma relação positiva para com a tarefa cumprida, isto é, uma motivação final que, em geral, dá uma maior prontidão em cumprir tarefas semelhantes. 

  • b.    Quando a tarefa não é concluída cm êxito, há várias possibilidades:
  • ·       Alunos com estrutura psíquica (temperamento) forte, com atitudes positivas, aceitam o desafio, sentem-se estimulados a vencer a barreira.
  • ·       Alunos com estrutura psíquica fraca, com atitudes negativas, ficam desanimados.
  • ·       Insucessos em série resultam em motivações finais negativas, isto é, em desanimo em quase todos os alunos.
Assim, as duas premissas enunciadas anteriormente nos permitem concluir que a melhor estratégia para a motivação final dos alunos é atingir o objectivo de uma tarefa, de uma aula: atingir o objectivo de uma tarefa/actividade tem uma função motivadora. Por isso, dada a suma importância dos objectivos na actividade do professor e dos alunos, eles devem ser recordados e verificados em todas as etapas do ensino. Esse cuidado auxilia a avaliação permanente do PEA, assim como evita a dispersão, impedindo que aspectos secundários tomem conta do essencial no desenvolvimento do plano da aula, da unidade, etc.



Bibliografia
NIVAGARA, Daniel Daniel. Didáctica Geral – Aprender a Ensinar. Módulo de Ensino à distância, Universidade Pedagógica.

Comentários