Factores de organização do espaço agrário
Factores de organização do espaço agrário
Inúmeras causas estão por detrás da organização do espaço agrário, ou seja, vários são os factores que contribuem para facilitar ou dificultar a expansão da área cultivada. Por razões eminentemente didácticas iremos agrupá-las em dois grandes grupos, que chamaremos de factores físico-naturais e factores humanos ou socioeconómicos.
FACTORES FÍSICO-NATURAIS
As plantas cultivadas exigem, para crescer, urna certa quantidade de igual e calor, repartidos de modo preciso ao longo do ano. De uma maneira geral, são os valores mínimos (frio e secura) que impõem os limites absolutos.
Os factores naturais que comandam a organização do espaço agrário e cuja acção se exerce sobre a produção agrícola são:
- O clima (temperatura, precipitação, vento e humidade).
- O relevo.
- O solo.
Clima
A influência climática é a mais importante, e exerce-se em consequência das variações da temperatura e da humidade. Por exemplo, tal como Andrade (1998) refere, há plantas tropicais como a cana-sacarina, o cacau e o café que não podem ser plantadas noutro clima que não o tropical; o mesmo acontece com o trigo e a cevada, que são plantas adaptadas ao clima temperado e a alveja, que é típica de climas frios.
Quando as plantas são de ciclo vegetativo curto, ou seja, levam menos de seis meses entre o plantio e a colheita, podem adaptar-se a vários tipos de climas. Deste modo, o fumo, planta típica do ambiente de clima tropical, às vezes é cultivado em locais de clima temperado, desde que a sementeira aconteça na Primavera e a colheita no verão, exactamente no período em que as regiões temperadas apresentam temperaturas elevadas. O trigo, cultura típica de climas temperados, é cultivado em regiões frias, quando a variedade cultivada é de ciclo vegetativo curto, como ocorre nas planícies do Canadá e da Rússia. Na Amazónia, em locais cujo clima se apresenta húmido durante todo o ano, a cana-sacarina desenvolve-se muito, atinge uma grande altura, mas fica muito desidratada, produzindo pouca sacarose e conduzindo a urna baixa produtividade, tornando-se consequentemente anti-económica a sua produção para a exportação.
Nos desertos e regiões semi-áridas, a agricultura também só é possível com a irrigação e com plantas que se adaptem bem aos climas secos, são os casos da tamareira e da figueira, ou do sorgo, que tendo um ciclo de Vida muito curto, são cultivados na curta estação chuvosa. Em contrapartida, nas regiões frias onde efectivamente os licores do Inverno se verificam, com temperaturas abaixo dos seis graus (América do Norte, Europa e Ásia), e onde o solo fica congelado durante grande parte do ano (permafrost), é óbvio que apenas as poucas plantas que se adaptam a baixas temperaturas e que possuem um ciclo vegetativo curto possam sobreviver.
As terras do hemisfério sul são as mais favorecidas relativamente temperatura, comparativamente às do hemisfério norte. Isto acontece por estarem mais próximo do equador e devido à fraca continentalidade do hemisfério sul. Também a grande extensão oceânica modera o clima da porção de terra arável.
A agricultura depende igualmente da disponibilidade de água (rede hidrográfica). As grandes civilizações, quer da Antiguidade e mesmo dos países que asseguraram actualmente a segurança alimentar mundial, fazem-no e o seu desenvolvimento foi possível gravas ao controlo da água.
Ternos os casos das civilizações da Mesopotâmia, do vale do Indo, Ganges e do Nilo, apenas para citar alguns exemplos.
Os solos
O solo é o componente principal da prática agrícola. São as características físicas de um solo como a textura (a maneira como os diferentes elementos estão agrupados), a estrutura, as características e a composição químicas, que contribuem para a distribuição das espécies vegetais.
Assim, a textura do solo condiciona certas propriedades físicas do solo e dela depende a porosidade; se os espaços entre os materiais constituintes do solo são de diâmetro superior a 0,0008 mm, a água escoa-se por gravidade e os espaços intersticiais enche-se de gás. Em contrapartida se estes forem mais pequenos, o solo retém água. Se a água ocupa todos os poros do solo, este torna-se asfixiante pala a planta e é necessária a drenagem. A presença ou não da manta morta (restos de matéria orgânica - húmus) no solo é fundamental para o desenvolvimento das culturas.
Quanto à composição química, há plantas que exigem mais determinados nutrientes (potássio, fósforo, nitrogénio, entre outros) enquanto que outras o exigem para outros elementos. Algumas plantas como o coqueiro e o amendoim preferem solos silicosos/arenosos enquanto outras plantas preferem solos argilosos. De qualquer modo, para cada tipo de cultura corresponde um tipo apropriado de solo.
Relevo
O relevo também tem uma influência muito grande sobre a agricultura, pois as regiões tropicais, em certas áreas, gozam de temperaturas amenas (entre 15 a 20 graus centigrados) durante todo o ano. Esta amenização da temperatura possibilita o desenvolvimento de culturas típicas de regiões de clima temperado em regiões equatoriais e tropicais como frutas, trigo, batata, chá, entre outras. É o que acontece em regiões de climas modificados pela altitude de Moçambique (Namaacha, Angónia e no planalto de Manica, Alta Zambézia).
O chá é cultivado com sucesso em Gurué, na Alta Zambézia, a batata e a uva, em Angónia, na província de Tete, apenas para citar alguns exemplos.
Portanto, o relevo influi grandemente na distribuição das culturas pois as plantas organizam-se diferentemente em função da altitude, não só devido às variações da temperatura, como também por a água se perder para os níveis inferiores devido à acção da força de gravidade. De igual modo, o declive também influi ainda na forma de ocupação das vertentes. Quando o declive é muito acentuado, impõe-se a construção de socalcos para permitir a prática agrícola.
- introduzindo variações climáticas em altitude, determinando, por conseguinte, a arrumação das culturas em andares;
- dificultando mais ou menos a ocupação das vertentes conforme o declive seja maior ou menor;
- impedindo o desenvolvimento de solos de grande fertilidade, por causa da grande escorrência aquando das chuvas ou degelos mais pronunciados;
- dificultando a mecanização da agricultura, sobretudo quando o declive é muito acentuado.
Nos locais do planeta Terra onde aparecem grandes cadeias montanhosas, Africa, Europa, Ásia e América Latina, os homens lutam contra este factor natural. Muitas vezes, quando a altitude é excessiva e a temperatura baixa, as grandes montanhas são propicias ao crescimento e desenvolvimento de florestas, ou então ao crescimento de pastos de verão para a alimentação do gado.
FACTORES HUMANOS
A agricultura não depende unicamente de factores naturais, mas também de factores humanos, nomeadamente, económicos, sociais, culturais e técnicos.
Repara que variadas vezes, regiões que possuem condicionantes naturais similares sujeitam-se a explorações diferentes do solo — o campo tem tamanhos e formas diversas, a tecnologia usada é relativamente avançada, os produtos cultivados são variados, etc. quando tal acontece é porque são os factores humanos os que mais interferem na organização do espaço rural.
Actualmente, o Homem, servindo-se das tecnologias disponíveis, consegue subverter a acção rigorosa do clima, umas vezes construindo grandes abrigos (estufas) para evitar a exposição aos excessos térmicos (frio ou calor), outras vezes irrigando para minimizar o efeito da seca sobre as culturas. As grandes estufas mantém um microclima artificial, cuja finalidade é cultivar, no Inverno, produtos de grande valor comercial que, por estarem fora da estação, alcançam maiores preços – Ocorre também em certos países (Japão, Israel, etc.) casos de prática de agricultura sem solo (hidroponia): com esta técnica as raízes recebem urna solução nutritiva balanceada, que contém água e todos os nutrientes essenciais ao desenvolvimento da planta.
Para melhorar a qualidade do solo e para o conservar, o agricultor serve-se de diferentes técnicas como, por exemplo, a irrigação (se o solo sofrer de stress hídrico), a drenagem (se os solos tiverem excesso de água ou encharcados) e a correcção de solos (feita com o recurso aos adubos, mistura de solos, entre outras).
Modernamente, os agricultores adquirem cada vez mais formação e um conjunto de recursos científicos e tecnológicos, que lhes permitem com menos esforço, produzir maiores quantidades com maior qualidade, dispensando muita mão-de-obra.
Através das pesquisas biológicas, o agricultor consegue ainda obter variedades de certas plantas de ciclo vegetativo curto, podendo estender a sua cultura até áreas antes consideradas inadequadas para as mesmas, como aconteceu com o trigo na Rússia e no Canadá.
A densidade populacional também contribui para a existência de diferentes estruturas agrárias. Em regiões onde predomina uma elevada pressão demográfica existe a tendência para o parcelamento da propriedade criando uma paisagem de campo fechado e para a prática de policulturas intensivas. Em regiões onde a densidade populacional é fraca ou existe o progressivo abandono da prática agrícola que leva transformação progressiva da paisagem em campo aberto (openfield), a consolidação da grande propriedade e a prática de monocultura contribui para diferentes usos e ocupação do solo como, por exemplo, a urbanização.
A lei da oferta e da procura também age como um factor importante na transformação da paisagem e dos sistemas agrícolas. A agricultura tradicional ou de subsistência encontra-se muito ligada à preservação de tradições, crenças e costumes, sendo adversa a aplicação de novas técnicas e tecnologias, e não produzindo para o mercado. Pelo contrário, a agricultura comercial encontra-se profundamente ligada ás leis do mercado e nesse aspecto, concorrência. Altamente mecanizada, usa técnicas e tecnologia avançada que permitem maximizar a produção no sentido de obter o máximo lucro.
Bibliografia
MANSO, Francisco Jorge; VICTOR, Ringo. Geografia 12ª Classe – Pré-universitário. 1ª Edição. Longman Moçambique, Maputo, 2010.
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