Falácias e paradoxos

1.6. Falácias e paradoxos

1.6.1. Falácias

Designa-se por falácia um raciocínio errado com aparência de verdadeiro. Este vocábulo provém do grego fallere (de falácia, enganar).
Enquanto sujeitos falantes, cometemos frequentemente erros que os ouvidos desatentos não descobrem imediatamente. Tais erros ou falácias podem ser, por um lado, involuntários ou despropositados e, por outro, propositados ou voluntários.

As falácias que são cometidas involuntariamente designam-se por paralogismos; as que são produzidas de forma a confundir alguém numa discussão designam-se por sofismas. Assim, em qualquer falacia ocorrem dois elementos essenciais:
  • Uma verdade aparente — em que o argumento é convincente e leva os incautos ao equívoco;
  • Um erro oculto — que faz com que se retirem conclusões falsas a partir de uma verdade.
O erro oculto pode derivar da ambiguidade dos conceitos, de um salto desregrado do particular para o geral, de uma tomada do relativo como absoluto, do parcial como total, do acidental como essencial.
Existe uma variedade de falácias, mas não há consenso quanto à sua classificação. Contudo, as mais frequentes e comuns são:
  • Falácia da equivocação ou equívoco – acontece sempre que usamos, num argumento, acidental ou deliberadamente, a mesma palavra em dois sentidos diferentes.
Só o homem é que pensa.
Ora, nenhuma mulher é homem.
Logo, nenhuma mulher pensa.

Este argumento é falacioso, dado que, na primeira premissa, a palavra «homem» significa «espécie humana» e, na segunda, «ser humano» do sexo masculino.
  • §  Anfibologia — deriva da ambiguidade sintáctica de uma parte de um argumento. Por isso, esta falácia ocorre sempre que procuramos sustentar uma conclusão recorrendo a uma interpretação errada de uma proposição gramaticalmente ambígua.
Todos os homens amam uma mulher.
Mataka ama Abiba.
Logo, todos os homens amam Abiba.

A ambiguidade deste argumento verifica-se na primeira premissa, pois, em geral, cada homem ama uma mulher diferente. Todos amam uma mulher diferente. Consequentemente, não podemos concluir que todos os homens amam Abiba.
  • Falácia de analogia — ocorre quando se sobrevalorizam as semelhanças entre duas ou mais coisas ou quando se desprezam as diferenças relevantes.
Os macacos não são herbívoros.                         As aves voam.
Os gatos não são herbívoros.                               O avião voa.
Logo, os gatos são macacos.                               Logo, o avião é uma ave.
  • Falácia do acidental — acontece quando tomamos o que é acidental pelo que é essencial e vice-versa. Forma generalização abusiva.
Esta aparelhagem não funciona.
Logo, a técnica é uma farsa.
A camisa de Muzé é verde.
O verde é uma cor.
Logo, a camisa de Muzé é uma cor.

  • Falácia de ignorância da causa — ocorre quando tomamos por causa um simples antecedente ou qualquer circunstância acidental.
Depois das cheias no rio Púnguè houve epidemias.
Logo, as cheias do rio Púnguè são causadoras de epidemias.
  • Falácia da conversão — sucede quando se convertem proposições sem respeitar as regras.
Os molwenes andam pelas ruas da cidade.
Logo, quem anda pelas ruas da cidade é molwene.
  • Falácia de oposição — ocorre quando não são respeitadas as regras da oposição de proposições.
Todos os africanos são hospitaleiro.
Logo, nenhum africano é hospitaleiro.
  • Círculo vicioso (ou petição de princípio) — acontece quando se pretende resolver uma questão com a própria questão, ou seja, quando se supõe acordado ou provado precisamente o que está em questão; apresenta-se como premissa o que só se justifica como conclusão.
O que é a lógica? É a ciência do que é lógico.
O remédio cura porque tem a virtude curativa.
  • Falácia da falsa dicotomia – ocorre quando se apresentam duas alternativas como sendo as únicas existentes em dado universo, ignorando ou omitindo alternativas possíveis.
  •  Confunde opostos e contraditórios, sendo, por isso, conhecida como a falácia do «ou-tudo ou nada».
Ou estás do meu lado ou estás contra mim.
Ou comes tudo o que está no prato ou então não comes nada.
  • Argumentum ad hominem (ataque pessoal) — esta falácia é cometida quando alguém tenta refutar o argumento de uma outra pessoa, atacando não o argumento, mas a própria pessoa.
Em vez de uma contra-argumentação (oposição de um argumento a outro), temos um ataque pessoal, ou seja, em vez de se apresentar razoes adequadas ou pertinentes contra determinada opinião ou ideia, pretende-se refutar tal opinião ou ideia, censurando, desacreditando ou desvalorizando a pessoa que a defende.

O senhor afirma estar inocente da acusação que pesa sobre si. Mas como poderemos acreditar num homem cujo passado é melindroso?
Não podemos aceitar o parecer da professora porque esta é muito jovem e não tem experiência suficiente.
  • Argumentum ad populum (apelo ao povo, à emoção) — esta falácia ocorre quando, por falta de razões convincentes ou pertinentes, se manipulam e exploram os sentimentos de uma audiência de modo a fazer adoptar O ponto de vista de quem fala. O «argumento» dirige-se a um conjunto de pessoas- «ao povo» — e tira partido de preconceitos, desejos e emoções, com o intuito de tornar persuasiva uma ideia ou uma conclusão para a qual não se encontram dados, provas ou argumentos racionais. Apela-se à emoção das pessoas e não sua razão.
Querem uma cidade sem lixo? Querem uma cidade em que as ruas não estejam esburacadas?
Querem uma cidade com escolas para todos? Votem no partido X!
  • Argumentum ad baculum (apelo à força — pressão psicológica) — verifica-se quando quem argumenta a favor de uma conclusão sugere ou afirma que algum mal ou problema acontecerá a quem não a aceitar. Este tipo de argumento baseia-se em explicitas ou implícitas ao bem-estar físico ou psicológico do ouvinte ou do leitor, seja ele um individuo ou um grupo.
Ou te calas ou ficas sem recreio.
As minhas opiniões estão correctas e mandarei prender quem discordar de mim.
  • Argumentum ad ignorantiam (apelo à ignorância) — esta falácia acontece quando se argumenta que uma proposição é verdadeira porque não foi provado que é falsa, ou que é falsa porque não foi provado que é verdadeira.
Até hoje, ninguém conseguiu provar a não existência de seres racionais superiores aos homens.
Logo, existem também outros seres racionais superiores ao homem.
  • Argumentum ad misericordiam (apelo à piedade) — este tipo de falácia verifica-se quando alguém argumenta recorrendo aos sentimentos de piedade e de compreensão de uma audiência, de modo que a conclusão ou afirmação defendida seja aprovada. Mas convém sublinhar que o apelo piedade ou «falar ao coração» não é, de forma alguma, um modo racional de argumentação. E o que acontece frequentemente quando alguns alunos tentam convencer os seus professores a passá-los de classe, invocando razões comoventes. 
  • Falácia da composição (tomar a parte pelo todo) — se as partes de um todo tem ema certa propriedade, argumenta-se que o todo tem essa mesma propriedade. Esse todo pode ser um objecto composto de diferentes partes como um conjunto de membros individuais.
Nem estes, nem aqueles sapatos me servem.
Logo, nenhuns sapatos me servem.

Bibliografia
GEQUE, Eduardo; BIRIATE, Manuel. Filosofia 12ª Classe – Pré-universitário. 1ª Edição. Longman Moçamique, Maputo, 2010.

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