Filosofia cultural (Negritude)

3.2.4. Filosofia cultural (Negritude)

     A negritude insere-se no espírito pan-africanista da união e solidariedade entre os africanos, com a simples diferença de se revestir de um carácter cultural e literário. Tal como o pan-africanismo, a negritude nasceu fora do continente africano, como resultado dos esforços emancipatórios da comunidade negra radicada em França. Os mentores deste projecto eram membros de profissões liberais, estudantes, eclesiásticos, intelectuais e políticos.
      A negritude pretendia a união de todos os negros. Césaire, depois Senghor e, mais tarde, a revista Présence Atricaine e os congressos de escritores e artistas negros, que aquela organizou cm 1956 e 1959, dão expressão à ideia da unidade africana sob a forma cultural, O evolucionismo, classificando as sociedades segundo o seu grau de desenvolvimento técnico, confirmou a visão etnocêntrica da elite ocidental e facilitou o colonialismo. A maior parte dos evolucionistas, como Tylor e Morgan, e os etnocentristas, como, por exemplo, Levy Brhul, não admitiam a possibilidade de haver culturas que não fossem europeias. Estes consideravam a Vida cultural das outras sociedades como estádios arcaicos de um único processo cultural, no qual a Europa representava o estádio mais completo.
    O funcionalismo, por sua vez, sugerindo a irredutibilidade das culturas a um denominador comum, abria as portas ao princípio do relativismo cultural evocado pela etnologia americana.
       A corrente relativista punha a tónica na diversidade cultural e social e considerava que a unidade do género humano se manifestava sua capacidade de se diferenciar em múltiplas culturas.
    A posição relativista pretendia sobretudo lutar contra Q imperialismo americano e defender as minorias colonizadas, os grupos africanos. Esta corrente impôs como normas o respeito pela diferença, a tolerância, a crença na pluralidade de valores e a aceitação da diversidade.
      Assim, abriam-se as portas para o pronunciamento da cultura africana, ou melhor, a negritude surge como resposta imediata ao espaço aberto pelo relativismo cultural.
       Entretanto, coube a Aimé Césaire o mérito de ser considerado o grande impulsionador deste termo. Aliás, a ele cabe a paternidade do termo e negritude, pois o seu conceito já se consegue distinguir no projecto anglófono do pan-africanismo.

Os maiores impulsionadores da negritude – Césaire (antilhano), Senghor (senegalês) e Damas (guianês) – resumiram o projecto em três conceitos:
  • Identidade – consiste em o negro assumir plenamente a sua condição;
  • Fidelidade – atitude que traduz a ligação do homem negro terra-mãe;
  • Solidariedade – sentimento que liga secretamente todos os irmãos negros.
A negritude era um movimento principalmente cultural e literário, mas com pretensões também políticas, conquanto protestava contra a atitude colonialista, lutando pela emancipação do povo.
     O poema de Noémia de Sousa «Let my people go/Deixe passar o meu povo» é disso um exemplo vivo.
    É útil reler os escritos de Senghor e sentir a nostalgia com que este lembra o seu passado recente: […] quando Césaire, Damas e eu próprio nos sentávamos ainda nos bancos do liceu […]» diziam…) nós, criadores da nova geração, queremos exprimir a nossa personalidade negra sem vergonha nem temor. Se isto, agrada aos brancos, ainda bem. Se não lhes agrada, não importa.
Fig.6: Aimée Césaire

E para amanhã que construímos os nossos templos, templos sólidos como nós sabemos edificar, e permanecemos erectos em cima da montanha, livres em nos mesmos».
No mundo da lusofonia, o movimento foi difundido por vários órgãos, como, por exemplo, a Junta de Defesa dos Direitos de África, a Tribunu de África e A Mensagem, formadas por africanos e europeus favorável promoção da cultura negro-africana.

Foi neste contexto que, em 1920, nasce, em Lisboa, a Liga Africana com os seguintes objectivos:
  • Promover, através de todas as mudanças políticas, o progresso físico, mental e económico da raça africana nas colónias portuguesas;
  • Conseguir a revogação de todas as leis e regulamentos de excepção contra os africanos ainda existentes na legislação colonial portuguesa, especialmente no que respeita ao direito de propriedade;
  • Conseguir que se torne realidade o livre acesso de indivíduos de raça africana a today as situações sociais e cargos públicos, nas mesmas condições exigidas aos indivíduos de raça branca.

Vamos recordar...
  • O pan-africanismo surge como manifestação da solidariedade entre os africanos e os povos da descendência africana.
  • O renascimento negro consistia em incutir no negro, que apenas soubera ser escravo, a ideia de que era igual ao branco (seu escravizador).
  • A negritude foi um movimento de união dos africanos do ponto de vista cultural.
  • As principais ideias apregoadas pela negritude foram: identidade, fidelidade e a solidariedade,
  • Na lusofonia, a negritude lutou pela revogação de todas as leis e regulamentos de excepção contra os africanos.


Bibliografia
GEQUE, Eduardo; BIRIATE, Manuel. Filosofia 12ª Classe – Pré-universitário. 1ª Edição. Longman Moçamique, Maputo, 2010.

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