O desenvolvimento económico e socio-político de alguns países depois da I Guerra Mundial (1918-1929)

O desenvolvimento económico e socio-político de alguns países depois da I Guerra Mundial (1918-1929)

Os Estados Unidos da América até 1929
Após o fim da I Guerra Mundial, assistiu-se nos Estados Unidos da América a uma reacção contra a política da anterior administração democrata, assente na ideologia progressista e no reformismo social, que se caracterizou por:
  • Democratização fiscal, pela progressividade dos impostos.
  • Controlo federal acrescido sobre os caminhos-de-ferro e electricidade.
  • Extensão do direito de voto as mulheres.
O governo republicano, eleito em 1920, trouxe uma prosperidade maior do que nunca aos EUA. O seu rendimento médio per capita aumentou mais de um quarto entre 1921 e 1929.

O regresso normalidade significou a rápida modernização da Vida americana, o enriquecimento da classe média e a corrida ao bem-estar. Era o american way of life. Foi neste período que Henry Ford colocou no mercado um veículo barato o modelo T, acessível a milhões de pessoas; os eletrodomésticos, a rádio e o cinema passavam a fazer parte da Vida dos americanos, permitindo as mulheres procurarem novas distrações e ocupações profissionais. Os americanos procuravam igualmente uma maior autenticidade, que se exprimia pela exaltação da sua história, gerando também um ambiente de intolerância e moralismo agressivo. 
O Estado procurava combater o absentismo ao trabalho, o sindicalismo, a imigração recente e as ideologias provenientes da Europa. Dentro deste contexto surgiu a Lei Seca, promulgada em 1920, proibindo o fabrico e consumo do álcool. Viveu-se então um período de xenofobia, com os motins raciais a conhecerem um maior recrudescimento. Estão ainda na memoria a morte dos anarquistas Nicola Sacco e Bartolomeo Vanzetti, em 1927, e a campanha de violência levada a cabo pelo agrupamento racista Ku Klux Klan, no Sul e Centro-Oeste do país, contra os negros, católicos, judeus e intelectuais, ao longo de toda a década.

Segundo as políticas comuns na época, os EUA reforçaram o proteccionismo, diminuíram regularmente a tributação sobre os lucros industriais e os altos rendimentos, e o abandono da legislação antitrust, entre outras. Com a aprovação das leis de imigração de 1921 e 1924 as quotas dos imigrantes descem drasticamente: primeiro, para um máximo de 3% do efectivo presente em 1910, no limite de 357 000 novos imigrantes; e, depois, mais restritivo ainda, usando o recenseamento de 1890, estabelecendo em 2% do efectivo, excluindo os italianos, os judeus da Europa Central e os russos.

A Alemanha

O fim da I Guerra Mundial teve como um dos seus efeitos imediatos a neutralização da agitação revolucionária, ao mesmo tempo que a rápida eleição de uma Assembleia Constituinte não permitiu que se instalasse o vazio no poder. Ainda que os social-democratas tenham ganho as primeiras eleições do novo regime, apos 1920 registou-se o avanço da «direita», que se manterá no poder até 1928.

A partir de 1924, a Alemanha adquiriu alguma estabilidade política e económica, em virtude dos créditos anglo-saxónicos e da aceitação do Plano Dawes, que permitia a redução dos prazos anuais das reparações de guerra. Os empréstimos norte-americanos permitiram o pagamento das dividas aos aliados europeus, com o início da modernização industrial. O rearmamento alemão, feito å revelia dos tratados de paz, permitiu constituir um exército com várias centenas de milhar de homens, a base de uma força aérea e uma estrutura de fabrico de munições, inicialmente instalada na Rússia e, mais tarde, reunida no Rhur, sendo capaz de produzir rapidamente grandes quantidades de armamento. O motivo deste ambicioso plano era fundamentalmente económico. As vastas despesas governamentais fomentaram o emprego e a produção industrial, libertando a economia alemã da crise em que vivia. Em 1927, a Alemanha tinha já alcançado o volume de produção industrial anterior à guerra e, um ano mais tarde, retomava o segundo lugar entre os países industriais.

Ao contrário do que se passava com a indústria, a produção agrícola em 1929 apenas atingiu três quartos da de 1913. Entre 1924 e 1929, a parte da agricultura na produção total da Alemanha baixou de 22,7% para 20,9%, ao mesmo tempo que decorra o processo de endividamento junto dos grandes bancos, em resultado da mecanização.

Durante o período que foi de 1924 a 1929, o progresso técnico e a produtividade no trabalho ultrapassaram os índices anteriores ao conflito europeu, atingindo o dos Estados Unidos da América. Também o processo de concentração do capital e de constituição do capital financeiro se acelerou. O pagamento das reparações de guerra, em virtude dos tratados de paz, contribuiu para uma situação inflacionista permanente, provocando um grave endividamento da indústria alemã em relação ao estrangeiro. Esta situação viria a agravar-se na década de 1930, quando os Estados Unidos da América deixaram de renovar os empréstimos e repatriaram os seus capitais em virtude da crise económica de 1929, provocando a catástrofe. A produção do pais baixou, e o desemprego atingiu 5,7 milhões de pessoas. Nesta situação extremamente difícil, o último governo social-democrata caiu, em 1930, em virtude das divergências sobre a política económica a seguir.

A Itália

O processo de industrialização italiano foi particularmente tardio, caracterizando-se por uma rápida e forte concentração do capital. Uma parte importante deste capital era estrangeiro, de origem francesa, britânica e alemã. A burguesia italiana foi largamente beneficiada no processo de industrialização, coma intervenção económica do Estado, sobretudo aos níveis fiscal e alfandegário. Ao nível do campo, a ausência duma reforma agrária, tinha mantido intactas as grandes explorações, de características feudais, no sul da península, cavando uma forte diferenciação ao nível interno, com efeitos sobre o mercado interno e a indústria. A crise que se seguiu ao final da I Guerra Mundial viria a agravar ainda mais o fosso entre o mundo agrícola e industrial.

Após o conflito mundial, o Estado italiano caracterizava-se por ser altamente centralizado e burocratizado, ainda que permitisse uma ampla autonomia política e administrativa local, permitindo aos grandes proprietários agrícolas manter o seu domínio económico e político sobre o campesinato do sul e fazer frente à estratégia da burguesia do norte. Continuavam por resolver os problemas mais prementes, como a modernização do pais, a redução dos equilíbrios sociais e regionais e o reforço da consciência nacional. A fachada liberal e parlamentar do regime escondia, de certa maneira, a instabilidade crónica e a existência de uma classe política vulnerável à corrupção e ao clientelismo. A monarquia parlamentar estava imbuída de princípios reaccionários e os partidos políticos eram incapazes de apresentar programas políticos minimamente estruturados.

A velha classe política e as instituições parlamentares foram incapazes de reverter a situação económica do pós-guerra, que se caracterizava por um brusco processo inflacionista e um endividamento considerável do pais, provocando a desvalorização da moeda, a fuga de capitais e o decréscimo das receitas fiscais.

O orgulho nacional italiano tinha saído ferido do primeiro conflito mundial, na medida em que foram recusados, como compensação de guerra, a Dalmácia e o porto de Fiúme, para além dos 600 000 mortos e 500 000 mutilados de guerra.

Bibliografia
SOPA, António. H10 - História 10ª Classe. 1ª Edição. Texto Editores, Maputo, 2017.

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