O desenvolvimento socioeconómico e político dos principais países capitalistas dos finais do Século XIX aos princípios do Século XX

O desenvolvimento socioeconómico e político dos principais países capitalistas dos finais do Século XIX aos princípios do Século XX

O período compreendido entre 1850 e 1900 caracterizou-se pela prosperidade económica.

Neste período o sistema capitalista estendeu a sua influência economia mundial e acabou por adquirir as estruturas financeiras que ainda hoje possui. Neste clima de euforia a industrialização avançava, favorecida também pelos novos conhecimentos técnicos e científicos. Assistia-se assim ao surgimento de novas potências económicas, como a Alemanha e os Estados Unidos da América do Norte, e ao lento declínio do Reino Unido. Ao modelo do capitalismo triunfante correspondia o da democracia política, procurando a participação efectiva dos cidadãos na Vida pública, a generalização do saber e da informação, bem como a distribuição equitativa dos cargos públicos. O regime democrático permanecia, contudo como apanágio de uma minoria de países em que a Revolução Industrial e a urbanização suscitaram o desenvolvimento de uma classe média suficientemente poderosa para se impor à aristocracia do nascimento e do dinheiro.

Neste período constituíram-se vastos impérios coloniais que permitiram as potências europeias dominarem a major parte da Asia e de Africa. Foi um processo rápido e violento, justificado por um conjunto variado de razões: económicas, ideológicas, políticas e até humanitárias. Esta concorrência entre as potências foi aumentada ainda pelas ideologias nacionalistas que, em grande medida, legitimavam as políticas dos diferentes países. Este ambiente internacional de tensão crescente, abriu caminho para dois grandes conflitos mundiais no século XX. A partir da década de 1950 assistimos também ao fim rápido da presença colonial na Ásia e em África, movido fundamentalmente pelo triunfo do sistema democrático e dos valores que este defendia, centrados nos direitos humanos.

A Revolução Industrial

O processo de industrialização, que ficou conhecido por Revolução Industrial, ocorreu inicialmente na Inglaterra e na Bélgica, ainda no século XVIII. Estendeu-se, a partir de 1815, ao noroeste do continente europeu, da França à Renânia. A partir da segunda metade do século XIX, expandiu-se também em direcção à Europa Meridional e Oriental. Exigiu, partida, a convergência de diversos factores:
  • A modernização da agricultura.
  • O crescimento demográfico.
  • Os progressos técnicos.
  • A criação de uma nova mentalidade favorável ao desenvolvimento da empresa moderna.
Até 1880, as actividades dinamizadoras do crescimento industrial centravam-se:
  • Na extracção do carvão, destinado produção de energia e à siderurgia.
  • Na indústria têxtil, de lá, seda e algodão.
  • No ferro, destinado produção de máquinas modernas e caminhos-de-ferro.
 
Fig.1: Tear mecânico, movido a vapor.

A partir desta data, deu-se a Segunda Revolução Industrial, correspondendo a uma nova fase tecnológica, onde a electricidade e o petróleo viriam a dar um importante contributo qualitativo, ainda que o carvão continuasse a ser a principal fonte de energia até 1919. A produção do ago, cuja era também se iniciou nesta altura, aumentou mais do que sete vezes entre 1880 e 1913, passando de 8,2 para 61,4 milhões de toneladas. A química, as indústrias ligadas à electricidade, como a eletroquímica e a eletromecânica, e as construções mecânicas complexas, produziram máquinas, automóveis e aviões, que representavam também, elementos fundamentais desta fase da Revolução Industrial.

Invenções
A máquina a vapor de James Watt
Deve-se a Denis Papin, em 1690, a ideia que constituiu o ponto de partida para a invenção da máquina a vapor.
Coube a Thomas Newcomen e a James Watt aperfeiçoarem as suas ideias. Em 1712, Newcomen construiu o seu primeiro motor, muito simples, mas bastante lento, já que desenvolvia apenas 5 HP (cavalo-vapor), usado fundamentalmente no bombeamento de água. Em 1780, Watt idealizou um novo motor, que empregava um sistema de engrenagens, a que se adaptava um condensador especial, dando grande eficiência ao mesmo, podendo produzir mais de 1000 HP de potência. Este motor passou a ser usado na indústria têxtil quando, em 1769, Richard Arkwright desenvolveu um tear mecânico que se adaptava ao motor a vapor.
Fig.2: Máquina a vapor

Metalurgia do ferro
A metalurgia do ferro transformou-se completamente quando se conseguiu eliminar o fósforo, que tornava bastantes jazigos de ferro inutilizáveis, em 1875.
O processo Siemens-Martin veio juntar-se ao de Bessemer para a produção do aço, permitindo a sua aplicação nas construções navais e nas vias ferroviárias.

Locomotiva a vapor
A primeira locomotiva a vapor foi construída em 1814 por George Stephenson (1781-1848). Juntamente com o seu filho, fundou também a primeira fábrica de locomotivas do mundo (1823) e a primeira linha ferroviária.


Principais países industrializados na produção industrial mundial
Anos
Grã-Bretanha
França
Alemanha
Rússia
EUA
Japão
Resto do Mundo
1870
32
10
13
4
23
-
18
1881-1885
27
9
14
3
29
-
18
1896-1900
20
7
17
5
30
1
20
1906-1910
15
6
16
5
35
1
22
1913
14
6
16
6
38
1
19

A demografia

Durante alguns séculos, até ao final do século XIX, a Europa liderou o crescimento da população mundial. Este aumento demográfico tinha sido sustentado, a par da emigração, pela expansão económica e pela criação de novos empregos.

Ainda na primeira metade do século XIX, as populações eram maioritariamente rurais. A Grã-Bretanha era uma excepção, existindo um equilíbrio entre as populações rurais e urbanas. O crescimento demográfico europeu permitiu o êxodo para as cidades e para os novos países do continente americano, facilitado pelo desenvolvimento dos novos meios de transporte.

Algumas destas cidades tiveram um crescimento espetacularmente rápido. A população de Londres duplicou em trinta anos, passando a contar com quatro milhões de habitantes, em 1880. Nessa altura, Paris atingiu cerca de três milhões. Mas este crescimento atingiu índices ainda mais elevados noutras cidades, como São Petersburgo (300%), Viena (490%) e Berlim (872%).

O crescimento das populações urbanas levou também à criação de uma mão-de-obra desenraizada e dependente dos interesses capitalistas.

População da Europa (em milhões de habitantes)
País
Até 1800
Até 1850
Até 1890
1910
Reino Unido
16,1
27,5
37,9 (1891)
45,4 (1911)
França
27,3
35,8
38,4
39,5
Alemanha
24,6
35,9
49,4
64,9
Bélgica
-
4,3
6,1
7,4
Itália
18,1
24,3
30,3
34,4
Espanha
10,5
15,6 (até 1860)
17,8
19,8
Rússia
37
60,2
114,8
160,7
Mundo
906
1171
1516
1753


Imigração europeia para as Américas, 1881-1915 (em milhões)
  • 1.     Países de partida

Países
Total da imigração
Reino Unido
10,4
Alemanha
2,2
Escandinávia
1,5
Itália
7,7
Império Austro-Húngaro
4,2
Espanha
3,2
Rússia e Polónia
2,5
Portugal
1,0
Total
32,7

  • 2.     Países de acolhimento

Países
Total da emigração
EUA
21,7
Argentina
4,2
Brasil
2,9
Canadá
2,5
Outros Países
1,4
Total
32,7

A estrutura social

Na segunda metade do século XIX surgiu, no topo da hierarquia social, uma burguesia de negócios, fruto do capitalismo industrial e financeiro, com sólidas e diversificadas bases económicas.

Segundo os países, esta burguesia, aliada à antiga nobreza, era possuidora de grandes interesses imobiliários, detendo na realidade o poder, na medida em que se organizou em grupos de pressão para actuar sobre os governos, influenciando a opinião pública através do controlo da imprensa e não tendo medo de ostentar a sua proeminência social.

A média burguesia, que os anglo-saxónicos preferiam designar por middle-class, representava cerca de 10-15% da população das grandes cidades. Era um grupo mais difícil de definir, intercalando toda uma série de camadas sociais, entre a burguesia e as massas populares, podendo ir desde o comerciante ou o artesão, até certas camadas intermédias de assalariados e chefes de empresa de menor envergadura. O habitat urbano e o trabalho por conta própria estavam entre as características que a permitiam identificar melhor. Era um grupo que está em rápido crescimento e em Clara Ascensão social.

A expansão da grande indústria nas cidades acelerou também a transformação do mundo operário, aumentando a importância do proletariado fabril.

No final do século XIX coexistiam ainda as antigas formas de trabalho manual – artesãos e trabalhadores ao domicílio, com o trabalho assalariado (factory system), efectuado no âmbito das grandes empresas e de estabelecimentos cada vez mais importantes. Este último concentrava-se, fundamentalmente, nas minas de carvão e nas grandes indústrias têxteis, implicando uma degradação da sua condição social em relação ao trabalho artesanal, que se traduzia por uma pesada disciplina.

Nos Estados Unidos da América, desde os finais do século XIX, a falta de mão-de-obra obrigou os empresários a racionalizar o seu uso, a partir da introdução de um método experimental de trabalho industrial - o taylorismo -, a partir da parcelarização das tarefas, acompanhada pela cronometragem e pela reintrodução do salário à peça. As tarefas de concepção eram confiadas aos engenheiros dos gabinetes de estudos, separando-se nitidamente dos trabalhos de execução efectuados pelos operários, a quem não se exigia mais do que uma qualificação mínima.

As empresas capitalistas

As empresas, sob a forma de sociedades anônimas, tornaram-se progressivamente o modelo privilegiado de empresas capitalistas, na medida em que limitavam a responsabilidade dos accionistas ao valor do capital subscrito. Estas são autorizadas na Grã-Bretanha, a partir de 1856, começando a generalizar-se em Franca, entre 1863 e 1867, e estendendo-se à Alemanha, a partir de 1870.

A formação de trusts e cartéis tinha como objectivo evitar a concorrência, tanto no mercado interno como em outros grupos semelhantes de outros países que poderiam oferecer produtos similares, a preços mais baixos. Os grandes complexos comerciais e industriais atingiam já, no início do século XX, um tal grau de grandiosidade que escapavam a qualquer gestão feita dia-a-dia, obrigando a uma planificação rigorosa, prefigurando uma visão da economia contemporânea.

Ainda na primeira metade do século XIX iniciou-se o processo de renovação do sistema bancário. Este permitia agora a circulação do dinheiro de conta a conta, sob a forma de cheques ou transferências bancárias, o crédito às empresas, a emissão de acções e a sua participação no capital das sociedades.

O Banco de Inglaterra recebeu o monopólio da emissão de notas, em 1844, tornando-se o centro do sistema bancário britânico. Os bancos privados especializaram-se no crédito comercial, a curto prazo, e no empréstimo às operações da Bolsa de Valores. Estes, ao promoverem o investimento, constituíram-se em verdadeiros pólos de desenvolvimento económico e financeiro, com ramificações em inúmeros sectores de actividade e além-fronteiras.

As Bolsas de Valores ganharam um papel económico cada vez maior, iniciado pela absorção do dinheiro das poupanças, vendendo acções e obrigações e, posteriormente, a partir de 1870, atraindo capitais para as companhias de caminhos-de-ferro e outras poderosas sociedades comerciais.

O movimento operário

Em Inglaterra desenvolveu-se um importante movimento cooperativo desde 1830. Seguiram-se depois verdadeiros sindicatos de ofícios, como o Grand National Consolidated Trade Union, fundado por Robert Owen, em 1833. O movimento cartista, que vai buscar a sua designação «Carta do Povo», elaborada em 1837-38, pretendia ver concretizadas algumas exigências sociais, como a redução do horário de trabalho para 10 horas e a proibição do trabalho infantil, entre outras. Porém, as associações visando a defesa da condição operária só seriam autorizadas na Inglaterra em 1873 e, na França, durante a II República, a partir de 1884.

Na Alemanha, os operários foram organizando um poderoso partido socialista. Em 1836, um pequeno grupo de revolucionários formou uma sociedade secreta, designada Liga dos Justos. Esta viria a ganhar um carácter internacional, apos a sua fixação em Londres.

Por iniciativa de Friederich Engels e Karl Marx passou a designar-se por Liga Comunista, em Novembro de 1847. Em Fevereiro do ano seguinte viria a publicar o seu manifesto.

Desde o início da década de 1860 que a ideia de uma associação internacional de trabalhadores começou a tomar corpo, tendo-se esta materializado em 29 de Setembro de 1864, com a criação da International Working Men's Association. A I Internacional Socialista, que realizou o seu último congresso em Haia em 1872, tinha com o objectivos:
  • Estabelecer a solidariedade de todos os trabalhadores.
  • Promover o trabalho cooperativo.
  • Reduzir a jornada de trabalho das mulheres e crianças.
  • Difundir a jornada de trabalho de 10 horas.
  • Estimular a organização sindical.
  • Incentivar a auto-determinação das nações.

1. A Grã-Bretanha

O processo de industrialização inglês, que ocorreu a partir da primeira metade do século XVIII, foi fruto de um conjunto de circunstâncias que ocorreram precocemente, tais como:
  • Modernização da agricultura, assente num processo de agrupamento de território - enclosures - permitiu a associação da produção cerealífera e a criação do gado.
  • Melhoramentos técnicos, baseados nos adubos naturais e na rotação das culturas (Rotação Quadrienal).
  • Crescimento demográfico.
  • Concentração urbana.
  • Mercado com a dimensão mundial, constituído por um império colonial e fortes relações com o continente americano e o Extremo Oriente.
Entre 1873 e 1900, a agricultura inglesa viria a tornar-se num sector económico marginal, decaindo as superfícies cultivadas para metade. Nos primeiros anos do século XX fornecia apenas um terço das necessidades alimentares nacionais, mostrando-se incapaz de concorrer com os produtos agrícolas estrangeiros.

A partir de 1806, a indústria ocupava já 30% da população activa inglesa, fornecendo um terço do rendimento nacional. Na segunda metade do século esta representava metade de toda a produção moderna mundial. Esta supremacia manteve-se praticamente até ao final do século, quando deixou de ser a maior produtora de carvão e de ago, não obstante a sua marinha mercante continuar a ser a maior do mundo. Esta situação viria a alterar-se ainda mais, entre 1901 e 1912, quando a sua cota na produção mundial decresceu de 20% para 14%, alterando-se então o curso da gravidade económica no sentido dos Estados Unidos da América.
A Grã-Bretanha foi o primeiro país a empreender a liberalização do seu comércio colonial, abolindo o velho sistema do exclusivo, autorizando em 1825 os outros países a comerciarem directamente com todas as possessões do seu império. Mesmo as grandes companhias comerciais, como era o caso da poderosa Companhia das Índias Orientais, conseguiram sobreviver, depois de renunciarem a todos os privilégios comerciais. Em 1860, a Grã-Bretanha dominava o comércio mundial, garantindo um quarto das trocas comerciais, ou seja, mais de que todos os outros países europeus reunidos, importando cerca de 89% das suas matérias-primas e exportando 85% dos seus produtos manufacturados.
Este padrão permite visualizar um défice comercial crônico, largamente compensado com os rendimentos dos transportes marítimos, das cotizações dos seguros e dos lucros e dividendos obtidos com as aplicações britânicas no estrangeiro. Na primeira década do século XX, Londres mantinha-se ainda a grande credora do mundo, servindo de placa giratória aos movimentos de capitais necessários à industrialização e as trocas.

Companhia das Índias Orientais: formada por comerciantes de Londres, em 1600, a quem a rainha Isabel I concedeu o monopólio do comércio com aquelas regiões coloniais, por um período de 15 anos. Esta companhia tinha o monopólio da venda do chá naquela parte do mundo.
Exclusivo (ou monopólio): era o elemento essencial do sistema colonial mercantilista, que se estendeu entre os séculos XVI e XVIII, no qual se estabelecia o monopólio estatal sobre alguns produtos coloniais.
A alta aristocracia continuou a influenciar decisivamente a Vida do pais até 1910, quando foi aprovado um imposto progressivo sobre o rendimento e uma taxa sobre a mais-valia dos terrenos, deixando prever a destruição da fortuna imobiliária.
Na esfera política, esta influência diminuiu também consideravelmente, já que ficou privada de rejeitar as leis, privilégio que remontava às origens da Constituição inglesa, Uma parte desta nobreza começou a diversificar os seus patrimônios, subscrevendo acções nas empresas modernas, ao mesmo tempo que ainda assegurava fortes posições entre os quadros da alta administração, como eram os casos do exército e da magistratura.

Constituição: a Magna Carta é um documento de 1215 que limitou o poder dos monarcas na Inglaterra, obrigando-os a renunciar a certos direitos e a respeitar determinados procedimentos legais.

2. A França
O pais manteve-se predominantemente rural até primeira metade do século XIX. A estrutura agrária, herdada da época da revolução, era um forte impedimento à sua modernização técnica, já que tinha multiplicado o número de pequenos proprietários, através de uma maior fragmentação da propriedade e do emparcelamento.
A industrialização iniciou-se em França, a partir 1830, caracterizando-se por uma simbiose entre antigas e novas formas de produção. Havia uma certa resistência por parte da burguesia francesa, que privilegiava as aplicações puramente financeiras ao investimento industrial, provavelmente por subsistirem ainda diversos obstáculos, tais como:
  • A pobreza de recursos minerais.
  • Um mercado interno pouco dinâmico.
  • A inexistência de mercados externos.
  • A falta de eficácia das instituições bancárias.
Esta situação viria a modificar-se entre 1830 e 1848, sob o reinado de Luís Filipe I, período conhecido por Monarquia de Julho, tendo-se criado então as condições para o desenvolvimento industrial, designadamente em matéria de transportes e financiamento de infra-estruturas. No entanto, o pais adaptou-se melhor Segunda Revolução Industrial, desenvolvendo precocemente a eletroquímica e a eletrometalurgia, tendo uma excelente mão-de-obra na mecânica de precisão, constituindo a base do desenvolvimento da sua indústria automobilística. Apos 1871, com a derrota da Comuna de Paris, o Estado interveio na construção de grandes obras, sobretudo na área dos transportes, permitindo um progresso económico extremamente rápido.

Luís Filipe I (1773-1850): rei de França (1830-1848), chamado então «rei burguês» ou «rei cidadão». Aderiu aos ideais da revolução francesa de 1789, tendo-se unido a uma das suas alas mais radicais – os Jacobinos.
Comuna de Paris: primeiro governo dos trabalhadores, de efémera duração (entre 26 de Margo a 28 de Maio de 1871), estando na sua origem a revolta popular contra a invasão alemã e o armistício assinado pelo governo francês apos a derrota franco-prussiana.
Um grupo de notáveis continuou a desfrutar de influência, pela herança de um patrimônio importante, pela sua cultura e pelo domínio das redes de influência. Iam continuando a enriquecer, através da hipoteca da terra, feita a partir do endividamento dos pequenos camponeses. Seria neste grupo que se iria desenvolver a agricultura comercial, especializando-se esta de acordo com as aptidões regionais e as possibilidades do mercado.
3. A Alemanha
Até 1848 não existia verdadeiramente um Estado alemão, mas apenas uma Confederação Germânica (1815), reunindo 38 Estados sob a presidência do imperador da Áustria. O único elo de ligação entre estes diferentes Estados era a Dieta, sediada em Francoforte, mas não tinha os meios para executar as suas decisões, já que não existia Governo federal, orçamento, exército e tribunal. Quando o Império Alemão foi proclamado em Versalhes, em 1871, revestia-se ainda duma estrutura feudal, sob o domínio da Prússia, constituído por 25 Estados soberanos, tendo cada um deles a sua Constituição, as suas leis e a gestão das suas questões locais.

Dieta Imperial: assembleia deliberativa formal de um Estado. A «Dieta Imperial» remonta ao Império Carolíngio. Em 1803 aprovou a reorganização do pais, desaparecendo 45 das 51 cidades livres existentes, assim como 112 pequenos Estados, para além dos Estados eclesiásticos.
O chanceler Otto Von Bismarck teve como grande objectivo consolidar a unidade alemã, dando ao império federal a solidez de um Estado, através:
  • Da criação de departamentos do império, independentes do parlamento, geridos por um secretário de Estado, nos domínios da Justiça, Interior, Marinha e Correios.
  • De um exército de quatrocentos mil homens.
  • Da criação de uma moeda única – o marco - emitida pelo Banco do Império.
  • Da instituição de impostos directos ou do monopólio sobre as estampilhas, o tabaco e o álcool, para alimentar o orçamento federal.
  • Da unificação dos pesos e medidas.
  • Da expansão da rede ferroviária, que passou de 20 000 para 400 000 kms, entre 1870 e 1890.
Do ponto de vista económico, a criação do Zollverein, união alfandegária que permitia a circulação de mercadorias dentro da Alemanha e a imposição de taxas às mercadorias estrangeiras, em 1834, foi um factor de primeira grandeza no desenvolvimento económico alemão. Esta solução permitiu alargar os limites legais do mercado e possibilitar a livre circulação de mercadorias, reforçando os laços comerciais entre as várias regiões, contribuindo assim para extinguir os velhos particularismos e diferenças locais.
A agricultura viria a duplicar a sua produção, a partir de 1871, fruto da drenagem dos pântanos e da utilização de máquinas e adubos. Paralelamente, os grandes domínios aristocráticos mantidos pelos junkers entraram em decadência, constituindo-se, em sua substituição, um pequeno e médio campesinato independente.
A partir de 1 873, a indústria moderna alemã conheceu um forte estímulo, com a indemnização de guerra paga pela Franga. Esta usava, desde logo, a tecnologia e as formas de organização que já eram utilizadas em outras zonas europeias. Este crescimento deu-se na produção de carvão, no Rhur, Sarre e Silésia, e no ago, ultrapassando as produções britânicas no início do século XX. Na segunda metade do século XIX, os bancos começaram também a fazer investimentos sistemáticos na indústria, permitindo obter os meios financeiros necessários para a construção dos caminhos-de-ferro.
A fim de evitar a superprodução e a descida dos preços, as empresas organizaram-se em cartéis, enquanto para reduzir os encargos procederam a uma integração vertical desde as fontes de matérias-primas aos transportes, passando pela transformação. Nos mercados externos, as indústrias alemãs impuseram-se graças aos prêmios de exportação concedidos pelo Governo ou prática do dumping, que consistia em oferecer preços inferiores aos da concorrência, para a eliminar.
O grande dinamismo demográfico, a investigação científica activa e estreitamente ligada às necessidades da indústria, a existência de um patronato audacioso, um operariado bem formado e enquadrado, e algum controlo administrativo, são outras razões que estiveram na origem desta rápida ascensão industrial. Por todas estas razões, em 1913, a produção alemã conquistara já o segundo lugar mundial, com 16% da produção total.
Este crescimento económico foi acompanhado pela militarização do país. A Alemanha abandonou a política de equilíbrio continental e aderiu a uma nova política mundial - a Weltpolitik -, em 1890, reforçando o exército e a marinha, abrindo assim caminho para a formação de um império colonial.

4. A Áustria-Hungria

Apesar de ser o segundo espaço político da Europa e herdeiro dum império mundial, a Áustria-Hungria era uma potência particularmente débil. Estado multinacional, a maior parte dos grupos étnicos que o compunham reivindicavam o uso das suas línguas nacionais no ensino e na administração pública, reclamavam a autonomia e, por vezes, a sua própria independência, em resultado do processo de germanização da população. Em virtude disso, a Áustria-Hungria era olhada, nas vésperas da I Guerra Mundial, como um império em decadência.
Ainda que 50% da sua população activa vivesse da agricultura, no dobrar para o século XX, o sector industrial estava em plena expansão, nomeadamente no que diz respeito à produção de carvão, da metalurgia e dos seus produtos derivados, da porcelana, da indústria do papel e do têxtil. Este processo de industrialização era favorecido pela abundância de recursos naturais, como a hulha e o ferro, pela mão-de-obra numerosa e pelas facilidades de transporte. Em 1913, a Áustria-Hungria estava colocada no quarto lugar entre as potências industriais europeias, com 6% da produção do continente.
Do ponto de vista económico, havia uma complementaridade entre as regiões industriais do Oeste - Polónia, Boémia, Áustria e Norte da Itália - e as regiões agrícolas - Hungria, Eslováquia, Sérvia e Croácia.
Esta integração foi reforçada com a construção duma rede de caminhos-de-ferro e a supressão das fronteiras internas em 1850. O Estado percebeu as potencialidades das vias férreas e começou a investir fortemente na sua construção. Bratislava, Budapeste, Praga, Cracóvia, Liubliana e Veneza estavam ligadas por este circuito ferroviário. Havia, no entanto, disparidades no seu desenvolvimento. Em geral, as áreas ocidentais encontravam-se mais desenvolvidas do que as áreas orientais.

5. A Rússia

As primeiras medidas tendentes à modernização da Rússia fizeram-se por iniciativa do czar Alexandre II, através:
  • Da construção de vias férreas.
  • Da redução dos direitos alfandegários.
  • Da reforma da administração local, pela criação de assembleias do distrito eleitas e pela concessão da autonomia administrativa às cidades que elegessem Dumas Municipais e presidentes do município.
  • Da educação, tendo-se aberto o ensino secundário a todas as crianças e concedendo-se autonomia às universidades.
  • Da organização do sistema judicial, segundo os modelos inglês e francês.
  • Da criação dum exército nacional, a partir de um serviço militar obrigatório de seis anos.
  • Da reorganização da economia e finanças, ficando o rublo estabilizado, baseado no padrão-ouro, permitindo efectuar empréstimos no estrangeiro, ao mesmo tempo que os impostos são aumentados para financiar a modernização do país.
  • Da existência de uma mão-de-obra numerosa, a partir da libertação de todos os servos (1861).
Algumas medidas tomadas ao nível do campo, como a redução dos impostos e a criação dum banco predial rústico, não foram suficientes para silenciar o descontentamento rural. Em 1902, não existiam senão 2 800 000 famílias proprietárias entre 1 2 000 000 que contava aproximadamente o Império. Apesar de, quatro anos depois, um decreto autorizar a família camponesa a reclamar uma parte dos bens comunais e a retirar-se do mir, permitindo que, entre 1907 e 1917, um décimo das culturas colectivas se transformassem em explorações privadas, provendo de terras mais 3 500 000 famílias, não resolveu de todo o atraso em que Vivia o mundo rural.
No final do século XIX, era visível o processo de industrialização que a Rússia tinha iniciado a partir de 1880. Os grandes centros industriais, financiados com os capitais alemães, belgas e franceses, situavam-se junto dos depósitos de carvão de Donbasse, dos minérios dos Urais, do petróleo de Baku, ou das cidades manufactureiras de Moscovo e São Petersburgo. Na via da industrialização, o Estado teve um papel decisivo, e as vias férreas foram a principal força do seu crescimento.
A construção da rede de caminhos-de-ferro iniciou-se na década de 1860, tendo implicado um grande esforço financeiro e tecnológico, já que não existia uma indústria local de maquinaria, obrigando a que grande parte do material fosse importado.
O Estado fez também grandes investimentos nas obras públicas, o que permitiu criar um novo mercado para a indústria pesada, implicando o acréscimo da força de trabalho. Mas este programa deparou-se com dificuldades, devido à ausência de talentos comerciais e da pouca iniciativa dos homens de negócios.
No que respeitava às reivindicações dos operários, o governo enveredou claramente pela repressão, com a ilegalização dos sindicatos até depois de 1905.

6. Os Estados Unidos da América

Em 1861, os Estados Unidos da América comportavam 31 Estados e estendiam-se por 7 700 000 km2, o que representava mais do triplo da superfície das 13 colônias iniciais que, em 1787, tinham acordado na criação dum Estado federal na Conferência de Filadélfia.
Apesar de politicamente independentes, os novos Estados mantinham ainda uma relação de dependência económica colonial, vendendo os seus produtos agrícolas à Europa, comprando aquele continente os seus produtos industriais. Mas, desde logo, lançaram-se numa política de valorização do país, através da construção de canais e estradas. Os caminhos-de-ferro viriam a substituir gradualmente a navegação fluvial, reduzindo assim substancialmente os preços dos transportes, servindo ainda de poderoso meio de penetração nos novos territórios. Em resultado do desenvolvimento da rede de transportes, houve a tendência para cada uma das regiões se especializar e adquirir características especificas, ainda que o pais se mantivesse predominantemente agrícola:
·       O Nordeste, apesar de possuir uma agricultura próspera, lançou-se num processo de expansão industrial, baseado nos têxteis e na metalurgia. O tráfego marítimo era também uma outra fonte de enriquecimento.
·       O Oeste especializou-se numa agricultura extensiva, baseada na cultura do milho e do trigo, e na criação de gado bovino e suíno. A partir de 1840, o uso de maquinaria permitiu resolver o problema da mão-de-obra e aumentar a produção.
·       O Sul, exclusivamente agrícola e comercial, especializou-se na monocultura do algodão, aumentando a sua dependência em relação a outras regiões que o abasteciam.
O processo de industrialização ocorreu ainda na primeira metade do século XIX, nas regiões Norte e Nordeste, beneficiando-se da grande disponibilidade de ferro, carvão e energia hidráulica. As grandes diferenças entre o Norte, caracterizado por ser uma sociedade tipicamente industrial, e o Sul, cuja economia se baseava na monocultura, voltada para o mercado externo e baseada no trabalho escravo, estiveram na origem da guerra civil - Guerra da Secessão, em 1861-1865. Foi no período que decorreu entre o fim da guerra civil e o princípio do século XX que os Estados Unidos se tornaram a primeira potência económica mundial, devido aos seguintes factores:
  • Imensidade de recursos agrícolas em virtude da extensão das terras aráveis e da variedade de climas.
  • Riquezas mineiras contidas no seu subsolo, fornecendo a energia e as matérias-primas necessárias.
  • Existência de um mercado interno considerável, devido ao rápido crescimento da população, estimulando a produção agrícola e industrial.
  • Legislação alfandegária que permitia o livre-câmbio no interior do pais e que se fazia acompanhar de proteccionismo no exterior.
  • Redes de comunicação que favoreciam os transportes de mercadorias.
  • Espírito empreendedor e audácia dos homens de negócios americanos.
  • Mão-de-obra abundante.
  • Criação de um mercado interno de capitais, constituído em parte pelo investimento dos lucros e do afluxo dos capitais europeus.
O Reino Unido e os Estados Unidos da América puseram fim à sua longa rivalidade na América do Norte durante os primeiros anos do século XX. Na verdade, a dimensão da população e do poderio industrial dos EUA encontravam-se muito à frente do Reino Unido, por volta de 1900.
Desde o século XIX que os EUA pretendiam tornar-se num estado territorial poderoso, estando empenhados em expulsar as potências europeias do continente americano e em mantê-las fora dele. Ao avançarem pelo continente americano, os EUA foram-se apoderando de territórios que anteriormente tinham pertencido ao Reino Unido, ä França e à Espanha, atenuando assim a influência desses países no continente americano. A doutrina Monroe foi também usada para o mesmo fim. Esta foi enunciada pela primeira vez, em 2 de Dezembro de 1823, e assentava em três pontos essenciais:
  • Os EUA não se envolveriam nas guerras na Europa.
  • As potências europeias não podiam adquirir novos territórios no continente americano, aumentando a dimensão dos seus já vastos impérios.
  • Os EUA pretendiam certificar-se de que as potências europeias não formavam alianças com os estados independentes do hemisfério ocidental nem que estabelecessem ali o seu domínio.
O crescente aumento do poderio militar norte-americano, entre 1865 e 1900, impediu que qualquer país europeu viesse a formar uma aliança anti-americana com um estado americano daquele continente.
Seria após o final da guerra civil que os EUA se lançariam decididamente na sua política de expansionismo continental, com uma intervenção armada na Nicarágua. Apos a subida ao poder do presidente Theodore Roosevelt foi inaugurada a política do Big Stick, que deu origem a várias intervenções do exército norte-americano na América Central e nas Caraíbas. Esta política deixaria de ser praticada a partir de 1929, quando a crise económica fez crescer a animosidade dos países latino-americanos.

7. O Japão

A abertura forçada do pais ao comércio internacional, em 1853-54, foi a causa próxima do clima de instabilidade que viria a ocorrer entre os apoiantes de um desenvolvimento de relações com os ocidentais e os que procuravam manter o isolamento do Japão.
No seguimento destes conflitos, foi eliminado o Shogunato e proclamada a restauração imperial, em 1868. O imperador tomou o nome de Meiji («governo esclarecido») e transferiu a capital de Quioto para Edo, rebatizada então de Tóquio. Ao nível da política interna sucederam-se, entre 1808 e 1 873, uma série de reformas que tiveram como objectivo abolir o sistema feudal, através:
  • Da transformação dos antigos feudos em departamentos, passando a nova propriedade a estar cuidadosamente cadastrada e sujeita a um pesado imposto.
  • Da alteração da antiga estrutura social, passando a ser constituída por quatro classes: a nobreza, compreendendo a aristocracia da corte e os antigos e grandes senhores feudais; os guerreiros de categoria superior (os samurais); os guerreiros de categoria inferior e o povo.
A revolução Meiji permitiu ainda transformar os antigos senhores feudais em homens de negócios, ao lado das dinastias de comerciantes.
Com os ocidentais, a situação ganhou contornos radicalmente diferentes, com o Japão a adaptar-se às realidades do mundo moderno, tentando tirar o melhor benefício da ciência e tecnologia ocidentais. O grande objectivo do Governo era dotar o país de uma indústria moderna, baseada no modelo daqueles países. O Estado procedeu então:
  • À reforma do sistema financeiro, com a criação duma nova moeda - o yen (iéne), em 1871, e do Banco do Japão, em 1882.
  • À construção de caminhos-de-ferro e à instalação das primeiras fábricas modernas.
A intervenção ocidental limitou-se à formação técnica e ao ensino, através de técnicos que eram atraídos para trabalhar no pais, ou a partir de estudantes japoneses que iam estudar no exterior, com especial incidência nos Estados Unidos da América.
O financiamento da industrialização japonesa foi feito com base em empréstimos internos e por uma forte carga tributária, incidindo fundamentalmente sobre o campesinato.
A partir de 1886, o sector privado tornou-se mais dinâmico. A indústria pesada organizou-se num pequeno número de cartéis - os zaibatsu, mas o perfil mais comum é o das pequenas empresas, sobretudo na área dos têxteis. Desde o começo da década de 1890, o pais lançou-se na exportação dos seus produtos, especialmente sedas e algodões.
O rápido aumento demográfico, a necessidade de matérias-primas para a sua indústria e o escoamento dos seus produtos industriais, levou certos grupos japoneses a encararem a possibilidade de dotarem o país com colônias de povoamento. Mas, a razão fundamental para que o Japão procurasse oportunidades para se expandir e conquistar mais poder, entre 1868 e 1945, tinha a ver com considerações de segurança, relativamente ao avanço do poder do Ocidente sobre a Ásia.
Assim, após pôr fim aos tratados desiguais com as potências ocidentais, lançou-se numa política expansionista na Coreia e na China, a partir de 1894. Não hesitou em entrar em guerra com a Rússia, em 1904, e em ameaçar os interesses dos Estados Unidos da América no Oceano Pacifico.


Bibliografia
SOPA, António. H10 - História 10ª Classe. 1ª Edição. Texto Editores, Maputo, 2017.

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