O surgimento das ideias científicas na segunda metade do século (História)

O surgimento das ideias científicas na segunda metade do século

Se na primeira metade do século XIX a historiografia evoluiu sob influência do Romantismo, na segunda metade difundiram-se o Positivismo, o Historicismo e o Socialismo Científico.

O Positivismo

O Positivismo surgiu e desenvolveu-se graças à contribuição de Auguste Comte (1798-1857), com base na lei dos três estados.

Na tentativa de explicar a evolução intelectual da humanidade, Auguste Comte formulou a lei dos três estados, partindo da lei dos três estados e, sobretudo, reconhecendo o estado positivo do espírito humano na era do desenvolvimento industrial e científico, Auguste Comte defende que a evolução da sociedade rege-se pelas mesmas leis da evolução da Natureza e, por isso, as ciências humanas deviam seguir os mesmos métodos das ciências exactas.

Para os positivistas, as ciências naturais consistiam em dois procedimentos básicos: a determinação dos factos e o estabelecimento de leis. Partindo desta percepção de ciência, surgiu a chamada historiografia positivista cujas principais caracteristicas eram:
  • Defesa de uma critica exigente às fontes, tal como acontece nas ciências exactas.
  • Rejeição do papel interpretativo do historiador. É a defesa da objectividade absoluta. O importante para o historiador era descrever os factos tal como aconteceram. Não devia emitir qualquer juízo pois «os factos falam por si».
  • A limitação da noção de documento histórico ao documento escrito.
  • Em História a opção pelos métodos das ciências exactas fez com que só as fontes escritas se prestassem ao trabalho do historiador positivista.
  • O objectivo do historiador era obter do passado uma imagem, o mais fiel possível à realidade e não propriamente conhecer o passado.
  • Defesa de dois gêneros de narrativa, nomeadamente a História episódica e a Historia-quadro.
Com base no programa positivista, os historiadores adoptaram como procedimento básico a determinação de todos os factos possíveis, O resultado foi uma enorme quantidade de material disperso, produzido com base num exame cuidadoso e critico das fontes.
Ao historiador exigia-se apenas a descrição, o mais fiel possível dos factos. Não era tarefa do historiador interpretar esses factos. A História universal foi vista como um sonho vão, e a literatura histórica típica passou a ser a monografia.

Partindo do princípio de que as ciências da natureza começam por determinar os factos, prosseguindo depois até à descoberta das suas conexões causais, Comte propôs que se formasse uma nova ciência chamada sociologia. Assim, a História teria a tarefa de descobrir os factos, enquanto a sociologia descobriria as conexões causais entre estes factos. A sociologia seria, assim, uma espécie de super história, elevada à categoria de ciência, ao pensar cientificamente sobre os factos acerca dos quais a História pensava apenas empiricamente.

Os historiadores positivistas

Ernest Renan: usando as bases historiográficas dos positivistas tentou explicar racionalmente os milagres descritos na Bíblia.
Hippolyte Taine: teve o mérito de reservar, nos seus escritos, um lugar de destaque aos factos económicos. A sua obra foi ensombrada pela sua parcialidade política e pelo uso de fontes suspeitas.
Fustel de Coulanges: defendeu o estudo minucioso e imparcial dos documentos escritos porque, segundo diz «a História não é uma arte, é ciência pura», embora seja pouco rigoroso na investigação da credibilidade e proveniência dos mesmos.

Crítica á historiografia positivista

Embora seja legitimo que se reconheça o contributo dos positivistas para a História, especialmente no que se refere ao rigor na critica às fontes, algumas ideias positivistas merecem reparos. Vejamos em que incidem as principais críticas:
  • A ânsia de encontrar leis
  • O destaque exaustivo dos factos
  • A preferência pelos aspectos institucionais e políticos
  • A ausência do papel interpretativo do historiador
  • O facto de trabalhar apenas a nível dos eventos e da curta duração
  • A precariedade do facto histórico.

O Historicismo

Outra corrente historiográfica da segunda metade do século XIX foi o Historicismo. O seu principal teórico foi o alemão Leopold von Ranke. No que se refere ao tratamento dos factos, o Historicismo herdou as ideias positivistas. Entretanto, para os historicistas, as ciências exactas, que formulam leis gerais e abstractas, são diferentes da ciência histórica que descreve factos individuais, particulares e únicos e que, por isso, se opõe à generalização da lei.

Contrariamente aos positivistas, para os historicistas não bastava o estabelecimento de relações causais entre os factos históricos, era preciso compreender os factos históricos; como diziam: «os factos devem vibrar na mente do historiador», portanto, para o Historicismo, o conhecimento histórico pressupunha a critica histórica com recurso ä critica de interpretação e à hermenêutica.

Critica ao Historicismo

Ao privilegiar a intuição e a valorização da personalidade do historiador, o Historicismo abriu caminho ao Subjetivismo e ao Relativismo.
Por outro lado, ao defender a singularidade dos factos históricos, opondo-se à generalização e defendendo uma História atomizada, o Historicismo acabava negando História o estatuto de ciência.

O Materialismo Histórico

Surgiu nos meados do século XIX, um período marcado pela expansão da Revolução Industrial e do capitalismo, pelo triunfo dos movimentos nacionalistas, do sindicalismo, etc.
Também designado Marxismo, o Materialismo Histórico teve como principais teóricos Karl Marx e Friedrich Engels, que tiveram como ponto de partida as ideias do filósofo G.W. Friedrich Hegel.

Para Hegel, todo o processo histórico é uma transformação-mudança, ou seja, dialéctica, das vontades humanas que se exprimem pela acção.
Na mesma linha de pensamento, Marx defendia que também as formas de Vida que expressam as ideias se transformam modificando-as.

Para Marx e Engels, as transformações sociais são essencialmente motivadas pela realidade exterior. Portanto, é às realidades económicas que cabe o papel motor da História, visto que é a realidade económica que determina as relações de produção que, por sua vez, geram relações sociais especificas.

Estas relações sociais, movidas por interesses antagónicos, conferem ao processo histórico a sua dinâmica própria - a dinâmica da luta de classes.

Partindo destas ideias, o Materialismo Histórico produziu a sua própria concepção de História, que assenta no seguinte:
  • A História das sociedades humanas revela uma sucessão de modos de produção (esclavagismo, feudalismo e capitalismo).
  • Em cada modo de produção a estrutura económica sobrepõe-se à superestrutura jurídica, política e ideológica, embora haja acção e reacção de todos esses factores.
  • A passagem de um modo de produção para outro resulta da oposição, contradição existente na infra-estrutura económica, quando as forças produtivas entram em confronto com as relações de produção.
  • Do processo histórico extraem-se leis de evolução que permitem prever o futuro da humanidade.
Com os marxistas, a História registou notáveis progressos, tanto a nível do objecto, como das metodologias.

A nível do objecto, os marxistas propuseram uma Historia que se debruce sobre as massas e não apenas sobre os protagonistas da Vida pública e que não se limite ä esfera politica, mas antes alastre a todos os domínios da Vida, se bem que os marxistas privilegiem as estruturas económicas.

No âmbito metodológico, os marxistas contribuíram para o incremento da investigação histórica ao proporem a interdisciplinaridade e a problematização, além de seguirem o rigor em relação à critica das fontes.

Não obstante o notável valor das ideias marxistas para a História, tanto a nível metodológico como da concepção da mesma, esta corrente historiográfica não se impôs senão a partir das décadas 20/30 do século Com efeito, o Marxismo, para além de ser uma corrente de pensamento, foi, igualmente, uma doutrina militante anticapitalista, o que o tornou alvo do que se chamou «bloqueio antimarxista».

Portanto, por razões de ordem ideológica, o Marxismo viu-se barrado, tanto sob o ponto de vista científico como político.





Bibliografia
SUMBANE, Salvador Agostinho. H11 - História 11ª Classe. 2ª Edição. Texto Editores, Maputo, 2017.

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