Os platelmintes

3.1.3. Os platelmintes

Os metazoários até aqui estudados foram os de simetria radial (Radiata). Todos os outros, dos platelmintes aos primatas, possuem simetria bilateral. Qualquer simetria diferente da simetria bilateral dentro dos animais bilaterais deve ser considerada não típica e é filogeneticamente secundária. Este é o caso da simetria radial das estrelas-do-mar que só se verifica nos indivíduos adultos, enquanto os seus embriões são bilaterais.

Pensa-se que esta simetria veio responder às exigências de uma locomoção mais eficiente.

No corpo de simetria bilateral, é possível distinguir os planos dorsal (em cima), ventral (em baixo), lateral (direito e esquerdo), a frente (anterior) e atrás (posterior). Nos casos mais avançados da evolução dos animais bilaterais, ocorre uma concentração de células sensoriais e centros nervosos (cerebralização). Todas estas modificações vieram favorecer uma melhor orientação no espaço e no tempo.

Os animais com simetria bilateral podem ser ainda divididos em duas linhas evolutivas, nomeadamente em protostómios e deuterostómios. Nos protostómios, a boca primitiva ou embrionária mantém-se no adulto. Nos deuterostómios, a boca definitiva é uma nova formação.

O filo dos platelmintes congrega organismos vermiformes (vermes) muito familiares ao Homem, quer de modo directo porque lhe transmitem doenças, quer de modo indirecto porque agem como agentes causadores de doenças em animais relacionados com o Homem.

Dos platelmintes mais vulgares (e importantes) fazem parte a planária, a fascíola, o equistosoma, a ténia. São parasitas que afectam a saúde pública de modo considerável.

Os platelmintes são habitantes do mar, das águas doces, onde ocupam superfícies do solo aquático ou de outros substratos como pedras e plantas. Algumas formas encontram-se em biótopos terrestres húmidos. Um grande grupo de platelmintes vive como comensais ou parasitas.

Encontramos parasitas obrigatórios e parasitas facultativos. Também podemos distinguir entre os que vivem no interior (endoparasitas) e os que vivem no exterior (ectoparasitas) dos seus hospedeiros. No caso dos parasitas, muitos platelmintes desenvolveram órgãos especializados de fixação, tal como ventosas e ganchos. Também reduziram ou eliminaram o trato digestivo em benefício dos órgãos reprodutores.

Morfologia e anatomia

Os platelmintes não possuem uma cavidade interna ou celoma (são acelomados) e estão desprovidos de ânus. A abertura bucal (faríngea) serve tanto para a entrada de alimentos, como para expulsar dejectos intestinais. Porém, as várias classes do filo diferem entre si. A forma geral do corpo é plana ou achatada («platys», em grego, significa «plano, achatado» e «helmis», «verme»).

sistema nervoso dos platelmintes consiste em gânglios cerebrais dos quais partem cordões nervosos para a região posterior do corpo, ligados entre si por cordões transversais (comissuras). As formas não parasíticas exibem olhos simples pigmentares.

Os órgãos excretores dos platelmintes são formados pelos protonefrídios. O movimento dos cílios auxilia o fluxo e a eliminação de excreções e água através de um poro excretor.

Os platelmintes, no seu todo, não desenvolveram órgãos respiratórios e vasos sanguíneos. São, com poucas excepções, hermafroditas. Os testículos e os ovários podem ser vários no mesmo individuo. Possuem órgãos copulatórios e a copulação é mútua e simultânea, ou, como em muitos parasitas, ocorre uma autocopulação. O desenvolvimento do individuo pode ser director ou então passa por vários estágios larvais, maioritariamente ligados å troca de hospedeiros e à alternância de gerações.

Os platelmintes compreendem três classes. Filogeneticamente, os turbelários são os mais antigos, sendo a Vida livre uma característica primária do grupo. O parasitismo foi evoluindo dentro dos platelmintes, passando de formas livres para formas com parasitismo facultativo e, mais tarde, obrigatório. Também evoluíram do ectoparasitíssimo para o endoparasitismo.

Fig. 12: Os taxa actuais dos platelmintes.


Os turbelários

O nome deriva do latim turbelle e refere-se aos movimentos de partículas microscópicas que se originam no pólo oral do animal, junto à pele, devido à actividade dos cílios. São vermes de pequenas dimensões entre 1 e 600 mm, de Vida livre, com poucas espécies parasitas.

São aquáticos, sobretudo marinhos. Os exemplos mais conhecidos vivem em água doce: Planaria e Dendrocoelium.

Fig. 13: Diferentes planos de vista e estruturas principais da planária.


Os tremátodos

Os tremátodos representam um dos principais grupos de vermes parasitas dos invertebrados; são totalmente parasitas, não havendo formas de Vida livre. Tanto existem parasitas externos (ectoparasitas), como parasitas internos (endoparasitas).

São também conhecidos como fascíolas, devido à representatividade destas no grupo- Para facilitar a sua fixação no corpo do hospedeiro, desenvolveram órgãos adesivos, chamados de ventosas, que, conforme a sua localização, podem ser ventrais ou orais. O seu tegumento protege-os contra a acção das enzimas intestinais do hospedeiro.

Actualmente, os tremátodos podem ser agrupados nas seguintes ordens:

  • Monogenea – que têm um único hospedeiro;
  • Digenea – que é o maior grupo dos tremátodos (6000 espécies). São parasitas que preocupam o Homem e que constituem um problema para a saúde pública (afectam o Homem e animais domésticos), o ciclo de Vida compreende dois ou mais hospedeiros.

fascíola hepática pertence a esta ordem.

fascíola hepática.
Fig. 14: fascíola hepática.


 

Fig. 15: Ciclo de vida fascíola hepática.

Os Aspidobothrii são um grupo muito pouco representativo dos tremátodos, mas com um impacto incalculável na saúde pública. A doença que faz urinar sangue, a bilharziose vesical, ou esquistossomose, é provocada pelo tremátodo Schistosoma mansoni. O vector é igualmente constituído por caracóis. O saneamento básico (esgoto e tratamento das águas) e o combate ao molusco hospedeiro intermediário são medidas importantes.

Os cestóides

Os cestóides alcançaram o maior desenvolvimento do parasitismo do grupo dos platelmintes. Todas as cerca de 3500 espécies descritas são endoparasitas altamente especializados. Além do corpo protegido por um tegumento das estruturas de fixação, o seu trato digestivo desapareceu na totalidade e, em seu lugar, desenvolveram-se órgãos reprodutores (muitos testículos e ovários). O tegumento é que absorve os alimentos provenientes do hospedeiro. Nesta classe incluem-se as ténias Taenia saginata e Taenia solium, duas espécies muito familiares ao Homem.

O corpo da ténia é alongado e dividido em pequenos segmentos (proglótides); possui o escólex (cabeça), geralmente com ganchos e ventosas, que permitem a fixação parede intestinal do hospedeiro. As proglótides constituem uma especialização do grupo para um parasitismo intensivo. Cada segmento separado tem uma capacidade extraordinária de multiplicação.

As ténias são endoparasitas no intestino de muitos vertebrados; os seus ciclos de Vida requerem um a dois (ou mais) hospedeiros intermediários, de entre artrópodes e vertebrados. Não existe alternância de gerações.

A cisticercose humana (parasita na fase larval) ocorre por ingestão de ovos ou proglótide grávida de ténia ou por autoinfeção interna, em indivíduos que possuem teníase determinada por essa espécie do parasita. No intestino, as larvas libertadas dos ovos penetram na mucosa intestinal e atingem a corrente circulatória, podendo ser transportadas para o cérebro, olhos, músculos, etc., locais onde o cisticerco se pode instalar, determinando patologias características desses locais de instalação.

O Homem pode ser contaminado com a teníase (parasita na fase adulta) ao ingerir carne de porco ou bovina crua ou mal cozida.

Os parasitas mais comuns são:

  • Taenia solium – o hospedeiro principal é o Homem; o hospedeiro intermediário é o porco; as finas alojam-se na musculatura do porco;
  • Taenia saginata – o hospedeiro principal é o Homem; o hospedeiro intermediário é o bovídeo; as finas alojam-se na musculatura do bovídeo;
  • Echinococcus granulosus – o hospedeiro principal é o cão; os hospedeiros intermediários são o Homem e os animais domésticos; as finas alojam-se no cérebro, no fígado e na medula espinal.

O Homem pode adquirir cisticercose ao ingerir ovos da ténia, comportando-se como hospedeiro intermediário, e como definitivo pelo consumo de carne com cisticercose, contraindo assim a teníase.

Os principais sintomas de infecção com ténia são falta de apetite, vertigens, indisposição, fome e vómitos. Quando ocorrem vómitos, há perigo de autoinfeção, o que leva invasão por um estágio de oncosfera libertada da sua cápsula, através de enzimas digestivas. Neste caso, a oncosfera (0,5 cm) pode atingir todos os órgãos, inclusive o sistema nervoso, os olhos, etc.

Existem cerca de 40 milhões de infectados com Taenia solium em todo mundo.

Fig. 17: Ciclo de Vida de Taenia solium. Partindo do Homem: ténia adulta, cisticerco, porco, ovos, infecção do Homem por ingerir carne.


Bibliografia

PIRES, Cristiano; LOBO, Felisberto. Biologia 11ª Classe – Pré-universitário. 1ª Edição. Longman Moçambique, Maputo, 2010.

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