Os vírus: conceito, doenças virais, prevenção e tratamento

2.4. Os vírus

Embora os vírus não sejam considerados organismos vivos, não estando, portanto, incluídos em nenhum reino, o seu estudo é de extrema importância devido ao seu impacto na saúde humana, animal e vegetal.

Um vírus (do latim vírus, veneno) é um corpo molecular complexo, basicamente constituído por proteínas, que só pode existir e expressar-se em células de outros organismos. O termo «vírus» usa-se geralmente para as partículas que infectam células eucariotas. Contrariamente, as partículas que infectam células procariotas chamam-se bacteriófagos, ou simplesmente fagos. Os vírus têm entre 10 e 800 nm.

Fig. 10: Estrutura do bacteriófago


Existem ainda os 
priões (do inglês «prion», que significa Proteinaceous Infectious Only Particle – Particula Infecciosa Puramente Proteica), que são agentes proteicos ainda mais simples do que os vírus, não possuindo ácido nucleico, mas responsáveis por patologias graves.

Os vírus não podem ser considerados seres vivos pelas seguintes razões:

  • Não efectuam trocas de substâncias e energia com o meio;
  • Fora da célula hospedeira, são inactivos (não podendo replicar-se autonomamente). Os vírus apenas conseguem induzir a célula hospedeira à sua replicação.

2.4.1. Doenças virais

Os vírus são causadores de inúmeras doenças em praticamente todo o tipo de organismos vivos, às quais chamamos genericamente viroses. A lista é interminável, sendo as mais conhecidas a raiva, a ébola, o sarampo, a hepatite, o dengue, a poliomielite a febre amarela, entre outras. Mas não nos esqueçamos de doenças como a gripe, que é causada por uma variedade de vírus, a varicela, a varíola, a meningite viral e a sida (AIDS), causada pelo HIV.

Nome comum

Agente causador

Forma de transmissão

Hospedeiro

Bronquite

Vírus sincicial respiratória, Rhinovirus sp., Coronavírus sp., Avioclenovirus sp., Influenza

Infecções por vírus ou bactérias, poeira, ar poluído, vapores de gases tóxicos, fumo do cigarro.

Aves, Homem

Dengue

Flavivírus sp.

Picada da fêmea contaminada de mosquitos Aedes aegypti e Aedes abopictus.

Primatas, Homem

Diarreia

Rotavírus sp.,

Norovirus sp., Astrovírus sp.,

vírus da família dos Adenovírus

Infecções por vírus, bactérias ou parasitas, água e alimentos contaminados, efeitos colaterais de drogas, intolerância à lactose.

Homem

Ébola

Filovirus sp.

Fluídos corporais (urina, saliva, sangue, lágrimas, sémen e leite materno). relações sexuais.

Primatas, Homem

 

Esofagite

Simplexvirus sp.,

Cytomegalovirus sp.

Refluxo gastroesofágico, infecção por vírus e fungos do género Candida, alergias alimentares, ingestão de soda cáustica.

Homem

Febre aftosa

Aphtae epizooticae 

Fluidos corporais (urina, saliva, sangue, lágrimas, sémen e leite materno), contacto directo.

Homem, animais de casco fendido (principalmente bovinos. caprinos, bubalinos, suínos, ovinos e cervídeos), elefantes.

Febre Amarela

Flavivirus sp.

Picada da fêmea contaminada de mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus.

Primatas, Homem

Gripe

Influenzavirus A, B, e C

Fluidos corporais (saliva, sangue, secreção nasal), contacto directo, rezes de aves infectadas, objetos contaminados.

Aves, mamíferos

Gripe aviária

Influenza

Fluidos corporais (saliva, secreção nasal), contacto directo, fezes de aves infectadas. superfícies contaminadas.

Aves, mamíferos

Hepatite

Hepatovirus A, B, C, D, E, F e G, Cytomegalovirus sp.

Alimentos e água contaminados, fluidos corporais (sangue), agulhas e materiais cortantes contaminados, relações sexuais, transfusão sanguínea, consumo de drogas.

Primatas, Homem

Herpes

Simplexvirus sp.

Contacto directo, relações sexuais.

Homem

Leucemia/

/linfoma de células T do homem adulto

HTLV-I

 

Relações sexuais. Transmissão sanguínea, seringas contaminadas.

Homem

Parotidite infecciosa, papeira

Rubuiovirus sp.

Fluidos corporais (saliva), via respiratória, contacto directo.

Homem

Poliomielite

Enterovirus oliovirus

Água e alimentos contaminados.

Homem

Raiva ou hidrofobia

Lyssavirus sp.

Mordida ou arranhões de animais infetados, transplante de órgãos, relações sexuais.

Mamífero

Constipação

Vírus da família dos Picornavírus e Coronavírus.

Fluidos corporais (saliva, secreção nasal), contacto directo

Homem

Roséola ou exantema súbito

Roseolovirus sp.

Fluidos corporais (saliva, secreção nasal), contacto directo

Homem

Sarampo

Morbillivirus sp.

Fluídos corporais (saliva, secreção nasal), via respiratória

Homem

Sarcoma de Kaposi

Rhadinovirus sp.

Relações sexuais

Homem

Síndrome da imunodeficiência adquirida (sida ou AIDS)

Vírus da imunodeficiência humana

Relações sexuais, transfusão sanguínea, agulhas contaminadas, transmissão.

Homem

Varicela ou catapora

Varicellovirus sp.

Fluidos corporais (saliva), contacto directo.

Homem

Varíola

Orthopoxvirus sp.

Fluidos corporais (saliva) contacto directo com objectos contaminados, via respiratória

Homem

Verruga genital

Vírus do papiloma humano.

Relações sexuais

Homem


2.4.2. Prevenção e tratamento de doenças virais

Como já foi referido, os vírus usam o seu hospedeiro para se alojar, multiplicar e manifestar.

São extremamente difíceis de eliminar. Até hoje, o único remédio eficiente (embora nem sempre eficaz) é a vacina, que previne a infecção. O diagnóstico deve definir claramente o tipo de infecção em causa (se é bacteriana ou viral),

Comportamentos de risco

Os comportamentos de risco, nomeadamente sexuais, são perigosos para a saúde: facilitam a penetração do VIH (Vírus da Imunodeficiência Humana) no organismo.

Estima-se que cerca de 16% da população moçambicana, entre os 15 e os 49 anos, esteja infectada com o vírus VIH. Em Moçambique, o vírus da sida é transmitido, em mais de 90% dos casos, por meio de relações sexuais desprotegidas. Os principais motivos são a prática de relações sexuais com múltiplos parceiros e baixo índice de uso de preservativos.

As formas de transmissão do vírus da sida são as seguintes:

  • Relações sexuais sem o uso de preservativo;
  • Penetração vaginal desprotegida, que representa igualmente um alto risco de transmissão do vírus, sobretudo na vigência de uma Doença Sexualmente Transmissível (DST). A multiplicidade de parceiros aumenta consideravelmente o risco de contacto com o vírus;
  • Utilização incorrecta do preservativo;
  • Utilização não sistemática do preservativo (excepto em caso de relação monogâmica estável);
  • Injeção de drogas partilhando seringas e/ou agulhas;
  • Perfuração, corte ou penetração da pele com instrumentos não esterilizados, eventualmente contaminados com produtos biológicos humanos;
  • Transmissão mãe-filho durante a gravidez e parto de mães seropositivas, sem terapêutica da mãe da criança;
  • Aleitamento de criança por mulher seropositiva.

Vamos relembrar...

Os vírus são partículas de matéria proteica que sé funcionam e expressam as suas propriedades quando parasitam numa célula de organismos vivos. Os principais hospedeiros são células eucariotas. Quanto å sua origem, pouco se sabe.

Os vírus precisam de uma célula para a replicação. Uma grande parte dos vírus é responsável pelas doenças seculares que afectam o Homem, incluindo a sida – o seu combate é dificultado pela sua mutabilidade genética.

O único meio eficiente de prevenção é a vacinação, evitando a infecção, bem como o controlo de comportamentos de risco.

 Bibliografia

PIRES, Cristiano; LOBO, Felisberto. Biologia 11ª Classe – Pré-universitário. 1ª Edição. Longman Moçambique, Maputo, 2010.

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