Pan-africanismo, Renascimento Negro, Renascimento Africano, Filosofia cultural (Negritude)

Pan-africanismo

O pan-africanismo surge como manifestação da solidariedade entre os africanos e os povos de descendência africana. O seu objectivo principal era a unidade política dos Estados africanos.
     A sua perspectiva englobava a federação dos países regionais autónomos e o seu enquadramento num conjunto de Estados Unidos de Africa. Dito de outra forma, o pan-africanismo lançou as bases da filosofia política africana, como vimos na unidade 2, no capítulo sobre a filosofia política africana.
      A primeira conferencia pan-africana teve lugar em Londres, em 1900. O seu objectivo era procurar uma forma de protecção contra os agressores imperialistas brancos e contra a política colonial que até então submetia os negros. Entendia-se que, por esta via, o africano conquistaria o direito sua própria terra, sua personalidade. Tratava-se, portanto, de uma luta pelo direito de todos os africanos serem tratados como homens, dai o conceito de pan-africanismo.

Renascimento Negro (Black Renaissance) e Renascimento Africano (African Renaissance)

      Foi dentro do espírito emergente de revolta contra o colonialismo que surgiu o Black Renaissance, cujo fundador foi Du Bois.
      Esta corrente do pensamento teve repercussões sociais, que consistiam em incutir no homem negro a ideia de ser igual aos brancos. Este movimento difundia ideologias contra a discriminação do povo negro. Defendia que os negros não podiam continuar a assistir passivamente sua própria discriminação e que deviam reagir perante os tratamentos desumanos. Du Bois afirmava: que os brancos saibam que por cada porrada que o branco der a um negro, nós lhes vamos dar duas; por um negro morto, nos vamos matar dois brancos.»
        Azikiwé escreve em Renascent Africa: «Ensinai o africano que renasce a ser homem.» 
Foi no âmbito do renascimento africano que se desenvolveu o conceito de personalidade africana. A personalidade africana defende que existem características comuns, atributos essenciais e únicos que fazem parte do ser de todos os africanos. A ideia de «African Personality" teve as suas raízes em Edward Wilmont Blyden e foi retomada por Kwame Nkrumah.
    Blyden fundou a dignidade do africano na mesma linha do movimento negritude, procurando provar que a negra tinha uma história e uma cultura das quais se podia orgulhar.
       Blyden reflecte não sobre o passado do africano, mas sobre o que se deveria fazer em prol de um futuro africano mais digno. Para ele, cada um de nós tem um dever especial a cumprir, um trabalho não 56 importante, como também necessário, um trabalho a realizar pela maca a que pertencemos; lutar pela própria individualidade para a manter e desenvolver. «Orai e amai a vossa raça. Se não fordes vós mesmos, se abdicardes da vossa personalidade, não havereis deixado nada ao mundo, não tereis satisfação, utilidade, nada que atraia ou fascine os homens, porque com a supressão da vossa individualidade havereis perdido o vosso carácter distintivo. Vereis, então, que ter abdicado da vossa personalidade significará ter abdicado da missão e da glória particular à qual sois chamados» — aconselha Blyden, notando «Seria de facto renunciar à vossa divina individualidade, o que seria o pior dos suicídios».
       Este pensador demonstra que os costumes e as instituições da África negra estão em consonância com as necessidades dos africanos. Ademais, África pode dar um contributo ao mundo nas questões de ordem espiritual. A civilização europeia é dura, individualista, competitiva, materialista e foi fundada sobre o culto da ciência e da técnica. A civilização africana é doce e Humana.
       Para Nkrumah, o homem africano é um ser espiritual, dotado de dignidade, integridade e valor intrínseco.

3.2.4. Filosofia cultural (Negritude)

     A negritude insere-se no espírito pan-africanista da união e solidariedade entre os africanos, com a simples diferença de se revestir de um carácter cultural e literário. Tal como o pan-africanismo, a negritude nasceu fora do continente africano, como resultado dos esforços emancipatórios da comunidade negra radicada em França. Os mentores deste projecto eram membros de profissões liberais, estudantes, eclesiásticos, intelectuais e políticos.
      A negritude pretendia a união de todos os negros. Césaire, depois Senghor e, mais tarde, a revista Présence Atricaine e os congressos de escritores e artistas negros, que aquela organizou cm 1956 e 1959, dão expressão à ideia da unidade africana sob a forma cultural, O evolucionismo, classificando as sociedades segundo o seu grau de desenvolvimento técnico, confirmou a visão etnocêntrica da elite ocidental e facilitou o colonialismo. A maior parte dos evolucionistas, como Tylor e Morgan, e os etnocentristas, como, por exemplo, Levy Brhul, não admitiam a possibilidade de haver culturas que não fossem europeias. Estes consideravam a Vida cultural das outras sociedades como estádios arcaicos de um único processo cultural, no qual a Europa representava o estádio mais completo.
    O funcionalismo, por sua vez, sugerindo a irredutibilidade das culturas a um denominador comum, abria as portas ao princípio do relativismo cultural evocado pela etnologia americana.
       A corrente relativista punha a tónica na diversidade cultural e social e considerava que a unidade do género humano se manifestava sua capacidade de se diferenciar em múltiplas culturas.
    A posição relativista pretendia sobretudo lutar contra Q imperialismo americano e defender as minorias colonizadas, os grupos africanos. Esta corrente impôs como normas o respeito pela diferença, a tolerância, a crença na pluralidade de valores e a aceitação da diversidade.
      Assim, abriam-se as portas para o pronunciamento da cultura africana, ou melhor, a negritude surge como resposta imediata ao espaço aberto pelo relativismo cultural.
       Entretanto, coube a Aimé Césaire o mérito de ser considerado o grande impulsionador deste termo. Aliás, a ele cabe a paternidade do termo e negritude, pois o seu conceito já se consegue distinguir no projecto anglófono do pan-africanismo.

Os maiores impulsionadores da negritude – Césaire (antilhano), Senghor (senegalês) e Damas (guianês) – resumiram o projecto em três conceitos:
  • Identidade – consiste em o negro assumir plenamente a sua condição;
  • Fidelidade – atitude que traduz a ligação do homem negro terra-mãe;
  • Solidariedade – sentimento que liga secretamente todos os irmãos negros.
A negritude era um movimento principalmente cultural e literário, mas com pretensões também políticas, conquanto protestava contra a atitude colonialista, lutando pela emancipação do povo.
     O poema de Noémia de Sousa «Let my people go/Deixe passar o meu povo» é disso um exemplo vivo.
    É útil reler os escritos de Senghor e sentir a nostalgia com que este lembra o seu passado recente: […] quando Césaire, Damas e eu próprio nos sentávamos ainda nos bancos do liceu […]» diziam…) nós, criadores da nova geração, queremos exprimir a nossa personalidade negra sem vergonha nem temor. Se isto, agrada aos brancos, ainda bem. Se não lhes agrada, não importa.
Fig.6: Aimée Césaire

E para amanhã que construímos os nossos templos, templos sólidos como nós sabemos edificar, e permanecemos erectos em cima da montanha, livres em nos mesmos».
No mundo da lusofonia, o movimento foi difundido por vários órgãos, como, por exemplo, a Junta de Defesa dos Direitos de África, a Tribunu de África e A Mensagem, formadas por africanos e europeus favorável promoção da cultura negro-africana.

Foi neste contexto que, em 1920, nasce, em Lisboa, a Liga Africana com os seguintes objectivos:
  • Promover, através de todas as mudanças políticas, o progresso físico, mental e económico da raça africana nas colónias portuguesas;
  • Conseguir a revogação de todas as leis e regulamentos de excepção contra os africanos ainda existentes na legislação colonial portuguesa, especialmente no que respeita ao direito de propriedade;
  • Conseguir que se torne realidade o livre acesso de indivíduos de raça africana a today as situações sociais e cargos públicos, nas mesmas condições exigidas aos indivíduos de raça branca.

Vamos recordar...
  • O pan-africanismo surge como manifestação da solidariedade entre os africanos e os povos da descendência africana.
  • O renascimento negro consistia em incutir no negro, que apenas soubera ser escravo, a ideia de que era igual ao branco (seu escravizador).
  • A negritude foi um movimento de união dos africanos do ponto de vista cultural.
  • As principais ideias apregoadas pela negritude foram: identidade, fidelidade e a solidariedade,
  • Na lusofonia, a negritude lutou pela revogação de todas as leis e regulamentos de excepção contra os africanos.

Bibliografia
GEQUE, Eduardo; BIRIATE, Manuel. Filosofia 12ª Classe – Pré-universitário. 1ª Edição. Longman Moçamique, Maputo, 2010.

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