Pedogeografia: Estudo do Solo (Tudo Sobre Solo)

Pedogeografia

A Pedogeografia é o ramo das ciências físico-geográficas que estuda a pedosfera, ou seja, a ciência dos solos quanto à formação, desenvolvimento e repartição territorial.

Pedologia: é uma ciência que estuda os solos, quanto à sua estrutura, composição,
distribuição geográfica.

Composição do solo

Solo é um complexo natural, mineral e orgânico resultante da desagregação e da decomposição química das rochas expostas à meteorização. O solo é um corpo de composição complexa formado por fragmentos da rocha-mãe alterados e de tamanho variável; elementos coloidais (argilas); iões minerais (base da nutrição mineral das plantas) e matéria orgânica (húmus) tem água e gases na sua composição.

FFig.1: Composição do solo em médias gerais.

Textura e estrutura do solo

A fragmentação das rochas da qual resulta a formação do solo, é um processo não planificado. Por vezes, os fragmentos de rocha são grandes noutras vezes pequenos. Assim, a textura do solo é variável podendo apresentar partículas de grande diâmetro, como pedras, ou partículas finais como areias e os limos.

Além do tamanho das partículas que constituem o solo, este também pode ser avaliado pela forma como os seus constituintes se encontram aglutinados, ou seja, pela sua estrutura. Alguns solos têm os seus constituintes bastantes juntos, formando uma camada pouco permeável à água, enquanto outros têm os seus componentes dispersos e são mais permeáveis.

Formação do solo

Factores da pedogênese
Dos vários estudos sobre a origem e desenvolvimento dos solos, destacam-se os trabalhos de Dokuchaiev, pedólogo russo tido como o pai da pedologia que considerou o solo como um produto de um processo natural, histórico, em que é notável a interacção de vários factores:
  • Rocha-mãe
  • Topografia do terreno
  • Clima do lugar
  • Organismos vivos
  • Idade ou tempo do lugar.

  1. Rocha-mãe

Também conhecida por rocha-matriz constitui um dos factores na formação do solo, tomando em conta a sua natureza; composição química e estrutura.
A rocha-mãe sofre degradação física como resultado da acção prolongada da temperatura. As rochas sofrem descamação ou fissuração graníticas, adquirem uma textura arenosa com grãos finos de quartzo e argila e são elementos essenciais no processo de formação do solo.

Com a decomposição química das rochas e com a presença de água, desenvolve-se uma nova composição que vai definir os níveis de acidez, a capacidade de absorção e a fertilidade do solo.
      O grau de acidez de um solo está ligado à concentração de iões H+ e exprime-se por pH que pode ser:
  • Ácido – pH < 6 solos húmidos;
  • Neutro – pH = 7;
  • Básico – pH > 7 solos calcários.
A acidez influencia na distribuição da vegetação. As espécies calcícolas não suportam solos com uma acidez abaixo de 6, e as calcífugas são repelidas nos solos com acidez acima de 6. 

  1. Topografia

O relevo do lugar é um agente da formação do solo, define a exposição das encostas ao sol, a radiação solar, a luz e por consequência as diferenciações nos níveis de temperatura, precipitação e luz solar, assim como do tipo de cobertura vegetal.

  1. Clima

A maioria dos pedólogos com estudos relevantes sobre os solos destacam o papel do clima na formação do solo. O clima actua desde a gênese até à fase da maturidade do solo através da temperatura, humidade, precipitação, vento, etc.
     A temperatura é responsável pela degradação física das rochas e a água participa na dissolução, hidrólise e processos migratórios das matérias orgânicas e inorgânicas contribuindo desta forma para a formação do perfil do solo.

  1. Cobertura vegetal

A matéria orgânica provém da vegetação: folhas, ramos, caules, frutos, raízes mortas e também de animais mortos ou ainda de microrganismos, embora os animais representem uma pequena parte dos componentes biológicos que participam na formação do solo.
A microfauna (bactérias) participa na fragmentação da rocha e na sua mistura com a matéria mineral realizam a degradação e a síntese, tornando os elementos minerais solúveis.

O anidrido carbónico, o amoníaco, os nitratos e os fosfatos elaboram, a partir dos produtos saídos desta mineralização, corpos quimicamente complexos denominados compostos húmicos.

A concentração de húmus, que representa a principal característica do solo, depende do clima, natureza da rocha-mãe e cobertura vegetal que também define as características e a sua actividade biológica. Com base nisso distinguem-se várias categorias de solos:
  • Solos de grande actividade biológica (minhocas, artrópodes, bactérias, fungos) formam-se em ambientes de humidade média e temperatura elevada. São solos bem arejados, com predomínio de carbonatos de cálcio e azoto vegetal abundante. São típicos de climas temperados com floresta de folha caduca.
  • Solos de húmus intermédio entre solos de grande e pouca actividade biológica, com uma decomposição de matéria orgânica média. São solos biologicamente pouco activos, típicos das florestas boreais de coníferas em que à sua superfície há uma camada de matéria orgânica não decomposta ou matéria orgânica bruta turfa.

  1. Tempo do lugar

A duração da formação do solo pode ser longa ou curta, geralmente, os solos maduros formam-se em condições duráveis de acção prolongada de clima e drenagem, enquanto os solos imaturos formam-se em tempo curto, o que não permite o desenvolvimento do solo e a diferenciação dos seus perfis.

Evolução do solo

É um processo complexo que começa com a pedogênese inicial em que ocorre a erosão. O solo começa a formar-se quando a matéria orgânica incorpora matérias inorgânicas de fragmentos da rocha-mãe, os materiais de degradação física, química e biológica, os movimentos migratórios ascendentes e descendentes e começam a desenhar os extractos sobrepostos; são os horizontes e tanto mais diferenciados quanto mais o solo é evoluído.
Quando um solo atinge o seu equilíbrio, isto é, quando a sua evolução atinge o auge no respectivo clima, diz-se que o solo atingiu o pedoclímax climático.

Nas zonas de clima desértico ou semidesérticas ocorrem migrações. ascendentes provocadas por uma forte insolação e a evaporação realiza-se através da toalha freática uma subida de águas ricas em substâncias solúveis de óxidos de alumínio e hidróxido de ferro. Estas substâncias precipitam-se à superfície, formando crostas salinas e couraças ferruginosas.

As migrações descendentes são as mais comuns no processo de formação dos solos. Ocorrem em regiões com elevada pluviosidade e associam-se à lixiviação dos catiões (Ca, Al, Mg, Na) que migram sob forma de sais solúveis. Os coloides (argilas, compostos húmicos, hidróxidos de ferro e alumínio) migram sob forma de compostos e depositam-se nos níveis do interior, associando-se lixiviação e à acidificação.

Perfil do solo

É a diferenciação progressiva em camadas do solo também conhecidos por horizontes. Constitui uma espécie de sobreposição dos horizontes desde a rocha-mãe até à superfície. Nos solos evoluídos ou maduros ocorrem cinco (5) horizontes: O, A, B, C e R.
  • Horizonte O: Camada orgânica superficial, constituído por folhas e detritos vegetais e animais, bem como por substâncias húmicas acumuladas na superfície.
  • Horizonte A: É um horizonte superficial, rico em matéria orgânica e empobrecido em matérias solúveis que sofrem processos migratórios e são arrastados para níveis mais baixos ou horizontes inferiores: B e C.
  • Horizonte B: Horizonte de acumulação de matéria mineral vinda do horizonte superficial. Por vezes acumulam-se substâncias salinas, ou couraças ferruginosas de processos migratórios ascendentes.
  • Horizonte C: Constituído por material mineral não consolidado situado abaixo dos horizontes A e B acima da camada da rocha-mãe.
  • Horizonte R: Camada mineral de material consolidado, que constitui substrato rochoso continuo ou praticamente continuo, a não ser pelas poucas e estreitas fendas que pode apresentar (rocha-mãe).
     Todos os solos que ao longo da sua evolução formam horizontes A, B e C bem diferenciados e nas condições duráveis e estáveis de clima e drenagem, são conhecidos por solos maduros, enquanto que os solos que se desenvolvem em condições especiais ou adversas de clima, drenagem e vegetação são conhecidos por solos não evoluídos.

Fig: Perfil do solo


Classificação dos solos

Pela importância dos solos na economia dos estados, vários cientistas dedicaram-se ao estudo deste importante recurso. Dokuchaiev e Glinka, (russos), Buchafour (francês) e Marbut e Kellog, da escola americanas foram alguns estudiosos que se debruçaram sobre os solos e que apresentaram propostas de classificação.
De um modo geral, todos os trabalhos têm como factor mais importante na classificação dos solos, o clima e seus elementos.
O pedólogo Dokuchaev distingue três (3) tipos de solos: zonais, azonais e intrazonais.
  • Solos zonais: São aqueles que se formam em boas condições de precipitação, drenagem, acção prolongada do clima e da vegetação.
  • Solos intrazonais: São aqueles que se formam em condições especiais: presença de grandes quantidades de sais, ou calcário como rocha-mãe e drenagem também especial.
  • Solos azonais ou imaturos: Têm perfil pouco desenvolvido, onde não se notam as diferenciações entre os horizontes A, B e C.

De modo geral, A classificação do pedólogo Dokuchaiev é válida para solos virgens pouco comuns, devido acção da agricultura que interfere nos horizontes.

Distribuição geográfica dos Solos Zonais 

  • a)    Solos ferralíticos
É o tipo de solo zonal mais comum na zona intertropical. Caracteriza-se por uma alteração profunda da rocha-mãe acompanhada de libertação de óxidos de ferro, de alumínio e sílica, a que se segue uma intensa lixiviação. A sílica libertada limita a formação de argila por recombinação com alumínio.
Devido presença de óxidos de ferro, os solos ferralíticos apresentam coloração avermelhada, são solos profundos, lixiviados e pobres nas zonas tropicais. O calor e a evaporação provocam a subida de óxidos que formam couraças lateriticas. 

  • b)    Terras vermelhas tropicais
Estes solos desenvolvem-se nas regiões tropicais, nos planaltos do Brasil, nas savanas da África Oriental, no Decão, no Ceilão e na Asia das monções asiáticas, com uma estação seca bem marcada e temperatura elevada durante todo o ano. As chuvas da estação húmida causam a lixiviação, mas o solo é rico em húmus e minerais. São solos férteis, mas a desfloração e a exposição excessiva ao sol e ao vento esgotam o solo muito rapidamente. 

  • c)    Solos desérticos
Solos arenosos vermelhos e pobres em húmus, ocorrem nos desertos quentes com fraca precipitação e vegetação praticamente nula. Este tipo de solo é muito pobre. Só existem em terras férteis nos oásis.

  • d)    Terras cinzentas
Estes solos formam-se nos desertos continentais das regiões temperadas, onde embora tenham fraco teor em húmus, acumulam produtos minerais que são trazidos superfície por acção da capilaridade. Têm uma cor cinzenta Clara e são muito férteis quando irrigados. 

  • e)    Solos castanhos
Estes solos desenvolvem-se nas regiões secas de ervas curtas. Formam-se onde a precipitação anual é bastante fraca e, como tal, não são solos lavados. O horizonte A é um horizonte acastanhado enriquecido em húmus, proveniente das ervas da cobertura que ocorrem numa faixa estreita a Sul da estepe russa e nas áreas mais secas dos EUA, nas pampas da Argentina e no vale da África do Sul. 

  • f)      Tchernozion
São os solos negros da estepe russa, das pradarias dos EUA e do Canadá e das pampas da Argentina. Não são solos lavados, porque a precipitação é baixa e a acumulação de ervas e gramíneas no horizonte A por vezes tem mais de 50 cm de espessura. Devido à natureza aberta da vegetação e ao clima semidesértico, particularmente na Rússia e nos EUA, têm sofrido muita erosão eólica quando a lavoura destrói a cobertura vegetal. São muito férteis e correspondem às grandes áreas de cultura do trigo no mundo. 

  • g)    Solos castanhos florestais
Solos mais ricos em húmus e menos ácidos, do tipo roga com destruição da vegetação natural provoca mineralização e lixiviação e exposta a processos de erosão, que vertentes das montanhas é particularmente grave. Este tipo de solo desenvolve-se por baixo da floresta das regiões de clima temperado oceânico, como Inglaterra, França, Costa Sul da Austrália e Norte da Nova Zelândia. São solos muito bons para a agricultura. 

  • h)    Solos cinzento-acastanhados podzólicos
Nos climas temperados moderados, a lixiviação não é tão severa e a cobertura vegetal de árvore de folha caduca produz solos menos ácidos e mais ricos em húmus do que as florestas de coníferas. São os solos intermédios entre os podzóis e as terras castanhas e os solos castanhos florestais.

  • i)      Solos podzólicos
Os climas frios e húmidos frescos que permitem o desenvolvimento de florestas de coníferas, produzem um horizonte A rico em húmus, passando gradualmente a um horizonte cinzento-esbranquiçado causado pela lixiviação ou lavagem dos minerais, que se acumulam na base do horizonte B.
Estes solos são geralmente muito ácidos e de pouco rendimento agrícola.

  • j)      Solos de tundra
Os solos de tundra desenvolvem-se em clima de fraca precipitação, temperatura sempre baixa, subsolo permanentemente gelado, baixa evaporação, fraca vegetação, solo empapado de água, horizontes fracos, com turfas e muita lama gelada no Inverno, são solos pobres.

Solos intrazonais

  • a)    Solos halomórficos ou salinas
Nos climas quentes ou noutras áreas onde o sal se acumula, quer por evaporação das águas das superfícies líquidas, ou pela chegada à superfície de soluções por capilaridade, pode formar-se uma crosta acinzentada salgada. Os solos salgados mais comuns são os solonchak. 

  • b)    Solos de hidromórfico
Quando os solos estão empapados de água e o ar não pode circular, a matéria orgânica altera-se apenas parcialmente e pode acumular-se e atingir grandes espessuras. A turfa pode ser utilizada como combustível e indicador acerca do clima e vegetação acerca do passado, este tipo de solo não pode ser cultivado, quando não for drenado convenientemente.
  • c)    Solos calcários
Resultam da influência da natureza da rocha-mãe - o calcário. O tipo mais comum é a rendzina, que tem um horizonte A geralmente muito delgado, que assenta directamente sobre o horizonte C, ligeiramente alterado.
Nos climas secos com uma estação seca bem marcada, tal como nas regiões calcárias vizinhas do Mediterrâneo, a escorrência lava os materiais insolúveis e leva-os para as fissuras do calcário, onde se acumulam sob a forma de terra roça.

Solos azonais

  • a)    Litossolos, regossolos e aluviais
O processo de formação deste tipo de solos é curto, pois a alteração da rocha-mãe não chega a evoluir até formar um perfil completo; este processo ocorre nas zonas montanhosas, dunas e loess.
É comum também nas zonas de afloramentos rochosos, à beira dos rios, próximo do mar e nas zonas de lava vulcânica recente.

Importância dos solos

Os solos constituem a base da produção agrícola e o meio de produção para a maioria da população do campo, obtendo-se alimentos básicos da produção e da matéria-prima para as indústrias. O solo é suporte de toda a Biosfera, ao alimentar as plantas que alimentam os animais.
No momento actual, em que a fome assola vários países do 3o Mundo, as questões sobre o uso racional dos solos, preservação e conservação, são uma preocupação para a humanidade.
É sobretudo o fenómeno da desertificação que constitui uma séria ameaça para a manutenção da terra para as práticas agrárias.


Bibliografia
WILSON, Felisberto. G11 - Geografia 11ª Classe. 2ª Edição. Texto Editores, Maputo, 2017.

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