Características do texto dramático moçambicano

 3. Características do texto dramático moçambicano

Antes de caracterizar o teatro moçambicano, importa referir que este ainda está em desenvolvimento. O seu início reporta década de 1960, quando se revelava uma tendência generalizada para a formação de uma identidade africana, e mais especificamente moçambicana. Lindo Nhlongo foi um dos primeiros autores a inscrever-se nesta dinâmica de teatro nacional. Em 1971, a sua peca A Conferência Dramática sobre o Lobolo foi a primeira obra a abordar uma temática exclusivamente africana. Rogério Manjate defende que o teatro moçambicano resulta da «incorporação dos elementos culturais moçambicanos no teatro, a dança e a música, fazendo-se assim adaptações de textos moçambicanos, contos que tinham a ver com a realidade de Moçambique, ao invés de fazer arte por arte, como se fizera antes, representando os clássicos europeus. Pois fez-se um teatro que se identifica com a cultura moçambicana, “todo o artista tem de ir aonde o povo está”».

A partir deste pressuposto, desenham-se as seguintes características:

1. Após a independência, em 25 de Junho de 1975, Moçambique passou a desenvolver um teatro «revolucionário», informativo e propagandista, destacando os valores de um pais independente.

2. O teatro moçambicano é tragic6mico, isto é, algumas vezes retrata peripécias trágicas, outras cómicas.

3. O teatro moçambicano retrata uma das riquezas de Moçambique: a grande diversidade cultural.

4. Expõe a estratificação da sociedade moçambicana: a sul do rio Zambeze, apresenta-se uma sociedade patrilinear, e a norte, matrilinear, o que origina grandes diferenças.

5. Sendo um pais com uma ampla diversidade linguística, o teatro moçambicano revela cerca de 23 línguas nacionais, o que permite a teatralização do mesmo número de culturas, com as suas inerentes semelhanças e diferenças.

6. Aliada à diversidade linguística, por intermédio do teatro, associa-se a multiplicidade de ritos, de doenças e de ritmos musicais moçambicanos.

7. E um teatro de improvisação, de actor, muitas vezes partindo de um mote, e os actores começam a improvisar, construindo a peca, tal como na escrita de um conto ou romance. E por esta razão que existem muitas criações colectivas.

8. O texto dramático ainda não foi exaustivamente explorado pelos autores moçambicanos, o que significa que não existem autores de teatro em Moçambique. Devido à ausência de dramaturgos, tem sido necessário proceder à adaptação de contos.

9. É um teatro de intervenção social, mas com um cariz fortemente artístico.

4. Drama versus Ritual

Para uma primeira apreciação destes conceitos, apresentam-se as definições de drama e ritual, sendo que, posteriormente, será apresentada a diferença entre ambos.

Na esteira de Moisés (Op. cit., 1974, pág. 161), drama é a «arte de representação em que um actor retrata o comportamento de uma personagem, o qual, por sua vez, revela a Vida profunda da personagem.» Contudo, Areal et alii (Op. cit., 1983, pág. 218) afirmam que este tipo de texto dramático se «inspira na realidade da Vida presente, baseando-se geralmente no contraste de duas vontades que procuram vencer-se uma à outra.»

Numa outra perspectiva, aborda-se o ritual como um cerimonial que se deve observar na prestação de um culto, consignada num determinado livro, carregando com ele um valor religioso, cultural, simbólico, etc.

De acordo com este ponto de vista, percebe-se que o ritual se distingue do drama pelo facto de este último consistir na encarnação de personagens, ao passo que o primeiro (ritual) tem a ver com a devoção a alguma coisa ou a alguém.

Além disso, no drama um actor encarna em si o ser das personagens que surgem numa pega teatral, ou seja, procura imitar as personagens com as quais se identifica até ao mais ínfimo pormenor, tanto no que concerne à maneira de falar e de vestir, como a outras características que identifiquem a personagem. Portanto, o actor mostra os diferentes «eus» de quem retrata.

No que toca ao ritual, não se trata de encarnar uma personagem como tal, mas sim de invocar uma divindade ou venerar alguém ou alguma coisa.

 

Bibliografia

FERNÃO, Isabel Arnaldo; MANJATE, Nélio José. Português 12ª Classe – Pré-universitário. 1ª Edição. Longman Moçambique, Maputo, 2010.

 


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