Texto lírico: caracterização estrutural e temática
1. Texto lírico: caracterização estrutural e temática
Num primeiro momento, importa que te recordes que os
géneros literários podem ser definidos como um sistema que permite a classificação
de obras literárias de acordo com critérios semânticos, sintáctico, fónicos,
discursivos, formais, contextuais, situacionais e afins. Eles funcionam também
como modelos de estruturação formal e temática da obra literária que se
oferecem ao autor enquanto esquema prévio à criação da sua obra. Os géneros literários
são os diferentes grupos ou categorias em que podemos classificar as obras literárias
atendendo ao seu conteúdo.
Embora seja um pouco difícil classificar um texto quanto
ao género literário, porque um texto pode agrupar várias características de
mais de um género, ou então um género pode evoluir e transformar-se, é seguro classificá-los
em conformidade com Platão, personalidade célebre da Antiguidade Clássica, com vários
estudos realizados em diferentes áreas da ciência.
Neste contexto, a partir do século XVI, deu-se mais ênfase
ao estudo específico dos géneros literários, conforme são definidos na obra República,
de Platão (428 a. C. - 347 a.C.).
Foi com este filósofo grego e também com Aristóteles que
surgiu a classificação clássica dos géneros literários: épico, lírico e dramático.
Para Platão, toda a manifestarão artística tem por base
falsas situações, como se fossem imitações transitórias.
De Platão até hoje, já surgiram outras definições sobre o
estudo dos géneros literários, mas manteve-se a divisão em três grandes grupos:
épico, lírico e dramático.
No que se refere ao assunto central desta unidade didáctica,
o texto lírico, sublinhe-se que o género lírico tem como característica
identificadora a manifestação do eu do artista. No texto lírico, o poeta
demonstra de maneira expressiva os seus pensamentos e emoções ou, melhor, o seu
mundo interior. Uma característica marcante do texto lírico é a musicalidade
das palavras, ou seja, a exploração da sua sonoridade.
É, além disso, um texto predominantemente subjectivo. Na
sua origem, era veiculado ao público em recitais de poesia.
Adicionalmente, é importante que saibas que a palavra «lírico»
vem de lira, instrumento musical de cordas, o que implica que o texto lírico,
além de poder ser lido, pode ainda ser cantado e declamado.
Por vezes, os textos líricos assumem formas ou naturezas
fixas, em verso, como é o caso das formas seguintes:
- — Soneto: composição de 14 versos, em geral composta por duas quadras e dois tercetos;
- — Ode: poesia de exaltação;
- — Elegia: poema, em geral, triste;
- — Madrigal: poesia galante, galanteio dirigido a damas;
- — Sátira: poema que ridiculariza caracteristicas do comportamento;
- — acalanto: canto destinado a embalar o sono;
- — Acróstico: poema cujas letras iniciais de cada verso formam o nome de um lugar ou de uma pessoa;
- — Idílio: poema sobre temas pastoris.
2. Figuras de estilo — as figuras de pensamento
A figura de estilo é uma forma de enunciar um significado
através de uma palavra ou expressão que não é o termo «próprio», que não
costuma ser usado para esse significado. As figuras de estilo dividem-se em três
grandes grupos: figuras de linguagem, figuras de sintaxe e figuras de
pensamento.
Nesta unidade didáctica, vamos estudar particularmente as
figuras de pensamento.
As principais figuras de pensamento são:
- Interrogação retórica: é uma pergunta que se faz, não para obter resposta, mas, geralmente, para deixar o receptor a pensar sobre o assunto ou para dar seguimento à exposição da ideia do emissor.
Ex.: Quem
teria coragem de permanecer na sua Pátria num clima de tensão?!
- Exclamação: expressão espontânea de um vivo e súbito sentimento de dor, de alegria, de pesar, de admiração, de cólera, entre outros.
Ex.: Que
saudades da minha Pátria amada!
- Hipérbole: exagero da verdade das coisas, quando se quer enfatizar uma grande quantidade ou conferir muita intensidade.
Ex.: Que
saudades da nossa Pátria! De céu inundado de estrelas, de palmeiras em cada grão
de areia da Terra...
- Apóstrofe: interrupção brusca do assunto para o orador ou o escritor se dirigir a uma pessoa ou coisa, presente ou ausente, real ou fictícia.
Ex.: Ó glória
de mandar, ó vã cobiça
Desta vaidade a que
chamamos fama!
Luís Vaz de Camões, Os Lusíadas
- Prosopopeia, personificação
ou animismo: introdução no discurso de pessoas ausentes ou mortas,
divindades, animais ou seres inanimados a quem se atribui fala, acção e
sentimentos pr6prios das pessoas.
Ex.: Mal voltámos
à Pátria amada, as palmeiras levantaram-se e gritaram de alegria.
- Perífrase: emprego
de muitas palavras para transmitir um significado que geralmente é dado por uma
só palavra ou por uma expressão mais curta. Costuma usar-se para evitar uma repetição,
ou para definir um conceito, ou ainda para revelar/explicitar um dado.
Ex.: Na tristeza das horas sem luz
em vez de
Na tristeza das noites
- Antítese ou contraste: oposição de duas expressões, para significar algo que é aparentemente contraditório.
Ex.: Uma doce
tristeza!
Noémia de Sousa
- Gradação: disposição
das palavras e ideias por ordem crescente ou decrescente da sua significação.
Ex.: Por uma
omissão perde-se uma inspiração; por uma inspiração perde-se um auxílio; por um
auxílio, uma contrição; por uma contrição, uma alma.
Padre António Vieira
Bibliografia
FERNÃO, Isabel Arnaldo; MANJATE, Nélio José. Português 12ª Classe – Pré-universitário. 1ª Edição. Longman Moçambique, Maputo, 2010.
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