Variação da língua portuguesa no espaço: Brasil e Moçambique

 2. Variação da língua portuguesa no espaço: Brasil e Moçambique

A actualização de uma língua apresenta diferenças no espaço geográfico, na medida em que os falares diferem de continente para continente e até de região para região.

A essas diferenciações quanto à forma de falar em cada região ou local chamamos variações diatópicas.

Repara nas variações seguintes:

Exemplos das variações entre o português de Moçambique e o português do Brasil

«Todas as variedades linguísticas são estruturadas e correspondem a sistemas e subsistemas adequados às necessidades dos seus usuários. Mas o facto de a língua estar fortemente ligada estrutura social e aos sistemas de valores da sociedade conduz a uma avaliação distinta das caracteristicas das suas diversas modalidades diatópicas, diastráticas e diafásicas», defendem Cunha & Cintra (1991).

A Língua Portuguesa apresenta algumas diferenças quanto à utilização que dela se faz em alguns países do mundo. Entre o português falado em Moçambique (PM) e o português falado no Brasil (PB), por exemplo, existem algumas diferenças.

Vamos analisar com mais pormenor algumas dessas diferenças.

Por exemplo, enquanto no PM dizemos «Hoje, a Maria não apareceu por aqui», no PB diz-se «Hoje, Maria não apareceu por aqui».

Portanto, o que há de diferente nas duas construções é que na primeira construção (PM) temos o artigo a anteceder o substantivo ou nome (Maria), ao passo que na segunda construção (PB), verifica-se que o substantivo ocorre sem nenhum artigo a antecedê-lo.

Podemos, assim, depreender deste exemplo que no PB omitem-se os artigos, ou seja, os substantivos ou nomes ocorrem sem determinantes ou artigos a antecedê-los, enquanto no PM não se verifica tal irregularidade.

Vamos ver uma outra situação:

PM: Vou comprar o meu vestido.   PM: Não conheço a sua mulher.

PB: Não conheço sua mulher.       PB: Vou comprar meu vestido.

Tomando como base os exemplos acima apresentados, podemos salientar que, quanto ao nível morfológico e sintáctico, no PB é habitual, antes do possessivo pronominal, a ausência do artigo. Pelo contrário, no PM temos sempre o artigo a anteceder o possessivo pronominal, salvo nos casos em que a frase é construída incorretamente. As regras, porém, ditam a colocação do artigo antes do possessivo pronominal ou antes do substantivo.

Todas as variedades linguísticas são estruturadas e correspondem a sistemas e subsistemas adequados às necessidades dos seus falantes. Mas o facto de a língua estar fortemente ligada à estrutura social e aos sistemas de valores da sociedade conduz a uma avaliação distinta das caracteristicas das suas diversas variações diatópicas, diastráticas e difásicas (Cunha & Cintra, Novo Gromática do Português Contemporâneo, Edições João Sá da Costa, 1991, Lisboa).

Resumidamente, podemos definir cada uma destas variações do seguinte modo:

  • Variações diatópicas — são as que se referem a falares locais, regionais e intercontinentais (como é o caso do português do Brasil e do português de Moçambique).
  • Variações diastráticas — são as que se referem às diferenças verificadas na linguagem das várias camadas socioculturais.
  • Variações difásicas — são as que dizem respeito aos diferentes tipos de modalidade expressiva (língua falada, escrita, literária).

Neste contexto, é ainda importante distinguir dialecto de língua padrão.

O português falado em todo o mundo é, apesar de tudo, uma língua bastante homogénea, devido à acção de diversos factores, entre os quais se destacam a ampla difusão dos meios de comunicação e a implantação do ensino obrigatório. O traço de união entre as variedades que se registam nos diferentes países é a língua padrão, que funciona como um modelo linguístico. Entre as muitas variedades de uma língua, há uma que se destaca e é escolhida pela sociedade como modelo. A língua padrão é a variedade social de uma língua que foi legitimada historicamente enquanto meio de comunicação da classe média e da classe alta de uma comunidade linguística.

Os acontecimentos históricos, os contactos com falantes de outras línguas, o tempo, entre outros factores, determinaram que o português se fosse progressivamente diferenciando de região para região. Sofreu numerosas mudanças à medida que se foi implantando em diferentes espaços geográficos, mudanças essas que deram origem a diversas variedades. Em cada região encontramos uma variedade distinta, com os seus traços particulares. No Brasil não se fala um português idêntico ao de Moçambique e mesmo em Moçambique há diferenças entre o falar de um falante do Norte e o de um falante do Sul.

Chamamos variedades geográficas, dialectos regionais ou, simplesmente, dialectos a estas diferentes formas que a língua apresenta consoante as regiões em que é falada.

Bibliografia

FERNÃO, Isabel Arnaldo; MANJATE, Nélio José. Português 12ª Classe – Pré-universitário. 1ª Edição. Longman Moçambique, Maputo, 2010.

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