A Resistência Africana

 A Resistência Africana

Entre 1880 e 1900, a África Tropical apresentava uma situação paradoxal, em que o processo de conquista e ocupação era, ao mesmo tempo, irreversível e altamente resistível. Irreversível por causa da Revolução Industrial, que permitiu aos europeus uma vantagem decisiva em armas e facilidades nas comunicações no interior de África e entre África e Europa graças às ferrovias, telegrafia e ao navio a vapor. Resistível devido força dos africanos e por devido à os europeus não terem aplicado na batalha recursos humanos e tecnológicos abundantes.

A implementação da estratégia de penetração foi muito desordenada e inábil, pelo que os europeus enfrentaram inúmeros movimentos de resistência que eles próprios provocaram ou inventaram por ignorância e medo. Face a esta realidade, os europeus tinham de «obter a vitória final», mas depois era importante procurar pôr em ordem o conturbado processo.
Para tentar justificar a partilha, os europeus começaram a escrever livros sobre a chamada «pacificação».

A literatura colonial sustentou, durante muito tempo, que Africa era uma espécie de vazio político, onde dominavam a anarquia, a selvajaria, a escravidão, a ignorância e a miséria. Os europeus eram assim tidos como cavaleiros da civilização e do progresso. Também procuravam dar a entender a ideia de ausência total do sentimento nacional entre os africanos, que teriam, salvo algumas excepções, aceite passivamente a ocupação europeia.

Mas é irrefutável que a vitória dos europeus não foi reflexo da insignificância da resistência africana.
Desde o início da penetração europeia, o nacionalismo africano manifestou-se de várias formas, umas desajeitadas, outras ambíguas, até reconquista da independência.

«Por toda a parte defenderam os africanos o seu solo e com frequência palmo a palmo. (…) É por milhares que temos de contar aqueles que se mataram pelas próprias mãos, de preferência a sobreviverem e perderem a liberdade. (…)».
In Ki Zerbo, História da África Negra, Vol II (p.96).

Os estudos sobre a resistência africana das décadas de 1880 a 1900, em geral apoiam-se ou servem para demonstrar três ideias-chave sobre a resistência africana:
  • A resistência africana foi importante, na medida em que provou que os africanos nunca se resignaram diante da invasão.
  • Longe de ser desesperada e ilógica, foi, muitas vezes, movida por ideologias racionais e inovadoras.
  • Os movimentos de resistência não eram insignificantes, pois tiveram consequências importantes, no seu tempo e ainda hoje.

Generalização da resistência

Uma das ideias sobre a resistência africana é sustentada pelos historiadores eurocentristas e sustentava que os povos africanos viam a chegada dos europeus como um feliz acaso que lhes permitiria libertar-se das guerras internas e tribais, das epidemias, das fomes e outros males que assolavam o continente. Segundo os teóricos desta corrente havia, entre os africanos, aqueles que eram pacíficos e, portanto, não ofereceram resistência e outros, uma minoria «sedenta de sangue», que protagonizaram reacções primitivas e irracionais. Portanto, para esta corrente historiográfica, os africanos nunca protagonizaram uma acção de resistência como um «fenómeno organizado».

É despropositado tentar, no contexto da resistência africana, distinguir as sociedades africanas em belicosas e pacificas, pois quase todos os estados africanos se esforçaram por alcançar uma plataforma de colaboração com os europeus; mas também todos eles tinham valores e interesses a defender, mesmo como recurso às armas, se fosse necessário.

A atitude inicial dos africanos face à chegada dos europeus no século XIX foi muito variada, mas em geral prevaleceu a surpresa receosa ou divertida e, sobretudo, a hospitalidade. Raramente foi de hostilidade. Sé quando a escravatura atingiu as pequenas tribos.

Algumas comunidades suspeitavam que os brancos eram leprosos ou infiéis. Outros julgavam que os brancos tinham poderes sobrenaturais enquanto outros povos, ainda, achavam que os brancos eram selvagens e olhavam-nos com espanto e acompanhavam cada movimento seu. Os reis não aceitavam avistar-se com eles.

Porém, os primeiros viajantes (Livingstone, Caillé, Binger, Mungo, Park, etc.) são unânimes quanto à hospitalidade dos africanos. Aliás, é essa atitude que explica o sucesso de várias expedições de exploradores europeus que por cá passaram nos primeiros anos do século XIX.

Contudo, no fim do século XIX, os africanos aperceberam-se da existência de uma nova vaga de estrangeiros cujos objectivos eram diferentes dos primeiros. Foi nessa altura que a resistência africana começou a manifestar-se, movida pela consciência de um perigo de morte das colectividades africanas.

Primeiro, foram os chefes e as classes privilegiadas que reagiram perante a ameaça da sua condição devido à chegada dos europeus. Depois, com a implantação do sistema colonial, a resistência generalizou-se, tomando diferentes formas, desde a fuga até à sublevação armada.

Portanto, todas as sociedades africanas, desde as comunidades nômadas até às várias sociedades centralizadas resistiram à ocupação europeia.

Como é óbvio, o nível de organização em cada uma das sociedades reflectiu-se na intensidade que a resistência atingiu em cada sociedade.

Um ponto assente, porém, é que os africanos não assistiram indiferentes, ou com agrado, à ocupação de suas terras e nem tão-pouco reagiram com actos primitivos e irracionais diante da ocupação. Pelo contrário, um pouco por toda a África, independentemente do nível de organização de cada sociedade, os africanos procuraram, das mais diversas formas, lutar contra a ocupação das suas terras.

A ideologia da resistência

Em relação à ideologia da resistência, importa notar a existência de diferentes posicionamentos.

Para os defensores do colonialismo, a resistência armada teve um carácter irracional e desesperado e foi resultado da superstição. As populações estavam satisfeitas com a dominação colonial e só participaram nas acções de resistência porque foram trabalhadas por feiticeiros-curandeiros.

Por seu turno, as correntes anticoloniais europeias, que defendiam a resistência africana, consideravam que os africanos não tinham muita coisa no seu modo de pensar «tradicional» que pudesse ajudá-los a reagir efectiva ou concretamente às agressões ao seu modo de Vida. As ideologias de revolta foram consideradas «magias do desespero», votadas ao malogro, sem perspectivas. Assim vistos, os movimentos de resistência estavam condenados ao fracasso.

Mais recentemente, os historiadores da resistência tentaram combater essas ideias, tanto atribuindo revolta ideologias estritamente profanas, como saneando as ideologias religiosas.
A principal ideologia profana da resistência africana é o princípio da soberania. No essencial, este princípio considera que a resistência africana surgiu em resultado da alienação da soberania africana. Como diz Jacob Ajayi, «os dirigentes africanos enquanto guardiões da soberania do povo, eram hostis a todos os poderes que desafiassem tal soberania».

Alguns dos principais líderes africanos, como Machemba, do reino Yao, Hanga de Barué, Hendrik Wittboi e Maherero, do Sudoeste Africano, entre outros, mostraram, em declarações proferidas diante da ameaça europeia, a sua determinação para defender a soberania dos seus povos.

Portanto, não restam dúvidas de que a ideia da soberania constituiu a base da resistência africana, mas importa fazer alguns reparos.

Primeiro, é preciso notar que nem sempre os dirigentes africanos foram reais guardiões da soberania do povo. Por exemplo, no século XIX, surgiram novos estados cujos reis tinham imposto o seu poder com base na tecnologia militar europeia. Nesses estados, o esforço de resistir ocupação era prejudicado pela insubordinação de alguns súbditos que não viam legitimidade no poder assim estabelecido.

Por outro lado, mesmo quanto aos estados estabelecidos havia mais tempo e cujos dirigentes tinham conquistado legitimidade, não se pode imaginar que em todos eles, os reis gozassem de total apoio popular. De facto, em alguns desses estados os reis aumentaram bastante o seu poder, tornando-se autênticos tiranos, graças ao comércio que no século XIX lhes permitia obter riquezas e armas. Quando isto acontecia os reis perdiam o apoio popular na resistência contra os europeus e, pelo contrário, enfrentavam a chamada «resistência popular contra a classe dirigente» o que, por vezes, levava ao fracasso.

O papel das ideias religiosas

Estudos mais recentes sobre o papel das ideias religiosas na resistência africana revelam que, ao contrário das teorias sobre os fanáticos feiticeiros-curandeiros ou da «magia do desespero», as doutrinas e símbolos religiosos apoiavam-se, normalmente, nas questões da soberania e da legitimidade. Em regra, o poder dos chefes africanos era legitimado por rituais e, como tal, todas as acções dos chefes, incluindo a mobilização do povo para a resistência, eram suportadas por símbolos e conceitos religiosos.

A forte ligação entre o poder e a religião levava a que, muitas vezes, a derrota militar conduzisse a uma profunda crise de legitimidade pois as derrotas militares tiveram não só repercussões políticas, mas também ideológicas, já que levavam à destruição dos objectos de rituais, à fuga dos adivinhos, ou à destituição ou morte dos oficiantes dos cultos.

Alguns dos maiores movimentos de resistência em África surgiram na sequência das crises de legitimidade, resultante de derrotas militares, e tinham como finalidade redefinir tal soberania. Quase sempre esses movimentos eram estimulados por chefes religiosos que traziam para o movimento uma mensagem de unidade mais ampla, em torno de um ideal religioso.

Esta realidade verificava-se tanto com o Islão, como com o Cristianismo e com as religiões africanas. A revolta de 1896 na Mashonalândia (actual Zimbabwe), a revolta de Barué de 1917, a revolta Maji Maji de 1905 no Tanganyika, ou a revolta Xhosa liderada por Makana, entre outras, inspiraram-se em ideologias religiosas.

Mas qual foi afinal, o impacto das ideologias religiosas na resistência?

As opiniões sobre o papel das ideologias religiosas são diversas. Na verdade, alguns estudiosos consideram que o papel das ideias religiosas na resistência foi sobrevalorizado, enquanto para outros é o papel da resistência na religião que foi sobrevalorizado.

Na verdade, as ideias religiosas constituíram um suporte de grande valor para os movimentos de resistência, tanto ao permitir aglutinar a população em torno de um ideal religioso, conseguindo assim a união que não seria possível à volta de qualquer outro elemento, como ao animar o próprio movimento pela convicção da protecção dos deuses.

Não obstante, as ideias religiosas tiveram a dado passo um efeito pernicioso para a resistência ao alimentar nos guerreiros a ideia da sua invulnerabilidade aos ataques inimigos em razão da protecção dos «seus». De facto, esta convicção acabou conduzindo as revoltas ao malogro, pois não lhes permitia avaliar convenientemente a correlação de forças entre si e o inimigo que iam enfrentar.

Consequências e relevância da resistência africana

É um facto que a resistência africana, vista sob o ponto de vista daquilo que era o seu principal objectivo - a preservarão da sua soberania face à  ameaça europeia - foi um total fracasso pois, volvidos 30 anos apos o inicio das campanhas de ocupação, quase todo o continente se achava sob domínio dos europeus.

Esta observação não esgota, porém, o impacto da resistência africana.
Sem que tenha sido seu propósito, a resistência produziu resultados de muito major alcance na História de África. No que se refere à soberania, é preciso reconhecer o mérito dos movimentos de resistência para o sucesso do nacionalismo e na reconquista da referida soberania.

Tendo sido depositários de ideias religiosas, os movimentos de resistência contribuíram para o surgimento de agrupamentos em torno de ideias, sejam elas quais forem opondo-se ao agrupamento de base tribal, característico dos movimentos primários.

Breve periodização da resistência

Ao longo dos cerca de 30 anos que durou a resistência africana podem-se identificar duas fases:
  • 1880 a 1900
  • 1900 a 1914
Na primeira fase, a conquista baseou-se ora na diplomacia ora na invasão militar, ou então nas duas formas. Esta época foi marcada por uma intensa corrida aos tratados seguidos, na major parte dos casos, de invasões, conquistas e ocupações por exércitos europeus.

Nesta fase, a resistência africana tinha por objectivo salvaguardar a independência e o estilo tradicional de Vida dos africanos. Para conseguir esse objectivo, os africanos adoptaram como formas de luta o confronto, a aliança e a submissão temporária.

Na segunda fase, quando a maioria dos exércitos africanos tinha sido vencida e seus chefes fugido, sido mortos ou exilados, a resistência passou a ter como objectivo a reconquista da independência, eliminação das práticas opressivas do colonialismo ou acomodação no sistema.

As formas de luta nesta fase passaram a incluir a revolta, as greves, os abaixo-assinados, a sabotagem, a não-colaboração, etc.

Alguns exemplos de resistência em África

A resistência na África do Norte

A Oeste encontrava-se Marrocos, que enfrentava uma revolução que levou deposição do sultão Abd al-Aziz.
O arranque do nacionalismo foi uma espécie de prosseguimento das cruzadas.

Nas vésperas da partilha, o governo marroquino lutava contra os espanhóis instalados em Ceuta e Melila, proibindo o contacto das populações com os europeus.

O bloqueio esteve na origem da guerra entre Espanha e Marrocos em 1859 e 1860. As consequências desta guerra foram particularmente graves para Marrocos. Além de uma pesada indemnização, teve de aceitar o alargamento territorial de Melila e ceder um porto na costa atlântica.

Em 1880 e 1881 Marrocos tentou, na Conferência de Madrid, colocar em discussão a independência do seu território, mas a coligação Franca, Itália e Espanha opôs-se e nem o apoio britânico foi suficiente para que Marrocos lograsse os seus intentos.

Por seu turno, a Tunísia, que enfrentava há séculos os italianos, que para lá emigravam, investiam capitais e difundiam a sua cultura, estava sob ameaça dos franceses, instalados na Argélia.

O Sultão de Constantinopla tinha aproveitado as suas desventuras na Argélia para colocar a Tripolitânia e a Cirenaica sob sua alçada e reconquistar a sua influência sobre a Tunísia, onde existia um forte sentimento pro-otomano entre a elite da regência de Túnis.

O bei via nessa situação um perigo para o seu poder pelo que decidiu aliar-se de acordo com as circunstâncias ora aos italianos ora aos franceses, mas esta estratégia revelou-se fatal. Quando os franceses encontraram uma situação favorável para atacar a Tunísia, o bei ficou isolado não obtendo nem o apoio interno nem externo. Posto isto, a 12 de Maio de 1881 o bei foi forçado a assinar um tratado pelo qual se colocava sob protectorado francês.  
Reagindo a esta situação, a população revoltou-se, esperando o apoio dos otomanos. Os franceses organizaram então uma segunda expedição, que encontrou uma forte resistência, especialmente nas regiões montanhosas do noroeste, centro e sul do país.
A Itália mantinha as suas pretensões sobre o país, mas os tunisinos permaneceram fiéis à soberania otomana, islâmica, não embarcando pela aproximação aos italianos para enfrentar os franceses.

Neste período não tinham ainda sido estabelecidas as áreas de influência de cada potência europeia na região. Cada país com interesses na região, limitava-se a apresentar as suas intensões aos demais países e, sempre que possível, apropriar-se de alguns territórios.

Neste contexto, Marrocos acabou ficando sob domínio de duas potências europeias. Em 1893, a Espanha impôs uma derrota aos marroquinos, consolidando as suas possessões próximas de Melila. Por sua vez, em 1899 a França consolidou o seu domínio sobre Tuat.

A conquista desta região de oásis iniciou em 1899 quando uma expedição francesa se aproximou dos oásis e exigiu a rendição do chefe In Salah.

Levantou-se de imediato uma forte resistência, mas a 27 de Dezembro de 1899 toda a região do oásis foi conquistada. A resistência, embora enfraquecida, prosseguiu por mais de um ano, tendo o último combate acontecido em Margo de 1891.

O Sultão Abd al-Aziz apelou à Inglaterra e à Alemanha, mas estes países aconselharam-no a aceitar o domínio francês, pelo que assinou o protocolo de 20 de Abril de 1902.

A perda de Tuat foi uma das principais razões da corrosão paulatina do poder do sultão, até à sua queda em 1911.

A partir de 1905, a França lançou-se na conquista as chamadas bilad al-siba (regiões desérticas, pobres e subpovoadas administradas por chefes locais, mas sob soberania do sultão).

A França continuou, então, a apropriar-se, lentamente, dos territórios marroquinos. Assim, ocupou os territórios entre os rios Gir e Zusfana e a Sul tomou Trarza e Brakma.
Para materializar os seus intentos, a França enviou, em 1905, para Marrocos, Xavier Coppolani considerado especialista sobre assuntos muçulmanos e que defendia a teoria da «penetração pacifica».

Alertado sobre os acontecimentos, o sultão Mulay Abd al-Aziz enviou Mulay Idris para dinamizar a resistência. Coppolani seria morto em Abril do mesmo ano, durante o ataque ao seu acampamento em Tidjikdja.

Apos a retirada de Mulay Idris, em Janeiro de 1 907, os franceses lançaram uma expedição militar que, apos derrota em al-Muynam, em Junho de 1908, apoderou-se de Atar em Janeiro de 1909. Na sequência da derrota, o xeque al-Aynayn retirou-se com os seus apoiantes para al-Hamra de onde continuou a luta até 1933.

Na mesma época, a Espanha, que não pretendia assistir passivamente ao avanço francês, decidiu ir em frente. Em 1906 partiram militares da sua colónia de Rio de Ouro em direcção ao interior e, em 1909, iniciaram a conquista de Rif, a norte, que sé terminou em 1926, apos vencer a forte resistência popular conduzida sob o signo da djihad.

A Tripolitânia, sob domínio do Império Otomano, foi invadia pela Itália a partir de 1911. Nesta altura, o ambiente era extremamente favorável aos intentos italianos. Por um lado, o Império Otomano encontrava-se enfraquecido pela revolução dos jovens turcos e, por outro lado, a Inglaterra e a França abstinham-se de quaisquer acções para impedir o avanço italiano.
Neste contexto, a 28 de Setembro, a Itália lançou um ultimato contra Constantinopla e, apesar da Turquia ter feito uma resposta conciliadora, a Itália desembarcou tropas nas principais cidades líbias - Tripoli, Benghazi,

Homs e Tobruk - ocupando-as de seguida. Entretanto, à saída das cidades, os italianos foram confrontados com a resistência dos locais.

Quando pretendiam sair de Tripoli foram batidos pelos [bios em al-Hani. Nas imediações de Benghazi enfrentaram os líbios em Djuliana, al-Kuwayfiya e al-Hawari, tendo sido forçados a retornar para o centro da cidade. Entre 23 de Outubro de 1911 e 2 de Maio de 1912, os italianos bateram-se com turco-árabes em al-Khums, com vitória para os italianos.

A resistência em Derna foi protagonizada pelos turcos, cuja guarnição no local foi reforçada por oficiais turcos comandados por Anwar Paxa e Mustafa Kemal (Kemal Ataturk) e apoiados por Ahmad al-Sharif, chefe espiritual dos Sanusiyya, em especial na mobilização dos árabes do interior para a guerra.

Tendo formado um exército numeroso e forte, Anwar travou várias batalhas com os italianos entre Outubro de 1911 e Julho de 1912. As cidades de al-Karkaf, Sidi Abdalah, al-Nadura e al-Mudawar foram alguns dos principais palcos dos acontecimentos nesta fase.
O facto de os italianos não terem conseguido avançar para além das cidades ocupadas mostra bem a relevância da resistência neste período.

Perante a dificuldade cada vez maior de ocupar a Líbia, os italianos tentaram forçar a retirada turca da região, atacando a própria Turquia. As investidas italianas, especialmente dirigidas contra os estreitos de Dodecaneso e Dardanelos constituíram, porém, uma ameaça à paz mundial e despertaram a «questão do Oriente».

Diante deste cenário, as potências europeias começam a pressionar a Itália e a Turquia no sentido de encontrarem uma solução pacifica, salvaguardando a paz mundial.

Respondendo aos apelos internacionais, a Itália e a Turquia assinam o tratado de Lausanne, pelo qual a Turquia concedia a independência Líbia e a Itália desocupava as águas territoriais turcas.

Logo que a Turquia saiu da Líbia, os italianos lançaram-se na conquista do território. O primeiro confronto entre italianos e líbios apos a retirada turca deu-se em 191 3, quando os italianos atacaram as tropas de Ahmad al-Sharif, tendo sido derrotados em Yawn al-Djuma. Apos a vitória, Sharif proclamou a criação do Governo Sanusi (Al-Hukuma al-Sanusiyya).

Na Tripolitânia os italianos tiveram mais sucesso. No início de 1995 atacaram os líbios nas montanhas orientais tendo-os derrotado em Djanduba, em Margo. Em seguida bateram os líbios em três outras batalhas.

Portanto, até å Primeira Guerra Mundial, a resistência no Magreb foi conduzida por um estado organizado que, através de exércitos regulares tentou fazer frente aos invasores. Entretanto, sempre que o estado se mostrava incapaz entrava em cena o chefe da confraria. Os anos da Primeira Guerra foram de interregno no que se refere às acções de conquista. Tudo quanto pretendiam os europeus, neste momento em que a preocupação major era a Guerra Mundial, era manter as conquistas. Contando com o apoio dos alemães e dos turcos, os povos da Líbia forçaram os ocupantes a adoptar uma atitude bastante liberal, evitando molestar os africanos.

A partir de 1921, uma vez terminada a Primeira Guerra Mundial, e os países europeus refeitos da mesma, as acções de conquista reiniciaram-se.

Na Tripolitânia, a reconquista foi lançada pelo novo cônsul da região - Volpi. As mudanças de Volpi iniciaram com o fim da política liberal e a rejeição de todos os tratados assinados durante e depois da Primeira Guerra Mundial.

Em Novembro de 1922, o general italiano invadiu a capital - Gharyan - enquanto outro exército ocupava Misurata, em Fevereiro de 1923.
Neste período muitos factores favoreciam os invasores:
  • O Comité Central da República Unida estava enfraquecido pelos conflitos internos e pela guerra civil entre Misurata e Warfallah e pelo conflito entre os árabes e os berberes das montanhas.
  • Em Dezembro de 1 922, o chefe espiritual da União - Amir Idris al-Sanusi abandonou o território para se fixar no Egipto, o que desmoralizou as populações e fez com que muitos soldados se entregassem ou abandonassem o país.
Com a partida de Amir Idris, a resisténcia ficou sob os auspicios de al-Rida, novo chefe espiritual em substituição do irmão e Umar al-Mukhtar como comandante.

Para enfrentar os italianos, Mukhtar dividiu o seu exército em três colunas e instalou-se numa região montanhosa, na região de Jardas, tendo rechaçado todas as investidas italianas em 1923.

Em 1924, a Tripolitânia entrou finalmente em decadência. Os italianos apropriaram-se de todas as terras aráveis, mas tinham ainda algumas dificuldades em controlar o deserto. No final de 1929 e princípios de 1930, o deserto caia sob o domínio dos italianos que assim puderam chegar a Fezzan. Era o fim da Tripolitânia.

Na Cirenaica, a resistência continuava firme. Aqui, os italianos tiveram que recorrer a métodos pouco convencionais. Primeiro, colocaram um Farame ao longo dos cerca de 300 km de fronteira entre a Líbia e o Egipto, para impedir o apoio egípcio. Em seguida, ocuparam os oásis, antes de evacuar todas as populações rurais para o deserto de Sirt, onde ficaram concentradas em campos.

Apesar do rigor dos italianos, a resistência manteve-se firme o que obrigou os italianos a solicitar negociações. Entretanto, ao longo do processo negocial, Mukhtar entendeu que os italianos pretendiam dividir os seus apoiantes para melhor dominá-los, por isso rompeu as negociações e retomou a guerrilha, durante dois anos, Mukhtar impôs-se aos italianos, mas em 1931 foi preso e executado após julgamento militar.

Apos a morte de Mukhtar, a resistência prosseguiu por mais seis meses sob a liderança de Yusuf Abu Rahil.

África Oriental

Nas vésperas da partilha, as sociedades da África Oriental apresentavam níveis de organização bastante dispares. Algumas sociedades como os Baganda e Banyoro, no Uganda, Banyambo, no Tanganyika e Wanga no Quénia, eram centralizadas. Os Nyamwezi do Tanganyika e os Nandi no Quénia estavam em processo de organização como estados centralizados. Outros grupos viviam em regime nómada sem uma organização social estável.

As diferenças entre as sociedades da África Oriental também se manifestavam a nível do contacto com os árabes e europeus.

Os povos do litoral tinham um contacto mais profundo com os europeus e árabes do que os do interior, como, por exemplo, os Akamba do Quénia e os Nyamwezi do Tanganyika que se ocupavam do comércio de caravanas - o comércio a longa distância. Os Baganda e os Wanga também estavam envolvidos no comércio, de marfim e escravos, com os árabes.

Quénia

Os Nandi foram os que ofereceram a resistência mais viva e mais prolongada (1890-1905) do pais. A força militar dos Nandi explica-se pela grande coesão social e pela confiança dos guerreiros em si próprios e no seu chefe. Graças à sua enorme força combativa, os Nandi conseguiram resistir ocupação estrangeira por mais de sete anos.

No centro do país, a reacção não teve a mesma dimensão devido às divisões entre os diferentes grupos, chefes ou clãs e às alianças de uns com os ingleses, contra outros chefes africanos. Por exemplo, o chefe dos Gikuyu – Waiyaki - decidiu aliar-se aos ingleses, tendo chegado a fazer um tratado de fraternidade de sangue com Frederick Lugard, agente da IBEAC.

Procedimento idêntico teve Lemana, de um dos grupos Masai que, em compensação, foi nomeado chefe supremo dos Masai.

No litoral, a resistência foi protagonizada pela família Mazrui encabeçada por Mbaruk Bin Rashid. A resistência dos Mazrui deveu-se à crescente influência britânica nos assuntos internos das sociedades do litoral.

A revolta de Mbaruk teve lugar em 1895 quando, apos a morte do váli (rei) de Takarungu os ingleses da IBEAC indicaram, para substituto, um aliado seu em vez de Mbaruk que era o legitimo herdeiro do trono. Entretanto, Mbaruk foi derrotado pelos ingleses.

Mais para o interior, os Akamba revoltaram-se contra a pilhagem inglesa e consequente apropriação de animais (gado bovino e caprino) e até imagens religiosas consideradas sagradas. A reacção foi encabeçada por Nziba

Mwea que, em 1890, decidiu recusar-se a fornecer alimentos aos ingleses. No norte, nos confins do pais Kisimayo, os ingleses enfrentaram a resistência dos Ogdens somalis, dos Mazrui e dos Akamba, que acabou sendo derrotada apos a intervenção de tropas indianas em 1899. Os Taita também se envolveram em conflito com os ingleses apos recusa de fornecer carregadores.

No Quénia Ocidental, a principal figura foi Munia, o rei dos Wanga, que via nos ingleses mais um grupo de mercenários que podia ser usado como tal na luta contra os seus inimigos (Iteso e Luo). Assim, este rei optou sempre pela aliança.

A resistência no Tanganyika

No Tanganyika a resistência decorreu tanto por via diplomática como com o emprego da força.
Em 1891 e 1893 Mbunga envolveu-se em conflitos com os alemães, enquanto Hasani Bin Omari também se confrontava com os alemães no interior diante de Kilwa. Em 1891 os Hehe, liderados por Mkwawa, derrotaram os alemães que se vingaram em 1894, tomando a capital, mas sem conseguir prender o chefe Mkwawa. Já em 1899 foi a vez de os Maconde combaterem os alemães.

A conquista alemã no litoral, liderada por Carl Peters, enfrentou a resistência de Abushiri ao longo da costa e das tribos Gogo, Chaga e Hehe.

As duas primeiras foram subjugadas com relativa facilidade, mas os Hehe, liderados por Mkwawa, resistiram até 1898.
Sob comando de Abushiri, em Setembro de 1888, os povos do litoral incendiaram um navio de guerra alemão, antes de atacar Kilwa e matar os dois alemães que lá residiam e assaltar Bagamoyo.

Reagindo aos acontecimentos, a Alemanha enviou Hermann von Wissman para a região. Tendo chegado em Abril de 1889, atacou Abushiri em Bagamoyo, forçando-o a retirar-se para Uzigua onde acabou sendo preso e enforcado em Dezembro de 1889. Em Maio de 1890, Kilwa foi bombardeada e tomada de assalto pelos alemães terminando, assim, a resistência no litoral do Tanganyika.

Uganda

No Uganda, a resistência foi particularmente conduzida pelos reis Kabarega, do reino Bunyoro, e Mwanga, do reino Buganda.

A resistência de Kabarega decorreu entre 1891 e 1899. A opção inicial deste rei foi o confronto, mas após falhar nos seus intentos decidiu recorrer à diplomacia, tentando, sem sucesso, um acordo com Lugard. Na fase final, e diante do fracasso das tentativas de aproximação com os ingleses, Kabarega decidiu-se pela guerrilha. Assim, abandonou o Bunyoro e refugiou-se no pais Lango, a norte, de onde lançou ataques de surpresa infligindo baixas aos ingleses.

O rei Mwanga de Buganda, proclamado protectorado britânico em 1894, privilegiou a diplomacia.

Desde a sua chegada ao trono, em 1 894, Mwanga tentou limitar o contacto dos europeus com os Baganda, punindo, por vezes com a morte, os que abraçassem o cristianismo.

Na sua tentativa de impedir o domínio dos estrangeiros no seu território, Mwanga adoptou a estratégia de «dividir para reinar», ora aliando-se aos cristãos contra os muçulmanos, ora aliando-se aos muçulmanos contra os cristãos. Portanto, para ele todos os estrangeiros representavam uma ameaça ao seu poder, pelo que era preciso pô-los fora.

Um dos últimos actos de resistência de Mwanga teve lugar em 1898, quando, alegando uma tradição dos Baganda, tentou atrair todos os estrangeiros para uma parada naval numa ilha do lago Vitória, onde pretendia deixá-los morrer å fome. Contudo, o plano foi descoberto, pelo que os europeus prepararam um golpe contra ele, substituindo-o pelo irmão.

Pouco depois, tentou retomar o poder e juntou-se a Kabarega na guerrilha, mas ambos foram capturados e deportados para Kisimayu, onde Mwanga morreu em 1903.

A resistência na África Central e Austral

Por África Central e Austral pretende-se aqui designar os actuais territórios da República Democrática do Congo, Zâmbia, Zimbabwe, Malawi, Moçambique, Angola, Namíbia, Botswana, Lesotho, Swazilândia e África do Sul.

Nas vésperas da partilha existiam nesta região inúmeras formações politicas, das quais se destacam os Estados Lunda e Luba na actual R.D.C., os Estados Humbe e Chókwè em Angola, Matabelândia, (Zimbabwe) Mashonalândia (Zâmbia) Niassalândia (Malawi), o Estado de Gaza, os Estados Militares do vale do Zambeze e os Estados Ajaua, em Moçambique, bem como várias outras formações politicas menores.

Em geral, todos os grupos sociopolíticos da região tentaram resistir à ocupação europeia, A resistência na África Central foi conduzida em diferentes etapas, visando três objectivos principais:
  • Manter a soberania das sociedades africanas.
  • Corrigir alguns abusos do regime colonial.
  • Destruir o sistema estrangeiro instalado.
As acções de resistência começaram a manifestar-se claramente depois de 1880, altura em que os povos da região enfrentaram claramente a ameaça que a presença europeia representava para a sua soberania.

Para todos eles, o objectivo da resistência era impedir a ocupação, mas as estratégias, a composição étnica, a intensidade da luta e o grau de êxito alcançado foram bastante variados.

Algumas formações políticas africanas como os Nguni da Niassalândia, os Bàrué, os Yao, os Macua, os Yeke, os Chicunda, os Ovibundo, os Chókwè, entre outros, ofereceram forte resistência europeia na região.

Mas a opção de confronto não foi prática em todas as formações africanas. Algumas houve que tentaram aliar-se aos europeus. Ngungunhane, antes de se envolver em confronto com os portugueses, negociou tanto com os britânicos como com os portugueses. O mesmo ocorreu entre os Bàrué e o alemão Karl Peters e ainda com os Bemba e os britânicos.

Houve ainda reinos africanos, particularmente do Congo, que começaram por se submeter pacificamente, antes de decidir juntar forças e lutar pela independência. Os Yaka, os Buja e os Boa contam-se entre os que optaram por esta estratégia.

Moçambique

A resistência iniciou, de forma sistemática, por volta de 1894, quando os portugueses começaram a conquista no sul, onde se encontrava o Estado de Gaza. Entre as principais figuras ligadas resistência em Moçambique podem ser mencionados homens como Ngungunhane, Nwamantibjane, Mabjaia, Maguiguane, no sul do pais Hanga, Mafunda, Cambuemba, Cabendere, na região central e Mucutu-munu, Komala, Kuphula, os xeiques Molid-VoIay, Faralay e Suali Bin Ibrahimo - no Norte.

Sul

A Africa Meridional nas vésperas da partilha
Por volta de 1880, no extremo sul de África, naquilo que é hoje a República da Africa do Sul, pontificavam quatro unidades políticas europeias, nomeadamente as colónias britânicas do Cabo e do Natal e as Repúblicas boers do Transvaal e do Estado Livre de Orange.

Existiam, também, várias formações políticas africanas como os Shoza, Mfengu, Tembu e Mpondo. Em 1890 surgiu mais a norte no território Ndebele (no actual Zimbabwe) uma nova colónia britânica, a Mashonalândia.

Entre estes grupos, existia uma espécie de aliança entre ingleses e boers, para a exploração dos «africanos». Este entendimento permitia mesmo superar as desinteligências entre os dois grupos de europeus.

Uma das acções dos ingleses e boers para impor o seu domínio sobre os africanos foi a assinatura da convenção de Sand River, em 1852, pela qual ficou acordado não vender armas de fogo às populações autóctones. Portanto, os africanos ficavam privados dos meios de autodefesa e de defesa.

A juntar aos aspectos descritos, a realidade sociopolítica da Africa Meridional era também condicionada por vários acontecimentos, que ocorreram no início do século XIX, tais como o Mfecane e a migração Nguni, as actividades dos Bemba na actual Zâmbia, a aliança yao-swahili e o tráfico de escravos.

Estes acontecimentos constituíram uma fase de evolução política durante a qual se formaram algumas das actuais instituições e alianças interétnicas, porém fragilizaram as sociedades africanas no período em questão.

A juntar a estes acontecimentos, a região era fustigada por calamidades, epidemias e fome que incrementavam a desordem sociopolítica da região.

Um outro factor que condicionou a resistência no extremo sul de Africa foi a acção dos missionários.
A cristianização e o ensino, introduzidos pelos missionários, criaram, uma classe de pequenos burgueses africanos (catequistas, professores, empregados de escritório, etc.), que reconheciam e difundiam entre os africanos a superioridade e a colonização branca.
Nessa condição, podem-se mencionar homens como Tiyo Soga, o primeiro missionário africano ordenado pela igreja Presbiteriana de Inglaterra, John L. Dube, pastor metodista, John T. Jabavu, metodista fervoroso e fundador do Jornal bilingue inglês-xhosa Imvo Zamantsundu e Walter Rubusana, um pastor congregacionista que chegou a ser eleito para a assembleia provincial do Cabo.

No essencial, esses africanos procuravam explicar o infortúnio dos africanos resultante da presença colonial pelo factor religioso e procuravam apelar à subserviência ao Homem branco.

As iniciativas de resistência desenrolaram-se a três níveis:
  • O confronto: opção dos Zulu, Nguni, Ndebele, Changana, Bemba, Yao, bem como pelos chefes Mangwende, Makoni e Mutassa.
  • O protectorado: escolhido pelos Sotho, Swazi, Ngwato, Tswana e Lozi.
  • A aliança: seguida pelos reinos relativamente mais fracos e que viam nessa opção uma forma de busca de apoio e protecção contra os inimigos internos.

A revolta dos Zulu

À altura da ocupação, a Zululândia tinha à cabeça o rei Cetshwaio. No início, quando a Zululândia estava sob ameaça dos boers, o rei dos Zulu seguiu uma política pacifista e isolacionista, cultivando sempre a aliança com os ingleses. Mas logo as relações com os ingleses iriam mudar.

Apos a anexação inglesa do Transvaal, em 1877, a Zululândia passou a ser vista como entrave à concretização da ideia de uma federação branca, bem como à segurança e ao desenvolvimento do Natal. Ademais, destruir a Zululândia era uma demonstração de força aos seus concorrentes boers, que passaram a perceber o quanto a Inglaterra era capaz de fazer cumprir as suas decisões.

Movidos por este interesse, os ingleses desinteressaram-se de todos os esforços dos Zulu, e, em 28 de Julho de 1878, ocorreu o incidente que justificaria a invasão. Naquele dia, alguns emissários do rei atravessaram o rio que limitava a Zululândia do Natal para trazer de volta as mulheres do chefe que para lá tinham emigrado. Esse acto foi descrito como indicador da iminência do ataque Zulu ao Natal, considerando-se o exército Zulu como uma força de ataque ameaçadora e o rei um tirano sedento de sangue.

Rejeitando o pedido de desculpas de Cetshwaio e uma indemnização de 50 libras pelos danos causados, o alto-comissário britânico para a Africa do Sul, sir Bartle Frere, impôs um ultimato totalmente inaceitável para qualquer rei digno dessa função.

Como Cetshwaio, obviamente, não cumpriu, em Janeiro de 1879 os ingleses lançaram um ataque aos Zulu, mas as tropas inglesas sofreram uma pesada derrota na batalha de Isandhlwana. Entretanto, seis meses depois, em Julho, Cetshwaio não resistiu a nova investida inglesa, tendo sido derrotado e se exilado no Cabo. A Zululândia foi em seguida dividida em 13 distritos liderados por homens da confiança dos ingleses. Era o fim da Zululândia.

A Matabelelândia

Lobengula, o rei dos Ndebele entre 1874 e 1894, optou, no início, pela diplomacia. Regulamentou a imigração e informou os estrangeiros de que não pretendia ceder as suas terras para mineração. Para despistar os europeus decidiu mudar constantemente de residência, colocar países, empresas ou até indivíduos europeus, uns contra os outros. Diante de solicitações ou exigências incómodas, optava por adiar sistematicamente as decisões.

Tudo era feito para ganhar tempo para a conclusão de uma aliança com os britânicos para se opor aos portugueses, alemães e boers da Africa do Sul.
A partir de 1888, com a chegada de Cecil Rhodes à região, a situação na Matabelelândia alterou-se.

As acções de Cecil Rhodes na terra dos Matabele ou Ndebele contou com um importante apoio do reverendo John Smith Moffat que, desde 1865, tinha tentado, em vão, converter os Ndebele ao cristianismo. Tratava-se, pois, de um grande conhecedor da região e das suas gentes e que aspirava impor a colonização dos Ndebele, até para apagar os desastres pessoais por que passara.

Fingindo ser conselheiro desinteressado de um «velho amigo» - Lobengula - aconselhou-o a aliar-se aos britânicos em vez de qualquer outro concorrente europeu. Nesta linha, Moffat assinou com Lobengula o chamado «tratado Moffat» pelo qual o rei Ndebele prometia não assinar qualquer tratado ou estabelecer correspondência com nenhum país estrangeiro para a cedência dos seus territórios, sem autorização dos britânicos.

À luz do tratado Moffat, a Matabelelândia e a Mashonalândia ficavam sob influência britânica e abria-se espaço para o início da conquista do território. Por outro lado, o tratado legitimava diante dos outros estados europeus o domínio inglês, o que retirava a Lobengula a possibilidade de continuar a jogar com os interesses das diferentes potências para colocar uns contra os outros.

Neste contexto, começaram a afluir ao territ6rio vários ingleses reclamando direitos territoriais ou minerais e oferecendo armas de fogo, dinheiro e vários outros produtos.

Ao perceber o grande movimento na região, Rhodes enviou Rudd, Thompson e Maguire para negociar com Lobengula o monopólio das terras e regiões mineiras, afastando todos os outros concessionários, tendo sido assinada a chamada «Concessão Rudd».

Segundo esta concessão, o rei Lobengula «garantiria aos ingleses direito integral e exclusivo sobre todos os recursos minerais e metálicos nos seus reinos e plenos poderes para fazerem tudo quanto julgassem necessário para a exploração de tais recursos».

Como muitos outros tratados afro-europeus, a Concessão Rudd foi igualmente uma verdadeira trapaça para ludibriar o rei. Com efeito, além de artigos de interpretação que permitiam aos europeus agir como melhor lhes conviesse e não como era a percepção dos africanos, algumas cláusulas do interesse dos africanos nunca foram fixadas por escrito, ficando-se pelo entendimento verbal e, portanto, sem nenhum valor luz do direito europeu.
Quando Lobengula percebeu que fora enganado, tentou apelar rainha inglesa, mas de nada lhe valeu. Cecil Rhodes obteve uma carta real para avançar com a ocupação. No início de 1890, os homens de Cecil Rhodes avançaram em direcção Mashonalândia pela Matabelelândia e instalaram-se em Salisbúria, a 12 de Setembro do mesmo ano.

Depois de cerca de três anos de guerra iminente, em 1893 o confronto estalou. Tropas de Cecil Rhodes vindas da Mashonalândia e da África do Sul invadiram a Matabelelândia. Percebendo o grande desnível entre o seu exército e os invasores, Lobengula tentou evitar o confronto fugindo em direcção à Rodésia do Norte, mas morreu pelo caminho. Com a morte de Lobengula iniciava, também, a decomposição da nação Ndebele.


Bibliografia
SUMBANE, Salvador Agostinho. H11 - História 11ª Classe. 2ª Edição. Texto Editores, Maputo, 2017.

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