Os artrópodes

3.2. Os artrópodes

Como grupo, os artrópodes são o grupo mais numeroso do Reino Animal e caracterizam-se por uma vasta distribuição ecológica. Este é, por isso, o grupo do Reino Animal que apresenta maior diversidade. São encontrados em todos os tipos de ambiente (oceano, sistemas de água doce, terra e ar). Alguns vivem sobre ou no interior de plantas ou de outros animais (carracas, pulgas, etc.). E o grupo de animais que suporta as condições ambientais mais adversas. O filo Arthropoda é quantitativamente dominado pelos insectos.

Apesar de os artrópodes competirem com o Homem por alimentos e provocarem doenças, são essenciais para a polinização de muitas plantas e também utilizados como alimento e para a produção de produtos como a seda, o mel e a cera. Outros são até medicinais, como a sanguessuga e a formiga-leão.

Na sua maioria, estes animais são herbívoros, mas existem também artrópodes carnívoros, omnívoros e uma grande parte de parasitas (facultativos, obrigatórios, ectoparasitas e endoparasitas) de plantas, de animais e do Homem.

Cobertura do corpo

O corpo dos artrópodes esta coberto por uma cutícula impermeável água e praticamente também ao gás. A cutícula é rígida devido quitina; é constituída por placas isoladas, os escleritos, ligadas entre si por membranas bastantes flexíveis. O exosqueleto dos artrópodes é segregado pela hipoderme.

Muda ou ecdise

A pobreza em elasticidade e o facto de a cutícula não crescer com o resto do corpo levaram à evolução das mudas, trocas periódicas de cutícula por acção combinada de muitas hormonas. As mudas são também chamadas ecdises.

Respiração

A respiração nos artrópodes, de acordo com o seu habitat, dá-se basicamente por meio de traqueias (organismos terrestres) e brânquias (organismos aquáticos). No exterior, as traqueias terminam em estigmas (espiráculos).

Sistema vascular e sanguíneo

O Sistema vascular e sanguíneo dos artrópodes é aberto e relativamente simples. O coração dorsal está dentro de um saco pericardial (pericárdio), onde recolhe o líquido corpóreo através de aberturas laterais, os ostíolos, lançando-o para uma curta aorta. Trata-se de um líquido fínico, no qual não se distingue o sangue verdadeiro: hemolinfa.

Sistema reprodutor e desenvolvimento

A reprodução dos artrópodes dá-se por via sexual e, na maior parte dos casos, pode ocorrer copula. No entanto, há casos de partenogénese. Os sexos são geralmente separados, sendo a fecundação maioritariamente interna. Podem ser ovíparos ou ovovivíparos.

O desenvolvimento nos crustáceos inferiores passa por uma larva náuplius; nos superiores ocorre a chamada laiva zoéa. Nos quelicerados, o desenvolvimento é directo.

Nos insectos ocorre uma grande variedade de tipos de desenvolvimento, quando relacionado com as metamorfoses. Assim, temos.

  • Hemimetabolia – metamorfose não completa; há um gradualismo de desenvolvimento e maturidade; a libertação das asas é um marco determinante; 05 jovens denominam-se pupas;
  • Holometabolia – metamorfose completa: avo, larva, pupa, adulto, borboleta, besouro;
  • Ametabolia – desenvolvimento sem metamorfose, os jovens não diferem dos adultos, a não ser na maturidade dos órgãos sexuais e no tamanho (é o caso dos gafanhotos).

Nos organismos com metamorfoses, os adultos diferem dos outros estágios tanto na morfologia e anatomia, como nos hábitos e nichos.

3.2.1. Sistemática e filogenia dos artrópodes

Evolutivamente, os artrópodes surgem imediatamente a seguir aos anelídeos. O filo dos artrópodes quelicerados incluem os seguintes subfilos: os centípedes e os milípedes, os aracnídeos, os insectos e os crustáceos.

Os quelicerados

Os quelicerados (Chelicerata) compreendem um vasto grupo de organismos muito diferenciados. O seu nome deve-se as quelíceras, órgãos especializados da região bucal que servem para prender e cortar. Os quelicerados são principalmente terrestres, livres, maioritariamente predadores não especializados. Além das quelíceras, possuem outras estruturas e mecanismos de captura: as glândulas de veneno, mandibulas e ferrões.

São organismos de hábitos noturnos e crepusculares, terrestres com preferência para locais protegidos por pedras e outro tipo de substratos sólidos. São tendencialmente carnívoros, com digestão extraintestinal (fora do corpo).

Plano de construção do corpo

O corpo de um quelicerado é dividido em cefaIotórax (prossomo) e abdómen (epissomo).

Nenhum quelicerado possui antenas, sendo o único subfilo dos artrópodes em que estas se encontram ausentes. Nos quelicerados, o primeiro par de apêndices são estruturas alimentares, as quelíceras (um par). O segundo par são os pedipalpos e encontram-se modificados para realizar diferentes funções nas diversas classes. Os pedipalpos são seguidos de quatro pares de pernas.

Excreção

Os órgãos excretores são as glândulas coxais (no prossomo) e os tubas de Malpighi.

Sistema nervoso

O cérebro contém os centros ópticos e os destinados às quelíceras. O sistema nervoso consta de nervos e gânglios localizados no abdómen e no tórax. Os órgãos sensoriais são os pêlos sensoriais, olho e órgãos sensoriais em fenda para a detecção de vibrações sonoras.

Trocas gasosas

Os quelicerados possuem pulmões foliáceos, traqueias ou ambos.

Sistema circulatório

O coração está no abdómen, de onde sai a aorta anterior, que irriga o prossomo, e a aorta posterior, que se dirige à metade posterior do abdómen.

Reprodução

São dioicos, com fecundação interna e desenvolvimento directo nas aranhas e escorpiões, e indirecto nos carrapatos.

Os Aracnídeos

As principais ordens da classe Aracnida são Scorpiones (escorpiões), Pseudoescorpiones (pseudoescorpiões), Opiliones (opiliões), Anmeae (aranhas), Acarina (ácaros) e outras menos representativas.

Os escorpiões e as aranhas são bem conhecidos e temidos pelo seu veneno, que chega a ser fatais e equiparável ao das serpentes. Alguns desses venenos são neurotóxicos (SNC), outros citotóxicos (tecidos), etc., conforme o local da picada e o seu modo de actuação.

Os crustáceos

Os crustáceos são, na sua grande maioria, marinhos. São fundamentais nas cadeias alimentares (milhões de pequenos crustáceos formam fonte de alimento para muitos outros animais), embora existam algumas espécies terrestres, como o bicho-de-conta. Apesar do seu reduzido número de espécies, os crustáceos são muito variados na morfologia e nos habitats ocupados. Pertencem a esta classe animais quase microscópicos, como os copépodes ou as pulgas-do-mar, bem como os maiores artrópodes vivos: as lagostas e os caranguejos.

Os decápodes são os crustáceos mais vulgares na óptica popular, para a economia e para a alimentação. Constituem a major classe do grupo, com cerca de um tergo dos crustáceos.

Ecologia e hábitos de Vida

Os decápodes (do grego «dekápousdekápodos», que tem dez pés) vivem mais no mar do que na água doce.

Alguns toleram variação da salinidade, dai migrarem de um habitat para o outro. Também existem formas anfíbias e terrestres. Na água, podem ser pelágicos ou bent6nicos (ou seja, habitam na parte superior do corpo da água ou o fundo da mesma). As formas minúsculas fazem parte do plâncton e têm, assim, um papel muito importante no ecossistema aquático e na cadeia alimentar.

Quanto locomoção, os decápodes podem nadar livremente com ajuda dos apêndices locomotores (é o caso do camarão). Mas também podem rastejar, deslocando-se superfície do solo (é o caso do caranguejo e da lagosta). Muitas espécies vivem no corpo da água, mas outras habitam o Iodo, constroem ou utilizam esconderijos ambientais.

A sua morfologia é basicamente a mesma, mas, observando o camarão, o caranguejo e a lagosta, pode ver-se que o corpo sofre muitas modificações adaptativas. O padrão de divisão em cefalotórax, abdómen e télson mantém-se. Nos caranguejos, o abdómen é bastante diferente e tem uma flexão. O cefalotórax ocupa a maior parte do corpo.

Fig. 26 Comparação de estruturas externas do grupo dos Malacostraca, que inclui os caranguejos, os camarões e as lagostas.


Insectos e miriápodes

Fig. 27 Comparação das divisões do corpo e das estruturas apendiculares dos insectos e dos miriápodes.

Tabela: Diferenças entre miriápodes e insectos

Miriápodes

Insectos

Segmentos poscefálicos numerosos

Tórax com 3 segmentos

Sem diferença entre tórax e abdómen

Abdómen com 11 segmentos

Um par de patas locomotoras em cada segmento do tronco

3 pares de patas locomotoras no tronco

Não alados

Com dois pares de asas; asas reduzidas ou modificadas

Mandibula com êndito articular

Mandibula sem êndito articular

Pegas bucais funcionam umas contra as outras à maneira de tenaz

Pegas bucais modificadas segundo os hábitos alimentares: sugadores, mastigadores, picadores ou libadores

Sem olhos compostos

Com olhos compostos

Sem cecos digestivos

Com cecos digestivos

 

Os insectos

Os insectos são animais invertebrados com exoesqueleto quitinoso, corpo dividido em três partes (cabeça, tórax e abdómen), três pares de patas articuladas, olhos compostos e duas antenas. Pertencem à classe Insecta, o maior e, na superfície terrestre, mais largamente distribuído grupo de animais do filo artrópodes. Podem ser encontrados em quase todos os ecossistemas do planeta, mas só um pequeno número de espécies se adaptou Vida nos oceanos. Existem cerca de 5000 espécies de libelinhas, 20 000 de gafanhotos e grilos, 170 000 de borboletas, 120 000 de moscas e 82 000 de percevejos.

Fig. 29: Ciclo devida dos insectos com metamorfose completa (besouro).

Fig. 30 Ciclo de Vida dos insectos com metamorfose incompleta (Leptoglossus spp.)


A cabeça dos insectos é constituída por dois pares de antenas, olhos compostos, mandíbula, maxilas e outras peças rostro-bucais, de acordo com o grupo de insectos.

Fig. 31: Principais peças bucais típicas de insectos.

Fig. 32: Adaptação das peças bucais ao modo de alimentação.

Classificação das peças bucais

Entre os animais, sejam eles invertebrados ou vertebrados, a anatomia bucal está directamente relacionada com os hábitos alimentares. As peças bucais podem ser do tipo mastigador, sugador ou picador, entre outros.

Fig. 33 Exemplos de adaptação de peças bucais. Em cima, picador (à esquerda) e sugador (à direita); em baixo, lambedor e abelha.

tórax compreende três segmentos: protóraxmesotórax e metatórax. Cada um destes segmentos tem um par de pernas. Também no tórax se localizam as asas; piolhos, pulgas e outros insectos perderam as asas na totalidade, em consequência do modo de Vida; em certos grupos, as asas podem transformar-se em élitros (em besouros, como protectores), halteres ou balanceiros (em dípteros, como órgãos de equilíbrio, é o segundo par).

Fig. 34: Os halteres e a asa.

Locomoção

Alguns insectos voam com o auxílio das asas, outros nadam porque desenvolveram barbatanas (remos). Há ainda os escavadores, os trepadores, saltadores, etc. A extremidade locomotora obedece, em princípio, sempre ao mesmo padrão. O abdómen possui entre 9 a 11 segmentos.

Fig. 36: Padrão básico da perna de insecto (gafanhoto).

Fig. 37: Padrões de extremidades adaptadas ao tipo de locomoção.


Fig. 38: Desenho esquemático de abdómen; destaque para o espiráculo e ovopositor.


Ecologia, modo de Vida e fisiologia

Na verdade, não existem habitats livres de insectos. Muitas espécies desta classe são cosmopolitas. Assim, adaptaram-se a todos os tipos de dieta, sobretudo ao mecanismo de obtenção do alimento. Existe uma diferença enorme em habitats e hábitos alimentares entre adultos e larvas.

Características principais

O sistema vascular sanguíneo é constituído por um coração tubular localizado nos nove primeiros segmentos abdominais. O sangue é hemolinfa, O sistema respirarório é constituído pelas traqueias que respondem pela respiração em todo o grupo. Abrem-se para o exterior através de espiráculos.

Fig. 39: Sistema traqueal dos Tracheata (principais estruturas respiratórias).

O sistema nervoso e os órgãos sensoriais não ultrapassam estruturalmente o sistema nervoso do grupo dos Artrópodes.

Ao nível da reprodução, são dioicos e a fertilização é interna. A fêmea tem dois ovários e dois ovidutos. O macho tem um par de testículos. Desenvolveram-se espermatóforos. Depositam os ovos na terra ou formam ninhos nas árvores. O seu desenvolvimento pode ser directo e indirecto. Ocorre a partenogénese (abelhas).

Os mais propagados órgãos excretores dos insectos são os tubos de Malpighi. As excreções incluem o acido úrico.

Fig. 40 Tubos de Malpighi de um insecto Blatta spp.


Relação dos insectos com o Homem

Enquanto muitos insectos são benéficos para o Homem e para a Natureza, em geral, outros são a principal causa de doenças humanas, sobretudo nos trópicos e subtrópicos (por causa das condições climáticas favoráveis, mas também por causa das condições de Vida associadas à pobreza absoluta). Há vários insectos causadores de doenças:

  • barbeiro pode causar doença-de-chagas;
  • mosca-negra é portadora do patógeno da cegueira-do-rio;
  • Os mosquitos alojam patogenias da malária, da dengue e da febre amarela;
  • Os piolhos podem transmitir tifo;
  • As pulgas podem causar encefalite e outras moléstias;
  • mosca tsé-tsé pode transmitir a doença-do-sono.
No entanto, os insectos também podem ter uma contribuição benéfica. Por exemplo:
  • Na produção de substâncias de valor comercial (cera, seda, corantes);
  • Na eliminação de desperdícios orgânicos, imediatamente reutilizadas pelas plantas (xilófagos, coprófagos);
  • No melhoramento de ventilação dos solos (formigas, abelhas, vespas, colembolos);
  • Como alimento para peixes, anfíbios e para o próprio Homem (matomana).

Bibliografia

PIRES, Cristiano; LOBO, Felisberto. Biologia 11ª Classe – Pré-universitário. 1ª Edição. Longman Moçambique, Maputo, 2010.

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