Os países africanos rumo à independência

 

Os países africanos rumo à independência

O Gana
Os impérios políticos que, nos finais do século XIX e início do século XX, foram proclamados em África de forma tão orgulhosa e confiante, como prolongamentos inevitáveis e permanentes da civilização europeia, duraram apenas três gerações.

Nos anos 60 0 sistema colonial encontrava-se em recuo. Para todos os efeitos, nos finais dos anos 70, desaparecera já, constituindo o seu principal emblema as guarnições fortificadas de brancos instalados na África do Sul, que há muito tinham conquistado a sua independência na gestão dos seus assuntos, livres do controlo da Europa e que tinham como dependência própria o Sudoeste Africano.

A história da descolonização em Africa tem sido, muitas vezes, relatada principalmente em função do desenvolvimento dos movimentos nacionalistas do continente, em especial a negritude, o pan-africanismo e o pan-islamismo. No entanto, uma perspectiva mais ampla parece exigir que se tenham em conta também as mudanças ocorridas na frente do colonizador.

As transformações verificadas na atitude das potências coloniais em relação à África do século XX estiveram frequentemente interligadas e influenciaram-se mutuamente numa variedade de combinações, por vezes desconcertantes, determinadas por circunstâncias históricas especificas na Europa e em África.

Primeiramente, as duas Guerras Mundiais e a depressão económica entre elas serviram para abalar a confiança da Europa Ocidental na sua missão civilizadora, e em seguida para provocar um declínio considerável na sua capacidade real de manter o domínio imperial. Isto levou, em segundo lugar, a uma rapidez cada vez maior em compreender que o sistema colonial continha a sua própria destruição.

A frustração fermentou primeiramente na Costa do Ouro, a colónia que mais beneficiara com as relações com os europeus, e que tinha, portanto, as maiores esperanças.

Em Fevereiro de 1948, houve tumultos nas maiores cidades do sul do Ashanti, tendo como principais alvos os armazéns das maiores companhias comerciais dos europeus. Embora pouco relevantes, quando comparados com os acontecimentos na Índia e outras regiões, os acontecimentos na Costa do Ouro foram um alerta para as autoridades coloniais inglesas.

Em resposta, foi enviada uma comissão de inquérito que chegou à conclusão de que o problema fundamental era o facto de a Constituição de 1946 para a Costa do Ouro ser à partida ultrapassada e, portanto, inadequada às necessidades do que se pensava ser uma nova nação em evolução.

Recomendava que os africanos deveriam ajudar a esboçar uma nova constituição como primeiro passo para uma rápida ascensão à autonomia num processo gradual de transferência do poder do executivo da administração colonial para os ministros africanos que responderiam perante a assembleia nacional.

O governo inglês aceitou de imediato a proposta da comissão de inquérito por considerar que seria difícil enfrentar os nacionalistas africanos numa altura em que combatia uma revolta comunista na Malásia.

Por outro lado, a Inglaterra tinha uma posição económica suficientemente forte para poder lucrar com a cooperação de um governo nacionalista moderado, em vez de arriscar-se a ser arruinado por ele.

As expectativas da Inglaterra foram materializadas com a constituição da Convenção Unitária da Costa do Ouro, em 1947, pelo conceituado advogado Joseph Danquah, faziam parte desta organização política figuras proeminentes de vários sectores da sociedade, da religião aos negócios.

No seguimento das recomendações feitas pela comissão de inquérito, Danquah e seus seguidores anuíram ao convite do governo britânico para preparar uma nova constituição. Nesse momento Kwame Nkrumah, jovem intelectual formado nos Estados Unidos da América e na Inglaterra e que fora convidado para secretário-geral do movimento, decidiu separar-se dele.

Para Nkrumah, o movimento devia aproveitar a situação e não entregar-se aos interesses dos ingleses.
Para materializar a sua ideia de nacionalismo, que passava pela tomada do poder, Nkrumah formou o seu partido, o Convention People's Party cujo programa era a «independência imediata» e «acção positiva» (greves, boicotes e outras formas de pressão) para poder conseguir.

A posição de Nkrumah levou-o ao poder à confrontação com as autoridades inglesas. Em 1949, Nkrumah e seus colaboradores directos receberam ordem de prisão, mas o acto teve um efeito catalisador para a popularidade de Nkrumah. Assim, nas eleições de 1951, o CPP obteve mais de metade dos lugares na nova Assembleia Legislativa. Tal como em 1948, o ministro das colónias e o governador inglês no território decidiram evitar conflitos, convidando Nkrumah e o seu partido a ocupar a maior parte dos cargos ministeriais no Conselho Executivo.

Nkrumah e o governador Charles Arden-Clarke tiveram uma relação de cooperação num processo que culminou com a proclamação da independência do pais em 1957, passando o pais a constituir mais um membro da Commonwelth e das Nações Unidas.
Kwanw Nkrumah

O Gana independente

Contrariamente ao que seria de esperar a ascensão do Gana à independência não foi o início de um período melhor para os ganeses. Com Nkrumah no poder, o novo país enfrentou dificuldades económicas e políticas, principalmente devido a oposição interna e externa contra as políticas de Kwame Nkrumah.

A nível económico, Nkrumah adoptou um programa que apontava para o rigor na aplicação dos fundos públicos, o que pressupunha austeridade orçamental. De igual modo, adoptou oficialmente o socialismo como doutrina económica e, para reduzir a dependência em relação à Inglaterra, mandou construir a enorme barragem de Akosombo orientou o pais para a diversificação das actividades económicas.

No campo político, o Gana assumiu claramente a oposição ao imperialismo, ao colonialismo e ao neocolonialismo. Face ao ambiente de guerra fria em que o mundo vivia, o Gana assumiu uma posição de neutralismo positivo não se afastando totalmente da Inglaterra e procurando apoio ideológico e material dos países socialistas, especialmente da URSS e da China. A política africana de Nkrumah estava apontada para a união do continente, que ele via como o caminho para o desenvolvimento do continente. Ficou lendária a sua obra «África deve unir-se» e a sua proposta de criação do que chamava «Estados Unidos da África».

As ideias políticas e económicas de Nkurmah nem sempre foram bem acolhidas, pelo que desencadearam um ambiente de agitação:
  • Os sindicatos organizaram uma greve geral contra o programa de austeridade.
  • Muitas pessoas ligadas ao novo governo envolviam-se em actos de corrupção, o que os levou a serem presos.
  • Actos de terror protagonizados pelos partidos da oposição que se achavam excluídos pelo monopartidarismo.
Este clima de descontentamento conduziu a um golpe de estado em 1966, que depôs Nkrumah. Em 1969, realizaram-se eleições ganhas pelo Partido do Progresso liderado por Busia que também viria a ser destituído por um golpe de estado liderado pelo coronel Acheampong, em 1972.

O novo governo seguiu parcialmente a linha de Nkrumah apostando na austeridade orçamental à luz do qual a moeda nacional foi desvalorizada, algumas dividas foram anuladas, foi interdita a importação de bens de luxo.

Para evitar a perda de divisas com a importação de certos produtos, o presidente Acheampog lançou a política de Self-relience (autosufiência) e a operação Feed food yourself (alimenta-te a ti mesmo). Entretanto, o ambiente de crise de energia que abalou o mundo em 1973 não permitiu que estas medidas tivessem sucesso.

Kwame Nkrumah, figura de proa do nacionalismo ganês e primeiro presidente do Gana independente, morreu em 1972 na Guiné onde se tinha exilado desde do golpe de estado que o derrubou.

O caminho para a independência nos territórios franceses

A seguir à Segunda Guerra Mundial, a França enfrentava insurreições na Argélia e na Indochina e perdeu Marrocos e a Tunísia, em 1956, como resultado de movimentos independentistas, aos quais foi obrigada a ceder.

Tentando conter o movimento nacionalista nos restantes territórios aprovou, em 1956, uma «Lei-Quadro» e, em Setembro de 1958, organizou um referendo sobre a «autonomia» das suas colónias, no quadro de uma «Comunidade Francesa».

Este processo iniciou-se ainda durante a Segunda Guerra Mundial, quando, sob a liderança do General Charles de Gaulle, se realizou em Braza-Ville, em 1944, uma conferência de funcionários coloniais que recomendou alterações na estrutura do império colonial, entre as quais se destacam as seguintes:
  • Todos os súbditos das colónias deveriam tornar-se cidadãos franceses com direito a representatividade na Assembleia Constituinte, que tinha a tarefa de elaborar uma constituição para a França e para as colónias.
  • O império devia ser transformado numa União, na qual as colónias deveriam compartilhar uma parte das responsabilidades do seu governo através das assembleias eleitas.
Estas ideias foram integradas no projecto constitucional de 1946 que, entretanto, viria a ser rejeitado num referendo dominado por eleitores da metrópole. Assim, a constituição da IV República aprovada em Outubro de 1946 não reflectia os interesses das colónias, na medida em que ao povo das colónias, embora se atribuísse estatuto de cidadãos, não tinha os mesmos direitos que os franceses da metrópole, o direito de cidadania era restrito, as eleições eram feitas separadamente, em círculos que davam maior influência aos franceses das colónias e a alguns, poucos, africanos e a autonomia local estava aquém das expectativas.

A descolonização da África Ocidental Inglesa teve repercussões directas na política francesa. O caso mais evidente foi o da Togolândia, onde, face aos acontecimentos na Costa do Ouro, os franceses tiveram de conceder autonomia em 1956, tendo-se tornado República Independente em 1960.

No final dos anos de 1950, os franceses tentavam libertar-se dos problemas causados pelo recuo em relação às promessas feitas em Brazzaville, através dum hábil aproveitamento da fraqueza política da IV República e pelo regresso de De Gaulle ao poder. Apesar das restrições, os africanos possuíam, agora, uma base legal para o exercício da actividade política e, embora em menor escala, estavam representados na Assembleia Francesa.

O contexto político dos anos de 1940 permitiu a criação do RDA (Rassemblement Democratique Africain) ao qual estavam ligados todos os líderes políticos e cooperava com o Partido Comunista Francês. Esta aliança alimentou a hostilidade das autoridades francesas que, através dos seus administradores em África, quase eliminaram o RDA entre 1948 e 1950.

Sob a liderança de Félix Houphouet-Boigny desde a sua fundação, nos anos 50, o RDA mudou a sua estratégia, que consistia em apoiar os governos que se propunham fazer concessões a favor das colónias. O quadro político francês nos anos 50 tornava o apoio do RDA importante para a manutenção de qualquer governo, pelo que Boigny e outros africanos começaram a beneficiar de nomeações ministeriais.

A «lei-quadro» de 1956 e a viragem

No seguimento das concessões a favor dos africanos, em 1956 foi aprovada uma lei-quadro, luz da qual foi estabelecida, em cada colónia, uma assembleia eleita localmente com poderes sobre a política e as finanças.

No Senegal, o RDA nunca foi muito forte, pois os eleitores preferiam uma opção mais independente, com Leopold Senghor cabeça. Segundo Senghor, a lei-quadro dividia as federações da Africa Ocidental e da Africa Equatorial em territórios isolados e incapazes de fazer face as pressões da França.

Sendo a base de todos os serviços federais na África Ocidental, o Senegal safa prejudicado com a implementação da lei-quadro. A ideia de que a lei-quadro era desvantajosa para os interesses dos africanos foi também sustentada por Ahmed Sekou Touré, um influente líder sindical na Guiné Francesa (Guiné-Conacri).

Em 1958, a tendência de evolução nas colónias francesas alterou-se.
De Gaulle retomara o poder e decidira tomar algumas posições sobre as colónias. Rompendo com a tradicional ideia de que as colónias eram possessões francesas, propôs uma alteração constitucional para acomodar a criação de uma comunidade francesa. Em Setembro de 1 958, a nova constituição foi a referendo para que cada colónia decidisse entre integrar a comunidade e a independência fora dela.

Todas as colónias votaram na comunidade excepto a Guiné que, por influência de Sekou Touré, votou contra a comunidade, optando pela independência. Neste contexto a Costa do Marfim, o Níger, o Alto Volta e o Daomé decidiram formar a «União Sahel-Benin» e, mais tarde, o «Conselho do Entendimento», enquanto o Senegal se unia ao «Sudão Francês» para formar a «Federação do Mali». Estas uniões não duraram muito tempo, e a França, em 1960, reconheceu a independência da maioria das suas colónias africanas.

A decisão da Guiné de se opor comunidade francesa levou a que a França retirasse todo o seu apoio material e humano. Entretanto, e contra as expectativas da Franca, a Guiné conseguiu sobreviver, pois teve de imediato o apoio do Gana e, sobretudo, dos países comunistas da Europa e Ásia.

O sucesso da Guiné estimulou outros estados integrados na comunidade a lutar pela sua independência. Inicialmente, o Senegal e o Sudão Francês formaram, em 1959, a Federação do Mali. Pouco depois, o seu pedido para a independência total foi aceite pela França. Em 1960, a Federação desfez-se.

As diferenças entre os líderes dos dois estados à volta das prioridades em relação ao futuro eram muito grandes. O Senegal queria manter o auxílio francês, enquanto o Mali aspirava a uma evolução mais autónoma, que lhe permitisse desenvolver o interior, mais pobre. Depois disso, os outros territórios perceberam como a comunidade era desnecessária e começaram a negociar a sua independência legal e completa.

A Argélia, no entanto, só se tornou independente depois de oito anos de guerra, que forçou o governo francês, dirigido pelo General Charles de Gaulle, a entrar em conversações com o principal movimento independentista (a Front de Libération Nationale ou FLN) e a conceder-lhe a independência.

Djibuti foi uma das colónias francesas que decidiu, em 1958, manter-se na «Comunidade Francesa» mas, devido a problemas de governação, a população local começou a manifestar-se a favor da independência. Depois de um novo referendo, em 1977, o Djibuti tornou-se um pais independente.

Nas Comores, a história foi semelhante, mas com uma declaração unilateral de independência, em 1975, que foi reconhecida no mesmo ano, mas que não abrangeu a ilha Mayotte, onde a população votou para se manter um território francês.
A ilha de Reunião é igualmente um departamento francês, governando, para além da ilha principal, várias outras ilhas, que são reclamadas por Madagáscar e Maurícias.

Apesar da independência, todos os estados do antigo império francês continuaram a receber o apoio da ex-metrópole, excepto a Guiné e o Mali, pela orientação política que adoptaram, e a Costa do Marfim e o Gabão, que não tinham conseguido uma autonomia considerável.

Os territórios belgas

O Congo durante o período colonial
A história do Congo belga desde a Segunda Guerra Mundial é a história de uma descolonização há longo tempo falhada.

A política colonial belga fez do Congo uma colónia mais avançada do que muitas outras quanto a certos aspectos. O Congo era considerado, mais ou menos, uma «propriedade de família», em cujas zonas mais salubres os europeus podiam instalar-se e criar raízes. Como resultado dessa política, em 1960, existia um número bastante considerável de colonos belgas.

A nível da economia, o pais tinha iniciado um desenvolvimento industrial raro em África, graças à acção vigorosa de sociedades financeiras, das quais se destacavam as seguintes:
  • A Unilever - que desenvolvia as suas actividades nas zonas florestais e no Kivu.
  • A Forminiére - com concessões no Kassai.
  • A Société Générale de Belgique - que actuava no Baixo Congo.
  • A Union Miniére du Haut-Katanga - com concessões na região do Katanga.
Graças à acção destas companhias, o Congo destacou-se na produção de vários minérios, com destaque para:
  • Urânio - maior produtor mundial
  • Cobalto - 63% da produção mundial
  • Diamantes 75%
  • Cobre – 8,5%
  • Zinco – 4,3%.
Entretanto, a produção mineira estava unicamente virada para o escoamento de produtos em bruto para a Bélgica. Portanto, não beneficiava o Congo.
A grande massa de camponeses africanos Vivia da sua economia de subsistência baseada nas culturas tradicionais. Era uma economia com uma estrutura bastante concentrada.

O Comité Spécial du Katanga, formado pela Société Générale de Belgique e pela Union Miniére du Haut-Katanga, controlava mais de metade das exportações do país. Entretanto, depois da Bélgica e das companhias, o Congo obtinha algum benefício das riquezas do pais. Já do ponto de vista político, o envolvimento dos africanos era nulo.

O sistema político belga, então considerado paternalista, implicava a subordinação do congolês sem quaisquer perspectivas de mudança. Porém, a urbanização, imposta pela industrialização, levou a um êxodo rural que, paulatinamente, tornou cada vez mais difícil o controlo da população africana. Se em 1938 onze em cada doze africanos viviam nas áreas rurais, em 1960 apenas sete viviam no campo, ou seja, 40% dos africanos viviam nas cidades.

A actividade política dos nacionalistas

A fixação progressiva de africanos nas cidades criou condições para uma progressiva elevação da consciência política. Nas cidades, começaram a surgir clubes de «evoluídos», ou seja, círculos de estudo e associações de antigos alunos, cujos membros apresentavam um modelo de Vida europeu.

Essas associações, formadas com o pretexto de estabelecer o convívio entre os seus membros, criaram a ilusão de uma promoção a nível da civilização. Surgiram, em geral, depois da Segunda Guerra Mundial, e tornaram-se embriões do movimento nacionalista, particularmente alimentado pelo ambiente de discriminação imposto pela colonização.

Se internamente o jugo colonial tinha despertado a consciência nacionalista, o catalisador da explosão política veio de fora. Vejamos em seguida alguns acontecimentos que levaram explosão política no Congo.

Em 1955, o então rei belga Baldufno I visitou o Congo e apresentou em Léopoldville (hoje Kinshasa) um discurso assimilacionista, que defraudou as expectativas dos nacionalistas.

No mesmo ano, o professor belga Van Bilsen propôs um plano para a independência da África belga, a concretizar num período de 30 anos, que devia começar com a formação de quadros e o estabelecimento, no futuro, de um sistema federal. Este Plano, apresentado por um intelectual, despertou grande efervescência entre os nacionalistas. Foi assim que, em 1956, o padre Joseph Maloula, com o apoio de Joseph lléo, fundou o movimento Conscience Africaine, cujo manifesto assentava na abolição da discriminação racial, no reconhecimento da personalidade africana e no direito dos africanos à expressão cultural e política.

Por seu turno, a Association du Bas-Kongo (Abako) presidida por Joseph Kasavubu, criticou o Conscience Africaine por não apresentar os meios práticos pelos quais pretendia alcançar os seus intentos e defendeu uma emancipação política num contexto federal e através da constituição de partidos políticos congoleses.

1957 foi o ano da independência do Gana e da aplicação da lei-quadro francesa para os territórios do ultramar. Acompanhando essa dinâmica, a Bélgica organizou a primeira eleição popular nos principais centros do Congo e do Ruanda-Urundi a fim de constituir municípios europeus e africanos, cujos burgomestres seriam indicados pelo governador. Este exercício despertou os africanos para o desejo de independência.

1958 foi um ano crucial para o movimento nacionalista congolês devido à combinação de diversos factores:
  • A Exposição Universal de Bruxelas - os congoleses reconheceram em algumas salas do pavilhão onde estavam instalados os africanos, além de terem tomado contacto com o resto do mundo, particularmente com outros africanos. A exposição produziu uma mutação; no espírito de muitos dos congoleses; confirmava-se a consciência de uma situação de inferioridade e a vontade de agir.
  • A visita do general De Gaulle a Brazzaville, no Congo francês, para anunciar a independência, teve repercussões imediatas em Léopoldville, no Congo Belga. De imediato, os dirigentes políticos congoleses juntaram-se para assinar uma petição ao ministro do Congo, reclamando um plano gradual de independência do país.
  • A Conferência Pan-Africana dos povos em Acra, Gana, na qual a delegação congolesa era composta por membros do Mouvement National Congolais (MNC) liderada por Patrice Lumumba.

O papel de Patrice Lumumba

Apos concluir os estudos primários e empregar-se como funcionário dos correios, Lumumba iniciou, através de artigos publicados em jornais, a critica ao colonialismo, advogando a igualdade entre africanos e belgas.

Na sua intervenção, na conferência de Acra, Lumumba deixou vincadas as suas ideias que, aliás, viriam a constituir o seu programa de luta, ao dar vivas à nação congolesa e à África Independente e ao dizer abaixo ao imperialismo, ao colonialismo, ao racismo e ao tribalismo.

Já de volta ao Congo, Lumumba reivindicou a independência imediata. Em Janeiro de 1959, eclodiu em Léopoldville (Kinshasa) uma revolta encabeçada pelo proletariado urbano que via na independência a única saída para os problemas sociais e políticos com que a colónia se debatia.

O balanço oficial dos tumultos indicava 49 mortos e 116 feridos graves dos quais se contavam quinze europeus. Apesar do rescaldo negro, que incluía ainda a prisão de alguns chefes políticos locais, o rei Balduíno reconheceu, num discurso a 13 de Janeiro de 1959, que a independência era o único fim do processo politico em curso. Para consubstanciar essa ideia prometeu a independência para o Congo, cujos passos iniciais seriam a criação de um parlamento congolês, eleito por sufrágio indirecto, e a integração racial.

Pouco depois, iniciavam-se as negociações para a independência, numa mesa-redonda belgo-congolesa, especialmente convocada para o efeito em Bruxelas.

Nesse encontro, deviam participar todos os líderes políticos; por isso Lumumba, que fora preso nos tumultos de Novembro de 1959, foi libertado unicamente para tomar parte no mesmo.
Nesse encontro colocavam-se duas questões fundamentais:
  • O calendário da descolonização
  • A Constituição do novo Estado
Em relação ao calendário, não houve grandes discussões, pois a Bélgica manifestou uma reviravolta admirável, acelerando o processo e fixando a data da independência para 30 de Junho.

Quanto ao estatuto constitucional existiam duas posições antagónicas:
  • O federalismo defendido por Joseph Kasavubu - em que se propunha a existência de estados federais fortes que tivessem à cabeça um poder central moderado.
  • O estado unitário, defendido por Lumumba.
As discussões, em torno desta matéria, terminaram com a adopção de uma fórmula intermédia, em que se ficava por um Estado Republicano, no qual existiriam um poder central forte e seis governos provinciais. Paralelamente, foi adoptada uma lei fundamental que devia vigorar até ser votada uma constituição para o país.

Entretanto, o quadro preparado para a independência apresentava duas fissuras bastante perigosas para o futuro país independente. Ora veja-se: o Banco Central do Congo continuava nas mãos da Bélgica, e o país não dispunha de quadros suficientes para tomar de imediato os destinos do país.

Em Maio de 1960, tiveram lugar as eleições para a Assembleia Nacional, nas quais o MNC de Patrice Lumumba saiu vitorioso. Lumumba foi nomeado chefe do Governo em coligação com Swendé, de origem balubakat e lléo, da etnia Bângala. Joseph Kasavubu foi eleito presidente. A 30 de Junho foi proclamada a independência.

A crise do período pós-independência e a separação do Catanga

O novo Estado enfrentou de imediato problemas graves que iriam condicionar a evolução posterior do pais. Vejamos:
  • Entre os integrantes da liderança do país nenhum deles tinha experiência de gestão administrativa, senão a liderança de algumas associações, ou seja, a um nível bastante limitado.
  • A coesão entre os membros desta liderança era quase nula. Cada um deles, além de se identificar com o seu próprio grupo étnico-tribal, tinha convicções políticas próprias.
  • As forças centrifugas lideradas por Moise Tshombe (do Catanga) e Albert Kalondji (do Kasai) continuavam bastante fortes.
Neste contexto, poucos dias apos a independência, a força pública revoltou-se. A violência criou pânico entre a população branca, agravada pela promoção de alguns africanos a oficiais superiores. Instalou-se o caos, e o pais ficou paralisado.

Na tentativa de encontrar uma solução para a crise, a Bélgica lançou para-quedistas para controlar as principais cidades, enquanto os principais líderes do país, Patrice Lumumba e Joseph Kasavubu, decidiram pedir o auxílio das Nações Unidas. Entretanto, o momento foi aproveitado por Moise Tshombe e apoiado pelos colonos do Catanga e pelo Ministro do Interior, Godefroy Munongo, para proclamar a independência do Catanga.

Isso aconteceu a 11 de Julho, passava pouco mais de um més apos a proclamação da independência. Pouco tempo depois, a província do Kasai seguiu o exemplo do Catanga, liderada por Kalondji.

A intervenção da ONU, dos governos africanos, soviético, americano, belga, bem como a necessidade de defender os interesses econômicos no pais não conseguiram amainar o ambiente. Lumumba e Kasavubu envolveram-se em lutas pelo poder, situação que foi aproveitada por um grupo de oficiais para levar ao poder o coronel Joseph Mobutu, que decidiu mandar prender os dirigentes políticos e formar um governo de técnicos constituído pelos poucos jovens universitários de que o país dispunha. As forças armadas das diferentes regiões (Stanleyville, Catanga, Kasai, Kivu, Kwilu, etc.) protagonizaram confrontos sangrentos que envolveram as tropas congolesas e os capacetes azuis.

Foi no meio desse ambiente que, em Janeiro de 1961, quando tentava regressar à sua cidade - Stanleyville - Lumumba foi preso pelas autoridades de Léopoldville e entregue aos catanguenses, que o assassinaram.

Depois de acções diplomáticas pouco conseguidas entre 1961 e 1963, que incluíram de permeio a morte do secretário-geral da ONU num acidente de aviação a caminho do Congo para negociações, a secessão do Catanga iria terminar em Janeiro de 1963, na sequência de uma intervenção militar da ONU.

Em 1964, Kasavubu indicou Tchombé para seu primeiro-ministro e, com apoio militar americano-belga, conseguiria reduzir o perigo de uma rebelião armada. Só que, pouco depois, Tchombé e Kasavubu entrariam em colisão, pelo que o exército indicou Joseph Mobutu para presidente da República.

Depois da eliminação das bolsas de resistência, da morte de Tchombé e Kasavubu, e ainda do afastamento dos velhos concorrentes políticos de Mobutu (detidos ou envolvidos em negócios, abandonando a política), ficou aberto o caminho para a acumulação ilimitada de poder por Mobutu.

Veja alguns dos principais momentos da ascensão do poder de Mobutu:
  • 1966 - Nacionalização da Union Miniàre.
  • 1967 - Reforma monetária para estabilizar a moeda nacional e elevar a reputação do Zaire no mundo.
  • 1970 - No culminar de uma reforma política de grande envergadura, o Mouvement Populaire de la Revolution (MPR) passaria a controlar a Vida política nacional tornando-se partido único. A ideologia deste partido passa a ser resumida na palavra «autenticidade», que pressupõe encarar os problemas de frente e dar-lhes soluções adequadas com base nos próprios recursos. É esta ideia que está na origem de uma autêntica «balbúrdia» no vocabulário e nos nomes das pessoas: por exemplo, Joseph Mobutu passava a chamar-se Mobutu Sese Seko, o Congo passava a ser Zaire, Léopoldville passava a Kinshasa, etc. Tudo autêntico, originariamente local.
  • 1972 - O governo e a comissão executiva do MPR fundiram-se para formar um Conselho Executivo Nacional, cujos comissários de Estado eram dotados de funções ministeriais.
  • 1974 - Revisão constitucional, que atribuía ao chefe de Estado a chefia do Conselho Executivo Nacional, a presidência do Conselho Legislativo Nacional, a chefia do poder judicial e das forças armadas.
  • 1975 - instituída a Comissão Permanente do Secretariado Politico do MPR.


Bibliografia
SUMBANE, Salvador Agostinho. H11 - História 11ª Classe. 2ª Edição. Texto Editores, Maputo, 2017.

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