Problemas e correntes filosóficas da teoria do conhecimento

 Problemas e correntes filosóficas da teoria do conhecimento

Como nasce o problema do conhecimento?
Da consciência ingénua consciência critica a consciência ingénua olha para as coisas, acredita na sua existência, e nisso se resume o conhecimento para ela. «Está aqui a mesa», «estão além as árvores», «está lá em Cima o céu com as estrelas», etc. Enquanto assim age, o pensamento apaga-se diante das coisas, esquecido de si próprio. Para a consciência ingénua, o conhecimento reduz-se ao mundo dos objectos.

No entanto, cedo ou tarde, o Homem realiza a experiência do erro. É a vara que na água parece quebrada, mas não está; é a abóbada celeste que parece pousar sobre os montes, mas não pousa. É, noutro nível de conhecimento, a Terra parecer imóvel, mas move-se. Neste momento, o Homem começa a dar-se conta de que no acto de conhecimento não entra apenas o objecto conhecido, mas também o sujeito que conhece. Quando o Homem compreende que ele próprio tem um papel na função do conhecimento, é levado a reflectir sobre que papel é esse. A consciência ingénua torna-se pensamento critico.
É essa consciência de que o conhecimento depende não só do objecto, mas também do sujeito e que por depender dele é passível de ilusão e erro, que leva o Homem a interrogar-se sobre o que pode ou não conhecer, sobre o que vale ou não o que conhece.
     A função do conhecimento aparece, assim, como fonte de interrogações e problemas. É para tentar responder aqueles e resolver estes, que a filosofia aborda a questão.

A (im)possibilidade do conhecimento: Cepticismo e Dogmatismo

A questão que aqui se levanta é esta: é possível conhecer a verdade e possuir a certeza? Ou por outras palavras, que espécie de conhecimento é possível? Duas correntes debatem este problema: o Cepticismo e o Dogmatismo.

O Cepticismo é a doutrina segundo a qual o espírito humano não pode atingir a verdade com certeza absoluta. O espírito declara-se incapaz de afirmar ou negar o que for por falta de motivos sólidos para o fazer.

céptico não nega que tenhamos certezas de ordem empírica, nega que encontremos motivos suficientes para elevá-las à categoria de certezas científicas. O céptico evita emitir juízos acerca de qualquer assunto e, por isso, suspende o seu assentimento.

cepticismo aparece esboçado com os sofistas que, impressionados com as contradições dos filósofos anteriores (por exemplo, Parménides que negava o movimento e as transformações, Heráclito que considerava a realidade em continuo a fluir e que a permanência era uma ilusão) chegaram à conclusão pessimista de que a verdade absoluta é inacessível, embora aceitassem a informação dos sentidos.
Esta atitude céptica veio a concretizar-se no período helenístico com Pirro (séc. IV a.C.), que dizia que não devemos confiar nem nos sentidos nem na razão, é preciso duvidar de tudo e, por isso, suspender toda a adesão, não afirmando nem negando alguma coisa.
Fig. 4 Heráclito (c.540-470 a.C.)

Ao lado do Cepticismo radical ou universal surgiu uma forma moderada; o chamado Probabilismo, cujos principais representantes foram Arcesilau (316-241 a.C.) e Carnéades (214-129 a.C.), que afirmam que embora nenhum dos nossos conhecimentos se possa apresentar com carácter de certeza e de verdade, existe, todavia, entre eles, a distinção dos graus de probabilidade, sendo, por isso, legitimo o estado de opinião. E isso basta para o Homem viver.

Na época moderna, o Cepticismo que mereceu maior atenção foi o Relativismo. Para este não existe verdade absoluta, porque não conhecemos a realidade em si própria, mas sim como ela é para nos e, portanto, todo o conhecimento é relativo; não só o sensível, mas também o intelectual, que dependem da nossa construção mental. O Homem não conhece a autêntica realidade.
Fig. 5 Parménides (c, 530-460 a.C.).

Dogmatismo é a doutrina segundo a qual o conhecimento certo é possível e afirma que a inteligência é capaz de atingir verdades certas. O Dogmatismo apresenta-se sob dois aspectos: o Dogmatismo espontâneo e o Dogmatismo crítico.
  • O Dogmatismo espontâneo supõe que conhecemos os objectos tal como eles são, que há um perfeito acordo entre o conhecimento e a realidade. A primeira atitude do espírito humano que deposita plena confiança nos sentidos é, ainda hoje, a atitude do vulgo, que julga conhecer as coisas como elas são, numa atitude de crença e não entra reflexão ou critica e, que ainda, não há qualquer problema quanto ao valor do conhecimento.
  • O Dogmatismo critico aparece com Sócrates (séculos V e IV a.C.) apos o conflito entre Parménides e Heráclito que leva os sofistas a uma posição céptica acerca do valor do conhecimento.

Este Dogmatismo coloca o conhecimento intelectual acima do sensível, pois sé este nos dá a conhecer as manifestações da realidade que mudam continuamente e aquele que atinge a sua natureza íntima ou essência que é imutável e, por isso, tem valor absoluto.

O Dogmatismo critico admite que possuímos conhecimentos certos acerca da realidade, embora não a conheçamos total e perfeitamente. Além disso, exige que se faça um exame critico de todas as certezas naturais, ainda mesmo das verdades-bases.

Descartes recomendava a necessidade de todos os investigadores começarem pela dúvida. Esta orientação deve ser de todos os sábios nas suas investigações e deve ser também a do filósofo. Este, segundo a exigência do Dogmatismo critico, deve utilizar a dúvida metódica real acerca das verdades que não são imediatamente evidentes; isto é, estas não devem ser admitidas sem que se tenham encontrado razões suficientes para isso.

A origem do conhecimento: empirismo e racionalismo/intelectualismo e construtivismo

O problema parte do princípio de que o nosso conhecimento é construído por ideias, juízos e raciocínios, mas como os juízos e os raciocínios são obtidos a partir das ideias, o problema da origem do conhecimento consiste em determinar como se adquirem as ideias e os primeiros princípios que normalizam todo o conhecimento.

Para que o conhecimento seja considerado autêntico, é preciso que seja universal e necessário e, ao mesmo tempo, se aplique à realidade, que é singular e contingente. De onde deriva o conhecimento de modo a satisfazer essas condições?
Foi a dificuldade que dividiu os filósofos em duas correntes opostas: o Empirismo e o Racionalismo, que o Intelectualismo procura conciliar.

O Empirismo diz que o nosso conhecimento é a posteriori, ou seja, vem da experiência, assim como experiência se reduz, não podendo elevar-se acima dos dados experimentais.
Esta doutrina é tipicamente inglesa. O Empirismo foi pela primeira vez exposto, em termos nítidos, pelo filósofo John Locke (1632-1708) no seu livro Ensaio sobre o Entendimento Humano.

Segundo Locke, antes do contacto com a experiência, o espírito é como uma tábua rasa, na qual nada está escrito. Nesta tábua rasa vão-se inscrevendo sucessivamente os dados da experiência.

Ainda segundo o nosso filósofo, são duas as fontes da experiência: a sensação (fonte de experiência externa) e a reflexão (fonte de experiência interna). Da sensação e da reflexão provém as ideias. Estas podem ser simples, se o espírito se limita a recebê-las passivamente - da sensação (verde, vermelho...) ou da reflexão (dor, desejo...). São complexas quando resultam das simples por meio das operações do espírito (comparação, associação, análise...).
Fig. 6: John Locke (1632-1708)

Outro grande representante do Empirismo, David Hume (1711-1776), que se baseava em Locke, dizia que todos os nossos conhecimentos se reduzem a impressões (ex.: a vista duma árvore) ou a ideias (ex.: a recordação duma árvore já vista) e pretende explicar, a partir destes conhecimentos simples, a formação de ideias complexas, por meio de leis ou princípios que são chamados «ideias de associação».

O Racionalismo é a doutrina que professa que todo o acto do conhecimento exige, anteriores à experiência, certos pressupostos racionais (ideias ou princípios inatos), mediante os quais o espírito estrutura e interpreta toda a experiência.
Para o Racionalismo, a experiência, embora necessária para o conhecimento, não é suficiente para explicar o conhecimento. Não há dúvida de que todo o nosso conhecimento começa com a experiência, pois os Objectos impressionam os sentidos e despertam as nossas faculdades intelectuais do conhecimento, ligando ou separando estas representações, e trabalham a matéria bruta das impressões sensíveis para tirar um conhecimento dos objectos, dai que esse assunto merece e exige um exame aprofundado.

Fig. 7 David Hume (1 711-1776)

No tempo moderno, os grandes representantes do Racionalismo gnosiológico foram: René Descartes e Gott frie Leibniz.

Descartes foi um racionalista enquanto admite o pressuposto gnosiológico das ideias inatas. Ele distinguia três tipos de ideias: adventícias, fictícias e inatas. As primeiras são tiradas dos sentidos, as segundas elaboradas pelo espírito com elementos dos primeiros e as inatas são aquelas que têm correspondência na ordem sensível, mas não têm aí a sua origem e devem, portanto, ser consideradas conaturais.

De todas, as mais importantes são as inatas. Enquanto as adventícias e as fictícias dependem de nós, dos sentidos, estando, sujeitas ao erro e incerteza; as inatas, ligadas estrutura da inteligência, representam a certeza infalível, pela qual pode ser aferido o valor das outras.

A posição gnosiológica de Leibniz pode resumir-se na frase: «Nada está na inteligência que primeiro não tenha estado nos sentidos» que é a fórmula do Empirismo, e acrescenta: «a não ser a própria inteligência». A anterioridade é como que primazia conferida à inteligência em relação aos sentidos, que define a gnosiologia leibniziana como uma forma de racionalismo.

O carácter universal e necessário de certas ideias e certas verdades prova-nos que estas não podem resultar da experiência, que só nos pode proporcionar noções e verdades particulares. Para a explicação e fundamento das verdades necessárias, temos de admitir a existência, na mente humana, de ideias e princípios inatos; tais princípios são os de identidade e razão suficiente.

É preciso salientar que no inatismo de Leibniz, as ideias inatas não existem aqui perfeitamente conscientes no nosso esprito. Existem só como virtualidades ou disposições, que se vão progressivamente consciencializando no contacto com a experiência. Dai o inatismo virtual que caracteriza a gnosiologia leibniziana.
Ele concebeu uma relação inteligência-experiência sob forma duma dinâmica de interacção, acentuando, assim, mais que qualquer anterior filósofo o carácter activo do conhecimento.

O Intelectualismo é a doutrina que afirma que o conhecimento procede da experiência mas não se reduz a ela, porque a razão abstrai dos dados experimentais o carácter universal e necessário do conhecimento, através da elaboração de ideias. Assim, o conhecimento pode ser, ao mesmo tempo, universal e necessário e valer-se da realidade concreta. Por exemplo, o conceito de casa provém da experiência de urna casa concreta; porém, ultrapassa a experiência na medida em que é aplicável a realidades diferentes, mas que respondem pelo mesmo nome. A casa pode ser redonda, rectangular, coberta de capim, de duas águas, não deixa de ser casa. Portanto, o conceito é universal.

Divergência entre o empirismo e o racionalismo quanto à origem do conhecimento

Os racionalistas (R. Descartes, B. Spinoza, G. Leibniz e outros) ensinam que: a única fonte de conhecimento verdadeiro é a razão, que é dotada das ideias inatas, de toda a realidade (consequentemente, a experiência, torna-se supérflua) e a filosofia consiste na análise das ideias inatas: esta análise é suficiente para a descoberta de todas as verdades.
As novas verdades são expressas em juízos analíticos, puramente explicativos, que não acrescentam nada ao conteúdo do conhecimento, não o ampliam e nem lhe trazem qualquer aumento.

Os empiristas (J. Locke, F. Bacon G. Berkeley, T. Hobbes e outros) ensinam que a única fonte de conhecimento é a experiência, não tendo a razão nenhum valor inventivo; a ciência consiste na soma progressiva de experiências de dados sensíveis, a dados sensíveis ela procede por síntese, não por análise. Os conhecimentos adquiridos são expressos em juízos sintéticos, a posteriori, os quais «são extensivos e ampliam o conteúdo do conhecimento» (Prolegómenos a toda Metafisica do futura).

Fig. 9: Spinoza (1632-1677)

Em tais juízos, o predicado acrescenta alguma coisa não expressa pelo sujeito; mas a razão da atribuição do predicado ao sujeito é, unicamente, a experiência e não uma relação essencial que os una necessariamente.
Segundo Kant, o motivo do imobilismo no qual se encontra a Filosofia é a concepção de racionalistas e empiristas a respeito da ciência e do conhecimento.

Kant observa que o Racionalismo e o Empirismo nunca voltaram a sua atenção para a existência de tais juízos; viram-se ambos na impossibilidade de preservar a ciência; por consequência, cada uma das correntes acentua um dos pólos, negligenciando a contraparte.

Empirismo justifica os conhecimentos a posteriori (provenientes da experiência, ou seja, os captados pelos órgãos de sentidos); o Racionalismo, por sua vez, justifica muito bem os conhecimentos a priori.
O momento fraco, segundo Kant, das duas correntes está no facto de nenhuma delas se apresentar em condições de justificar convenientemente os juízos que simultaneamente contém conhecimentos que vêm da experiência e os analíticos que não resultam directamente da experiência.

A superação da divergência através do criticismo kantiano Segundo Kant, as duas correntes estão erradas nas suas concepções pelas razões e insuficiências já referidas, pois «qualquer reflexão sem conteúdos é vazia», isto contra a posição do racionalismo. Para demonstrar que apesar de esta corrente relegar a experiência para o segundo Plano, ela é necessária para complementar a actividade da razão e contra o Empirismo; diz Kant: «a observação sem conceitos é cega». Com esta última máxima pretendia Kant demonstrar que a actividade prática é complementada pela formação de conceitos, os quais são forma de reflexão dos objectos na sua ausência.

Uma vez ultrapassadas as duas teorias, a Filosofia de Kant foi designada Criticismo.
Segundo Kant, a razão deve submeter-se a si própria ao «tribunal da critica»; analisando e criticando os seus poderes e limites, a razão descobre que, contendo em si as regras e as formas do conhecimento, ela nada pode conhecer se não usar estas regras e formas sobre os dados que lhe advém do exterior (experiências sensíveis). O Criticismo, é assim, uma critica à própria razão no sentido da determinação dos seus próprios limites e poderes.
A Filosofia de Kant não passa de um esforço critico que, ao analisar as insuficiências das duas correntes, supera-as dando uma nova solução aos problemas gnosiológicos através do Criticismo.

A revolução copernicana

A esta viragem, na teoria do conhecimento, Kant chamou uma Revolução Copernicana, em alusão a Copérnico, que estabeleceu a hipótese heliocêntrica, contradizendo a teoria clássica do geocentrismo.

Até então, tentara-se explicar o conhecimento supondo que o sujeito devia «buscar» o objecto. Dito de outro modo, o conhecimento consistia na apreensão do objecto pela iniciativa do sujeito cognoscente. Esta concepção revelou ter lacunas, conquanto que não explicava a existência de seres não cognoscíveis pela mente humana, o que levou Kant à ilação de que não é o sujeito que se adapta aos objectos, no acto do conhecimento, mas o contrário. É esta a chamada Revolução Copernicana em Kant. No conhecimento, os objectos adaptam-se natureza do intelecto humano. Assim, é fácil explicar a existência de seres incognoscíveis pelo Homem – não é possível conhecer os seres que não se adaptam à natureza do intelecto humano.
Deste modo, Kant considera que a sua teoria desloca o centro clássico do conhecimento - que era o objecto - para as estruturas perceptivas do sujeito.

A natureza do conhecimento: Realismo e Idealismo

Em mútua e estreita relação com o problema da origem do conhecimento, surge-nos o da sua natureza: afinal, o que é que nos conhecemos? Ligadas à questão colocada, surgem outras duas:
Conhecemos os próprios objectos, isto é, uma realidade que existe em si mesma, fora de nós, embora possa ser representada no espírito? Ou, pelo contrário, essa representação não passa duma simples criação da nossa consciência a que não corresponde nada fora de nos mesmos?

O Realismo – doutrina que defende que o nosso conhecimento alcança a realidade objectiva e não apenas as suas representações subjectivas. Os objectos existem como uma realidade distinta do sujeito.
Entretanto, podemos distinguir duas formas de realismo:
a)     Realismo ingénuo – que admite a existência das coisas tal como as percebemos.
b)     Realismo critico – que, partindo dos dados sensoriais, apreende as características essenciais dos objectos e corrige os possíveis erros de percepção.
Podemos apresentar como principais filósofos realistas Aristóteles (384-322 a.C.) e S. Tomas de Aquino (1225-1274), além de muitos outros.

O Idealismo é uma doutrina que não nega propriamente a existência do mundo exterior, mas afirma que o nosso conhecimento não atinge propriamente a realidade em si mesma, pois reduz o conhecimento a meras representações ou ideias dos objectos.
Enquanto o realismo separa e distingue perfeitamente o sujeito e o objecto, o idealismo apresenta-o, identificando o objecto com a sua representação; esta interpõe-se ao binómio de relação sujeito - objecto.

Desta forma, o nosso conhecimento atinge, tão-somente, as representações subjectivas.
Apesar desta doutrina não ser totalmente nova, já encontramos vestígios dela em Platão e S. Agostinho. Contudo, só a partir de Descartes é que esta doutrina aparece com toda a sua crueza (Idealismo relativo). Partindo da sua dúvida metódica, cogito ergo sum, ou traduzindo «penso, logo existo», acaba por reduzir o Homem a puro espírito, pois, o «Eu» afirmado na intuição cartesiana não é concebido como corpo, mas espirito.

Assim, chamamos intuição ao cogito porque, não obstante a sua aparência, não é, de facto, um raciocínio. É que a existência não é deduzida do pensamento, mas apreendido imediatamente nele: ao mesmo tempo que me vejo a pensar, vejo-me a existir.

Geoge Barkeley (1685-1753) contestando a visão cartesiana, ao distinguir as qualidades primárias das secundárias, defende um idealismo integral, que levanta um outro problema: qual é a causa das nossas representações?
Há duas hipóteses: ou o sujeito é cognoscente (solipsismo), da causa dos conhecimentos (ou representações), ou existe uma causa capaz de agir sobre o mesmo sujeito que conhece.
Examinando os diversos conhecimentos, podemos distinguir dois grupos: aqueles em que nos vemos activos (as imaginações) e aqueles em que nos sentimos passivos (as percepções). 
Dos primeiros nós somos a causa e dos segundos exclui-se a existência de qualquer substância material, restando apenas a hipótese da substância imaterial, que é a causa das nossas percepções (Deus). Por isso, o mundo é um discurso que Deus faz ao Homem.
Outro filósofo, Kant, por outro lado, pode ser considerado semi-idealista.

A sua doutrina encerra uma contradição fundamental entre a natureza fenoménica do conhecimento e a afirmação do númeno (a realidade tal como existe em si mesma, na obra de Kant) E, assim, dois caminhos se abrem:
·       Ou negar a redução do conhecimento aos fenómenos.
·       Ou negar o númeno, isto é, aceitar um novo conceito do conhecimento, a criação. 
Deste modo, se para Kant o sujeito põe as formas, não a matéria, ele é um semi-idealista, onde a síntese a priori se transforma em síntese absoluta, criadora, em que tanto a forma como a matéria do conhecimento são postas pelo sujeito.

Dai que toda a realidade se reduz à actividade criadora do sujeito cognoscente, o EU (idealismo absoluto).
O valor do conhecimento: Absolutismo e Realismo
O problema do valor do conhecimento está intimamente ligado também ao da origem e natureza do conhecimento, e a solução depende da atitude tomada nestas matérias.
Dogmatismo realista (ou Absolutismo) afirma não só a objectividade do conhecimento como ainda lhe atribui valor absoluto.

O Relativismo atribui valor meramente relativo ao conhecimento, quer em função do sujeito cognoscente, quer em função do objecto conhecido.
Esta última doutrina admite várias tonalidades:
a)    Relativismo sensorial dos sofistas – segundo Protágoras (séc. V a.C.), «o Homem é a medida de todas as coisas», isto é, todo o conhecimento é relativo, ou seja, depende do sujeito cognoscente.
b)    Relativismo kantiano – aqui encontramos uma dupla forma de realismo:
·       Sendo as percepções interpretadas mediante as formas a priori da sensibilidade do sujeito ou das categorias intelectuais, estamos perante um Relativismo subjectivo.
·       Não sendo possível apreender mais do que os fenómenos, pois a realidade em si mesma escapa-nos inexoravelmente, dai resulta um Relativismo objectivo.
c)    Relativismo pragmático – segundo William James (1842-1910), a verdade duma ideia só pode ser verificada pelo seu resultado prático, isto é, pela sua utilidade. Segundo esta doutrina, o Homem foi feito para a acção. Sendo assim, a verdade só pode ser definida em função dessa mesma acção. Tudo o que o ajuda a agir e produz realmente efeito, será verdadeiro para cada individuo. Dai que todas as nossas ideias tenham valor relativo.


Bibliografia
CHAMBISSE, Ernesto Daniel; COSSA, José Francisco. Fil11 - Filosofia 11ª Classe. 2ª Edição. Texto Editores, Maputo, 2017.

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