Etnocentrismo vs Relativismo Cultural

Etnocentrismo vs Relativismo Cultural

O etnocentrismo consiste em considerar ou afirmar que existem culturas boas e culturas ruins. “O etnocentrismo pode ser manifestado no comportamento agressivo ou em atitudes de superioridade e até hostilidade. A discriminação, o proselitismo, a violência, a agressividade verbal são outras formas de expressar o etnocentrismo”. Não existem culturas superiores ou inferiores. Cada uma delas deve ser vista dentro daquilo que os antropólogos chamam de interioridade cultural. Por esse motivo jamais se pode afirmar que existem culturas selvagens, bárbaras ou atrasadas. Mesmo as mais antigas e as extintas não podem ser rotuladas nestes termos. Toda atitude etnocêntrica precisa ser condenada e rejeitada porque fere o princípio da igual dignidade de todos os seres humanos e de todos os povos.

O etnocentrismo não se confunde com o racismo. São coisas diferentes. O racismo é a afirmação de que existem raças distintas e que determinadas raças são inferiores, sejam do ponto de vista moral, como intelectual e técnico. No racismo a inferioridade não é considerada a partir da perspectiva social ou cultural, mas do ponto de vista biológico. A inferioridade seria inata. Nasce-se inferior por se pertencer a tal raça. O etnocentrismo, por sua vez, é a afirmação de que a própria cultura ou civilização é superior às demais

O etnocentrismo é muito antigo e foi praticado no passado por gente famosa. Heródoto (484-424 a. C.), ao analisar as culturas por ele visitadas e estudadas agiu de maneira etnocêntrica. Tácito (55-120 d. C.), escritor latino, fez o mesmo com as tribos germânicas. Marcos Polo, entre 1271 e 1296, viu os costumes dos tártaros de modo etnocêntrico.

José de Anchieta (1534-1597) se espantava com os costumes dos Tupinambás e os avaliava a partir da cultura europeia e cristã. Montaigne (1533-1572) ficava escandalizado com o costume dos indígenas de não usarem roupas. Os exemplos podem ser multiplicados e o que mais impressiona é uma constante entre as pessoas etnocêntricas. Todas avaliam as outras culturas a partir da sua e sempre consideram a própria cultura superior às demais.

Em pleno século XXI o etnocentrismo não foi superado. Ainda hoje quando opinamos sobre determinadas questões (identidade cultural, família, relações sociais, sexo, crenças religiosas, estado, democracia etc.) ele continua presente com toda a sua carga ideológica. Por isso o trabalho de “descolonizar” certas práticas e opiniões ainda precisa continuar. Às vezes nos espantamos com o que sabemos do passado, mas, olhando nossas práticas atuais, vamos perceber com toda a clareza uma carga enorme de etnocentrismo. Hoje se tenta disfarçar a crise do sistema neoliberal, predominante em todo o mundo, com o etnocentrismo. É o que acontece, por exemplo, com a civilização árabe apresentada pelos Estados Unidos e seus aliados como sendo expressão do atraso e da violência. Enquanto isso os massacres e as destruições provocadas por esses países em várias partes do mundo, como no caso do Iraque e do Afeganistão, são tidas como ações de países civilizados e democratas. As mortes de tantas pessoas e a miséria deixada após as investidas sangrentas por eles praticadas são vistas apenas como “efeitos colaterais”, um “mal necessário” para manter a democracia no mundo.

Por esse motivo o relativismo cultural é muito importante. Ele consiste na capacidade de compreender cada cultura dentro do seu contexto e da sua realidade, segundo os seus padrões, os seus moldes e processos. Isso faz com que uma pessoa de determinada cultura não veja a outra – ou as outras – como algo exótico, estranho e insignificante. O relativismo cultural não considera uma cultura superior às demais. Além do mais, hoje, razões humanitárias nos dizem que cada grupo humano tem o direito à autonomia e a desenvolver a sua cultura de acordo com os próprios princípios e tradições, sem sofrer interferências forçadas e pressões externas. Cada povo ou cultura tem direito de pensar e agir de forma autônoma e diferente dos demais.

Bibliografia

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