Métodos da Antropologia
Métodos da Antropologia
Do
estudo teórico “na mesa” à “pesquisa no campo”
Os primeiros
antropólogos evolucionistas da segunda metade do século XIX, foram
designados, no âmbito da história da antropologia, estudiosos da “mesa” (Tylor,
Frazer, Morgan): esses trabalhavam sobre narrativas e descrições de realidades
efectuadas por observadores não profissionais. Portanto, eles trabalhavam, com
um material de “segunda mão”, recolhido, às vezes, sem critérios científicos ou
para finalidades diferentes, que porém permitia-lhes colherem elementos para
reflectirem sobre a diversidade dos “costumes” humanos. Este tipo de fontes
consentia-lhes que elaborassem uma escala evolutiva das formas de vida humanas
e do desenvolvimento das culturas. A partir dos últimos anos do século XIX os
antropólogos experimentavam uma nova modalidade de fazer a pesquisa: a pesquisa
de campo, isto é, observação directa dos modos de vida dos outros efectuada
concretamente nos lugares pré-selecionados para a pesquisa.
Nos primeiros
decénios do século XX a prática da pesquisa no campo se consolida e é a partir
deste momento e desta nova modalidade de pesquisa que a antropologia define os
seus métodos, os seus objectos e o seu estatuto científico e académico. São as
pesquisas dos primeiros antropólogos funcionalistas britânicos e de
alguns culturalistas americanos que marcam o início da prática
etnográfica, mudando a atenção do “estudo na mesa” ao estudo da “sociedade” no
campo e na sua inteireza.
A etnografia como método e como prática de
pesquisa
No trabalho
antropológico se entende comumente com o termo “etnografia” a fase da
recolha dos dados num determinado lugar pré-escolhido para a pesquisa
(conhecido como “terreno etnográfico”, ou simplesmente “terreno” ou “campo”). O
que distingue a antropologia das outras disciplinas científicas é exatamente
esta modalidade de investigar, que prevê períodos de longa permanência no
terreno, a imersão no contexto de pesquisa, o conhecimento da língua ou do
dialecto do lugar, a observação aprofundada, a compartilha de práticas
quotidianas com pessoas que constituem “o objecto” pesquisa.
Bronislaw Malinowki
que efectuou as suas pesquisas nas ilhas Trobiand da Melanésia entre 1915 e
1918, não foi o primeiro antropólogo a colocar em prática uma pesquisa
etnográfica do tipo “moderno”. Foi, porém, um dos primeiros a indicar
conscientemente nas práticas acima indicadas os elementos característicos da
pesquisa de campo e, portanto, a pesquisa antropológica. A ele, se deve, o
facto de ter sido o primeiro a teorizar e colocar em prática a centralidade do
método de observação participante no processo de compreensão e
explicação antropológica e ter construído, a partir de tal consciência, aquela
figura do etnógrafo profissional. A expressão observação participante sintetiza
as modalidades de interacção do antropólogo com o campo de pesquisa durante a
fase etnográfica da pesquisa: ele tem a obrigação de viver dentro da comunidade
pesquisada, de participar na vida quotidiana deles e, ao mesmo tempo, aquela de
estudá-la, de observá-la (e observar mesmo a si no decurso da pesquisa). O
antropólogo no campo, através da imersão no contexto estudado, procura adquirir
as competências e os conhecimentos de um “nativo”, sem no entanto, beliscar a
sua posição de observador externo.
A prática
etnográfica não constitui simplesmente o método de base da pesquisa
antropológica. Para além desses diversos argumentos teóricos, a pesquisa
antropológica é constituída do tipo de conhecimento que o antropólogo procura
aprofundar. É exactamente a relação prolongada e quotidiana com homens e mulheres
de sociedades diversas e com os contextos culturais em que estes vivem, que
confere aos “dados” etnográficos um carácter “qualitativo” e a cada
pesquisa antropológica uma dimensão “interpretativa”. No esforço
contínuo de compreender a lógica interna do contexto pesquisado, o antropólogo,
reformulará continuamente as suas questões: durante a etnografia, o problema
não é tanto o de encontrar respostas às próprias questões, mas de identificar
questões e problemas que tenham sentido para as pessoas a que se dirige a
pesquisa. Por esta razão, os objectos da pesquisa antropológica não são
objectos concretos e predefinidos, mas se constituem constantemente no decurso
da pesquisa (Kilani, 1994, p. 51).
Com isto, queremos
dizer que a análise antropológica de dados pode ser qualitativa mas
também quantitativa. Ademais, é necessário salientar que a antropologia
vale-se, também dos seguintes métodos:
Método Histórico: Consiste em investigar eventos
do passado, a fim de compreender os modos de vida do presente, que só podem ser
explicados a partir da reconstrução da cultura e da observação das mudanças
ocorridas ao longo do tempo.
Método
Estatístico: Os
dados, depois de coletados, são reduzidos a termos quantitativos, demonstrados
em tabelas, gráficos, quadros etc.
Método
Comparativo:
Permite verificar diferenças e semelhanças apresentadas pelo material coletado.
A Antropologia Física compara fósseis ou grupos humanos existentes, analisando
características anatômicas: cor de pele, do cabelo, dos olhos, índice cefálico
etc.
Bibliografia
MARTINEZ, Francisco Lerma. Antropologia Cultural: guia para estudo. Paulinas Editorial, 5ª edição, Maputo, 2007.
SINISCALCHI, Valeria. Antropologia Culturale. Un’introduzione. Carocci, Italia, 2008.
Comentários