O conceito antropológico de cultura
O conceito antropológico de cultura
Uma vez compreendida
a Antropologia como ciência social e as fases que percorreu a nível teórico
para que seja o que é hoje, podemos agora tentar compreender o conceito de cultura.
A literatura
antropológica sugere-nos que a palavra cultura é de origem latina. Deriva do
verbo colere (cultivar ou instruir) e do substantivo cultus (cultivo,
instrução). Etimologicamente tem muito a ver com o ambiente agrário, com o
costume de trabalhar a terra para que ela possa produzir e dar frutos. Ainda
hoje se costuma usar a palavra cultura para designar o desenvolvimento da
pessoa humana por meio da educação e da instrução. Disso vêm os termos culto
e inculto, usados no jargão popular com uma carga de preconceito e de
discriminação, considerando uma cultura (especialmente a letrada) superior às outras.
Porém, não existem grupos humanos sem cultura e não existe um só indivíduo que
não seja portador de cultura.
A cultura, pois, é
um termo vasto e complexo, englobando vários aspectos da vida dos grupos
humanos. Não existe ainda um consenso entre antropólogos acerca do que seja a
cultura. Afirma-se que existem mais de 160 definições de cultura. (MARCONI;
PRESOTTO, 2006). Por via disso, não se fala apenas de cultura, mas de culturas.
Por causa dessa pluralidade das culturas, tornou-se difícil, segundo
Laplantine, dar uma definição que seja absolutamente satisfatória da cultura. O
exemplo disto é quando, Kroeber, um dos mestres da Antropologia americana,
conseguiu apresentar 50 definições diversas de cultura.
Tylor foi o primeiro
a formular um conceito de cultura. Para ele essa “é aquele todo complexo que
inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos
os outros hábitos e aptidões adquiridos pelo homem como membro da sociedade”.
Poderíamos então afirmar que a cultura, não é nada mais, nada menos, que o
conjunto de saberes (axiológicos, estéticos, técnicos, teológicos,
epistemológicos, etc.) característicos de um determinado grupo humano ou de uma
sociedade, ou seja, o conjunto de comportamentos, saberes-fazeres adquiridas
através de aprendizagem e transmitidas ao conjunto de seus membros. A cultura
inclui comportamentos, conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes,
hábitos, aptidões, tanto adquiridos como herdados.
A cultura não é uma
herança genética, mas o resultado da inserção do ser humano em determinados
contextos sociais. É a adaptação da pessoa aos diferentes ambientes pelos quais
passa e vive. Através da cultura o ser humano é capaz de vencer obstáculos,
superar situações complicadas e modificar o seu habitat, embora tal modificação
nem sempre seja a mais favorável para a humanidade, como podemos perceber
actualmente. Desse modo a cultura pode ser definida como algo adquirido,
aprendido e também acumulativo, resultante da experiência de várias gerações. Porém,
enquanto aprendiz o ser humano pode sempre criar, inventar, mudar. Ele não é um
simples receptor, mas também um criador de cultura. Por isso a cultura está
sempre em processo de mudança. Em muitos casos pode até ser modificada com muita
rapidez e violência, dependendo dos processos a que for submetida. Desta forma
o ser humano não é somente o produto da cultura, mas, igualmente, produtor de
cultura (LARAIA, 2001).
Bibliografia
MARCONI, Marina de Andrade; PRESOTTO, Zélia Maria Neves. Antropologia: uma introdução. 6ª ed., São Paulo: Atlas, 2006.
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 14ª ed., Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2001.
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