Periodização do pensamento antropológico
Periodização do pensamento antropológico
Parece-nos
arbitrária qualquer divisão da história da antropologia, no entanto, a
pertinência da periodização histórica desta disciplina repousa na necessidade
de obtermos um mínimo de rigor e sistematização metodológicos que permitem a
caracterização teórica das abordagens dos vários pensadores. Mello e Lerma,
debruçam-se sobre a divisão histórica apresentada por T.K Penniman, que segundo
este último, o pensamento antropológico obedece à quatro períodos, a saber:
período de formação, período de convergência, período de construção e período
crítico.
I. Período de formação (...até 1835)
Começa com a
história da própria humanidade e diz respeito a toda a reflexão do Homem sobre
si e sobre o universo que o rodeia. Neste período esteve presente a preocupação
com a origem, a realidade e o destino do homem, procurando explicar o seu
passado, sua história e sua relação com o mundo do além. Neste contexto,
podemos dizer que todas as manifestações culturais do homem ao longo do tempo,
desde as mais longínquas, contribuíram para a efectiva formação da
antropologia, nomeadamente as pirâmides do Egipto, as pinturas rupestres
encontradas em várias regiões do mundo, o sistema de parentesco, os sistemas sociais
da antiguidade, os fósseis, sistemas religiosos, etc.
Este período
corresponde ainda à época de grandes descobertas e expansões dos europeus pelo
mundo, que permitiu colectar dados etnográficos para compreender a complexidade
das manifestações culturais o que mais tarde iria incidir na separação da
Antropologia em vários ramos (arqueologia, linguística, biologia, etc.), mercê
da acumulação de conhecimentos vastos que por si exigiam uma especialização dos
estudiosos.
II. Período de convergência (1835-1869)
Este período é assim
designado porque existe nele uma unidade em torno do conceito de evolução.
(processo de desenvolvimento natural, biológico e espiritual no qual toda a natureza,
com seus seres vivos ou inanimados, se aperfeiçoa progressivamente, realizando
novas capacidades, manifestações e potencialidades. Do ponto de vista meramente
biológico, a evolução pode ser definida como descendência com variações).Este
conceito neste período anima as pesquisas e reflexões nos domínios da Biologia,
Filosofia, Sociologia e da própria Antropologia. O período é ainda marcado por
debates ardentes, surgimento de várias revistas e numerosas associações
científicas e humanitárias como:
a) Sociedade de etnografia (1839) e sociedade de antropologia (1843) ambas em Paris.
b) Sociedade de Etnologia de Londres (1843).
Estas sociedades
eram tidas como humanitárias porque o motivo que deu a sua origem estava ligado
a um sentimento humanistas em relação aos povos “primitivos” face às
depredações coloniais. As sociedades em si eram tidas como amigas dos povos
primitivos.
Através da linha
evolutiva se podia classificar toda a humanidade desde os primeiros estágios,
chamados de selvageria, passando pela barbárie, até a civilização.
III. Período de construção (1869 -1900)
Este período é uma
simples consolidação do anterior, o número de associações e sociedades cresceu
vertiginosamente por toda a Europa e pelos E.U.A. O período de convergência
distingue-se do da construção pelo facto de neste último, o evolucionismo ter
alcançado o seu apogeu com a teoria de Charles Darwin sobre a origem das
espécies, descrita em uma obra clássica intitulado Sobre a Origem das
Espécies.
Ainda neste período,
a Antropologia moderniza-se com o surgimento de grandes publicações de Edward
Tylor como “A cultura Primitiva” (1871), onde através do método
comparativo o autor tenta explicar a evolução pela qual passou a religião ao
longo dos tempos. Outra obra marcante é a de Lewis Morgan “Sociedade
Primitiva” (1877), que procurou estabelecer o caminho seguido pela
instituição familiar através de vários estádios do desenvolvimento.
Se tomarmos como
exemplo, a organização familiar, a evolução começaria com a família
consanguínea (casamento entre irmãos dentro de um grupo), passando pela família
por pares, ou sindiásmica (um homem e uma mulher sem coabitar); o próximo
estágio seria o da família patriarcal, um homem e várias mulheres; até
chegar no último estágio, que é o da família monogâmica, de um homem e
uma mulher coabitando juntos na mesma casa.
Taylor é considerado
um dos principais expoentes desse período, pois, foi quem definiu o
termo antropológico de cultura e o apresentou como objecto da Antropologia.
Outros estudiosos: Bachofen, Sumner, Maine, Milennan, etc.
IV. Período crítico (1900 à...)
Este período vai até
aos nossos dias, tendo-se caracterizado pelos avanços em vários domínios do
saber, progresso dos meios de comunicação, democratização da educação e
institucionalização da Antropologia como uma disciplina universitária. Estes
factores permitiram a publicação de escritos que puseram a ciência antropológica
ao serviço não só do colonialismo, como também das universidades.
Os povos outrora
objectos de estudo de antropólogos europeus e norte-americanos começaram a
cultivar também estudos de Antropologia. A realidade sociocultural tomou novos
rumos e passou a ser analisada por olhares diversos.
Alguns antropólogos
também começaram a dedicar-se aos estudos na área da psicologia, da
linguística, de folclorística e dos efeitos perversos do urbanismo.
Bibliografia
DE MELLO, Luiz Gonzaga. Antropologia cultural, pp. 220-277.
MARCONI, Marina de Andrade; PRESOTTO, Zélia Maria Neves. Antropologia: uma introdução. 6ª ed., São Paulo: Atlas, 2006.
TOMÁS, Adelino Esteves. Manual de Antropologia Sócio-Cultural. Universidade Pedagógica Sagrada Família, s/d.
ERICKENS, Thomas Hylland. NIELSEN, Fin Sivert. História da Antropologia. 4ª ed. Editora Vozes, Petrópolis, R J, 2010.
GONÇALVES, António Custódio. Trajectórias do Pensamento Antropológico. Universidade Aberta, 2002.
SANTOS, Armindo dos. Antropologia Geral: etnografia, Etnologia, Antropologia Social. Universidade Aberta, 2002. pgs. 123-170.
COLLEYN, Jean-Paul. Elementos de Antropologia Social e Cultural. Edições 70, Lisboa, 2005.
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 14ª ed., Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2001.
Comentários