Teorias de Aprendizagens
Teorias de Aprendizagens
1. Teorias de
Aprendizagem Behavioristas
Para Davidoff (2006:258), na perspectiva behaviorista, a aprendizagem e um
comportamento observável, adquirido de forma automática através de estímulos e
respostas.
O principal pressuposto da teoria é que a aprendizagem em geral e sinónimo
de formação de hábitos.
Os mecanismos centrais da formação de hábitos são o condicionamento e
o reforço, que e a satisfação que o individuo recebe como resultado de
sua performance.
1.1. Condicionamento
A palavra behaviorismo vem do inglês behaviour, que significa conduta,
comportamento, em Língua Portuguesa (William e Raitt, 1996: 199). O behaviorismo
procura explicar a formação do comportamento com base na influência de
determinadas condições.
Behaviorismo estudo científico, puramente objectivo, do comportamento humano
(Tavares & Alarcão, 2005:92).
Mwamwenda (2006: 164), condicionamento significa aprendizagem, ou
modificacao de comportamento.
Segundo a teoria do behaviorismo determinadas condições, determinados
estímulos do meio ambiente podem produzir determinados comportamentos. Deste
modo, o behaviorismo considera que se pode estabelecer uma ligação entre uma
determinada situação, condição ou estímulo e o comportamento do indivíduo.
O behaviorismo foi criado por John B. Watson (1878-1958), psicólogo
americano, baseando-se nas investigações de Ivan Pavlov, que a seguir vamos
apresentar.
1.1.1. Condicionamento clássico
Ivan Pavlov (1889 – 1936), fisiólogo russo, que ganhou mérito após ter
realizado investigações que resultaram na teoria do condicionamento clássico. A
palavra “clássico” significa “primeiro tipo”, diz-se que a teoria de Pavlov e a
primeira teoria da aprendizagem, que e referida como clássica.
O condicionamento clássico pode ser referido como substituição de estímulos,
porque um novo estímulo originalmente neutro pode tomar lugar de (pode passar a
ser) um estímulo que solicita respostas.
Pavlov argumenta que, através da associação, é possível para o organismo
(pessoa ou animal) desenvolver um novo conjunto de comportamentos.
Em que consistiram tais investigações?
Pavlov apresentou a um cão esfomeado um pedaço de carne e verificou que o
cão salivou e aproximou-se para comer a carne.
Nesta experiência a carne é um estímulo incondicionado (Ei), porque está
ligado a satisfação de necessidades instintivas, a necessidades vitais, sendo,
por isso, um estímulo significativo. A salivação é um reflexo incondicionado (Ri),
uma reacção automática ligada aos instintos.
Em seguida, Pavlov realizou a seguinte experiência: Tocou uma campainha
seguida de apresentação de pedaço de carne ao cão esfomeado, tendo verificado
que o cão salivou e aproximou-se para comer a carne. Nesta experiência, o toque
de campainha é um estímulo não significativo para o cão, é um estímulo neutro,
porque não está ligado a satisfação de suas necessidades vitais. A carne é um
estímulo significativo e a salivação reflexo incondicionado.
Pavlov repetiu várias vezes a experiência de toque da campainha seguido de
apresentação de carne e constatou a salivação e aproximação do cão.
Depois de repetida combinação do toque de campainha, seguida de
apresentação de um pedaço de carne, em que o cão salivou e se aproximou para
comer a carne, Pavlov realizou a outra experiência que consistiu em tocar a
campainha para o cão esfomeado, sem, contudo, apresentar a carne, tendo verificado
que o cão salivou e se aproximou. O toque da campainha passou a ser sinal de
estímulo incondicionado, isto é, a ser significativo para o animal.
O cão aprendeu que o toque de campainha é sinal de carne. A reacção de
salivação e consequente aproximação resultante do toque de campainha é um
reflexo condicionado. Dizemos aqui que o animal aprendeu através de reflexos
condicionados.
Qual o mecanismo
fisiológico do reflexo condicionado?
O reflexo condicionado, neste caso, a reacção de salivação é aproximação
perante o toque de campainha é resultado da ligação formada no cérebro entre as
zonas auditiva e digestiva.
Caso o cão não receba o alimento, o estímulo incondicionado, em casos
sucessivos de toque de campainha quando esfomeado, não reagirá salivando e se
aproximando. A ligação entre as zonas auditiva e digestiva no cérebro
apagar-se-á.
Será que só os animais
aprendem através de reflexos condicionados?
O ser humano também aprende através de reflexos condicionados. O bebé aprende
a palavra leite, quando a mãe repetidas vezes pronuncia a palavra leite e lhe
dá leite. Mais tarde ao pronunciar a palavra leite o bebé reage animado com
todo o corpo à procura de leite.
Antes do
condicionamento |
Comida – Salivação:
EI - RI |
|
Campainha – Sem
resposta: EC – Sem resposta |
Durante o
condicionamento |
Campainha e comida
– Salivação: EC & EI - RI |
Depois do
condicionamento |
Campainha –
Salivação: EC - RC |
1.1.2. Condicionamento operante
Para Mwamwenda (2006: 168), no condicionamento clássico, a principal preocupação
é com as respostas que são solicitadas pelos estímulos que são específicos e
identificáveis.
Skinner (1938-1953) considerou o condicionamento clássico como uma teoria
plausível da aprendizagem, mas deu um passo em frente através da defesa de que
nem toda a aprendizagem pode ser explicada na base do estímulo identificável.
Na sua perspectiva, existem outras formas de aprendizagem que ocorrem
independentemente de qualquer estímulo identificável. Isto levou-o a uma nova
teoria designada por condicionamento operante.
O termo operante refere-se ao facto de um organismo, que pode ser
uma pessoa ou um animal, trabalhar sobre o seu meio, e a medida que o
faz ser responsável por gerar consequências.
Por exemplo, aparecer sob a forma de uma boa nota num determinado curso,
uma boa colheita para um camponês, uma promoção no trabalho ou simplesmente uma
relação feliz e positiva com pais, crianças, colegas, professores ou cônjuges.
Uma vez que essas consequências são recompensadoras, as respostas ou comportamentos
de um organismo serão repetidas e fortalecidas.
Em suma, o condicionamento operante e uma relação entre a resposta
(comportamento) e as consequências. O condicionamento operante é também
designado por condicionamento instrumental porque o organismo é instrumental
ou somente responsável por gerar recompensa pela sua actividade ou
comportamento.
Um outro autor psicólogo americano de nome Skinner (1904-1991), colocou um
rato esfomeado numa gaiola, que para obter alimento teria que pisar numa
alavanca que despoletaria alimento. A fome funcionou como estímulo
incondicionado. O rato começou por saltitar cegamente na gaiola durante muito
tempo, tendo, por acaso, pisado na alavanca e obtido alimento. O saltitar
cegamente pela gaiola foi a reacção, o comportamento do animal e o alimento a
recompensa recebida. Estas tentativas cegas verificaram-se várias vezes, tendo
conduzido à obtenção de alimento casualmente.
Ao longo do tempo as tentativas para pisar a alavanca e obter alimento foram
diminuindo, até que a animal passou a dirigir-se directamente a alavanca e
pisá-la. Pode-se dizer que o rato aprendeu que pisar a alavanca conduz à
obtenção dos alimentos. O efeito do “pisar da alavanca” conduziu à aprendizagem
do comportamento de “pisar a alavanca para obter alimentação, sendo o efeito do
pisar a alavanca reforçadora.
O estímulo alimento é, deste modo, um reforço. Assim a aprendizagem
realizou-se através do mecanismo estímulo, reacção e reforço. O animal aprendeu
que tem que agir, operar, neste caso, tem que pisar alavanca para obter
alimento. Daí que, este condicionamento se designe de condicionamento operante.
É através do condicionamento operante que se adestram animais. O rato
acabaria por pisar a alavanca e transpor o obstáculo para obter o alimento.
Deste modo, se podem ensinar comportamentos complexos aos animais vertebrados.
Exemplo:
No circo, o porco corre em fila, salta arco e abana a cabeça em forma de
vénia para cumprimentar os espectadores.
Estímulo |
Resposta |
Reforço |
E |
R1 |
R2 |
Desconhecido |
Pressionar a alavanca |
Comida |
Reforço – estímulo que aumenta a
probabilidade de ocorrer uma determinada resposta.
O estímulo reforçador ou reforço pode ser positivo ou negativo. O reforço
positivo é aquele que traz a satisfação, o bem-estar, é agradável e que
provoca a possibilidade de manifestação do comportamento em condições semelhantes.
O reforço negativo é um estímulo que retira a forca de um comportamento.
Exemplo (1)
O alimento que o rato da experiência de Skinner obtém ao pisar a alavanca é
um reforço positivo. O estímulo reforçador é negativo quando traz insatisfação,
mal-estar, dor física ou psíquica e é desagradável, possibilitando a eliminação
de um comportamento indesejável em condições semelhantes futuras.
Exemplo (2)
O professor que diz ao filho que teve notas negativas em 3 disciplinas nas
Avaliações Contínuas Sistemáticas que não fará festa de aniversário se não
melhorar as notas nessas disciplinas.
Plano de reforço
O processo por meio do qual o comportamento e reforçado e referido como um
plano de reforço.
- Plano de razão fixa – o organismo pode
ser reforçado depois de uma unidade de trabalho ou de uma actividade ter sido
completada. Por ex. o professor pode reforçar os alunos pela observação do seu
trabalho ou avalia-lo quando eles tiverem completado toda a tarefa, em vez de
avalia-los cada vez que eles terminam uma pequena parte da tarefa.
- Plano de
intervalo fixo – este tipo de reforço
é usado depois de ter decorrido um certo período de tempo. Por ex., a professora
pode decidir administrativa um teste por mês de todo o trabalho realizado.
Muitos trabalhadores americanos são pagos semanalmente ou quinzenalmente,
enquanto na maioria dos países africanos são pagos mensalmente. Normalmente, não
se dá muita atenção a quantidade de trabalho realizado durante este período, o
que é importante e que os trabalhadores tenham trabalhado por um determinado período
de tempo.
- Plano de razão
variável – nesta forma de reforço,
pode ser dado um reforço ao organismo numa média de dez respostas, 1:10. O modo
como o organismo é reforçado vária, mas a razão pré-determinada e mantida. Por
ex., um organismo pode ter completado cinco unidades de trabalho no total de um
sub-teste de dez unidades. Para manter a razão de 1:10 terá de ser dado um
reforço ao organismo depois de completar quinze unidades. Quando este tipo de
reforço é implementado, o organismo não consegue facilmente prever quando vai
ser reforçado, o que resulta na taxa de resposta ser elevada em antecipação ao reforço.
- Plano de
intervalo variável – o organismo e
reforçado numa base similar ao reforço de razão variável, excepto que o critério
de reforço é o tempo e não a quantidade de trabalho realizado. O reforço pode
ser dado com uma média de dez horas ou dias ou semanas, mas o intervalo pode
diferir/variar. A razão será a mesma desde que previamente discutida (1:10). O
primeiro reforço pode ser dado depois de o organismo ter sido activo por oito
horas, o que significa que ele recebera o próximo reforço depois de ter trabalhado
12 horas se a razão 1:10 for mantida, e esta forma de reforço também mantém o
organismo em “suspense” e, por conseguinte, mantém uma taxa de resposta
elevada.
1.2. Ensaio-erro/tentativa e erro
Edward L. Thorndike (1874-1949), (pai da Psicologia Educacional) psicólogo
educacional dos Estados Unidos da América, elaborou a teoria de aprendizagem
por ensaio-erro baseada em experiências de colocação de ratos e gatos em
caixas-labirinto.
Para Thorndike, aprender era resolver um problema; a aprendizagem consistia
em estabelecer uma conexão, a nível do sistema nervoso, entre estímulo e reacção,
conseguia após uma serie de tentativas e erros.
Os animais expostos em situação de descoberta de caminho correcto para
chegarem ao ponto onde se encontrava a saída e o alimento, agiram por
tentativas, experimentando êxitos e fracassos até terem sucesso.
Com base em várias experiências, Thorndike enunciou “as suas três leis da
aprendizagem” que giram a volta da ideia de que a aprendizagem anda associada a
um esforço que e recompensado. São elas: a lei do efeito, a lei do exercício ou
frequência e a lei da maturidade específica.
- Lei do
efeito – uma associação é fortalecida ou enfraquecida em virtude
de suas consequências (recompensa e punição);
- Lei do exercício
ou frequência – as associações entre estímulo e
resposta são fortalecidas com a prática ou repetição dessas associações;
“exercitar uma conexão entre um estímulo e uma resposta fortalece-a; não
exercitar tal conexão durante um certo período a enfraquece”;
- Lei da
prontidão (maturidade especifica) - se um
organismo estiver preparado para estabelecer a conexão entre o estímulo e a
reacção, o resultado será agradável e a aprendizagem efectuar-se-á; caso
contrário, o resultado não será agradável e a aprendizagem será inibida.
Com efeito, o que observamos nas experiências da caixa problema de Skinner
foram interpretados por Thorndike como aprendizagem por ensaio-erro, pois o
rato, inicialmente, fez vários movimentos às cegas na gaiola e, por acaso,
pisou a alavanca que despoletou o alimento. Estas tentativas passaram a
diminuir à medida que o animal passou a estabelecer uma relação entre pisar a
alavanca e obtenção de alimento. O animal passou a pisar directamente a
alavanca sempre que tinha fome.
2. Aplicações Pedagógicas das
Teorias Behavioristas
- Definir,
com a maior exactidão possível, os objectivos finais da aprendizagem;
- Analisar a
estrutura das tarefas de modo a determinar os objectivos de percurso;
- Estruturar o
ensino em unidades muito pequenas de forma a permitir um melhor condicionamento
do aluno e conduzi-lo através de experiências positivas de aprendizagem;
- Apresentar
estímulos capazes de suscitar reacções adequadas;
- Evitar as ocasiões
de erro e, no caso de ele vir a ocorrer, ignorá-lo o mais possível ou puni-lo,
de modo a evitar a instalação de hábitos errados;
- Proporcionar
aos alunos conhecimento dos resultados obtidos e retro-alimentação adequada;
- Recompensar,
retirar recompensas ou punir os alunos de acordo com a natureza dos seus
comportamentos e em relação a aprendizagem desejada.
Segundo Rodrigues & Bila (s/a:112), aplicações pedagógicas das teorias
behavioristas, representam os mecanismos de aprendizagem humana. O
condicionamento explica a formação de hábitos, habilidades e qualidades de
comportamento.
Exemplos
Hábitos tais como o de pentear, lavar as mãos antes de comer,
andar com roupa limpa resultam da colocação de exigências dos pais e
encarregados de educação, professores e respectivo reforço através do
elogio quando observados pela criança ou repreensão verbal quando não
observados.
Habilidades como acções automatizadas resultam da repetição e reforço.
Quando a criança aprende a ler e escrever pela primeira vez tem que pronunciar
palavras, descobrir fonemas, letras, escrever no ar, na areia, no quadro e
várias vezes no caderno.
A criança realiza muitas combinações das letras, muitas cópias. Sempre que
erra tem que repetir. A criança aprende qualidades de comportamento, tais como
respeitar os bens alheios, o respeito por outras pessoas, a pontualidade à
medida que sofre a apreciação dos pais, adultos e professores.
Síntese
As teorias behavioristas explicam a formação do comportamento com base no
condicionamento na influência de estímulos específicos que provocam
comportamentos específicos.
Segundo os behavioristas, os comportamentos podem ser formados através da
selecção de determinados estímulos e do reforço.
As teorias behavioristas de aprendizagem explicam a formação de hábitos,
habilidades e qualidades de comportamento.
Bibliografia
DAVIDOFF L.L. Introdução a Psicologia. Pearson Macron Book, Brazil; 2006.
MWAMWENDA, T. S. Psicologia Educacional, Uma Perspectiva Africana. Maputo, Texto Editores, 2005. págs.164-179.
RODRIGUES, A. & BILA, L. V. Módulo de Psicologia de Desenvolvimento e de Aprendizagem. Maputo. Universidade Pedagógica. S/d.
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