A Poesia Nacionalista Moçambicana
A Poesia Nacionalista Moçambicana
As primeiras manifestações da literatura escrita moçambicana
abordam, geralmente, a temática nacionalista motivada pela situação política de
domínio colonial em que o País se encontrava. As primeiras obras, consideradas
parte da literatura moçambicana, mostraram, numa primeira fase, uma abordagem tímida
sobre a realidade que inquietava a sociedade, ficando pela descrição da riqueza
natural, dos ambientes do pais. O protesto aparece na literatura, inicialmente,
de forma ambígua e pouco ousada, mas, mais tarde, com influências da Negritude
e com a eclosão da Luta Armada, tornou-se mais directo, desinibido e inequívoco.
1. A periodização da literatura
moçambicana
A literatura moçambicana divide-se em três grandes
períodos: o período anterior à Luta Armada, o período da Luta Armada e o
período após a Luta Armada.
a) Período anterior luta Armada
(1925-1964)
Este período inicia-se com o aparecimento das primeiras manifestações
literárias que marcam o nascimento da literatura moçambicana, escrita em língua
portuguesa, e prolonga-se até ao começo da Luta Armada. Incorpora duas fases: a
do prelúdio e a do protesto.
Fase do prelúdio ou de emergência
(1925-1947)
Ocorre desde a publicação de O Livro do Dor, dos irmãos
Albasini, até ao fim da Segunda Guerra Mundial.
Nesta fase, alguns assimilados tomaram consciência de que
pertenciam a um grupo étnico diferente do dos colonizadores. E a fase do
despertar face às tendências colonizadoras. A literatura é caracterizada por
uma africanidade indecisa, uma critica débil e fraca, pois notavam-se, nas
obras, influências do estilo e dos hábitos metropolitanos. O carácter
reivindicativo era dominado pelo temor.
Destacam-se: João Albasini e José Albasini, Augusto
Conrado, Caetano Campos e Rui de Noronha.
Fase do protesto (1947-1964)
Inicia-se com uma nova época hist6rica em Africa: o
despertar dos jovens, especificamente os das principais cidades, para a tomada
de uma nova posição – o inconformismo face às políticas coloniais.
Solidificam-se assim as aspirações nacionalistas. Nesta fase foi possível a publicação
de obras de alguns escritores moçambicanos cujos escritos se aliavam à causa
nacionalista, como Orlando Mendes, João da Fonseca Amaral, Noémia de Sousa, João
Dias, Rui Knopfli, Rui Guerra, José Craveirinha, Rui Nogar e Luís Bernardo
Honwana.
Vivia-se um ambiente de tensão. Além de livros, foram
publicados nos jornais textos que tematizavam o protesto relativamente à opressão
e à colonização.
A Negritude foi um movimento negro que consistiu na valorização
das culturas africanas e que, por isso, foi igualmente denominado Renascimento
Negro.
b) Período da Luta Armada
(1964-1975)
É um período de desenvolvimento literário intenso,
caracterizado pela produção de textos de cariz marcadamente político, em que as
palavras de ordem eram o compromisso, a acção e a produção.
Este período apresenta duas fases: a da literatura de
confrontação e a de ruptura.
Fase da literatura de
confrontação (1964-1970)
Esta fase surge com o início da Luta de Libertação Nacional, que impulsionou a prática de uma poesia de protesto, num confronto directo com o sistema colonial. Como consequência dessa confrontação, alguns escritores foram presos pela PIDE.
José Craveirinha, Rui Nogar, Orlando Mendes e Jorge Viegas
säo alguns dos autores que se destacaram.
Fase da literatura de ruptura
(1971-1975)
A literatura desta fase manifesta-se, intensamente, nas áreas
de combate e nas zonas libertadas, em que foi visível o reflexo da FRELIMO. A
literatura teve um carácter anticolonial, anti-imperialista, anti feudal,
revolucionista, em ruptura com a cultura burguesa e com as práticas
tradicionais nacionais.
A poesia dessa época tematiza a resistência e o combate.
Destaca-se, nesta fase, a produção literária dos militantes
da FRELIMO, entre colaboradores e guerrilheiros, como: Marcelino dos Santos,
Sérgio Vieira, Eduardo Mondlane, Jorge Rebelo, Armando Guebuza e outros.
Portanto, as figuras políticas ligadas directamente às Forças
Armadas de Libertação de Moçambique não ficaram alheias å luta sob a forma literária.
Esta arte tinha por objectivo consciencializar o povo moçambicano de que era necessário
lutar contra as injustiças coloniais. Por isso usava um estilo anafórico e enfático
(recorrendo à repetição) e uma linguagem Clara, com o intuito de ser
compreendida por todos.
A produção destes textos culminou nas coletâneas Poesia
de Combate I e Poesia de Combate 2.
c) Período Após a Luta Armada (1975-1992)
É o período da consolidação da literatura moçambicana. A
literatura passa a abranger mais temas, como o amor, o sexo e culturas
diversas, entre outros. Numa primeira fase, o Estado detinha o monopólio das publicações
e, consequentemente, o seu controlo. Mais tarde, houve maior abertura na edição
das obras, a partir de instituições literárias e culturais. É o período marcado
pela obra poética Raiz do Orvalho (1983) e Vozes Anoitecidas (1986), de Mia
Couto, e sobretudo por uma literatura de ficção de autores mais novos, como
Ungulani Ba Ka Khosa, Helder Muteia, Pedro Chissano, JuvenaI Bucuane e Paulina
Chiziane, entre outros.
A publicação de Terra Sonâmbula (1992), de Mia
Couto, coincide com a abertura do regime político em Mozambique ao
multipartidarismo e marca um encerramento provisório deste período.
Bibliografia
MACIE, Filipe Virgílio. Pré-universitário – Português 11ª Classe. 1ª Edição. Longman Moçambique, Maputo, 2009.
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