Aspectos Psicológicos da Avaliação

Aspectos Psicológicos da Avaliação

A actividade do professor é constitda por três momentos essenciais: a planificão das aulas, a execão das aulas e a avalião das aulas. Até aqui preocupámo-nos com aspectos psicológicos relacionados com o conceito de aprendizagem, teorias de aprendizagem, objectivos educacionais, aspectos psicológicos do processo de ensino-aprendizagem tais como a motivação, o pensamento na aprendizagem, a memória na aprendizagem. É chegado o momento de estudar os aspectos psicológicos da avaliação de modo a que seja capaz de medir até que ponto terá alcançado os objectivos educacionais formulados em cada aula.

1. Avaliação

A avaliação escolar é definida por Libânio (1994: 196) como sendo uma apreciação qualitativa do desempenho dos alunos no processo de ensino-aprendizagem.

O desempenho dos alunos no processo de ensino-aprendizagem diz respeito ao alcance dos resultados esperados nos domínios cognitivos, afectivos e psicomotores esperados no programa de uma disciplina e capítulo e aula.

A determinação dos resultados esperados implica a consideração óbvia dos objectivos de cada programa de disciplina, capítulo e aula. No fim de um programa de disciplina, capítulo e aula espera-se alcançar um determinado comportamento nos domínios cognitivo, afectivo e psicomotor, usando determinados meios e com um certo padrão de medida.

A partir dos objectivos de cada programa de disciplina, capítulo e aula o professor selecciona os conteúdos a serem avaliados, o que se reflecte na elaborão dos tipos de questões ou tarefas ou actividades a colocar aos alunos.

A avaliação permite deste modo que o professor possa verificar os seguintes aspectos:

  • O nível de alcance do comportamento esperado nos domínios cognitivo, afectivo e psicomotor;
  • O nível de desenvolvimento cognitivo, afectivo e psicomotor dos alunos, seus progressos e dificuldades;
  • A adequação dos conteúdos, dos métodos e dos meios e das formas de avaliação utilizados.

Deste modo a avaliação cumpre as funções de diagstico e didáctico-pedagógica.

A avaliação pode ser diagnóstica, formativa e somativa.

  • A    avaliação diagnóstica     visa    medir o        estado          actual           de desenvolvimento do aluno nos domínios cognitivo, afectivo e psicomotor numa determinada disciplina, capítulo ou aula. Frequentemente, os professores iniciam a leccionação de uma disciplina numa classe aplicando um teste para medirem o nível de conhecimentos, habilidades e aptidões.

Este teste inicial designa-se de teste diagnóstico e serve de ponto de partida para o professor planificar um programa e actividades de superação de lacunas dos alunos com dificuldades, de actualização dos alunos de forma a compreenderem os novos conteúdos, considerando deste modo as particularidades individuais dos alunos.

Segundo Abrecht (1994:93) a noção de avaliação formativa deve- se a Landsheere e Landsheere que a definem nos seguintes modos:

A avaliação formativa deve criar uma situação de progresso e reconhecer onde e em que é que o aluno tem dificuldades e ajudá-lo a superá-las. Esta avaliação não se traduz em níveis e, muito menos em classificações numéricas. Trata-se de uma informação em feedback para aluno e professor (Abrecht, 1994: 91).

  • A avaliação formativa visa, por uma lado, verificar o nível de alcance parcial e final dos resultados esperados nos domínios cognitivo, afectivo e psicomotor no processo de uma aula ou conjunto de aulas.

Esta avaliação permite que o professor estimule o aluno a corrigir-se quando apresenta dificuldades, por exemplo, colocando perguntas, aconselhando, dando pistas ou dando tarefas adicionais aos alunos para que alcancem os resultados esperados. Depois de tratar um certo conteúdo, o professor pode colocar os alunos a resolverem os exercícios de uma ficha de trabalho.

O professor poderá percorrer a sala, observando o decurso da realização dos exercícios e, para os alunos que realizarem correctamente os exercícios, colocar certo nos seus cadernos, no caso de terem terminado, dar-lhes uma ficha adicional.

Para os   alunos com os   exercícios errados, solicitá-los a debruçarem-se sobre o exercício e os conduza a verificarem os passos em que cada um terá errado e que por si continue até a resolução correcta e, consequentemente, o professor estimule simbolizando a resposta como certa.

Como se pode ver a avaliação formativa visa partir do nível actual de conhecimentos, habilidades aptidões para, através da individualização do ensino-aprendizagem, levar o aluno ao alcance dos resultados esperados nos domínios cognitivo, afectivo e psicomotor.

  • Segundo Bruner e Zeltner (1994), a avaliação somativa refere-se ao julgamento geral, após conclusão de um projecto.

Aplicada ao contexto escolar, a avaliação somativa designa a apreciação do desempenho do aluno no fim de capítulos (ou) programas de ensino de uma disciplina. Como se pode ver, a avaliação somativa visa classificar os alunos.

1.1. Elaboração de Questões dos Testes

Os testes só podem ser elaborados correctamente se, em primeiro lugar, forem tomadas em consideração os aspectos relativos à formulação das questões. Tal formulação exige a consideração de aspectos relativos ao nível de exigências e à sua redaão.

Quanto ao nível de exigências há que se considerar os níveis do domínio cognitivo, da taxionomia de Bloom. As questões dos testes podem possuir níveis de exigências do domínio cognitivo que ainda deve recordar, nomeadamente, o de conhecimentos essenciais, compreensão, análise e síntese, aplicão e avaliação.

O nível de exigências de conhecimentos essenciais corresponde a reprodução de informações aprendidas e fixadas anteriormente. As perguntas aparecem sob a seguinte forma:

  • Diga o nome, os factos, o número, a data, o local;
  • O que é?
  • Defina, diga o conceito de.

O nível de exigências de compreensão designa a apresentação de conteúdos aprendidos anteriormente sob a forma de seus significados ou explicando com suas próprias palavras.

As perguntas do nível de compreensão aparecem sob a seguinte forma:

  • Diga o sinónimo de;
  • Diga com suas próprias palavras o que leu.

O nível de exigências de análise e síntese diz respeito ao relacionamento dos conhecimentos, através da decomposição dos conteúdos, descoberta de suas características comuns e mais essenciais e sua respectiva classificação. As questões do nível de análise e síntese apresentam a seguinte forma:

  • Caracterize, compare, diferencie, indique as características, analise, sintetize.....

Como se pode ver através dos exemplos, as questões apresentam níveis diferentes de exigências, constituindo uma hierarquia em que, as exincias mais elevadas são as de análise e síntese e aplicão e, as inferiores estão orientadas para conhecimentos essenciais e compreensão.

Assim, na elaboração das questões dos testes, o professor deve colocar perguntas que abranjam os níveis de exigências do domínio cognitivo de acordo com os objectivos colocados.

As questões dos testes podem orientar-se ao domínio afectivo, isto é, à medição de atitudes, sentimentos. As questões orientadas ao domínio afectivo podem apresentar a seguinte forma:

  • O que é que acha sobre a convincia de pessoas portadoras de HIV/SIDA com as não portadoras?
  • Que opinião tem sobre o recurso às queimadas para limpar os terrenos para a agricultura?

As questões dos testes podem orientar-se ao domínio psicomotor, a aspectos relacionados com a coordenação sensório-motriz, movimento dos músculos.

O professor de Língua Portuguesa pede para o aluno ler um texto na aula de Leitura e Interpretação e verifica como é que o aluno pronuncia as palavras, a velocidade na leitura, a entoação.

1.1.1. Tipo de Questões quanto à Redacção

As questões dos testes podem ser objectivas e subjectivas.

As questões objectivas são perguntas que exigem respostas exactas, inequívocas, limitando a liberdade de resposta do aluno.

Estas perguntas classificam-se em: perguntas de escolha múltipla, questões alternativas, questões de emparelhamento, preenchimento de espaços vazios, ordenação e legendagem.

Segundo Abrecht (1994: 97-98) as perguntas de escolha múltipla apresentam enunciados e várias respostas possíveis para o aluno identificar a resposta ou as respostas certas, podendo apresentar as seguintes           variantes: identificação da única           resposta certa, identificação da melhor resposta, descoberta da única resposta falsa, descoberta   de todas as respostas   certas, descoberta   da resposta que fornece a ordem exacta de uma série de respostas.

As queses alternativas apresentam duas respostas das quais o aluno tem que escolher uma. Elas apresentam as seguintes variantes. Perguntas de verdadeiro/falso, perguntas de ou/ou.

Abrecht (1994: 98) define questões de emparelhamento do seguinte modo: São dadas duas listas de itens ao aluno, que deve associar cada elemento do conjunto da esquerda a um elemento da lista da direita.

Esta associação pode ser simples ou múltipla. É simples quando a associação é de um elemento para um único outro elemento e múltipla quando a associação se realiza de um elemento para mais que um elemento.

As questões de preenchimento de espaços vazios consistem em frases que possuem espaços a serem completados colocando a palavra, a expressão, a cifra ou a data exacta.

As questões de ordenação consistem no seguinte procedimento: Apresenta-se ao aluno uma série de enunciados ou frases numa ordem ao acaso, e pede-se-lhe que as ordene de acordo com um esquema específico (Abrecht, 1994: 98).

As questões de legendagem exigem que o aluno preencha os nomes de elementos de esboços apresentados.

1.2. Classificação dos Testes

Os testes podem classificar-se quanto à redaão de questões e à periodicidade. Quanto à redacção de questões os testes classificam-se em objectivos   e   subjectivos   e   quanto   à   periodicidade classificam-se em diagnósticos, permanentes, periódicos e finais.

Os testes objectivos apresentam perguntas objectivas, questões fechadas que exigem respostas únicas, exactas enquanto que os testes subjectivos apresentam perguntas subjectivas, abertas que dão uma certa liberdade de resposta aos alunos.

A opção pelos testes objectivos ou subjectivos depende do objectivo a ser alcançado pelo professor e pelas características do conteúdo da disciplina. Uma combinação de questões objectivas e subjectivas é importante sempre que possível.

Os testes diagnósticos realizam-se no início de uma disciplina visando a medição do nível do aluno nos domínios cognitivo, afectivo e psicomotor, a fim de se partir do nível actual do aluno e criar condições básicas para que todos os alunos estejam em condições de aprender o novo conteúdo sem lacunas. Os testes diagnósticos também se designam de testes iniciais.

Os testes permanentes realizam-se diariamente para medirem o progresso do aluno, suas dificuldades, de modo a levar o professor a elevar o nível do aluno. Estes testes apresentam-se sob a forma de Chamadas Orais e/ou Escritas, Exercícios de consolidação diários, perguntas dirigidas aos alunos nas aulas.

Os testes periódicos realizam-se no fim de tempo determinado pela escola, grupo de disciplina para medir o grau de alcance de objectivos de ensino-aprendizagem de capítulos leccionados com o fim de classificar os alunos e também tomar medidas para melhoramento do rendimento escolar dos alunos, bem como de práticas de ensino e aprendizagem.

Os testes finais têm lugar no fim de um trimestre, semestre e ano, assumindo a forma de testes finais e exame, abarcando conteúdos de um trimestre, semestre e ano com o fim de classificar o rendimento dos alunos.

Bibliografia

ABRECHT, R. Avaliação Formativa. 1ª Edição. Rio Tinto, Edições ASA, 1994, págs. 31-38.

HAYDT, R. C. Avaliação do Processo Ensino-Aprendizagem. 6ª ed. São Paulo, Editora Ática, 2002.

LIBÂNEO, J. C. Didáctica. São Paulo. Editora Cortez, 1994, págs. 185-220.

MWAMWENDA, T. S. Psicologia Educacional, Uma Perspectiva Africana. Maputo, Texto Editores, 2005.

RODRIGUES, A. & BILA, L. V. Módulo de Psicologia de Desenvolvimento e de Aprendizagem. Maputo. Universidade Pedagógica. S/d.


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