Desenvolvimento humano (Psicologia evolutiva e de desenvolvimento)

1. Desenvolvimento humano

No decorrer da vida do indivíduo ocorrem modificações tanto no plano físico, psicológico, ou emocional. A criança que nasceu com um peso de setecentas gramas rapidamente se devolve adquirindo um peso maior. Os seus membros crescem com uma certa velocidade. Passados alguns anos caminha por si sem precisar de ajuda dos mais velhos. Dizemos então que houve um crescimento físico que se caracterizou por um aumento da massa do corpo. Por outro lado, esta mesma criança que nascera sem pelo menos saber pronunciar certas palavras aos três anos ou mesmo antes disso, ela já fala com uma certa fluência, lê imagens, identifica conceitos e até escreve certos rabiscos sobre uma folha de papel.

O que ocorreu?

Dizemos pois que houve desenvolvimento. Que a criança cresceu, se desenvolveu. A mesma criança que ao nascer só sabia chorar passado algum tempo pode dizer com palavras o que gosta e o que não gosta, o que quer ser quando adulto, de quem mais gosta etc. Os exemplos citados aqui mostram que o indivíduo antes de ser adulto passa por muitas fases de transformações quer no plano físico (andar, corre, aumento do peso), no plano psíquico (descreve as características do objecto, desenvolve a noção de conceitos) como no plano emocional (manifesta os seus interesses íntimos). O desenvolvimento é, pois a sequência das modificações quer no plano físico, psicológico ou emocional que ocorrem dentro de um indivíduo desde o seu nascimento até a morte. Esta definição deixa antever porem que o desenvolvimento humano não termina quando o indíviduo atinge a fase adulta. Ele prolonga-se até a morte. A pergunta que se colocaria neste caso seria: será a morte uma das fases de desenvolvimento? Se considerarmos que o percurso deste indivíduo teve um principio esperamos que tenha portanto um fim, o desaparecimento do indivíduo.

O desenvolvimento psicológico engloba as alterações comportamentais do indivíduo enquanto que o físico tem a ver com as mudanças biológicas decorrentes do envelhecimento. No entanto é necessário distinguir o crescimento do desenvolvimento. O crescimento são alterações quantitativas quer ocorrem tanto no plano físico psicológico ou emocional do indivíduo enquanto que o desenvolvimento refere-se as mudanças de ordem qualitativa. O bebé que outrora não se movia, agora consegue agarrar objectos, dominar a gramática gradualmente, o jovem que pensa no que vai ser no futuro. Referimo-nos a este aspecto como sendo desenvolvimento. Mas imagine que aos três anos a criança calçava um determinado número de calçado, agora calça um número maior, dizemos que o seu pé cresceu. Contudo o crescimento acompanha sempre o desenvolvimento e vice-versa.

Desenvolvimento no período pré-natal

Ao contrário do que muita gente pensa, o desenvolvimento não inicia com o nascimento do bebé. O nascimento constitui uma das fases do desenvolvimento da criança. O desenvolvimento pré-natal começa pois logo no período em que a mãe concebe até ao nascimento do bebé. Quer dizer, podemos considerar a entrada do espermatozóide no óvulo da mulher (formação do zigoto) como o início do desenvolvimento do indivíduo. A partir desta célula todas as outras células começam a desenvolver-se. Cada uma dessas células transportam consigo os cromossomas no seu núcleo e que contem mensagens dos progenitores.

Cada cromossoma é constituído por muitos genes. Os genes contem toda a informação hereditária que depois se transmite ao indivíduo e que depois se revela ao longo da sua vida. O período de desenvolvimento prénatal estende-se por um período de nove meses e ocorre a uma velocidade grande.

No desenvolvimento pré-natal observam-se três estágios fundamentais designados por estágio germinal, estágio embrionário e estágio fetal.

O estágio germinal tem início nas primeiras duas semanas depois da mulher conceber. Neste período, há portanto a formação do zigoto que ocorre através da fertilização. Trinta e seis horas depois o zigoto subdivide-se em células permitindo a que este se transforme numa massa de células muito pequenas visíveis ao microscópio e que se multiplicam entre si. Este grupo de células, desloca-se depois para a cavidade uterina através da Trompa de Falópio onde sete dias depois esta massa celular se fixa nas paredes do útero da mãe. Durante este percurso que demora sete dias muitos zigotos podem ser rejeitados. Na altura em que há esta fixação nas paredes uterinas do grupo de células se forma a planceta que é uma estrutura a partir da qual o oxigênio e os nutrientes da corrente sanguínea passam da mãe para o feto e o dejetos corporais do feto passam para a mãe. Este momento de formação do feto é extremamente crucial.

O estágio embrionário começa de duas semanas após o estágio germinal e termina dois meses depois. Neste período observa-se a formação da maioria dos órgãos vitais do bebé o que passa a chamar-se de embrião. É pois nesta fase que os órgãos tais como o coração, a coluna vertebral e o cérebro se formam gradualmente. Neste período o embrião começa a ter o formato humano com o a formação dos principais membros (braços, pernas, mãos, dedos e pés) e órgãos do sistema visual e auditivo tais como olhos e orelhas. O período embrionário é um período muito sensível devido ao facto de que é nele onde se começa a formam os órgãos vitais do indivíduo. Qualquer interferência anormal neste período pode ter um efeito devastador para o indivíduo. Grande parte de abortos e deficiências estruturais que se relacionam com o nascimento ocorre no período embrionário. Repara na figura as fases do desenvolvimento do embrião.

O estágio fetal começa dos dois meses até ao nascimento do bebé. Neste período observa-se um rápido crescimento nos dois primeiros meses que ocorre com o início da formação dos músculos e ossos. Neste período de desenvolvimento o feto é capaz de emitir movimentos físicos que advém do fortalecimento das estruturas esqueléticas. Os órgãos tais como o coração, Cérbero e outros desenvolvem-se com rapidez e começam gradualmente a funcionar. Há também neste período o início do desenvolvimento dos órgãos sexuais que começa ao terceiro mês. Nos últimos três meses observa-se a multiplicação acelerada das células cerebrais, o amadurecimento do sistema respiratório e do digestivo preparando o bebé para enfrentar as duras condições do meio ambiente externo. Entre 22 e 26 semanas atinge-se aquilo que é conhecido por idade da viabilidade. Nesta idade o bebé poderá sobreviver no caso de ela nascer prematuramente.

Qual é a influência dos factores ambientais sobre o desenvolvimento pré-natal?

Os factores ambientais podem ter um grande efeito negativo no desenvolvimento do bebé durante a fase pré-natal apesar do aconchego de protecção proporcionado pela mãe no interior do útero. Como vimos anteriormente as estruturas físicas do bebé se formam no período prénatal e é neste período que várias dessas estruturas são vulneráveis a danos. A mãe, precisa de observar todos os cuidados nutritivos para que não ponha em risco o bebé e possa evitar nascimentos prematuros ou nados mortos. As drogas tais como o tabaco, o álcool e outras podem ter efeitos devastadores na saúde do bebé e provocar neste o síndroma e morte súbita. Os problemas que advêm do consumo do álcool podem provocar directamente no bebé microcefalia (cabeça pequena), irritabilidade, hiperactividade, deficiências cardíacas, retardamento no desenvolvimento motor, etc. Portanto, há todo uma série de cuidados que a mulher deve observar quando estiver no estado de gravidez para não prejudicar o desenvolvimento do feto. Alguns desses cuidados consistem em acatar as orientações dos profissionais de saúde, procurar serviços médicos de boa qualidade no início da gravidez. Mas sabe-se que devido a pobreza nem sempre é possível usufruir de tais condições.

O Desenvolvimento motor da criança

Depois do nascimento a criança está sujeito a vários estímulos da natureza dos quais deve responder com as suas habilidades motoras. O desenvolvimento motor tem a ver com a forma progressiva da coordenação muscular que se exige para uma actividade física. Nas actividades motoras básicas a criança agarra, manipula e lança objectos.

Realiza movimentos de sentar, de gatinham de correr e de andar. Segundo Piaget citado por Weiten (2002) este constitui o primeiro estagio de desenvolvimento da criança o desenvolvimento sensório motor. Neste período as crianças aprendem a coordenar as suas acções motoras em consonância com as influências sensoriais.

O desenvolvimento da criança nesta fase tende a partir da cabeça para os pés  (desenvolvimento cefalocaudal- direcção da cabeça para os pés). Há uma tendência da criança de controlar mais a parte superior do seu corpo do que a parte inferior. Se observar atentamente poderá notar que o bebé durante a fase do seu desenvolvimento controla mais a sua cabeça e braços mais do que os pés. O bebé pode virar a cabeça, agarrar o lençol com as mãos e puxa-lo para a boca.

Para que o bebé possa se impulsionar transfere gradativamente o uso dos braços para as pernas ganhando um certo controlo dos movimentos que parte do dorso para as extremidades. Esta fase de desenvolvimento é designado de tendência próximo-distal que é uma tendência do desenvolvimento motor que se orienta do centro para as extremidades.

O desenvolvimento motor do bebé depende do crescimento físico deste que em geral é muito rápido. Estudos feitos mostram que o bebé pode um dia apenas depois de um período estacionário de 60 dias crescer meia polegada.

Os progressos no campo motor do bebé atribuem-se a maturação dos órgãos motores (músculos, ossos, tendões). Compreende-se por maturação o desenvolvimento que reflecte o desdobramento do esquema genético de uma pessoa (Weiten, 2002). São mudanças físicas que são geneticamente programadas e que depende da idade. Por exemplo uma criança de um ano não pode correr porque do ponto de vista físico ainda não ocorreram mudanças capazes de proporcionar esta habilidade.

A maturação é um processo oposto a aprendizagem e à experiência.   Em geral durante a fase do desenvolvimento motor os pais prestam muita atenção aos seus filhos. Ajudam-lhes a caminhar e a executar certos exercícios que até certo modo são difíceis para as crianças. Em certa medida alguns pais podem ficar preocupados quando uma criança não executa determinados movimentos. Na realidade existe aquilo que se chama normas de desenvolvimento. Durante o processo do desenvolvimento existe em médios períodos considerados médios a partir dos quais uma determinada habilidade motora ou psicológica pode se observar. Contudo, por qualquer razão esta mesma habilidade pode se manifestar mais tarde sem contudo significar que a criança sofra de deficiência. É preciso entender que as normas referem-se apenas à média.

Desenvolvimento emocional

A ligação das mães com os seus bebés começa logo desde o início contudo nos primeiros momentos da vida esta ligação não se pode considerar tão estreita. A razão disso é o facto de a criança poder estabelecer outros laços com outras pessoas. É comum verificar-se que a criança pode passar de mão em mão sem se quer chorar por sua mãe. Outras ao primeiro toque gritam imediatamente pedindo socorro da mãe.

A preferência pela mãe só começa a acontecer aos seis ou sete meses de idade. Este vínculo designado por ansiedade de separação atinge o seu pico dos 14 aos 18 meses. A partir dos dezoito meses começa a diminuir.

Estudos feitos mostram que os bebes que não recebem cuidados da mãe por mais de 20 horas há um risco de se desenvolver vínculos inseguros com a mãe.

O que torna fascinante o estudo do desenvolvimento de qualquer coisa que seja e principalmente dos seres humanos é o facto de dizer respeito às nossas vidas, de você, de mim e de todos nós. Este interesse baseia-se na velha intuição acerca da compreensão individual e da auto-descoberta: se conseguirmos descobrir as nossas raízes e a história das mudanças que nos transformaram no que somos hoje poderemos compreender-nos melhor. Se conseguirmos combinar a perspectiva do nosso presente estaremos mais aptos a antecipar o futuro e a prepará-lo de acordo com os nossos objectivos.

O desenvolvimento moral

Vários psicólogos tentaram investigar o desenvolvimento moral da criança dentre os quais o próprio Piaget que afirmou que o desenvolvimento moral encontra-se ligado ao desenvolvimento cognitivo.

Mas foi Kolberg que mais se interessou em descrever o desenvolvimento moral da criança tendo afirmado que os indivíduos durante o seu desenvolvimento atravessam três níveis sequenciais de desenvolvimento moral que se subdividem em sub-níveis totalizando seis estágios de desenvolvimento. O nível Pré-Convencional que inclui dois estágios nomeadamente o de orientação à punição e o de orientação à recompensa ingénua; o Nível Convenciona que inclui os estágios de orientação bom menino/boa menina e, o de orientação da autoridade; e o nível Pós-Convencional que inclui os estágios de orientação do contrato social e o de orientação à consciência e princípios individuais.

No nível pré-convencional as crianças mais jovens pensam em termos de autoridade vinda do exterior de si mesmo. Eles vêm os actos errados como sendo errados porque são punidos e os actos correctos porque não o são, são portanto recompensados. Na fase mais adulta do desenvolvimento da criança, no nível convencional, as crianças considera as regras com um aspecto importante e necessário para manter a ordem social e aceitam-nas como fazendo parte de si mesmo enquanto que no estagio pós-convencional há menos rigidez das normas ou regras de conduta. As crianças tem a consciência de que alguém pode não agir em conformidade com as regras se estas entrarem em conflito com os seus desejos. A seguir apresentamos um quadro resumido da erronia dos estágios de Kolberg.

O desenvolvimento na Adolescência

A adolescência representa uma fase muito difícil de desenvolvimento. É nesta fase que se operam as transformações mais substanciais de desenvolvimento no plano físico, psicológico e de personalidade da criança. No plano psicológico as crises decorrentes desta fase explicamse pela extrema ansiedade da criança em se tornar adulto. No plano físico são determinadas pelas mudanças no crescimento geral dos órgãos e no aparecimento de certos fenómenos tais como a menstruação nas raparigas. Do ponto de vista da personalidade cresce a consciência do indivíduo.

Se reparar atentamente nos teus alunos sobretudo os da sexta e sétima classes e compara-los com os da quarta e quinta notará provavelmente uma diferença acentuada neles quer do ponto de vista de formas de pensamento como de crescimento físico. Por volta dos 11 nas meninas e 13 nos rapazes verificam-se mudanças hormonais que levam a maturidade física e sexual das crianças. Existe um aumento em peso e altura das crianças e o desenvolvimento de características sexuais secundarias. Nos rapazes há aumento da voz e apercebimento de pêlos faciais, crescimento do esqueleto, ombros mais largos, e aumento da massa muscular. Nas raparigas existe o aparecimento dos seios e alargamento da bacia (ossos pélvicos). Apesar deste desenvolvimento não se pode dizer ainda que as crianças estão sexualmente maduras mas sim abre o caminho para criação de condições para a maturação sexual. Esta fase é conhecida por fase da puberdade fase que marca o início da adolescência. Nos rapazes o desenvolvimento das características sexuais inclui o pénis e os testículos e as estruturas internas relacionadas com o aparelho reprodutor. Nas raparigas a puberdade inclui a menarca (a primeira menstruação). O desenvolvimento das características sexuais varia. Em alguns países a menarca aparece aos 12 anos enquanto que em outros aos 11 anos.

O desenvolvimento da personalidade na adolescência

O conceito de personalidade é pormenorizadamente discutido no capitulo V. Aqui apenas nos referiremos a alguns aspectos que marcam o desenvolvimento do adolescente.

Segundo Erikson citado por Weiten (2002) o desenvolvimento da personalidade na adolescência é caracterizada por uma crise por uma crise psicossocial que cria como resultado a confusão e a identidade. O adolescente luta permanentemente para formar uma identidade. Esta luta envolve a criação de auto-conceito estável. A luta pela identidade alicerça no facto de que as mudanças físicas que ocorrem durante esta fase estimulam significativamente o pensamento sobre a auto-imagem. Se verificar com atenção notará que mesmo a forma de vestir dos adolescentes muda. Frequentemente são assolados pela moda no vestuário e mesmo na linguagem. A seguir apresentamos um quadro resumo do desenvolvimento da personalidade nas diversas idades acordo com Erikson.

Idade

Estádio de desenvolvimento

Resolução bem sucedida

0 – 1,5

Confiança/desconfiança

Estabelecimento de relações de confiança.

1,5 – 3

Autonomia/insegurança,

Vergonha

Desenvolvimento de condutas autónomas (fazer sozinho).

3 – 6

Iniciativa/culpa

Tomada de iniciativa na organização das actividades.

6 – 12

Diligência/inferioridade

Tornar-se competente no seu meio social ou escolar.

12 – 20

Identidade/difusão de

identidade

Formação de uma indemnidade pessoal bem integrada.

20 – 35

Intimidade/isolamento

Desenvolvimento de relações de verdadeira intimidade.

35 – 65

Criatividade/estagnação

Ser um membro activo da sociedade (educação dos filhos)

65 –morte

Integridade/desespero

Sentimento de realização face ao passado, serenidade face ao futuro.

 

Referências bibliográficas

ALÍPIO, Jaime da Costa; VALE, Manuel Magiricão. Psicologia Geral. EaD – Universidade Pedagógica, Maputo: S/d.

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