Memória: Conceito, medidas e perturbações da Memória
Memória
De certeza que a
palavra memória lhe é muito familiar. Ouve-se falar de memória também
quando se trata de computadores. Este computador tem fraca memória. Esta
expressão quer referir exactamente a quantidade de informação armazenada nos
circuitos do próprio computador e que possa ser solicitada a qualquer momento.
Por memória
entende-se a capacidade do indivíduo reter e conservar a experiência anterior
(informação) e manifesta-la através de hábitos ou lembranças. Na memorização da
informação ocorrem três aspectos fundamentais:
- A codificação
- O armazenamento e
- A recuperação
A codificação
representa o momento inicial em que a informação é preparada para ser
armazenada. Este processo depende muito da experiência do indivíduo. Veja por
exemplo um indivíduo que quer escrever alguma informação, texto no computador.
Ele primeiro abre o programa em que ele precisa guardar a sua informação (Word,
Excel, etc.). Escolhe os caracteres (tamanho, fonte) quer dizer faz todo um trabalho
de edição da informação ou texto, escolhe o nome do documento e a pasta em que
ele deve ser guardado. Repara que o indivíduo escolhe o nome, sinal, ou rotulo
que melhor acha para identificar o documento.
Quer dizer, no
processo de codificação o material é representado de uma forma a que o sistema
de armazenamento pode lidar com ele. Em sua casa por exemplo como guarda as
suas coisas? Como as codifica? Se você lê um texto por exemplo a informação
lida pode ser codificada como desenho, como palavras ou ideias significativas.
Só depois disso é armazenada. Esse armazenamento ocorre, às vezes, sem muito
esforço consciente e permanece durante um determinado tempo.
Como decorre o armazenamento da informação?
Estudos mais
recentes indicam que existem vários modelos de memória. Um dos modelos é do
Atkinson-Shiffrin. Este modelo descreve o processo de armazenamento da
informação num indivíduo. Segundo este modelo a informação chega ao indivíduo
através dos órgãos sensórios (audição, visão, e outros) e é retida momentaneamente
por um sistema designado de memória sensorial.
A memória
sensorial é a que se presta aos nossos órgãos dos sentidos.
Um exercício que
envolva os órgãos dos sentidos resulta sempre numa impressão sensorial. Nós
podemos memorizar sons, imagens, cheiros, paladares e impressões tácteis graças
a este tipo de memória. De entre as diferentes características de memória
sensorial (memória visual ou icônica, a olfactiva, etc.) a auditiva é que
permite uma recordação mais precisa e imediata. Por exemplo numa aula de inglês
o aluno pronuncia mal uma palavra. O professor corrige-o de imediato e assim o
aluno pode ter uma representação fiel da palavra.
A informação
guardada neste sistema pode desaparecer rapidamente se ela não for transferida
para um outro sistema de armazenamento designado de memória a curto prazo.
As pessoas podem
recordar-se das palavras mais recentes ditas por uma outra pessoa ou por elas
mesmas mesmo que tenham prestado uma ligeira atenção. Entretanto em quase todos
os casos elas não são capazes de recordar-se das mesmas palavras um ou dois
minutos mais tarde. Na memória a curto prazo indivíduo precisa de dar
significado à informação que recebe. Se por exemplo estiver a escutar um conto
através de um amigo você começa por dar significado as palavras que você escuta
transformando-os em códigos significativos. É a partir desta codificação que as
informações são guardadas neste sistema de armazenamento.
De acordo com os
especialistas o sistema de memória a curto prazo retém todas as experiências,
pensamentos e informações que um indivíduo está recebendo no momento e é por
isso considerado o centro da consciência.
Em geral, o sistema
de memória a curto prazo armazena uma quantidade limitada de material (mais ou
menos por quinze segundos). Este material pode mais tarde ser fortificado
através da repetição.
Estudos realizados
concluíram que as pessoas dificilmente retêm mais do que sete conjuntos
(agrupamento) de qualquer coisa. Na maior parte dos casos o sujeito só se
lembra de apenas de entre dois a cinco itens. No caso de números de telefones
as pessoas agrupam-nos em códigos ou reduzem os números grandes em itens de
baixa informação (códigos palavras, etc.).
Dificilmente a
informação da memória a curto prazo pode ser prontamente recuperada decorridos
quinze a vinte segundos a não ser que tenha sido repetida e depositada na
memória a longo prazo. É portanto necessário pensar que na sua aula os alunos
devem ter um momento de repetição para que possam reter a informação Um
terceiro sistema de deposito é o de memória a longo prazo. É um sistema mais ou
menos permanente de memória. O armazenamento da informação neste sistema
consegue-se através de um processamento profundo da informação usando
estratégias de repetição elaborativa tais como prestar muita atenção às
informações que recebe, pensar sobre o significado e relacionar os dados.
O sistema de memória
a longo prazo permite-nos recordar grande quantidade de informação por um certo
período de tempo (dias, horas, semanas, anos e, em certos casos para sempre:
nomes, canções, gostos, etc. Este sistema é considerado pelos psicólogos como
sendo ilimitado em sua capacidade de armazenamento. Contudo a idade pode ser um
dos factores iniciadores de memória a longo prazo.
No sistema de
memória a longo prazo ocorre o processo de esquecimento. Os responsáveis pelo
esquecimento na memória a longo prazo podem ser as falhas de codificação
(acontece quando o material é representado duma forma inexacta) armazenamento
e/ou recuperação. As falhas de armazenamento podem ser explicadas pelo facto de
que a memória compara-se com um jornal que com o tempo vai se deteriorando,
perdendo a cor, as letras etc. Quanto a falhas de recuperação pode ficar a
dever-se a derrames cerebrais podem provocar um esquecimento rápido das coisas.
A memória a longo
prazo pode no entanto ser aperfeiçoada através da leitura e repetição ou
evitando sobrecarrega-la com factos sem ter inicialmente os organizado.
Medidas da memória
Existem duas medidas
fundamentais da memória: a recordação e o reconhecimento.
Recordação
A Recordação é portanto a capacidade de um indivíduo
lembrar-se da informação desejada quando intimado por um material associado
denominado sinal, sondagem, indicador, ou instigação.
Para testar se um
indivíduo é ou não capaz de se recordar sobre o que já viu ou ouviu num
determinado lugar basta apenas fazer-lhe as seguintes perguntas:
- Quem realizou a primeira investigação sobre a memória? Quando é que isso ocorreu?
Estas perguntas
testam a capacidade de recordação do indivíduo.
Existem vários tipos
de exercícios de recordação alguns dos quais são: exercícios de recordação
seriada e exercícios de recordação não seriada.
Os exercícios de
recordação seriada consistem em lembrar a informação de uma forma ordenada.
Neste sentido o indivíduo vai relatando parcialmente o que ouviu ou que viu.
Esta estratégia diminui a possibilidade de esquecimento durante a recordação.
O sistema de reconhecimento não seriado consiste em lembrar a informação sem qualquer ordem.
Reconhecimento
O reconhecimento
consiste na capacidade do indivíduo comparar a informação dada com a que esta
armazenada na memória para ver se combinam. A capacidade de reconhecer uma
informação é feita através de perguntas de verdadeiro ou falso:
Ex.: o Homem
descobriu o fogo. Verdadeiro ou falso?
O reconhecimento e a
recordação podem comparar-se entre si. O desempenho é melhor no reconhecimento
do que na recordação mesmo quando se faz palpites ao acaso Em circunstancias
especiais a reconhecer do que recordar porque para recordarmo-nos correctamente
sobre um material dado precisamos de informações completas enquanto que para
reconhecimento precisamos apenas de informações parciais. A recordação implica
o uso de duas estratégias fundamentais:
- a) localização na memória da informação desejada. Neste sentido, o indivíduo deve procurar a informação que se deseja recordar e
- b) reconhecimento da informação. Após a localização o material pode ser reconhecido.
Perturbações da memória
Já falamos dos
diversos aspectos relativos a memória, as suas características e tipos.
Contudo, existem outros aspectos que podem fazer com que o processo de
memorização não decorra normalmente. Isso acontece geralmente quando há
anomalias de funcionamento desta.
A memória como
qualquer outro processo cognitivo está sujeita a algumas perturbações no seu
funcionamento que podem ser de ordem anatómica ou fisiológicas . Existem várias
doenças causadas por disfunção do processo de memorização que, talvez mesmo os
tenha presenciado em pessoas mas que não sabia explica-las. Vamos falar de
algumas delas. Vamos apenas mencionar a essência dessas perturbações e não
exactamente o mecanismo fisiológico que as determina.
De certeza que você
já ouviu falar de amnésias. Amnésia significa em breves palavras esquecimento.
Esquecer faz parte do processo de memorização. Não é possível lembrar-se de
tudo e podemos dizer também que se fossemos armazenar toda a informação que
recebemos do mundo exterior precisaríamos de um cérebro maior. Por isso,
podemos dizer que o esquecimento é uma função necessária da memorização.
Contudo existem
casos em que o esquecimento é bastante acentuado e toma forma de doença. De
entre as várias doenças da memória se destacam: as amnésias, hipermnésias e
paramnésias. Estas doenças relacionam-se directamente com o processo de
funcionamento da memória.
Amnésias
Ocorrem quando um
indivíduo perde total ou parcialmente a função mnémica e o indivíduo não é
capaz de fixar nem reproduzir o passado no presente. O indivíduo não se lembra
praticamente o que aconteceu antes e não é capaz de explicar nenhum evento
relacionado com o que viu no passado. Este tipo de perturbação pode ser causada
pelo cansaço excessivo, consumo excessivo de drogas ou emoções violentas.
Tipos de Amnésias
Amnésia de
Fixação ou Memorização: De
entre as amnésias destacam-se as de fixação ou de memorização. Este tipo
de amnésias ocorrem quando o indivíduo tem incapacidade de adquirir novas
lembranças e apenas só se lembra de eventos recentes e não é capaz de
reproduzir as passadas. As emoções violentas, choque na cabeça, paralisia
geral, fadiga acentuada são causas fundamentais desta doença. Os acidentes de
trabalho que afectam a caixa craniana podem criar lesões corticais que afectam
sobremaneira as capacidades de lembrar eventos passados. Vezes sem conta pessoas
que sofreram acidentes não conseguem lembra-se do que aconteceu. Isso pode
dever-se à emoção ou ao choque violento ocorrido e que tenha afectado a cabeça.
De entre as amnésias
podemos destacar também as amnésias de evocação ou de rememorização.
Este tipo de amnésias podem ser lacunar ou selectiva.
As amnésias lacunares
têm incidências sobre as lembranças de um determinado período da vida. Um
mineiro durante o trabalho sofre um choque na cabeça. Feito o tratamento
esquece a sua juventude no ensino primário.
As amnésias selectivas
são aquelas que têm origem sobre uma forte carga selectiva. um jovem que
mata a sua mãe usando uma arma porque esta maltratava e enganava o pai. O jovem
perdeu o amor pela mãe Um outro grupo de amnésias sãos as chamadas amnésias sensório-motor.
A palavra
sensório-motor relaciona-se com a actividade motora do indivíduo, os gestos, a
articulação das palavras, o manuseamento dos objectos, etc. As amnésias sensorio-motoras
podem ser de apraxias – esquecimento de gestos necessários para
realizar um determinado trabalho; afazias – incapacidade de articular as
palavras, o indivíduo fica inibido de falar.; agrafias – o esquecimento
da palavra escrita, o indivíduo não consegue escrever mesmo que tenha aprendido
antes. Pode ainda saber desenhar as letras mas não sabe que sentido têm; agnosias
– esquecimento do significado das coisas ou objectos. As agnosias podem ser
tácteis, gustativas, auditivas ou visuais.
Na agnosia Visual
o doente vê os objectos mas não os reconhece. Os doentes com esta afasia
sofrem de cegueira psíquica. Na Agnosia Auditiva o doente sofre de
surdez psíquica, ele ouve perfeitamente os sons mas é incapaz de reconhece-los.
Na Agnosia Gustativa o doente é Incapaz de reconhecer o sabor dos
alimentos.
Uma outra classe de
doenças causadas pela disfunção dos processos de memórias são os delírios. Nos
delírios acontecem quando o organismo sofre de influência estimulante da febre.
A memória exalta-se e reproduz desordenadamente, lembranças inoportunas.
O sonambulismo é um
sonho alucinatório em que o indivíduo adormecido fala, se agita-se, levanta e
realiza determinadas acções incompreensíveis para os que o rodeiam. Passada a
crise o indivíduo volta novamente à cama.
Referências
bibliográficas
ALÍPIO, Jaime da Costa; VALE, Manuel Magiricão. Psicologia Geral. EaD – Universidade Pedagógica, Maputo: S/d.
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