Teorias Fenomenológicas da personalidade

Teorias Fenomenológicas da personalidade

As teorias fenomenológicas da personalidade baseiam-se em procurar entender os “eus” e suas perspectivas de vida. Os cientistas fenomenológicos assumem uma visão que parte do princípio de que para se estudar um indivíduo é preciso partir do conceito da sua totalidade e não em partes. A visão adoptada é uma visão holística na qual não se deve estudar um fenómeno fragmentando-o. Os fenomenalistas consideram o “eu” como um fenómeno interno que se forma através de interacções com o mundo circundante. O modelo do “eu” influencia as acções do indivíduo, e estas por sua vez afectam o próprio modelo do eu.

Na perspectiva fenomenológica o objecto central da motivação humana é lutar por auto-realizar-se.

A teoria do “Eu” de Carl Rogers

Carl Rogers nasceu em 1902 e foi um proeminente psicólogo bem conhecido na arena científica.

O “eu” ou “autoconceito” são termos que definem um padrão organizado, e coerente de características percebidas do “eu” ou “mim” que se acrescem aos valores concedidos a esses atributos (Davidoff, 1983:532).

Este autoconceito se desenvolve nas crianças através da observação de como elas próprias funcionam vigiando o comportamento dos outros. As crianças em idade mais nova começam muito cedo a conhecer e ter consciência do que é ou não coerente e atribuem-se a si os mesmos traços específicos (ex; enervar-se facilmente ou ter uma certa energia). Portanto, a infância para Rogers é um momento especial e oportuno para desenvolver a personalidade. Ele dá importância aos efeitos duradoiros do das relações sociais como os neofreudianos os consideram. Ele considera também que todos precisam de uma consideração positiva, de receberem calor e aceitação de outras pessoas e as crianças tendem sempre a fazer qualquer coisa para que obtenha essa consideração positiva calor e aceitação.

O que leva as pessoas a acção é o desejo de realizar as suas potencialidades.

Teorias disposicionais ou de traços da Personalidade

A definição da personalidade estendeu-se desde a constituição biotipológica (cor dos olhos, dos cabelos, da pele, etc.) à estatura do corpo, assim como às maneiras como o indivíduo se relaciona com o mundo (temperamento, traços afectivos, etc.).

As Teorias Disposicionais ou de Traços da Personalidade caracterizam a personalidade atribuindo-lhe certos traços. Os traços são características isoladas. Por exemplo, descrever um indivíduo como submisso, intelectual são apenas alguns dos exemplos da teoria dos traços da personalidade.

Outra forma de descrever a personalidade é tipifica-la. A tipificação é de certa maneira um pouco diferente da atribuição dos traços pelo seguinte:

  • Os traços referem-se a certos aspectos específicos da personalidade, enquanto que a tipificação faz referência a personalidade inteira;
  • A tipificação tende por sua vez aglomerar os traços específicos. Um tipo intelectual por exemplo, pode ter um coeficiente de inteligência alto e baixa capacidade social e atlética.

A teoria dos traços de Raymond Cattell

Raymond Cattell nasceu em 1905 e foi um grande pesquisador interessando-se em medir os principais componentes da personalidade.

Ele e os eus associados conseguiram colectar 18.000 palavras inglesas que são usadas para caracterizar pessoas. Este número foi depois reduzido através de omissões de expressões raras e sobrepostas para aproximadamente 200 itens. Para tornar a lista mais compacta Cattell pediu que os seus associados usassem essas palavras para se descreverem a si próprios e aos seus amigos. As expressões utilizadas foram analisadas usando um método matemático a que ficou conhecida por análise factorial. Estes termos eram depois correlacionados entre si para verificar se aquelas que pertenciam ao mesmo traço estavam ou não relacionados.

Deste correlacionamento foram identificados dezasseis grupos que foram depois rotulados com letras (A, B, C, F, H, I ,L M, N, Q1, Q2, Q3, Q4) e posteriormente com nomes dos traços os quais foram considerados como dimensões básicas da personalidade. Consulte o gráfico no livro Linda Davidoff.

Cattell e seus associados desenvolveram também vários questionários para recolha de auto relatos dos indivíduos e grupos.

A Teoria dos Tipos de William Sheldon (1898 e 1977)

As teorias tipológicas preocupam-se fundamentalmente em descrever os traços da personalidade consoante um determinado tipo de corpo. Para Sheldon consoante o corpo de indivíduo este tenderá a manifestar um certo tipo de personalidade. Na sua óptica ele argumentava que todo o ser uma possui características físicas que por sua vez determinam as actividades deste. Nesse conjunto de actividades há uma tendência de se destacar as mais salientes.

Contudo, há uma distinção a fazer. Enquanto as teorias procuram indicar as características que convêm a um determinado indivíduo, as tipologias visam integrar os indivíduos em dados tipos constituídos segundo características comuns. Isto é as teorias caracterizam o indivíduo, as tipologias procuram a inclusão do indivíduo em classes.

Assim, a caracterologia esforça-se por encontrar elementos comuns, cuja combinação torne possível definir tipos de carácter ou temperamento.

Algumas destas biotipologias pertence a Sheldon, Kretschmer e Corman. Sheldon: este caracterológico procurou avaliar certos aspectos da personalidade a que chamou temperamento, fazendo-os depender de três componentes morfológicos: endomorfiamesomorfia ectomorfia.

Estes termos provêm do nome das três camadas de células do indivíduo, sendo a endoderme a que origina os aparelhos digestivo e respiratório. Da mesoderme forma-se os músculos e o esqueleto. A ectoderme é responsável pela superfície do corpo e aparelhos sensoriais, bem como pelo sistema nervoso.

Assim se constituem somatotipos diferentes, consoante a predominância daquelas dimensões numa escala que Sheldon considera de um a sete.

Tipo somático endomorfo – corresponde ao indivíduo gordo, abdómen saliente, com braços curtos, pescoço baixo, cabelos finos e tendência à calvície precoce; a este conjunto de disposições Sheldon correlacionou com o tipo de temperamento viscerotónico cujas características são: (relaxamento da atitude e do movimento, gosto pelo conforto físico, reacções lentas, prazer em dirigir, avidez por afeição e apropriação, igualdade do fluxo emocional, contentamento consigo próprio, comunicação fácil e livre dos sentimentos, extrovertido, etc.).

No mesomorfo – o volume do tórax é superior ao do abdómen, os membros são musculados, os ossos fortes e salientes, tendo no seu conjunto uma estrutura robusta; à essas características morfológicas corresponde o temperamento somatotónico cujas características são: (firmeza da atitude e do movimento, gosto pelas acções físicas e pelo risco, dureza psicológica, ausência de piedade e de delicadeza, indiferença pela dor, extrovertido, necessidade de acção em caso de aflição, etc.).

O ectomorfo – é marcado pela fragilidade e delicadeza do corpo, é magro, tem ombros estreitos e o tronco curvado para frente, pele fina e de cor pálida; que corresponde ao temperamento cerebrotónico cujas características são: (retenção da atitude e do movimento, reacções fisiológicas excessivas, segredo sentimental, hipersensibilidade dor, introvertido, necessidade de solidão em caso de aflição, etc..

Uma das críticas apontadas às conclusões de Sheldon, centra-se no método usado nas suas investigações. Como foi a mesma pessoa a classificar a estrutura física e a determinar os tipos de temperamento, pode ter sido influenciada pelo físico de um indivíduo, quando procurava classificá-lo temperalmente e outra está relacionada com o facto de Sheldon considerar que as correlações entre tipo somático e temperamento são inatas e hereditárias.

A tipologia de Kretschmer

Kretschmer um psiquiatra alemão Kretschmer apresentou também a sua tipologia marcadamente morfológica construída com base na observação de casos patológicos. Kretschmer propôs no seu quadro de personalidade três tipos morfológicos fundamentais a saber: o pícnico, o atlético e o leptossómico correspondentes ao endomorfo, mesomorfo e ectomorfo na tipologia de Sheldon.

pícnico possui uma característica corporal caracterizada por predominância da extroversão, quer dizer aberto para com os outros e com pouca profundidade nos seus sentimentos. No sentido patológico, o pícnico pode tender a um comportamento maníaco depressivo.

O tipo atlético é caracterizado pela rigidez e tenacidade do tonus muscular bem como nas suas na atitudes e possui uma vida sentimental predominantemente pouco expressiva. O atlético é preservado quanto ao alcance dos seus objectivos. No sentido patológico ele tende a apresentar sintomas epilépticos.

O leptossómico é um indivíduo caracterizado pela predominância da introversão e tende a se fechar no seu próprio mundo de ideias conservando-se distante das pessoas que rodeiam. Em contrapartida o leptossómatico conserva sentimentos muito profundos. No plano patológico conserva um quadro tendente à esquizofrenia.

 

Referências bibliográficas

ALÍPIO, Jaime da Costa; VALE, Manuel Magiricão. Psicologia Geral. EaD – Universidade Pedagógica, Maputo: S/d.

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