Textos multiusos: O Texto Expositivo-Argumentativo

Textos multiusos: O Texto Expositivo-Argumentativo

O discurso argumentativo está sempre presente no nosso quotidiano: nas conversas e discussões informais, nos tribunais, nas escolas e universidades, nos discursos políticos, na apresentação do resultado de investigações científicas, nos debates, nas igrejas, nos artigos jornalísticos, no comércio e em muitos outros contextos.

Embora, muitas vezes, este tipo de discurso seja produzido informal e inconscientemente, a argumentação obedece a regras especificas.

Nesta unidade temática, vais aprender a analisar e a produzir textos expositivo-argumentativos.

1. Texto expositivo-argumentativo

Conceito

O texto expositivo-argumentativo (ou simplesmente texto argumentativo) apresenta um raciocínio segundo o qual se defende ou se refuta um ponto de vista.

O autor expõe uma tese e, com base em argumentos, procura convencer, persuadir os destinatários a aderirem ao seu ponto de vista.

O discurso argumentativo deve ser claro, directo e preciso.

Organização

O texto argumentativo é constituído por uma tese geral e vários argumentos.

A tese é uma proposição, uma ideia que o autor do texto pretende defender.

Um discurso argumentativo pode conter, além da tese principal, ideias secundárias, subordinadas å principal.

Os argumentos são as razões, as provas a que se recorre para a defesa de um pensamento.

Por vezes, o texto argumentativo faz uso de argumentos contrários à tese defendida. A refutação dos contra-argumentos apresentados contribui para reforçar a tese que o autor pretende defender. A coexistência de argumentos favoráveis e contrários a uma mesma tese origina um paradoxo, uma contradição ou confusão que depois é resolvida.

O texto argumentativo segue, geralmente, um dos seguintes planos:

• Plano por agrupamento

Reúne argumentos da mesma natureza — por exemplo, argumentos técnicos, psicológicos, históricos, económicos ou outros — e organiza-os em função do seu destinatário, pois, para certo grupo-alvo, os argumentos econ6micos ou psicológicos poderão ser mais densos do que os hist6ricos.

• Plano por oposição

Organiza-se a partir da refutação sistemática de uma ideia básica, para se deduzirem as vantagens de uma outra ideia; por outras palavras, nega-se uma ideia para elevar outra contrária. Também se pode elevar uma ideia em detrimento de outra oposta.

• Plano moderado

O ponto de vista não é imposto. Um jogo de raciocínios leva, de forma natural, à posição do autor. Os argumentos são moderados, desprovidos de um ataque directo ou de uma exigência severa. Contudo, exigem grande elaboração. E um processo de argumentação ténue, indirecta, delicada, mas muito poderosa.

Os argumentos não devem ser ambíguos. Neste modelo, contrariamente aos outros, as marcas pessoais do sujeito enunciador ficam, normalmente, apagadas, ausentes.

Apresentação

Normalmente, o texto argumentativo apresenta-se em três fases principais:

  • Fase da exposição da tese;
  • Fase da argumentação (é a mais longa; apresenta um conjunto de argumentos);
  • Fase da conclusão (é a síntese dos argumentos apresentados; faz-se a confirmação da tese).

Actos de fala argumentativos

 

Introdução

• comecemos por…

• analisemos primeiro…

• recordemo-nos de…

 

Transição

• a seguir vejamos…

• agora vejamos…

• consideremos o caso de…

 

 

 

Enumeração/exemplo

• em primeiro lugar…

• em segundo lugar…

• tais como…

• a saber…

• tal é o caso de…

• como acontece com/em…

• por exemplo…

• como o exemplo de…

 

Conclusão

• portanto…

• por isso, acreditamos / dizemos / estamos convictos de que…

 

2. Concordância verbal

As palavras e as categorias gramaticais numa frase ou discurso estabelecem concordância entre si, em número e em pessoa.

SUJEITO SIMPLES

• Se o sujeito é simples, o verbo concorda com ele em número e em pessoa.

Os clientes são assíduos.

Vendi tudo o que tinha. (sujeito subentendido «eu»)

Casos particulares:

• Se o sujeito é uma expressão partitiva (parte de, uma porção de, o resto de, metade de, o número de, a maioria de...) seguida de substantivo ou pronome, no plural, o verbo pode ir para o plural ou singular.

A maior parte dos reclamantes era (eram) mulheres.

• As expressões de quantidade cerca de, mais de e menos de, seguidas de um substantivo no plural, levam o verbo para o plural.

Cerca de trinta senhoras foram ouvidas.

NOTA:

Só se emprega o verbo no singular quando o sujeito que expressa quantidade for mais de um ou mais do que um (Mais de um vigilante inspecionou o mercado.); mas, se estas expressões estiverem repetidas ou se lhes for dada a ideia de reciprocidade, o verbo vai para o plural (Mais de um vigilante, mais de um polícia de segurança inspecionaram o mercado. / Mais de um vigilante se cruzaram no mercado.).

SUJEITO COMPOSTO

• Se o sujeito é composto, observam-se as seguintes regras:

a) Quanto ao número:

• Se o sujeito composto está antes do verbo (sujeito anteposto ou pré-verbal), este vai para o plural.

O mercador e o fiscal leram o regulamento municipal.

• Se o sujeito composto está depois do verbo (sujeito posposto ou p6s-verbal), este vai para o plural.

Devem chegar a um acordo, os vendedores e a autoridade.

NOTA:

Se o elemento mais próximo estiver no singular, o verbo pode ir para o singular.

Deve (devem) chegar a um acordo, a autoridade e os vendedores.

• Quando o sujeito composto é sintetizado por um dos pronomes (ou locuções pronominais) tudo, nada, ninguém, cada um ou cada qual, o verbo vai para o singular.

Mariscos, produtos de beleza, produtos alimentares, nada foi vendido.

Homens, mulheres, coda um reclamou os seus bens.

• Quando os sujeitos estão ligados por uma conjunção ou locução comparativa (como, assim como, bem como...), o verbo vai para o singular ou plural:

— Vai para o singular quando quisermos destacar um só sujeito;

A hortaliça, como os citrinos, é saudável. (destaca-se a hortaliça, que é saudável).

— Vai para o plural quando se atribui a acção a mais do que um elemento.

A Dona Raquel, tal como a Júlia vendiam no Praça.

b) Quanto pessoa verbal:

• O verbo vai para a 1ª pessoa se um dos elementos for da 1ª pessoa.

Eu, tu e ele temos de prestar contas ao Conselho Municipal.

• Vai para a 2ª pessoa, se houver um elemento da 2ª pessoa e nenhum da 1ª pessoa.

Mário, Zenane e tu, Lucas, ireis reclamar.

• Vai para a 3ª pessoa se todos os sujeitos forem da 3ª pessoa.

Mário, Zenane e Lucas são todos comerciantes.

Quando o sujeito é o pronome relativo que

• O verbo concorda em número e pessoa com o antecedente deste pronome.

Eu, que perdi os bens, já recebi a recompensa.

• Depois da expressão um dos poucos ou um dos que, o verbo de que o pronome relativo é sujeito vai geralmente para a 3ª pessoa do plural.

Fui um dos poucos que receberam a recompensa.

Sou um dos que preferem trabalhar.

• Diz-se geralmente: Fui eu quem reclamou.

Verbos impessoais

São verbos que, não tendo sujeito, só se usam na 3ª pessoa do singular: amanhece, anoitece, chove, relampeja e troveja. O verbo haver, no sentido de existir, também é impessoal: Há muitas pessoas.

OUTROS CASOS:

  • O verbo fazer quando indica tempo decorrido (Faz tempo que vivo disto.).
  • Os verbos tratar e bastar quando regidos de preposição (Os vendedores foram expulsos do Praga. Trata-se de um lugar de desmandos. Basta que apareça um corpo sem vida para que se denigra o lugar.).

Bibliografia

MACIE, Filipe Virgílio. Pré-universitário – Português 11ª Classe. 1ª Edição. Longman Moçambique, Maputo, 2009.

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