O Ciclo dos Escravos (1750/60 – Século XX)

O Ciclo dos Escravos (1750/60 – Século XX)

Após cerca de três séculos de comércio envolvendo mercadorias produzidas pelos moçambicanos, nomeadamente ouro e marfim, a partir de meados do século XVIII os mercadores europeus iniciaram o tráfico do próprio produtor de mercadorias – o Homem.

Capturados e vendidos como mercadoria, desprovidos de quaisquer direitos como Homens, os moçambicanos foram levados para diferentes regiões com maior incidência para as Américas e ilhas francesas no Oceano Índico.

O Ciclo de Escravos

O tráfico de escravos começa a ser praticado muito antes do século XVIII, mas é em meados deste século que ganha uma dimensão e proporções particularmente grandes, tornando-se numa actividade sistemática e, mais do que isso, tornando-se no principal atractivo dos mercadores. A partir de meados do século XVIII a mercadoria mais procurada pelos mercadores já não era o marfim ou o ouro, mas sim o próprio produtor daquelas e outras mercadorias, o Homem.

A génese do tráfico esclavagista pode ser encontrada tanto em factores externos como internos. No século XVIII a crescente procura de mão-de-obra nas plantações europeias nas Américas alimentou o interesse dos europeus pelos escravos provenientes da África.

Mas como deve ser fácil perceber, caro aluno, o interesse dos europeus em obter homens africanos para trabalhar em suas plantações não podia só por si permitir o tráfico esclavagista. Este só se efectivou porque os chefes africanos envolvidos no comércio secular começaram a ver neste tráfico uma fonte de riqueza muito mais lucrativa do que as outras mercadorias.

Portanto, o interesse dos europeus em obter escravos para as suas plantações nas Américas, e da ambição dos chefes africanos em amealhar riqueza a custa do tráfico negreiro resultou o tráfico de escravos em África.

Fases do Cíclo de Escravos

O tráfico de escravos, que decorreu por um período de mais de cem anos (1750 até princípos do século XX), embora a sua evolução em termos de número, destino e protagonistas foram variando, o que levou a que se considerasse as diferentes fases de tráfico negreiro.

Foram, essencialmente, três as etapas em que ocorreu o comércio de escravos em Moçambique.

A primeira etapa consistiu no enviode escravos para as plantações francesas nas ilhas Mascarenhas, no oceano Índico.

A segunda fase foi de envio de escravos para as plantações europeias nas Américas. Nessa altura mercadores brasileiros, norte-americanos e centro- americanos incrementaram o tráfico negreiro, partcularmente nos princípios do século XIX.

A terceira e última fase ocorreram após o período da abolição (1836-1842), altura em que o tráfico negreiro conheceu uma certa diminuição.

Entretanto a partir de 1840 a instituição do estatuto de trabalhadores recrutados ou "engajados" permitiu a continuação dissimulada do comércio de escravos em especial para as ilhas Mascarenhas. Nesta etapa o comércio era clandestino e tinha como baluartes em Moçambique os reinos afro-islâmicos da costa e os prazos.

Os escravos foram especialmente recrutados no vale do Zambeze e na faixa litoral e interland das zonas entre o Rio Ligonha e a Baía de Memba. Também houve, se bem que em menor escala, recrutamento na Baía da Lagoa e no interior de Inhambane.

Impacto do Tráfico Negreiro

Uma das principais implicações do comércio de escravos foi a retirada da principal força energética das sociedades moçambicanas afectando sobremaneira a reprodução social das zonas de caça ao escravo.

Outra consequência não menos importante do tráfico de escravos foi a reestruturação de algumas formações que tiveram que se adaptar a um sistema de evolução económica e política moldada segundo os interesses do tráfico.

O desenvolvimento do comércio de escravos desencadeou a valorização, a partir da segunda metade do século XVIII, de alguns portos como Quelimane e Ibo, que até ai tinham desempenhado um papel pouco notável nas relações comerciais.

Referências bibliográficas

MINEDH. Módulo 6 de História: Os estados em Moçambique e a Penetração Mercantil Estrangeira. Instituto De Educação Aberta e à Distância (IEDA), Moçambique, s/d.

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