A Conjuntura Política e Económica e os Marcos de Viragem
A Conjuntura Política e Económica e os Marcos de Viragem
Durante
a primeira fase do colonialismo em Moçambique, desde cerca de 1890 até 1930, as
relações económicas entre Portugal e Moçambique eram muito fracas. Neste
período era o capital internacional, representado pelas companhias e pelo
capital mineiro sul africano controlava quase totalmente a economia de
Moçambique. Neste contexto, o período de 1930 a 1937 foi marcado pelo
lançamento das bases do “Nacionalismo Económico” tendo por finalidade alterar
esta situação, colocando a economia moçambicana verdadeiramente ao serviço de
Portugal. Veja, então ao longo da lição como se operou a alteração da política
colonial em Moçambique a partir de 1930.
O Colonial – Fascismo em Moçambique
A
Exploração Colonial Entre 1885 e 1930 – Síntese
Em
capítulos anteriores ficou saliente que a dominação e exploração colonial de
Moçambique no período de 1885 a 1930 foi em larga medida realizada no interesse
da burguesia internacional, servindo Portugal como intermediário e tirando
desse papel uma parte dos lucros da exploração.
Devido
a fraqueza da burguesia portuguesa foram pouco significativos os investimentos
portugueses em Moçambique e por consequência as relações da colónia com a
metrópole eram apenas de natureza comercial.
O Golpe de Estado de 1926
Fruto
da política portuguesa do princípio do século XX a situação económica era
autêntica bancarrota financeira e naturalmente faziam-se sentir várias
manifestações de protesto. Vários ministérios sucederam-se no Governo português
quando da vigência da República até que um golpe de Estado a 28 de Maio de 1926
marcou o advento do "Estado Novo" e, com a ascensão de Salazar ao
poder, do fascismo em Portugal.
Até
cerca de 1930 as relações económicas entre Portugal e Moçambique eram muito
fracas. O Estado novo saído do golpe de Estado de 1926 tinha como objectivo
alterar esta situação.
Neste
contexto, o período de 1930 a 1937 foi marcado pelo lançamento das bases do
“Nacionalismo Económico” – a tentativa de pôr a economia moçambicana
verdadeiramente ao serviço de Portugal.
As
principais acções levadas a cabo nesse sentido foram:
a) Centralização
administrativa e política;
b) Redução dos
direitos das Companhias;
c) Estabelecimento
de uma Zona de Escudo;
d) Promoção da
cultura do Algodão.
A Crise Económica e a Produção em
Moçambique
A
crise económica mundial originou, em todas as colónias, uma redução da produção
de matérias-primas cujos preços baixaram para cerca de metade em relação a
1928. Em Moçambique a baixa de preços atingiu especialmente o amendoim, milho,
copra, açúcar e sisal. Apenas os preços do caju e o algodão mantiveram-se.
Em
Moçambique, face a crise, os proprietários das plantações decidiram:
- Reduzir os custos (abandono das actividades dispendiosas, despedimentos de trabalhadores, encerramento de fábricas menos rentáveis;
- Compra de certos produtos aos camponeses a preços baixos (em vez de produzi-los);
- Reduções salariais;
- Introdução de novos métodos de produção (uso da tracção animal, do estrume, etc.).
A migração
de mão-de-obra para África do sul e rodésia do sul também diminuiu, pois a
crise provocou um declínio na economia destes países.
O Nacionalismo Económico de Salazar
O
estado de ditadura fascista emergente do golpe de estado de 1926 e consolidado
em 1930 com a ascensão do então ministro das finanças António de Oliveira
Salazar para o cargo de Primeiro-ministro tomou de imediato medidas para
impulsionar o desenvolvimento do capitalismo português através de uma política
nacionalista que protegia tanto na metrópole como nas colónias a fraca
burguesia portuguesa ante a competição do grande capital internacional.
O
Governo de Salazar instalou-se como um governo de compromisso e de arbitragem,
e também como um governo bloqueador da luta de classes.
As
suas funções, como escreveu um historiador, consistiam, por um lado, em
coordenar os interesses divergentes das fracas camadas da burguesia de modo a
defender a sua posição contra possíveis ataques das classes não privilegiadas
(operários e camponeses) e, por outro lado, em proteger os interesses da
burguesia contra o capital estrangeiro. Por outras palavras: o fascismo
português foi o molde para criar e consolidar o capitalismo português, através
de uma feroz repressão do proletariado metropolitano e dos povos das colónias.
O
"Estado Novo" corporativista nem era o governo dos monopólios nem o
governo de todas as fracções da burguesia, mas sim o governo de maioria da
burguesia em nome da qual se exercia a ditadura sobre o proletariado. Em defesa
do seu papel de medianeiro e de árbrito "acima" das várias facções,
impedia a concorrência, destruía os partidos políticos, protegia a pequena e
média indústrias e aliava-se com os proprietários rurais – uma aliança que não
significava a hegemonia dos capitalistas fundiários do bloco no poder, mas que
era, porém, um considerável travão à industrialização portuguesa.
Ao
fascismo português, forma de Estado de excepção da ditadura da burguesia,
competiu acelerar a acumulação de capital. Para isso, além de destroçar as
organizações do proletariado (redução dos sindicatos, supressão dos direitos de
grave, etc.) e de o tentar integrar no sistema corporativo, intensificou a
exploração colonial, protegeu-se dos investimentos estrangeiros e utilizou o
intervencionismo estatal na economia, garantindo a sobre-exploração da
mão-de-obra.
O
resultado desta política foi a formação e consolidação lenta mas contínua de um
capitalismo português. A grande dependência de países estrangeiros foi
largamente superada através de dificuldades impostas ao capital estrangeiro e
da diversicação de fontes externas da capital em vez da hegemonia de uma única
como acontecia com a posição da Inglaterra.
O Acto Colonial
Com
o fascismo português apareceu o controlo estreito das colónias e o primeiro
esforço sistemático para oferecer a burguesia portuguesa uma fatia mais
substancial do grande bolo colonial.
Nas
colónias o nacionalismo salazarista encontrou expressão legal no Acto Colonial
- a magna carta da burguesia portuguesa.
No
acto colonial definia-se uma nova política colonial na base da ideia de que nos
territórios coloniais se vinha verificando uma cada vez maior submissão a
interesses do capital internacional não português e que era preciso inverter
esse estado de coisas. A política do estado fascista até a segunda metade dos
anos 1950 e de evitar a entrada de capital estrangeiro tanto na metrópole como
nas colónias.
Como
escreveu Salazar, "os territórios ultramarinos eram uma solução lógica
para o problema da superpopulação de Portugal, para estabelecer nacionais
portugueses nas colónias e para que as colónias produzam matérias-primas para
vender a Mãe-Pátria em troca de produtos manufacturados. Por isso, a Mãe-Pátria
e as Colónias deveriam estar preparadas para sacrifícios mútuos".
O
Estado fascista português começou por restringir o controlo político e administrativo
das companhias, reduzindo-as à sua base produtiva. Em 1942 cessaram os poderes
majestáticos da Companhia de Moçambique dando lugar a unificação da
administração de todo o território, passando a estar sujeito às mesmas leis e
aos mesmos interesses coloniais no quadro da política nacionalista de Salazar.
O
acto colonial de 1930 havia definido como competência exclusiva do Estado a
Administração, a cobrança de imposto e mesmo a exploração de portos. Outro
elemento importante foi a definição de um estatuto especial dos indígenas -
base para o recrutamento de força de trabalho para as empresas capitalistas e
dos colonos.
Porém,
se esse controlo passou a ser monopólio do Estado colonial, a base produtiva
das companhias, não foi, em sua essência afectada, se bem que os
administradores portugueses tivessem penetrado nelas.
Por
outro lado, a preocupação de Salazar com o equilíbrio orçamental de cada colonial, bem como com a sua balança de pagamentos, não revestia, como mostrou
um economista, um interesse meramente "financeiro". A consolidação de
uma burguesia portuguesa forte far-se-ia não com a intervenção de fundos nas
colónias mas com uma acumulação rápida na metrópole.
É
deste ponto de vista que se compreende o facto, aparentemente contraditório,
de, no mesmo ano (de 1928) terem sido regulamentados o Código de trabalho Rural
e a Covenção com a áfrica do Sul. O código sistematizava o princípio do
trabalho forçado e alimentou directamente a cultura forçada do algodão. Por sua
vez a cultura algodoeira fortaleceu a burguesia industrial portuguesa. A
convenção significava o aparecimento externo (África do Sul) de uma riqueza
considerável (mão de obra de Moçambique).
A
política de Salazar ao manter os laços com a África do Sul cingia-se de perto
com o seu princípio de "economia de esforço" e o corte desses laços implicaria
o estancamento de uma importante fonte de riqueza. Por isso, Salazar preferiu
manter o envio de mão-de-obra a África do sul, e escutar
Nas
colónias o nacionalismo salazarista encontrou expressão legal no Acto Colonial
- a magna carta da burguesia portuguesa.
No
acto colonial definia-se uma nova política colonial na base da ideia de que nos
territórios coloniais se vinha verificando uma cada vez maior submissão a
interesses do capital internacional não português e que era preciso inverter esse
estado de coisas. A política do estado fascista até a segunda metade dos anos
1950 e de evitar a entrada de capital estrangeiro tanto na metrópole como nas
colónias.
Como
escreveu Salazar, "os territórios ultramarinos eram uma solução lógica
para o problema da superpopulação de Portugal, para estabelecer nacionais
portugueses nas colónias e para que as colónias produzam matérias-primas para
vender a Mãe-Pátria em troca de produtos manufacturados. Por isso, a Mãe-Pátria
e as Colónias deveriam estar preparadas para sacrifícios mútuos".
O
Estado fascista português começou por restringir o controlo político e administrativo
das companhias, reduzindo-as à sua base produtiva. Em 1942 cessaram os poderes
majestáticos da Companhia de Moçambique dando lugar a unificação da
administração de todo o território, passando a estar sujeito às mesmas leis e
aos mesmos interesses coloniais no quadro da política nacionalista de Salazar.
O
acto colonial de 1930 havia definido como competência exclusiva do Estado a
Administração, a cobrança de imposto e mesmo a exploração de portos. Outro
elemento importante foi a definição de um estatuto especial dos indígenas -
base para o recrutamento de força de trabalho para as empresas capitalistas e
dos colonos.
Porém,
se esse controlo passou a ser monopólio do Estado colonial, a base produtiva
das companhias, não foi, em sua essência afectada, se bem que os
administradores portugueses tivessem penetrado nelas.
Por
outro lado, a preocupação de Salazar com o equilíbrio orçamental de cada colónia, bem como com a sua balança de pagamentos, não revestia, como mostrou
um economista, um interesse meramente "financeiro". A consolidação de
uma burguesia portuguesa forte far-se-ia não com a intervenção de fundos nas
colónias mas com uma acumulação rápida na metrópole.
É
deste ponto de vista que se compreende o facto, aparentemente contraditório,
de, no mesmo ano (de 1928) terem sido regulamentados o Código de trabalho Rural
e a Covenção com a África do Sul. O código sistematizava o princípio do trabalho
forçado e alimentou directamente a cultura forçada do algodão. Por sua vez a
cultura algodoeira fortaleceu a burguesia industrial portuguesa. A convenção
significava o aparecimento externo (África do Sul) de uma riqueza considerável
(mão de obra de Moçambique).
A
política de Salazar ao manter os laços com a África do Sul cingia-se de perto
com o seu princípio de "economia de esforço" e o corte desses laços implicaria
o estancamento de uma importante fonte de riqueza. Por isso, Salazar preferiu
manter o envio de mão-de-obra a África do sul, e escutar os protestos dos
colonos, que reclamavam a falta de trabalhadores para as duas herdades.
A
verdadeira "pedra de toque" do nacionalismo económico foi a introdução
da cultura forçada do algodão em Angola e em Moçambique.
Diferentemente
das companhias que se serviam da venda forçada de força de trabalho, Portugal
usaria a venda forçada de uma cultura de mercado, o algodão.
Em
resumo a política colonial deste período baseou-se no princípio de que as colónias
deviam ser fonte de matérias-primas para a metrópole e mercados das
manufacturas portuguesas bem como recipientes dos desempregados portugueses.
Desta forma Moçambique torna-se um importante fornecedor de algodão para a
indústria portuguesa, consumidor de vinho e têxteis portugueses e albergue de
camponeses empobrecidos em Portugal tanto em regime de colonatos como nas cidades.
Referências
bibliográficas
MINEDH. Módulo 8 de História: O Colonialismo Português a Partir de 1930. Instituto De Educação Aberta e à Distância (IEDA), Moçambique, s/d.
Muito obrigado. Ajudou me muito
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