As Campanhas Militares de Ocupação de Moçambique

As Campanhas Militares de Ocupação de Moçambique

Introdução

A delimitação de fronteiras foi um passo rumo a dominação colonial mas não foi em si só suficiente para que tal se concretizasse. As comunidades africanas nunca se mostraram indiferentes diante da ameaça colonial.

Quando a soberania dos estados africanos achou-se em perigo verificaram-se de imediato as mais diversas manifestações de contestação. Foi preciso que os europeus impusessem à força o seu domínio.

Vamos iniciar nesta lição o estudo do processo que culminou com a ocupação e dominação colonial em Moçambique, abordando em traços gerais a situação política e económica do sul de Moçambique pouco antes da conquista.

O sul de Moçambique nas Vésperas da Conquista

Entre 1885 e 1930 a economia e a política do sul de Moçambique foram transformadas. Neste período o colonialismo avançou, das pequenas colonizações do litoral, à conquista dos estados africanos no interior, para depois elaborar um sistema de exploração do trabalho moçambicano bastante rentável. No Sul este sistema baseou-se, desde o início, em fortes relações político-económicas com a África do Sul.

O Sul de Moçambique até 1885

Os Estados Africanos na Década de 1880

Até a década de 1880, a situação política no Sul de Moçambique foi marcada pela existência de dois grandes estados, nomeadamente:

  • Estado de Gaza que, nesta região se estandia do Save ao Limpopo, ocupando as actuais províncias de Gaza e Inhambane e;
  • Reino de Maputo, na região entre os Montes Libombos e a costa, incluindo o reino Tembe.
  • Existiam igualmente alguns reinos menores como Manhiça, Cossa e Chirindza tributários do Estado de Gaza e Matsolo e Nuamba tributáios do Reino Suázi.

Estes estados estavam fora de qualquer forma de domínio colonial, mas estavam envolvidos no comércio com os europeus e asiáticos. Deste comércio obtinham tecidos, enxadas e armas de fogo em troca de marfim e outras mercadorias.

Capital e Desenvolvimento de Lourenço Marques

Lourenço Marques foi tornada local de fixação portuguesa em 1799, mas, até 1870, continuava uma simples povoação. O poder dos portugueses estava limitado ao forte e arredores, mas, mesmo aí, era tão fraco que quando um exército Zulu atacou o local em 1873, os portugueses não conseguiram impedir que o governador fosse morto. Antes, em 1852 o Governador português tinha sido obrigado a substituir um comandante por pressão dos chefes locais.

Como se explica então que os portugueses tenham permanecido no local se eram tão frágeis?

  • Para os estados africanos a presença portuguesa não representava nenhuma ameaça;
  • A presença portuguesa era importante para o desenvolvimento do comércio.

A Economia do Sul de Moçambique no Século XIX

O desenvolvimento da economia do Sul de Moçambique durante o século XIX conheceu três momentos, como verá a seguir…

Primeiro Período – 1840 – 1870

O desenvolvimento do Sul de Moçambique neste período esteve ligado a diferentes factores como:

  • Intensificação da caça ao elefante com reflexo no aumento das exportações de marfim;
  • Acumulação de grandes fortunas por homens que financiaram a caça ao elefante. Em última instância isto levou a extinção do elefante e declínio do comércio do marfim;
  • Intensificação do comércio asiático no sul de Moçambique;
  • Início da exportação de mão-de-obra para o Natal;
  • Exportação da produção camponesa.

Segundo Período 1870 a 1885

A partir de 1870 a economia do sul de Moçambique inicia um novo rumo, estimulado por novos factores que emergiram especialmente na África do Sul nomeadamente:

1. Início da mineração de diamantes em Kimberley, em 1871, o que leva ao aumento da migração de mão-de-obra;

2. Início da mineração de ouro em Lyndenburg. Lourenço Marques passa a ser importante local de trânsito o que concorre para:

  • Grande crescimento dos empreendimentos comerciais em Lourenço Marques;
  • Início do trabalho migratório para as minas de ouro do Transvaal;
  • Escassez de mão-de-obra no interior de Moçambique;
  • Expansão da rede comercial nas zonas de recrutamento em Moçambique.

Terceiro Período (1885 e 1900) - Capital Resistência e Conquista

Entre 1885 e 1900, a economia política do sul de Moçambique foi transformada, caracterizando-se por:

1. Intensificação do desenvolvimento Capitalista na Africa Austral devido a:

a) Abertura de minas de ouro em Witewatersrand;

b) Construção de linhas férreas;

c) Surgimento de outras indústrias dependentes.

O sul de Moçambique torna-se no principal fornecedor de mão-deobra para a indústria mineira sul-africana e Lourenço Marques e acumula receitas provenientes do trânsito de mercadorias.

2. Escassez de mão-de-obra

3. Resistência dos estados africanos ao avanço do poder colonial.

Nesta fase o desenvolvimento capitalista tinha chegado a um ponto em que a reestruturação política se tornava indispensável. Porquê?

  • Necessidade de controlo da mão-de-obra;
  • Controlo de um comércio cada vez mais próspero;
  • Competição internacional pelo controlo do hinterland de Lourenço Marques.

O crescimento dos laços económicos com a África do Sul

Comércio externo

O início da extracção de ouro em Witwatersrand teve efeitos imediatos em Lourenço Marques, o principal ponto de trânsito de e para o Transval.

É por isso que a partir desta altura regista-se um aumento de volume de mercadorias que passam pelo porto de Lourenço Marques.

Transportes

Até 1886 o transporte para o Transvaal fazia-se por estrada, atravessando o Incomáti ou o Umbelúzi e a Suazilândia. Em 1886 inicia-se a construção da via-férrea em Moçambique, aberta ao tráfego em 1887, mas só em 1894 começou a funcionar regularmente, depois de ligada ao sistema de caminhos-de-ferro do Transval.

A construção da linha férrea ofereceu emprego a milhares de moçambicanos e, depois de 1892 tornou-se a principal via para os trabalhadores migrantes que iam ao Transvaal.

Mão-de-obra

Aumento da emigração de moçambicanos para a África do sul. Em 1894 migravam cerca de 25000 trabalhadores por ano. O rápido aumento de emigrantes nas minas implicou o incremento do comércio no sul de Moçambique principalmente de álcool.

Referências bibliográficas

MINEDH. Módulo 7 de História: O Colonialismo Português em Moçambique de 1890 a 1930. Instituto De Educação Aberta e à Distância (IEDA), Moçambique, s/d.

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