As Primeiras Formulações Nacionalistas

As Primeiras Formulações Nacionalistas

Tendo em conta os grandes condicionalismos do nacionalismo africano, é fundamental, para melhor análise do fenómeno do nacionalismo africano, distinguir três fases:

  • A imitação da cultura europeia;
  • A redescoberta dos valores tradicionais;
  • A procura da síntese.

Em Moçambique, devido à proibição de qualquer associação política, à necessidade de sigilo que isso impunha, à erosão da sociedade tradicional e ausência de uma educação moderna nas áreas rurais, não existiam condições favoráveis para o alargamento das ideias nacionalistas por todo o território. Por isso foi só entre uma minoria predominantemente urbana, composta de intelectuais e assalariados, indivíduos destribalizados, na sua maioria mulatos e assimilados, que se desenvolveu a ideia de uma acção de âmbito nacional.

Este grupo estava em posição de analisar os três aspectos essenciais da situação colonial: a discriminação racial e exploração dentro do sistema colonial; a fraqueza real do colonizador e a evolução social do homem em termos gerais com o contraste entre a emergência da luta dos negros na África e na América e a resistência do seu próprio povo.

Assim encorajados pelo liberalismo da nova república em Portugal (1910 – 1926) e pelas ideias pan-africanistas, estes grupos criaram associações e fizeram protextos na imprensa contra os abusos do colonialismo, exigindo direitos iguais.

As Associações

As associações mais importantes em Moçambique surgiram nos últimos anos da monarquia portuguesa, constituídas fundamentalmente por mulatos e assimilados. As mais significativas foram:

Grémio Africano de Lourenço Marques - fundado em 1908 e legalizado em 1920 com a designação de Associação Africana de Lourenço Marques. Participou no Congresso Pan-africano realizado em Lisboa, em 1923;

  • Dirigida pelos irmãos Albasine;
  • Constituída por mulatos e negros assimilados entre os quais se notabilizaram Estácio Dias, Karel Pott, Francisco Benfica e outros;
  • Sua principal motivação era a valorização cultural e promoção intelectual da comunidade negra; defesa dos mulatos e assimilados contra a discriminação racial.
  • O veículo das suas ideias foi o jornal “O Brado Africano”.

Liga Africana – fundada em 1910 chegou a patrocinar a 2ª parte do Congresso Pan-africano de Lisboa (1923) no qual estave presente o Grémio Africano de Lourenço Marques.

Instituto Negrófilo (mais tarde Centro Associativo dos Negros de Moçambique) – formado em princípios de 1932, na sequência da cisão da Associação Africana de Lourenço Marques, foi legalizada logo em Março de 1932. Os seus principais objectivos eram a promoção do desenvolvimento material, intelectual e moral dos seus associados e, em geral, de todos os “negros portugueses”.

Os seus líderes eram negros saídos da Associação Africana de Lourenço Marques entre os quais se destacavam Brown Dulela, João Manuel e Enoque Libombo. As suas principais acções incidiam no apoio às famílias dos seus membros (participação em funerais, empréstimos, colocação de desempregados, etc.). Era subsidiada pelo fundo dos “Negócios Indígenas” e por empresas como Paulino Santos Gil, WENELA e João Ferreira dos Santos.

Grémio Negrófilo de Manica e Sofala – fundado na Beira como réplica do Grémio de Lourenço Marques. Seu 1º líder foi Kamba Simango.

O Papel da Imprensa

A imprensa moçambicana neste período desempenhou um papel importante na contestação ao sistema colonial. Um grande percursor da imprensa combativa deste período foi Alfredo de Aguiar, angolano, que fundou os jornais “O Imparcial” e “O Clamor Africano”. Os seus protestos contra o trabalho forçado e a discriminação racional no ensino e nos empregos valeram-lhe perseguições e encerramento das suas publicações.

Outras publicações como “O Proletário”, criado em 1912, “O Ferroviário” (de 1915/1916), “O Germinal” (1914/1918), os Simples, travaram uma acesa luta por um despertar da consciência operária entre os colonos brancos.

Destaque também para os irmãos Albasini, que nos seus escritos, quer no “Brado Africano” quer no Africano”, reivindicavam reformas no sistema colonial, exigindo os mesmos direitos que os portugueses. Devido as suas actividades, o “O Brado Africano” foi suspenso em 1932.

As Manifestações Literárias e Artísticas

Poetas, pintores, e escritores também manifestaram o seu descontentamento perante o facto colonial. Homens como Rui de Noronha, Malangatana, José Craveirinha, João Craveirinha, Noémia de Sousa, entre outros, nos seus poemas, nas suas telas, nos seus escritos protestavam contra a situação colonial.

Referências bibliográficas

MINEDH. Módulo 7 de História: O Colonialismo Português em Moçambique de 1890 a 1930. Instituto De Educação Aberta e à Distância (IEDA), Moçambique, s/d.

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