Emergência do Capitalismo na Europa

Emergência do Capitalismo na Europa

A partir de finais do século XV, medida que o sistema feudal em vigor na Idade Média se ia desagregando, começou a estruturar-se na Europa um novo sistema de relações de produção – o Capitalismo.

O que é o Capitalismo?

De uma forma geral, podemos dizer que Capitalismo é um sistema de produção, distribuição e troca, no qual a riqueza acumulada é utilizada por proprietários particulares com um fim lucrativo.

O estabelecimento do Capitalismo significou uma mudança nas estruturas económicas até ai existentes, que eram feudais. Senão, vejamos:

  • A economia passava a basear-se na indústria.
  • O centro de produção passava a ser a cidade.
  • O objectivo da produção passava a ser o lucro.
  • Os trabalhadores passavam a ser homens livres, que trabalhava para obter um salário.

Como surgiu este novo regime?

O surgimento do Capitalismo na Europa deu-se na Inglaterra, onde, no século XVI, tiveram lugar profundas transformações nas antigas estruturas socioeconómicas feudais, que vieram a dar origem ao estabelecimento de estruturas capitalistas.

Transformações na estrutura agrária

Uma das consequências da Expansão Europeia foi a entrada de metais preciosos na Europa.

Ora, se a entrada de ouro e prata na Europa era benéfica para os europeus, também teve as suas desvantagens.

O aumento de metais preciosos na Europa permitiu que se fabricasse cada vez mais moeda, o que levou a que houvesse mais dinheiro do que produtos para comprar. Assim, o dinheiro perdia o seu valor real pois os poucos produtos que existiam eram vendidos a preços muito altos.

Durante o século XVI, devido subida dos preços dos produtos, os senhores feudais, que possuíam quase todas as terras, começaram a perder o seu poder económico.

Porquê?

Para poder enfrentar os altos preços, alguns senhores feudais venderam as suas terras aos mais ricos. Assim, esses homens ricos passaram a ser proprietários de grandes extensões de terras, formando uma burguesia rural.

Outros senhores feudais decidiram aumentar as rendas, o que levou os camponeses rendeiros a abandonar as terras.

  • Outros, ainda, decidiram converter a forma de exploração, substituindo a pequena propriedade pela grande propriedade - alguns senhores feudais decidiram expulsar os rendeiros e juntar todas as pequenas propriedades para formar grandes propriedades chamadas enclosures.

O sistema de enclosures, ou emparcelamento, consistia no agrupamento de minifúndios (pequenas parcelas de terras) para formar propriedades de maiores dimensões e suficientes para uma agricultura mais eficaz e rentável. A produção nas enclosures desenvolvia-se em moldes capitalistas, portanto com utilização de mão-de-obra assalariada e tendo como finalidade da produção o comércio (vender os produtos).

Este novo sistema de exploração agrária, a enclosure tinha grandes vantagens.

Fig. 67 – Enclosure

Vantagens das enclosures

De há mais de cem anos para cá tem sido concedido um tão grande número de licenças para dividir e vedar as terras comunais que se calcula haver um terço a mais de terras cultivadas do que havia anteriormente (...).

As terras vedadas têm vantagens sobre campos abertos porque fornecem abrigo para o gado, que fica cercado nos campos, e defendem as searas contra animais e as pessoas que passam.

In: Os Ócios do Cavaleiro D'Éon de Beaumont, (1775)

Esta transformação das estruturas agrárias e das técnicas agrícolas levou a que, entre os séculos XVI e XVII, ocorresse na Inglaterra uma Revolução Agrária caracterizada pela introdução de novas técnicas de produção, tais como:

  • Abandono do pousio
  • Uso de forragens
  • Aumento das pastagens
  • Uso do estrume
  • Irrigação dos campos
  • Selecção das sementes.

Vê no quadro-resumo a seguir as principais diferenças entre as formas de agricultura feudal e capitalista.

Agricultura feudal

Agricultura capitalista

Pequenas parcelas de terras entregues aos camponeses, que eram obrigados a pagar rendas aos donos das mesmas.

Grandes extensões de terras pertencentes a grandes proprietários capitalistas.

Os camponeses produziam o que precisavam para viver nas parcelas cedidas pelo senhor feudal.

A mão-de-obra assalariada era constituída pelos antigos camponeses expropriados.

Produção em pequena escala, da qual só uma pequena parte era destinada ao comércio.

Produção em grande escala, totalmente destinada ao comércio.

Como resultado destas inovações na agricultura, registaram-se grandes progressos a nível económico e social:

  • Aumento da produção: a mudança na forma de propriedade e a introdução de novas técnicas permitiram um aumento considerável da produção agrícola.
  • Desenvolvimento das cidades: o aumento da produção agrícola, bem como a migração dos camponeses que perderam as suas terras para as cidades permitiram o rápido crescimento destas.
  • Desenvolvimento das manufacturas: para além da produção de alimentos, a agricultura produzia também matérias-primas (algodão), estimulando assim a produção manufactureira.

Transformações na indústria e no comércio

A passagem do artesanato para a manufactura pressupõe mudanças em diversos aspectos.

A indústria feudal era praticada de forma artesanal, em oficinas caseiras de latoaria, de fabrico de esteiras, cestos, carpintaria, etc.

Ora bem, a partir do século XVI, a indústria começou a registar mudanças.

A pequena indústria doméstica começou a dar lugar a uma nova indústria em que o trabalho era feito na fábrica e o número de trabalhadores era relativamente maior: a manufactura.

Veja no quadro abaixo as principais diferenças entre a produção feudal (doméstica) e a produção manufactureira.

Produção feudal (doméstica)

Produção manufactureira

Trabalho feito em pequenas oficinas familiares.

Trabalho feito em fábricas.

Número reduzido de trabalhadores (na sua maioria membros de uma família).

Maior número de trabalhadores, em relação produção feudal.

Ausência de especialização.

Cada operário realiza uma tarefa (especialização).

Produção baixa, em termos quantitativos e qualitativos.

Produção alta, em termos quantitativos e qualitativos.

Tendo em conta as características desta nova indústria, podemos considerar que o surgimento da manufactura permitiu o melhoramento das técnicas e meios de produção, aumentando a produção industrial.

Como se explicam as mudanças na indústria?

Entre os factores que explicam este desenvolvimento da indústria na Europa, podemos destacar dois:

  • Disponibilidade de capitais, provenientes do saque dos mosteiros, comércio, pirataria, pilhagem colonial e tráfico de escravos. Com estas actividades os europeus adquiriam capitais que eram depois aplicados no desenvolvimento da indústria.
  • Aumento da produção de lá e da importação de algodão, seda e linho (matérias-primas da indústria têxtil sector de início da produção manufactureira).

Assim, deu-se a nível da produção uma transformação importante que consistiu na transição da produção doméstica para a produção manufactureira.

Bibliografia

SUMBANE, Salvador Agostinho. H9 - História 9ª Classe. 2ª Edição. Texto Editores, Maputo: 2017.

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