Teorias económicas do Período de Transição (Mercantilismo, Fisiocratismo e Pilhagem colonial e acumulação primitiva do capital)
Teorias económicas do Período de Transição
Nos séculos XVI e XVII, desenvolveram-se na Europa novas
ideias sobre as estratégias a adoptar na economia, com vista a alcançar o
desenvolvimento de cada nação. Essas estratégias ficaram conhecidas pelas
designações de Mercantilismo e Fisiocratismo.
Mercantilismo
Mercantilismo foi uma teoria económica do período de
transição que defendia que a riqueza de um pais se media pela quantidade de
metais preciosos acumulados. No âmbito do Mercantilismo, os governos europeus
tomaram um conjunto de medidas com o objectivo de assegurar a acumulação de
dinheiro e, ao mesmo tempo, promover o desenvolvimento da indústria.
Características do Mercantilismo
O Mercantilismo, como teoria que orientava um conjunto de
práticas, caracterizou-se por cinco aspectos particulares:
1. Metalismo
Este era um princípio básico do Mercantilismo que
defendia que o enriquecimento dos países europeus tinha como base os metais
preciosos (dinheiro). Portanto, quanto mais ouro e prata um pais tivesse, mais
rico e poderoso seria. A importância que os mercantilistas deram ao dinheiro está
patente na expressão «O dinheiro é o sangue das repúblicas».
Os estados que não tivessem esses metais no seu território
poderiam obtê-los através do comércio com o resto do mundo.
2. Manutenção de uma balança comercial
favorável
Seguindo este princípio, os governantes dos diferentes países
europeus deveriam evitar a saída dos metais preciosos, para garantir os
pagamentos internacionais feitos em ouro e prata, mantendo, assim, uma balança
comercial positiva ou favorável.
Portanto, a balança comercial favorável define-se
analisando a relação entre o volume das importações e das exportações. Neste
caso, as exportações dos países deviam superar as importações para que o saldo
fosse positivo.
Para conseguir uma balança comercial favorável, os
estados proibiam a importação de produtos estrangeiros e recusavam-se a
conceder monopólio comercial as companhias.
3. Nacionalismo
O Nacionalismo Económico consistia na promoção do
desenvolvimento das indústrias, com vista a garantir a autossuficiência dos
estados. Isso assegurava que cada um deles se mantivesse livre da dependência
externa.
A indústria devia ser o sector que empregava a maioria da
população, devendo ao mesmo tempo promover o desenvolvimento económico da nação.
4. Paternalismo
O Paternalismo foi outro traço característico do
Mercantilismo. Todo o cidadão gozava de direitos e obrigações dentro do seu
país. Quando começaram a ser organizados alguns sistemas de apoio social e assistência
médica, estes foram estendidos a toda a população, dentro do espírito de
unidade nacional. Significava que todos os cidadãos, dentro desta política,
gozavam da proteção do estado.
5. Imperialismo
Segundo este princípio, cada um dos Estados, para
assegurar a manutenção das suas riquezas, deveria conquistar cada vez mais
colónias. Deste modo, cada Estado ganhava estabilidade económica, uma vez que
podia adquirir metais preciosos e/ou outros produtos tropicais (ou
abastecimentos navais).
Correntes mercantilistas
O Mercantilismo era como já vimos uma teoria económica
que defendia que a base da riqueza das nações residia nos metais preciosos.
Portanto, cada Estado europeu procurava acumular a maior quantidade possível de
metais preciosos. Cada Estado adoptava a sua estratégia, tendo em conta as condições
naturais disponíveis.
Mercantilismo na Península Ibérica
Nos séculos XV e XVI, Portugal e Espanha obtinham metais
preciosos (ouro e prata) a partir do continente africano, americano e Próximo
Oriente, onde tinham ocupado territórios no âmbito da expansão.
O Mercantilismo da Península Ibérica consistiu
essencialmente na acumulação de metais preciosos (ouro e prata) provenientes
das colónias e na limitação da exportação dos mesmos.
Mercantilismo holandês
A Holanda procurou acumular metais preciosos, actuando
como intermediária no comércio europeu e explorando com pormenor o comércio marítimo.
De facto, a Holanda desenvolveu-se graças exploração dos
recursos minerais das suas colónias, como fruto da criação e desenvolvimento da
Marinha, aliada å criação da Companhia Holandesa das índias Orientais em 1602 e
da Companhia Holandesa das índias Ocidentais em 1621.
Neste contexto, a Holanda conquistou, paulatinamente, a
sua prosperidade económica.
Mercantilismo inglês
O Mercantilismo inglês foi desenvolvido a partir do
século XVI (1580), visando a exploração das riquezas nacionais agrícolas,
minerais e industriais.
A Inglaterra, durante o século XVI, protegeu fortemente a
moeda nacional, a libra, mediante a concessão, pelo governo, de privilégios as
empresas industriais e comerciais para conseguir competir com as dos outros
países. Paralelamente, a Inglaterra promulgou o Acto de Navegação, que dava o
privilégio de os barcos ingleses explorarem o comércio marítimo internacional.
Por esta razão, a Inglaterra tornar-se-ia no século XVIII
a grande potência marítima e económica do mundo.
Mercantilismo francês
O Mercantilismo francês ficou também conhecido pela
designação de Colbertismo, em alusão a Colbert, ministro e seu principal defensor,
a par de Richelieu.
Para conseguir a acumulação dos metais preciosos, o
Mercantilismo francês defendia:
- Fomento industrial e protecção da produção nacional, com adopção de uma política alfandegária rigorosa, que fixava tarifas baixas para as exportações e elevadas taxas para importações.
- Forte controlo da qualidade de produção dos operários, devendo-se recrutar para os sectores estratégicos da economia operários nacionais e estrangeiros especializados.
- Dinamização, por todo o país, da construção de infraestruturas socioeconómicas.
Fisiocratismo
O Fisiocratismo foi uma política económica que surgiu na
Europa, na 2ª metade do século XVIII, segundo a qual a riqueza das nações poderia
ser obtida com base na terra (agricultura).
Enquanto para o Mercantilismo a riqueza das nações devia
ser assegurada pela indústria e pelo comércio, para o Fisiocratismo era a agricultura
que devia servir de base da economia de qualquer país. Isto é, para os
fisiocratas, o comércio e a indústria eram actividades secundárias em relação à
agricultura.
François Quesnay foi o principal defensor do
Fisiocratismo. Este economista francês foi o primeiro a perceber que no sistema
económico das sociedades existem sempre formas de mercado onde circulam
mercadorias, pessoas e serviços.
François Quesnay partiu do pressuposto de que a terra é a
única fonte de riqueza, dai a importância maior da agricultura dentro da
economia. Afirmava ainda que a actividade económica, como todos os fenómenos
que ocorrem no universo, é dotada de leis naturais, cabendo ao Estado garantir
o livre curso da Natureza.
Portanto, esta teoria opunha-se ao Mercantilismo, que colocava
a agricultura num plano secundário no contexto da economia dos Estados.
Fig. 37 - François Quesnay (1697-1774). |
Características do Fisiocratismo
As principais medidas defendidas pelos fisiocratas eram:
- As nações deviam promover o desenvolvimento da agricultura, colocando outros ramos económicos (comércio e indústria) em segundo Plano.
- Os estados deviam valorizar e estimular o trabalho da terra, a agricultura, porque criava riqueza e garante liberdade de concorrência, «laissez faire, laissez passer» ou seja, «deixa fazer, deixa passar».
- Os governos deviam suprimir todas as barreiras das exportações dos produtos agrícolas.
Efeitos do Fisiocratismo na Europa
A aplicação do Fisiocratismo teve como consequências o
aumento considerável da produção agrícola. Este facto levou ao desencadeamento
de novos acontecimentos:
Revolução Demográfica –
o aumento da produção agrícola permitiu uma certa melhoria na diversificação da
dieta alimentar, o que significou a melhoria das condições de Vida das
populações; como efeito disso verificou-se o aumento do efectivo da própria
população, o que provocou a chamada Revolução Demográfica.
Divulgação de novas culturas agrícolas –
o novo interesse pela agricultura, ligado à expansão europeia, refletiu-se numa
constante busca de novas culturas, sobretudo nos territórios coloniais, com
vista a estimular esta actividade económica considerada vital para a economia.
Aumento da esperança de Vida da população –
o desenvolvimento da agricultura e a consequente melhoria da dieta alimentar
permitiram que as pessoas passassem a ter mais esperança de Vida, pois passavam
a alimentar-se melhor.
Um dos principais teóricos do Fisiocratismo foi Anne
Robert Jacques Turgot, economista francês cuja obra é considerada um elo entre
a fisiocracia e a escola britânica de economia clássica.
Pilhagem colonial e acumulação primitiva do
capital
Pilhagem colonial e a designação que tem sido usada para
descrever o comércio entre os europeus e os africanos nesta época, em virtude
de ter decorrido numa proporção desigual.
O conceito de pilhagem colonial foi especialmente
sustentado pelas teorias mercantilistas que recomendavam uma grande acumulação
de metais preciosos. Esta prática constituiu a base da chamada acumulação primitiva do capital.
Para concretizar esta acumulação primitiva do capital, os
Estados
europeus puseram em prática várias acções, entre as
quais:
- A exploração intensiva dos recursos minerais e agrícolas das colónias.
- O comércio, desigual, nos moldes em que se praticava.
- A introdução do sistema de manufacturas, o que provocou a falência dos artesãos.
- A pirataria no mar, que consistia na prática de barcos europeus assaltarem os barcos comerciais de outros Estados.
As manufacturas e a usura (pequeno empréstimo que os
bancos concediam aos pequenos proprietários beira da falência, cuja devolução
era feita mediante o pagamento de juros) permitiram a recuperação e a
estabilização económica das nações.
Bibliografia
SUMBANE, Salvador Agostinho. H9 - História 9ª Classe. 2ª Edição. Texto Editores, Maputo: 2017.
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