Estrutura urbana – modelos de estrutura urbana

6.5. Estrutura urbana – modelos de estrutura urbana

A estrutura urbana é a relação urbanística existente no interior do espaço urbano entre as diferentes partes que compõem a cidade: constituída de cidades antigas e de sucessivas zonas habitualmente agregadas concentricamente, a partir do núcleo inicial onde se fundou a cidade.

Assim, a organização interna da cidade é feita mediante o recurso a várias teorias. Tais teorias visam explicar a maneira como o solo urbano se encontra organizado, quer seja em função da história do desenvolvimento da cidade, acessibilidade ou do valor do solo.

Assim, São três as teorias principais, a saber:

  • A teoria dos círculos ou zonas concêntricas ou Modelo de Burgess, criada em 1925;
  • A teoria dos sectores ou Modelo de Hoyt, criada em 1939;
  • A teoria dos Centros Múltiplos ou a cidade multinucleada, também chamada de Modelo de Harris e Ullman, criada em 1945.

Teoria de zona concêntrica ou dos círculos (Modelo de Burgess) Surgiu nos anos 20, em Chicago, por E. Burgess que se baseou nos seus estudos de Sociologia para explicar como nas áreas urbanas se distribuiriam as classes sociais. Estabeleceu os nove pressupostos em que assenta o modelo:

  • Heterogeneidade social e cultural;
  • A base económica da cidade é o comércio e a indústria;
  • Existência de propriedade privada;
  • População e área urbana em expansão;
  • Homogeneidade de transportes;
  • O centro, fruto da competição pelo seu espaço, tem valor mais elevado do que a periferia;
  • Isotropia do solo (do grego — isos = igual e trópos = direcção);
  • Inexistência de indústrias pesadas;
  • Sem passado histórico.

Este modelo descreve o uso de terra urbana em anéis concêntricos.

As zonas identificadas são:

  • O centro é o CBD;
  • A zona da transição de usos (uso residencial, comercial, industrial, etc.);
  • Residência dos trabalhadores que deixaram o segundo anel;
  • Residência da classe média e alta;
  • Residência das populações pendulares (até 1 hora de distância do CBD).

Com esta teoria, Burgess defendia o princípio de que o desenvolvimento de uma cidade se fazia de dentro para fora, ou seja, a partir de um lugar central para a periferia, formando zonas concêntricas, ao que ele chamou de movimento centrifugo.

Esta teoria foi sujeita a críticas por outros trabalhos subsequentes. Esta censura considerava o modelo limitado, irreal e demasiado rígido, devido principalmente utilização da isotropia do espaço e não ter em atenção a descentralização das actividades económicas e das populações.

De facto, a fraqueza desta teoria cingia-se no facto de muitas cidades desenvolverem-se e deixarem um desenho em perspectiva estrelar e não no formato de anéis concêntricos, pelo facto do seu desenvolvimento estar a ser operado ao longo das estradas. No entanto Burgess entendia que o seu modelo só devia ser posto em prática onde não existisse factores de distorção tais como a topografia.

A teoria dos sectores (Modelo de Hoyt)

Esta teoria data de 1939 e foi desenvolvida pelo economista Homer Hoyt. Esta surge como oposição a teoria de Burgess. Apesar disso são utilizados os mesmos pressupostos, mas esta presta especial atenção ao funcionamento dos transportes relativamente Vida citadina, a das indústrias e ao crescimento das áreas habitacionais. Perto do centro surgem contrastes na utilização do solo e estes continuam medida que a Cidade se vai expandindo. Vários sectores propagam-se a partir do centro utilizando, geralmente, as Vias de comunicação principais.

Assim que a classe alta se estabelece numa determinada área, sobem os preços dos terrenos dessa área. Segundo este modelo, a estrutura urbana resulta da existência de vias de comunicação principais que permitem um acesso rápido ao CBD, as áreas de classe alta e baixa repelem-se, distancia considerável às zonas industriais, espaços livres disponíveis.

Teoria dos centros múltiplos (Cidade multinucleada)

Criada pelos geógrafos Harris e Hullman em 1945, esta teoria preconiza que as cidades são constituídas por uma estrutura do tipo celular em que a utilização do solo se desenvolve a partir de núcleos de crescimento. A utilização do solo em redor desses núcleos depende de quatro factores:

  • A localização do centro ou CBD no ponto de acessibilidade máxima;
  • Determinadas actividades agrupam-se pois retiram dividendos dessa coesão;
  • Existência de actividades inconciliáveis;
  • Actividades que São incapazes de produzir mais-valias mesmo encontrando-se em áreas desejáveis.

A estrutura das cidades, segundo esta teoria, resulta das forças económicas e das particularidades das suas áreas internas. A história da cidade é um factor a considerar pois é importante no desenvolvimento da malha urbana.

O modelo do uso do solo urbano estrutura-se volta de vários núcleos, não adjacentes, podendo mesmo antigas aldeias servirem como núcleo devido expansão da cidade que as incorpora na sua malha.

O estudo das características espaciais da estrutura urbana, fundamentalmente do travado viário (travado urbano), aberto ou fechado, e a forma de seu plano urbano, toma o nome de morfologia urbana, conceito intrinsecamente relacionado com a estrutura urbana (uma vez que são a forma e a função da cidade), de modo que é habitual falar conjuntamente de estrutura e morfologia urbana.

A relação existente para o exterior, ou seja, entre a cidade e sua área de influência ou entre muitas cidades, quer estejam distantes ou estejam contidas dentro de um aglomerado Urbano, constitui outro conceito que toma o nome de hierarquia urbana, que se estuda a partir de modelos, como seja a teoria dos lugares centrais.

Extensão física da área urbana e sua organização

As cidades e localidades exercem uma certa atracção à sua volta devido à existência de bens e serviços não disponíveis noutros locais (lugar central). Diz-se então que urna certa localidade ou região tem funções centrais quando disponibiliza bens centrais para tal acontecer. Assim:

Bem central – é o serviço ou artigo que só é adquirível num determinado lugar que é central em relação ao conjunto da população que o procura.

Função central – é qualquer actividade económica terciária que assegura o fornecimento de um bem central.

Lugar central – é o lugar onde se exercem as funções centrais que servem a sua área complementar.

Funções raras – estão ligadas actividade económica terciária que só se encontra em lugares centrais (ex: hotel, bancos, etc.).

Função vulgar – actividade económica terciária que se encontra em geral em todos os lugares centrais com diversos estabelecimentos (ex: tabernas, mercearias, padarias, etc.).

Localização de bens centrais – a maior ou menor abundância num certo local de uma função económica terciária, depende essencialmente das leis da oferta e da procura. Deste modo, para cada função existe uma área de atracção que é considerada mínima para que as actividades possam subsistir com suficiente garantia de viabilidade económico (limiar minino). Porém, a não existência de funções iguais (melhor preço ou qualidade) poderão determinar que a sua função seja atractiva muito para além do mínimo, atingidos os locais onde as pessoas estarão dispostas a percorrer, para se deslocarem a esse lugar central (limiar máximo). Portanto, o limiar mínimo varia de acordo com a função, e revela-se muito pequeno para uma função como a mercearia. Terá de ser muito maior para uma função como a venda de móveis ou de electrodomésticos. Foi com base neste conceito de atracção que se desenvolveram modelos de localização dos lugares centrais, bem como a sua hierarquia.

Bibliografia

MANSO, Francisco Jorge; VICTOR, Ringo. Geografia 12ª Classe – Pré-universitário. 1ª Edição. Longman Moçambique, Maputo, 2010.

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