Factores de localização da indústria

3.2. Factores de localização da indústria

A actividade industrial não está distribuída uniformemente sobre a superfície terrestre, pois existem áreas de maior concentração industrial que contrastam com espaços onde não existe actividade industrial. Este facto deve-se conjugação de factores de ordem físico-natural e socioeconómica. Assim, diversos são os factores que concorrem para a localização das unidades industriais, nomeadamente: matérias-primas, energia, água, mão-de-obra, mercado consumidor, transporte e vias de comunicação, o capital, a inércia geográfica, solidariedade técnica, o espaço, o ambiente e a acção do Estado. Pela sua infinidade, cingir-nos-emos apenas a alguns dos principais factores.

FACTORES FÍSICO-NATURAIS

para que a localização de uma fábrica seja óptima, é necessário que vá originar a maximização de lucros por minimização de investimentos. Nesta perspectiva, dá-se enfâse conjugação total dos factores responsáveis pela localização espacial da indústria, embora haja um que mais se destaque.

Matérias-primas
A matéria-prima é o ponto de partida para a obtenção de qualquer produto elaborado ou semielaborado de que a indústria necessita. Portanto, a sua dependência varia na razão da natureza da matéria-prima. Para as indústrias que utilizam matérias-primas de maior desperdício, bastante volumosas e/ou pesadas como, por exemplo as indústrias açucareiras, siderúrgicas, indústria extractiva mineira, etc., elas devem localizar-se preferencialmente junto às fontes de matérias-primas, com vista a reduzirem os maiores desperdícios, bem como os custos de transportes, permitindo assim a maximização do capital. O mesmo acontece com as indústrias que utilizam matérias-primas perecíveis ou de fácil deterioração, tal é o caso das agro-indústrias (indústria de conserva de tomate, por exemplo) que se devem implantar, neste caso, junto às plantações de tomate.

Fontes energéticas
É inquestionável o papel que as fontes energéticas exercem para a localização das indústrias.
Contudo, a energia a utilizar depende essencialmente da sua rentabilidade, da sua abundância e do tipo de indústria.

As indústrias pioneiras localizavam-se junto às bacias carboníferas de carvão, junto aos cursos de água para aproveitar a energia hidráulica e próximo das florestas para explorar a lenha e carvão.

Estas indústrias tinham que forçosamente localizar-se junto às suas fontes. Dai que durante muito tempo o carvão mineral (especialmente a hulha) tornou-se o «pão da indústria» quer como combustível, quer como redutor na produção de ferro e ago. Mas com o decorrer do tempo, embora estas fontes energéticas exercessem um papel preponderante na localização das indústrias, constata-se que este condicionalismo tem perdido pouco a pouco a sua função, visto que com a descoberta de novas fontes energéticas — petróleo, gás natural e electricidade - facilmente transportáveis a longas distâncias, veio libertar as indústrias dos imperativos de localização.

Este facto é explicado porque o petróleo e o gás natural prestam-se bem a serem transportados por oleodutos e gasodutos de grande extensão — por milhares de quilómetros - que ligam poços de extracção as refinarias ou aos portos de embarque. Por isso, a indústria está pouco condicionada por este factor.

Quanto à electricidade, importa frisar que esta é uma forma de energia facilmente transportável, dai que a dependência locativa da indústria relativamente às zonas de obtenção de energia eléctrica seja relativamente pequena.

Água
A água é um facto técnico de localização industrial simultaneamente antigo e moderno. Nesta Visão, a água é usada na indústria como matéria-prima (indústria química e de refrigerantes), para a lavagem ou limpeza dos escritórios e instalações, diluição, no resfriamento de maquinarias (caldeiras e centrais termoelétricas), etc. Todas as indústrias necessitam de água, uma mais do que outras. As que consomem maior quantidade de água são as indústrias químicas, siderurgias, têxtil e a de pasta para papel. Estas indústrias têm, pois, necessidade de se localizarem em locais onde exista água em abundância, como por exemplo, nas margens dos grandes rios.

Ambiente
Algumas indústrias são altamente poluidoras e, por isso, perigosas para a saúde das populações que vivem nas suas imediações, visto que estas indústrias provocam poluição sonora, do solo, atmosférica e hídrica que impedem assim o desenvolvimento das espécies floro-faunísticas e, principalmente, perigam a saúde humana. Assim sendo, alguns governos decretam leis que estimulam a sua migração para locais muito distantes dos aglomerados populacionais, especialmente das cidades, com vista a permitir uma boa saúde pública e a salvaguarda do meio ambiente.

Espaço
Este factor é actualmente um dos mais importantes na localização das indústrias. A expansão continua destas conduz inevitavelmente falta de espaço nos terrenos anteriormente adquiridos.
Por um lado, o preço elevado dos terrenos e as restrições à industrialização urbana tornam mais cómodo e rentável vender o terreno ocupado pela antiga indústria e construir fábricas novas em espaços mais desafogados. Por outro, a implantação de uma unidade industrial ou um complexo industrial tem de ter em atenção a natureza do material litológico e a geomorfologia, isto é, o tipo de rocha e solos predominantes, a disposição orográfica (topografia) e a menor ou maior dimensão do terreno. Isto porque existem indústrias que, pelas suas características, necessitam de um espaço maior, não só para ocupá-lo com infra-estruturas, mas porque também precisam de um espaço amplo para as operações de manuseamento de cargas, tanto de matéria-prima como do produto final, feito por camiões e outras maquinarias.

Nesta perspectiva, as indústrias migram para a periferia porque no meio rural o custo do espaço é mais barato. No meio rural evitam-se, também, as dificuldades do trânsito rodoviário (congestionamento) que frequentemente acontecem nas cidades que dificultam o fluxo de mercadorias.

SOCIOECONÓMICOS

Do ponto de vista socioeconómico destacam-se os seguintes factores: capital, mão-de-obra, mercado consumidor, transportes e vias de comunicação, acção do Estado, solidariedade técnica e inércia geográfica.

Capital
A criação e funcionamento de uma indústria moderna exige avultados investimentos, tanto para a aquisição de equipamento (maquinaria), meios de transportes, compra de terreno, pagamento de mão-de-obra, impostos, publicidade, marketing, etc. Assim sendo, constata-se que, apesar disso, o capital exerce hoje urna fraca influência na localização industrial, dada a eficiência e rapidez das comunicações e o desenvolvimento da informática que permite maiores transações de valores, ou seja, de operações bancárias. A sua influência é decisiva apenas ao nível da distribuição mundial da indústria. Só para elucidar, os países de terceiro mundo possuem fraco desenvolvimento industrial devido principalmente insuficiência de capitais, pelo que as poucas indústrias ai existentes são controladas pelos detentores do capital (multinacionais) dos países desenvolvidos e industrializados.

Mão-de-obra
A quantidade e qualidade da mão-de-obra obrigam muitas vezes as indústrias a localizarem-se em certas regiões. Constata-se que nem todas as indústrias têm a mesma exigência quanto a mão-de-obra, isto é, há indústrias que a exigem muito, como por exemplo, a indústria têxtil e a de confecção de calcado e, por isso, tais indústrias tendem a localizar-se em locais que ofereçam mão-de-obra abundante, barata e não qualificada.

As cidades são geralmente os grandes centros de atracção para estas indústrias, pois ai encontram a mão-de-obra que necessitam. Para outras indústrias não interessa a quantidade, mas sim a qualidade e a especialização da mão-de-obra. São exemplo a indústria aeronáutica, electrónica, etc., e estas geralmente localizam-se junto aos centros urbanos, universidades e centros de pesquisa e investigação científica. Além disso, os técnicos especializados exigem determinadas condições de Vida que só os centros urbanos oferecem. 

Mas actualmente nota-se pouco a pouco que esta dependência em relação aos centros urbanos vem sendo atenuada, pois o desenvolvimento dos meios de transportes e comunicação cada vez mais rápidos e cómodos, permitem grandes deslocações em curto espaço de tempo e a longas distâncias, o que faz com que sejam as indústrias a atrair a mão-de-obra e não o inverso. As grandes multinacionais encarregam-se de recrutar a mão-de-obra e formá-la. Não obstante, a automatização e automação do trabalho originam uma diminuição da dependência da localização das indústrias em relação mão-de-obra.

Mercado consumidor
O poder de atracção que as cidades exercem sobre as indústrias não se resume apenas Oferta de mão-de-obra, pois estas constituem também vastos mercados de consumo, pelo que são para elas atraídas muitas indústrias ligeiras, como as do vestuário, produtos alimentares, refrigerantes, artigos elétricos, artes gráficas, entre outras.

Assim como o industrial procura sempre maximizar o lucro com o menor investimento de capital, o mercado é um dos primeiros aspectos a ter em consideração, sob risco de ver o Seu maior objectivo comprometido. Desse modo existem indústrias que devem-se localizar junto ao mercado por causa da dinâmica das necessidades dos seus consumidores. Como, por exemplo, a indústria de confecção de vestuário e as indústrias de artigos de luxo, no caso concreto de joias, que devem acompanhar de perto os estilos de Vida dos consumidores.

Nesta perspectiva, importa sublinhar que a atracção das indústrias pelo mercado consumidor é também impelida pelo custo dos transportes e natureza do produto, isto é, no caso do produto final ser de difícil ou frágil transporte, a indústria deverá localizar-se próximo do lugar do Consumo. Temos como exemplo as indústrias alimentares de frutas e refrigerantes, electrónica, entre outras.

Transporte e vias de comunicação
Os meios de transportes e comunicação constituem factores decisivos para a localização da indústria pois estes permitem trazer a matéria-prima da sua fonte para a indústria, desta para o mercado consumidor e, por sua vez, do mercado consumidor novamente às indústrias (no caso dos produtos semiacabados). Apesar disso ela também contribui para a mobilidade espacial da energia e mão-de-obra. Para as indústrias cujo produto final é de difícil transporte, por necessitar de cuidados especiais, como por exemplo, a indústria de mobiliário, eletrodomésticos, etc., estas devem localizar-se preferencialmente junto as vias de transportes e comunicação.

Acção do Estado
Alguns Estados intervêm na distribuição geográfica das suas indústrias. Assim, estes descongestionam as indústrias das regiões densamente industrializadas para regiões deprimidas, com vista a reduzir os desequilíbrios económicos existentes e reduzir o desemprego, as migrações pendulares e o êxodo rural, etc. Para isso, os governos têm tomado uma série de medidas que estimulam a implantação de unidades industriais em regiões rurais ou naquelas em que há menor desenvolvimento socioeconómico e industrial, por meio de isenções fiscais, ou então, redução das taxas de impostos em determinados períodos de tempo em detrimento das regiões fortemente industrializadas. E criam ainda infra-estruturas de modo a atrair os empresários.

Paralelamente a esta visão, por questões estratégicas, alguns países desenvolvidos expandem as suas indústrias (multinacionais) para todo o mundo para evitar que o seu parque industrial seja eventualmente destruído por possíveis conflitos militares (guerras).

A inércia geográfica
A distribuição geográfica de muitas indústrias actuais tem a sua explicação no passado, pois a sobrevivência de uma área industrial antiga reside em muitos casos na inércia geográfica, ou seja, na resistência ao declínio quando desaparecem as vantagens locativas iniciais. Uma área pode ter-se tornado um centro industrial importante graças à existência próxima de matérias-primas, de recursos energéticos ou outros factores. Desaparecidos ou esgotados tais factores, o ideal seria pensar-se que o centro industrial seria abandonado e que consequentemente desapareceria. Todavia, este pode resistir ao declínio e manter-se.

As razões que explicam a inércia geográfica baseiam-se em dois aspectos: primeiro, deve-se imobilidade do equipamento (edifícios e maquinarias) que é, normalmente, de grande durabilidade e que representa um maior investimento. Dai que os proprietários das empresas procurem mantê-las em actividade naquele mesmo espaço, pois torna-se economicamente mais fácil expandir a infra-estrutura industrial já existente ou mesmo reconvertê-la, do que construir novas fábricas em regiões diferentes. Segundo, porque a existência duma força de trabalho qualificada e a solidariedade técnica, desenvolvimento de meios de transportes e comunicação a fama de certa reputação, a presença de vantagens comparativas no que respeita a facilidades socioeconómicas, compensam em grande parte as desvantagens surgidas, mantendo assim as indústrias naqueles locais iniciais.

O exemplo disso é o que se verifica nas siderurgias de Pittsburgh (EUA) e Sheffield no Reino Unido onde a atracção pelas localizações iniciais tem diminuído de importância, mas, heranças do passado aliadas vantagem resultante da proximidade de muitas siderurgias, têm-lhes assegurado o lugar que ocupam na produção siderúrgica dos respectivos países.

Solidariedade técnica
A solidariedade ou complementaridade técnica é um dos factores-chave para a localização espacial das indústrias, uma vez que se traduzem em condições adequadas para a implantação fabril, referimo-nos às vias de transportes e comunicação, energia, serviços variados como a banca, seguros, hospitais, rede de abastecimento de água, escolas, etc. Muitas indústrias aproveitam-se delas e estabelecem-se próximo ou em redor da(s) primeira(s) indústria(s), com vista a beneficiarem das condições criadas e minimizarem os seus custos de produção.
 
Fig.15: Zona industrial.

Assim, verifica-se que a aglomeração das diversas indústrias, mesmo independentes, faz baixar os custos das infra-estruturas de suporte que as servem, pela sua utilização comum. Por exemplo, o Parque Industrial da Matola, na província de Maputo, tornou-se numa área de muitas indústrias, pese embora o facto de ser uma região com inicial função industrial e residencial. Na zona de Beleluane-Matola Rio, onde está instalada a Fábrica de Alumínio de Moçambique (Mozal), é notória a influência da solidariedade técnica e tem-se verificado uma tendência crescente de surgimento de muitas indústrias e empresas diversificadas em seu redor, como resultado das condições socioeconómicas e técnicas criadas inicialmente pela Mozal.

Organização do trabalho industrial

A actividade industrial possui uma organização peculiar que a distingue de tantas outras actividades. Assim, algumas das formas de organização científica do trabalho industrial são: o taylorismo, o fordismo, a estandardização, a produção em série, o trabalho em cadeia, a especialização e a organização industrial das grandes concentrações.

  • a)    Taylorismo
O taylorismo surge através do engenheiro americano Frederick Taylor, nos princípios do século XX. Taylor pôs em prática as primeiras regras a que deve obedecer a produção industrial, cuja base fundamental é a divisão de tarefas por operário, isto é, a sua especialização. Assim, o taylorismo assenta nos seguintes princípios: a cada operário ou grupo de operários caberá apenas a execução de uma tarefa especifica, advindo dai uma execução mecânica e automática cada vez mais perfeita, eliminando-se a perda de tempo e dos movimentos desnecessários e esforços inúteis. Cada operário deverá ser selecionado para realizar uma tarefa de acordo com as suas aptidões e também cada operário será remunerado em função do seu rendimento.

Estas regras incrementarão o rendimento e a produção, logo a empresa terá maiores lucros e menos custos de produção. Este autor preconizava ainda que por esta via seria possível reduzir o número de operários e, por conseguinte, a despesa em salários.

Apesar das vantagens oferecidas, há uma listagem de desvantagens, a saber: o operário poderá cansar-se devido monotonia na execução das tarefas e consequentemente poderá reduzir o seu rendimento. Uma outra desvantagem consiste no facto da exclusão de operários ser grande e o facto de o trabalhador ou operário não dispor de espaço para implementar as suas iniciativas.
Ademais, a implementação deste princípio conduz ao maior índice de desemprego.

  • b)    Fordismo
Henry Ford, um industrial americano de automóveis, aperfeiçoou ao mais alto nível o taylorismo, permitindo assim absorver os operários de qualquer aptidão física, pois para todos havia uma tarefa especifica, inclusivamente para os cegos, bem como para os operários sem membros.

O fordismo tinha uma abordagem diferente do taylorismo, isto porque Ford tinha um carácter mais humano, pelo que se preocupava com o bem-estar do seu trabalhador ou operário. Elevou os salários e repartia os lucros, pelo que, inteligentemente, fez dos seus operários compradores de automóveis que eles mesmos produziam.

  • c)    Estandardização
A estandardização ou padronização é um processo que consiste na produção de artigos ou objectos de dimensão e forma única e ou semelhante, de modo que a sua utilização seja universal, independentemente da marca de fabrico. Por exemplo, os parafusos, as velas, as lâmpadas, as rodas de automóvel, entre tantos outros objectos.

  • d)    Produção em série
A produção em série consiste em produzir em massa, ou seja, em larga escala produtos idênticos, isto é, tanto a máquina como o operário adaptam-se a cada fim específico, desde a entrada da matéria-prima até saída do produto final.

A cada momento da operação corresponde uma tarefa distinta com um produto diferente, o que implica necessariamente redução de máquinas e equipamento, aperfeiçoamento do operário e, por conseguinte, redução de custos devido maior produtividade. Este processo é resultado do taylorismo e fordismo.

  • e)    Trabalho em cadeia
O trabalho em cadeia é um nível de produção em série. As várias fases sucedem-se ininterruptamente, do princípio ao fim, e todas elas interligadas, ordenadas harmoniosamente segundo uma orientação racional. Neste, o operário não se desloca, permanece sempre no mesmo local, pois é a máquina ou tapete rolante que vai rolando e trazendo os produtos que passam junto de cada operário, cabendo a este executar a tarefa que lhe está predeterminada. As chamadas Linhas de montagem são a perfeição do trabalho em cadeia, e estão presentes nas fábricas de automóveis, eletrodomésticos, refrigerantes, etc.

As inconveniências deste processo, prendem-se nos embaraços da fase seguinte, devido à não execução de alguma tarefa no momento previsto por parte do operário. A fadiga da tarefa no momento previsto é um outro aspecto a considerar, dado que o operário realiza tarefas rotineiras. Finalmente, o operário torna-se uma autêntica peça da máquina.

Especialização
A especialização é o corolário da evolução de toda a organização de que falamos anteriormente, tendo como base a divisão do trabalho em tarefas especificas, esta data das corporações dos ofícios na Idade Média e foi aperfeiçoada no século XVIII pelo inglês Adam Smith. O fim em vista é maximizar a produção e a produtividade, pois cada operário familiariza-se mais com as máquinas que lhe estão destinadas, e ao atingir a máxima perfeição atinge o máximo rendimento, que corresponde ao fim último em vista.

Organização das grandes concentrações industriais

A concentração industrial assume hoje um papel preponderante, pois permite a maior concorrência industrial e, consequentemente, o crescimento económico. A concentração industrial pode ser geográfica e financeira. A concentração geográfica ou técnica está relacionada com a associação de estabelecimentos industriais num determinado espaço. Por sua vez, a concentração financeira da indústria diz respeito ao crescimento do tamanho das empresas.

Entenda-se aqui empresa como uma unidade financeira de produção que resulta da concentração do capital e da sua centralização. Esta unidade financeira tem uma sede social e pode comportar um número qualquer de estabelecimentos situados em locais variados e distintos da localização da sede social. Por seu turno, por estabelecimento entenda-se como a unidade visível, e que ocupa um lugar no espaço.

A concentração económica produz-se por vários processos, dos quais os principais são:
  •  a ampliação duma empresa pioneira que constrói novas unidades fabris;
  • a fusão - que consiste na reunião de muitas empresas de importância semelhante numa só;
  • a absorção — consiste na absorção de várias empresas pequenas, pela maior;
  • tomada de posição em sociedades por acções — este é o processo que actualmente assume maior importância. As grandes sociedades tornam a participação noutras e procuram controlar estas por meio duma posição maioritária.
Assim, a concentração económica assume, por outro lado duas formas principais: a concentração horizontal e a concentração vertical ou integração.

concentração horizontal – consiste no conjunto de várias empresas similares, isto é, cujos produtos fabricados são idênticos, com o intuito de melhor controlarem os mercados e os preços. Por exemplo, uma concentração que inclui várias empresas que produzem veículos desde bicicletas, motorizadas, automóveis, autocarros e tratores.

Na mesma categoria de exemplo, a indústria automobilística norte-americana, que antes contava com uma centena de sociedades, reagrupou-se em proveito de três consultores principais: a General Motors, a Ford e a Crysler. Por sua vez, a Philips (Holanda), a Grundig (Alemanha) e a Sanyo (Japão) são três das grandes marcas que dominam o mercado mundial de televisores, rádios e outros eletrodomésticos.

concentração vertical ou integração — consiste na integração ou agrupamento de várias indústrias ou empresas de actividades produtivas complementares, podendo ir desde a produção de matérias-primas até ao fabrico e venda de produtos acabados.

A integração pode ser ascendente (ou montante) quando a expansão faz-se na direcção da produção de matérias-primas pela actividade principal (fabrico de produtos acabados). Por exemplo, a Ford fabricante de automóveis, é proprietária de minas de ferro, de unidades siderúrgicas, de vias-férreas, plantação de borracha, de grandes entrepostos comerciais, etc.

Diz-se integração descendente (ou a juzante) quando a empresa se expande em direcção à produção e à qual a actividade inicial fornece as matérias-primas. É o caso de algumas sociedades petrolíferas que através da concentração vertical descendente passaram a refinar o seu petróleo e a fabricar produtos químicos derivados do petróleo e destinados ao consumo corrente.

A concentração vertical e horizontal possibilitam a redução dos custos da produção e, portanto, a aplicação dos princípios das economias de escala, permitindo desde modo a maximização dos capitais por baixo investimento, segurança do aprovisionamento em matérias-primas ou semielaboradas, stocks, evitar as concorrências comerciais e consolidar o seu monopólio e oligopólio do mercado. No primeiro caso, refere-se ao domínio ou controlo do mercado por uma empresa ou uma indústria. No segundo caso, acontece quando duas ou mais empresas controlam ou dominam o mercado.

Importa-nos salientar que apesar de existirem algumas empresas e indústrias que optam em organizar-se em concentração horizontal e outras em concentração vertical, existem as que preferem adoptar as duas formas de concentração simultaneamente, constituindo assim grandes potentados industriais, com fabulosos volumes de vendas e com muitas dezenas e mesmo milhares de empregados. Destas fazem parte, por exemplo, a General Motors, a Ford, ambas nos EUA, a Unilever na Holanda e no Reino Unido, a Hitachi no Japão, a Siemens na Alemanha, entre tantas outras.

Conforme os tipos de relações económico-jurídicas que se estabelecem entre as empresas associadas, estas tomam designações diferentes, nomeadamente:
  • Os Trusts — são concentrações gigantescas que agrupam empresas que não perdem a sua existência jurídica própria, mas perdem a independência económica e financeira em favor de uma delas. Por exemplo, a Philips, Shell, Bayer, etc.
  • Os Cartéis — são concentrações de empresas de um mesmo ramo industrial que celebram entre si um acordo com o fim de suprimir a concorrência ao controlarem o mercado.
Conservam a sua independência jurídica e financeira, como também se regulam por códigos de cumprimento mútuo, embora cada empresa mantenha a sua direcção. O exemplo disso é a forma de funcionamento das empresas da UE e as da OPEP (Organização dos Produtores e Exportadores de Petróleo). Esta última acerta entre si os preços e a quantidade de produção do petróleo.
  • Conglomerados — são firmas constituídas por empresas com ligação financeiras e que trabalham em sectores diversificados (por exemplo, a ITT agrupa eletrodomésticos, mobiliário, hotelaria, indústrias alimentares, etc.). Constata-se que a sua natureza favorece a redução dos riscos económicos, por outro lado permite-lhe obter maior rendimento dos sectores mais rentáveis. Igualmente nesta categoria encontramos a Coca-Cola, IBM, Mitsubishi, Renault, etc. As multinacionais ou transnacionais fazem parte desta categoria, pois assim se designam por estarem localizadas ou sedeadas em várias nações.
  • Holdings – consiste num grupo bancário que controla e agrupa participações de numerosas sociedades comerciais. Neste caso, alguns grandes bancos controlam por maioria de acções centenas de empresas comerciais e industriais sem intervirem directamente na produção.

Bibliografia
MANSO, Francisco Jorge; VICTOR, Ringo. Geografia 12ª Classe – Pré-universitário. 1ª Edição. Longman Moçambique, Maputo, 2010.

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