Função didáctica Domínio e Consolidação

FUNÇÃO DIDÁCTICA DOMÍNIO E CONSOLIDAÇÃO

Introdução
Depois da realização da função didáctica “mediação e assimilação”, assim como ao longo deste processo, considera-se importante envolver na actividade do professor e os alunos acções com vista a conseguir nos alunos o domínio e consolidação da matéria; veremos, mais adiante, que correr na apresentação das novas matérias apenas para cumprir o programa não é satisfatório no PEA, eis porque, nesta função didáctica, falaremos de dois aspectos principais:
  • As razões que justificam a necessidade de realização da função didáctica “domínio e consolidação”.
  • As acções didácticas para a realização do “domínio e consolidação”.
  • 1.     Porquê o trabalho do professor não deve limitar-se apenas na progressão linear no tratamento do novo conteúdo através da “mediação e assimilação”, devendo por isso incorporar também a consolidação da matéria?
  • 2.     De que forma o “Domínio e Consolidação” pode ser realizado noutras funções didácticas?
Se olharmos para o PEA como tendo o objectivo de conseguir que os alunos, efectivamente, aprendam, vemos que o trabalho com a nova matéria não se deve reduzir a simples exposição e explicação dessa matéria e coloca-la a disposição dos alunos. Mas deve, ao mesmo tempo, ir tratando de conseguir o aprimoramento desse (já não) novo saber nos alunos, visto que o trabalho docente consiste em prover as condições de assimilação e compreensão da matéria, incluindo já exercícios e actividades práticas para solidificar a compreensão. Entretanto, o processo de ensino não para por ai. É preciso que os conhecimentos sejam organizados, aprimorados e fixados na mente dos alunos, a fim de que estejam disponíveis para orientá-los nas situações concretas de estudo e de vida. Do mesmo modo, em paralelo com os conhecimentos e através deles, é preciso aprimorar a formação de habilidades e hábitos para a utilização independente e criadora dos conhecimentos.

Trata-se, assim, do que justifica a necessidade de se ter no PEA uma etapa, uma FD essencialmente destinada ao domínio, consolidação e fixação da matéria. Alias, os conteúdos só são realmente dominados, assimilados, apropriados, quando se atingiu a capacidade de operar com eles nas varias tarefas de aplicação teórica e pratica; e para tal, são necessárias na continuidade do trabalho com os conteúdos novos, etapas, fases ou componentes do PEA que tem por objectivo directo a consolidação e o domínio dos conteúdos: no PEA é preciso proceder-se a uma constante consolidação dos resultados da aprendizagem.

Esta constante consolidação dos resultados requer que o professor veja o PEA como unidade de todas as funções didácticas. Muitos professores são habilidosos na “Introdução e Motivação”, outros podem expor o novo conteúdo de modo impressionante e estimular os alunos para a autoactividade criadora. Mas nem todos estes professores tem habilidades para terminar o processo de ensino-aprendizagem: não só é interessante a motivação, a exposição do problema e do conteúdo que desperta o entusiasmo e a viva conversação na sala de aulas. Integram o PEA também a repetição e sistematização planificadas, a pratica intensiva e a aplicação variada dos conhecimentos e habilidades.

O professor que só adianta, no sentido de que se limita apenas no tratamento da matéria nova, não adianta realmente, porque no ensino só se progride rapidamente quando se está consciente de que o “esquecido” faz parte dos processos psíquicos normais do homem, contra o qual, o professor, deve lutar prudentemente, sem ilusões, mas com energia necessária e optimismo pedagógico fundamentado: a mediação da nova matéria deve realizar-se de modo que seja eficaz para a transmissão de potencialidades de fixação imanente (mediante relances, sistematizações, repetições e aplicações imanentes); ademais, as operações didácticas com o objectivo directo de fixação, de consolidação didáctica (repetições, exercícios, controle de rendimentos) devem estar relacionadas adequadamente com a mediação da nova matéria, por exemplo, durante as aulas em que predomina a função didáctica “mediação e assimilação”, se devem repetir os aspectos e generalizações mais importantes e se presta especial atenção aos conhecimentos que os alunos devem memorizar (nomes, fichas, regras, formulas, etc.) e a matéria a memorizar deve ser destacada nas mais diversas formas (esquemas, desenhos, diagramas, etc.), ao mesmo tempo que se assegura o exercício para o reconhecimento e sinalização do essencial, sublinhando o mais importante.

Por essa razão, as tarefas de recordação e sistematização, os exercícios devem prover o aluno oportunidades de estabelecer relações entre o estudado e situações novas, comparar os conhecimentos obtidos com os factos da vida real, apresentar problemas ou questões diferentemente de como foram tratados no livro, pôr em prática habilidades e hábitos decorrentes do estudo da matéria.

A consolidação, neste sentido, pode dar-se em qualquer etapa do processo didáctico: antes de iniciar matéria nova, recorda-se, sistematiza-se, são realizados exercícios em relação a matéria anterior; no estudo do novo conteúdo, ocorre paralelamente às actividades de assimilação e compreensão. Mas constitui também, um momento determinado do processo didáctico, quando é posterior à assimilação inicial e compreensão da matéria.

O “Domínio e Consolidação” pode ser, pelo menos de três tipos: reprodutiva, generalizadora e criativa.

A consolidação, conforme ilustra a figura abaixo, pode ser reprodutiva, de generalização e criativa. Estes três tipos, conforme já deve ter analisado, se diferenciam no seguinte:

Variações da Consolidação



Consolidação generalizadora:
- Inclui a aplicação de conhecimentos para situações novas, apos a sua sistematização;

- Implica a integração de conhecimentos de forma que os alunos estabeleçam a relação entre os conceitos, analisem os factos e fenómenos variados sob vários pontos de vista, façam a ligação dos conhecimentos com novas situações e factos da prática social
Consolidação reprodutiva:
- Tem carácter de exercitação, isto é, apos compreender a matéria os alunos reproduzem conhecimentos, aplicando-os      a        uma situação conhecida.

Consolidação criativa:
- Refere-se a tarefas que levam ao aprimoramento do pensamento independente e criativo, na forma de trabalho independente dos alunos sobre a base das consolidações anteriores.

FD “D+C”: formas metódicas para o domínio e consolidação

Para o professor realizar, com os seus alunos, a FD “D+C” precisa de certas acções nesse sentido, nomeadamente a repetição, a sistematização, a exercitação e aplicação. Estas acções, enquanto formas metódicas para a realização do “domínio e consolidação” ocorrem em todas as etapas do PEA, mas aqui trata-se duma etapa em que o objectivo directo é a consolidação e domínio dos conteúdos.

Fig.: Componentes da Função Didáctica Domínio e Consolidação.

Passemos de seguida a apresentá-las em separado cada um destes elementos, conforme você deve ter discutido:

REPETIÇÃO

O trabalho com a matéria nova fica concluído quando os alunos tiverem assimilado de forma duradoira e solida os conhecimentos e capacidades, quando estão disponíveis e prontos para serem aplicados nas situações da vida quotidiana.

Quando falamos da função didáctica “Introdução e Motivação”, assinalamos que seu fim é assegurar um nível inicial didáctico e psicológico a partir da qual se pode alcançar o nível final, ao que se aspira, ou utilizar a repetição dirigida com o objectivo de alcançar aqueles conhecimentos e noções prévias necessárias para assimilar o novo conteúdo.

Nesta passagem do PEA, o professor habilidoso do ponto de vista metódico soluciona várias tarefas:
  • Mediante a repetição reafirma os conhecimentos e capacidades fundamentais;
  • Mediante as repetições controla o nível da situação inicial dos alunos;
  • Mediante as repetições o professor obtém uma base para avaliar a cada aluno (através do controlo escrito, frontal dos rendimentos) ou a todo o grupo.
Entretanto, muitos professores omitem as repetições porque temem “perder muito tempo”. Mas isto é um erro; precisamente o contrário é o correcto: o “segredo” para ganhar tempo na aula consiste em repetir regularmente e variando o método”, “os maiores melhores didatas (professores) parece que não fazem outra coisa que repetir, e em realidade com isto progridem rapidamente”. Com certeza, estes últimos progridem na aprendizagem dos alunos, porque ficam com os conteúdos bem consolidadas e, por sua vez, estes servem de pré-requisito para a aprendizagem do conteúdo seguinte, evitando deste modo tempo prolongado de explicações a alunos que não percebem por falta de pré-requisitos.

Logo, a repetição acompanha o processo de ensino em todas as suas fases, havendo assim uma diferença entre a repetição directa e indirecta ( imanente). A repetição directa tem por objecto um controle dos rendimentos através de resumos durante a aula, de sistematização e das próprias aulas de exercitação ou de repetição.

A repetição imanente é aquela actividade de fixação que ocorre “de passagem”, uma repetição que normalmente os alunos não estão consciente. Isto acontece ligando o velho com o novo e o novo com o velho, recua-se constantemente ao velho, estimulando aos alunos para a reprodução, na conversação durante a aula ou na solucionar tarefas, seus velhos conhecimentos e capacidades e aplica-los em certos aspectos. A repetição imanente é um ponto permanente entre o velho e o novo. Aqui se fundem duas funções didácticas em uma só acção didáctica; a fixação do velho e o apoio ao processo de assimilação dentro do trabalho com a matéria nova.

O que deve ser repetido? Esta questão surge porque as vezes os professores fazem ou querem fazer a revisão de toda a matéria, ou seja, de todas as generalizações sucessivamente; neste caso é difícil ao aluno vencer toda esta quantidade da matéria ; e mais, pode não diferenciar-se o essencial do não essencial. As repetições mais amplas devem ser reservadas para aulas de repetição. E nestas aulas se devem repetir os factos e generalizações mais importantes e que se prestam atenção especial aos conhecimentos que os alunos devem memorizar (nomes, regras, formulas, etc.). A matéria para memorizar deve ser destacada em diversas formas (esquemas, desenhos, diagramas, utilizando tintas coloridas). Quando se realiza a repetição total ou parcial mediante o livro de textos da administração os alunos devem exercitar-se no reconhecimento e sinalização do essencial, sublinhando o mais importante.

Em termos de condições para a efectividade da repetição, temos três principais: regularidade, sistematização em estrutura e riqueza/variedade nas formas de repetição.

Tabela: Condições para repetição
Condições para a repetição






Variedades nas formas de repetição:
- O professor deve sempre buscar novas vias com maiores possibilidades de êxito;
- A forma e técnica de repetição que são aplicadas em cada caso dependem de vários factores: objectivo da aula, dos conhecimentos e capacidades dos alunos e da habilidade metódica do professor: por exemplo, a repetição introdutória pode realizar-se mediante uma exposição do aluno, uma demonstração, um pequeno trabalho escrito de repetição, uma conversação de uma observação;
- Um método muito eficaz consiste em utilizar a repetição empregando meios ilustrativos o mais frequentemente possível: o que o aluno disse deve demonstra-lo, se possível, com modelos, etc.
Regularidade da repetição:
- O que se pratica hoje e logo se deixa de fazer durante dias ou semanas, antes de memorizar ou de reafirmar os conhecimentos, nunca  atingirá uma sistematização dos conhecimentos, muito menos poderá educar os alunos na aprendizagem consciente.

Sistematização na estrutura das repetições:
- Os alunos devem ser dirigidos das formas elementares de repetição até as tarefas mais difíceis;
- A repetição deveria partir dos novos pontos de vista: aqui os alunos são motivados a agrupar novamente seus conhecimentos, vê-los em outras relações e, em certo modo, aplica-los.

SISTEMATIZAR-INTEGRAR

Sistematizar é integrar e estruturar logicamente, através de gráficos quadros ou tabelas, dando a visão de conjunto os conhecimentos, experiências, as habilidades, etc., aprendidos. Nesse sentido, sistematizar é continuar o processo cognitivo pela integração dos conhecimentos em sistemas científicos e, ao mesmo tempo, capacitar os alunos a pensar e agir de maneira organizada e sistemática.

EXERCITAÇÃO

Em didáctica a “exercitação” se refere a repetição de acções com o objectivo de desenvolver capacidades e habilidades. Todos os processos físicos e psíquicos, ou seja, todas as capacidades e habilidades do homem necessitam de exercitação para a sua formação, aperfeiçoamento e fixação: observar, analisar, concluir, aplicar, aprender, perceber, etc., inclusive o próprio exercitar deve ser exercitado, treinado. Exercícios fazem os alunos penetrar mais profundamente na matéria. Assim, a exercitação é a execução repetida de actividades (desenvolvimento de acções) com o objectivo do seu continuo aperfeiçoamento e a mecanização parcial das habilidades e hábitos. Para além de ter importância na formação de capacidades, a exercitação tem, indirectamente, como objectivo a fixação e aprofundamento de conhecimentos: a exercitação está em estreita relação com a repetição, e ambas criam condições importantes para a aplicação dos conhecimentos e capacidades.

FORMAS DE EXERCITAÇÃO
Tal como ilustra a figura seguinte e conforme sucede com a repetição, a exercitação na aula pode ser directa ou indirecta:

Formas de exercitação



Exercitação directa:
- Realiza objectivos especiais de exercitação, digamos de determinadas habilidades e capacidades
- Por exemplo, muitas situações “autenticas” de exercitação no ensino de matemática, de línguas, assim como o ensino de ginástica, da música, do desenho, etc.




Exercitação imanente ou indirecta:
- A situação de exercitação não se manifesta em primeiro plano, está escondida, coberta por outros processos que se desenvolvem na aula.
- Nem sempre os alunos têm consciência da situação de exercitação: determinados processos de exercitação se desenvolvem paralelamente, quer dizer, em certa medida continuam se desenvolvendo determinas habilidades, capacidades e costumes sem nos darmos conta de estar a exercitá-los.

APLICAÇÃO

A aplicação é o “coração” do processo de ensino e aprendizagem e a etapa superior do aumento e desenvolvimento de capacidades através da resolução de problemas e tarefas em situações análogas e novas.

A aplicação representa, em certa medida, a ponte para a prática profissional, visto que desenvolve as capacidades que devem possibilitar ao aluno o poder de aproveitar a teoria e posteriormente pôr seus conhecimentos no trabalho produtivo. Dai resulta a grande importância da aplicação para realizar o princípio da unidade entre a teoria e a pratica.

A função didáctica mais importante da aplicação é o desenvolvimento da capacidade para trabalhar livremente com os conhecimentos e capacidades; e, ainda, com a aplicação se atinge uma reafirmação e uma profunda consciencialização dos conhecimentos. Por isso, podemos concluir que a aplicação se destaca no PEA pelas seguintes características:
  • Os conhecimentos e as capacidades têm que ser actualizados e transformados em novas relações ou situações;
  • Os conhecimentos e capacidades, em relação, tem que ser manejados independentemente;
  • Mediante a aplicação se estabelece uma união directa ou indirecta entre a teoria e a pratica.

Exemplos de aplicações no PEA

  • Aplicações Directas: Trabalho do jardim escolar, realização de experiências e de excursões, aplicação dos conhecimentos teóricos na produção, etc.
  • Indirectas: Trata-se de aplicações que estabelecem uma relação indirecta com a prática: tais aplicações jogam um papel importante, por exemplo, no ensino da matemática, e também a aplicação de conhecimentos geográficos e históricos em novas circunstâncias e situações.


Bibliografia
NIVAGARA, Daniel Daniel. Didáctica Geral – Aprender a Ensinar. Módulo de Ensino à distância, Universidade Pedagógica.

Comentários